Capítulo 08 – Rei Shaman.
Finalmente chegara o dia tão esperado. A Lua estava cheia e brilhante no céu estrelado. Era meia-noite e já estava na hora da cerimônia que faria de Hao o Rei Shaman. O chefe Goldva acompanhou Hao e Anna até a Ala do Espírito. Parou na entrada de uma caverna e virou-se para os dois jovens:
- Aqui está, a Ala do Espírito. Essa caverna é o templo natural onde o Rei Shaman e o Grande Espírito se tornarão um só, em uma perfeita harmonia. Porém, essa caverna contém o último teste para o futuro rei...
Hao sorriu, cinicamente:
- Não importa o que seja, eu vencerei. Não cheguei até aqui para falhar. Eu serei o Rei Shaman e realizarei o meu sonho.
- Dentro dessa caverna há um calor insuportável para um ser humano. Você irá enfrentar o calor incandescente de um vulcão... Explicou Goldva.
- Isso não será nenhum obstáculo para mim. Eu, Hao Asakura, já enfrentei as chamas do inferno. Interrompeu Hao.
- Mas, não é só isso que você terá que enfrentar, Hao. Exclamou o patche.
- Eu já disse, não importa o que seja, eu vencerei. Eu serei o Rei Shaman. Hao deu de ombros.
- Você terá que enfrentar o seu pior inimigo, que é você mesmo. Para se tornar o Rei Shaman e se sintonizar com o Grande Espírito você terá que purificar a sua alma e deixar a sua mente em branco. Nenhuma dúvida pode permanecer. Nenhum medo. Nenhum sentimento. Nenhuma sensação. Você terá que se igualar a um ser superior para se tornar o Grande Rei. Voltou a tornar Goldva.
Então houve um grande silêncio. Os dois shamans refletiam sobre as palavras do chefe Goldva. Quem quebrou o silêncio foi a itako:
- Eles estão chegando...
Hao foi se aproximando lentamente de Anna. Postou-se diante dela e sussurrou perto de seu ouvido:
- Então, é melhor eu me apressar. Não queremos que eles atrapalhem os nossos planos, não é, Anna?
Antes que a itako pudesse responder, ela foi surpreendida por um beijo. Não teve tempo de fazer nada, antes que percebesse Hao a tinha envolvido em seus braços e lhe dado um profundo beijo. Um beijo que a tirara da realidade...
Hao largou a itako e foi caminhando na direção da entrada da caverna. Mas, antes que entrasse ele olhou para a sua amada uma última vez. Ficou durante alguns segundos olhando fixamente nos olhos misteriosos da garota. Queria guardar aquele olhar para sempre. Se pudesse, pararia o tempo no encontro de seus olhares, para que pudesse passar a eternidade perdido no brilho daqueles olhos belos e misteriosos da itako. Mas, como não tinha tempo a perder, virou-se ao encontro de seu destino.
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O shaman foi avançando para o fim da caverna. O calor era muito intenso, mas nada que ele não pudesse suportar. Já havia suportado coisas piores, aquilo não o impediria de realizar o seu sonho. Chegando no final da caverna, Hao viu um conjunto de pedras que formavam um círculo. Tinha chegado no seu destino. Era ali que deveria se sintonizar com o Grande Espírito.
Hao se despiu e se dirigiu ao centro do círculo de pedras. Fechou seus olhos lentamente e ficou meditando até entrar em estado de transe. Seu estado de transe fez com que Hao viajasse no tempo, revendo toda a sua vida. Todas as pessoas que fizeram parte da vida de Hao estavam se confrontando com ele. Ele via a face de todas, mas o que era mais difícil de enfrentar era o que estava por detrás do olhar daquelas pessoas: os sentimentos de cada uma delas.
A maioria dessas pessoas o odiava. A maioria delas tinha sido vítima da sua vingança e da sua ambição. Vítimas de seu ódio. Nenhuma delas o compreendia. Nenhuma delas entendia os seus verdadeiros sentimentos. Ele também fora vítima. Ele fora vítima do medo e da ignorância dos humanos; e isso fez com que ele se tornasse uma mente perturbada. Só conhecera o amor duas vezes. O amor era o único sentimento capaz de salvá-lo de sua prisão de ódio.
Além dos sentimentos das pessoas que fizeram parte de sua vida, Hao tinha que enfrentar os seus próprios sentimentos. Um ódio acumulado por mil anos. Um desejo de vingança. Uma solidão constante. Uma saudade sólida. Um amor recém-descoberto. Se quisesse se tornar o Rei Shaman teria que purificar a sua alma. Teria que esquecer todos os sentimentos que o rondavam. Teria que se tornar praticamente um deus.
Em meio a tantos conflitos, Hao finalmente conseguiu se purificar: tinha encontrado o seu verdadeiro sonho...
"Agora eu posso enxergar o seu sorriso. A senhora voltou a sorrir para mim, mamãe".
Hao Asakura finalmente acordara. Para uma nova vida. Para um novo mundo. Para uma nova realidade...
