Capítulo 2
Quando, mas não porque
Entre 1:00 e 2:00 da tarde
Ela olhou para ele preocupada.
"Professor, é Hermione Granger...tente se concentrar. O senhor sabe quem eu sou?"
Ele acentiu com a cabeça e abriu seus olhos.
"Sim, senhorita Granger. Eu sei quem você é. Me ajude a sentar, sim..."
Ela o ajudou de forma que suas costas recostassem na parede enquanto mantinha o lenço na sua cabeça.
"O que aconteceu com o senhor?"
"Eu estava retornando ao castelo e pude ver atividade frenética atavés de algumas janelas." Ele tirou o lenço das mãos dela e olhou para ele, estava encharcado de sangue. "Infelizmente eu subestimei a quantidade de seguidores que estavam lá. Eu estava pronto para duelar com dois deles quando vi, em uma janela, o reflexo de Lúcio Malfoy atrás de mim. Antes que eu pudesse me virar ele atacou..."
"Eu não sei exatamente quantos seguidores eram, mas ao menos oito Comensais da Morte e Voldemort...", Hermione começou a explicar.
"Senhorita Granger!", falou Snape contorcendo o rosto. "Você se importa? Eu já sinto dor suficiente e não é necessário aumentá-la dezendo o nome dele."
"Eu sinto muito...Eu esqueci. Lúcio Malfoy deve tê-lo atingido com o feitiço Caducus, eu suponho."
"Por que você acha isso?"
"O Caducus pode provocar confusão temporária quando o efeito do feitiço se dissipa e como senhor não parecia saber quem eu era..."
Sem dúvida ele não sabia que ela era, pensou Hermione. Com quem ele a havia confundido, para ter tão óbvia ... e embaraçosa... reação física? Tudo que ela estava fazendo era procurar um lenço nos bolsos dele a fim de deter o sangue... e ele respondeu de forma bastante...intensa.
Ela sentiu suas faces ficarem quentes. Isso apenas acentuou a sua recente descoberta do fato de que ele não era apenas um professor, mas também ... um homem.
Ela sabia quando aquilo havia ocorrido, mas não porque.
Alguns meses atrás, durante a primeira aula de Poções depois do feriado de Páscoa, Snape estava circulando pela classe, inspecionando os caldeirões de cada aluno. Quando ele alcançou o dela, ele se inclinou sobre seu ombro para observar dentro do caldeirão e uma mecha do cabelo dela de alguma maneira se prendeu no botão da veste do professor. Quando ele se virou para deixá-la, ela deu um grito de dor enquanto seu cabelo sofria um puxão violento. Então se seguiram os quinze segundos mais embaraçosos da sua vida, enquanto ele soltava seu cabelo e a repreendia: "Durante as aulas, prenda esse cabelo ou o mantenha curto".
Ela não pensou muito no episódio até algumas noites depois quando Gina começou aquela conversa ridícula:
"Se você fosse obrigada a dormir com alguém de Sonserina, quem você escolheria?"
Sem hesitar, Gina, Parvati e Lavender disseram em uníssono:
"Malfoy!"
Hermione olhou para elas sem acreditar.
"Malfoy? Vocês não podem estar falando sério!"
"Bem, quem mais há lá? Goyle?", perguntou Lavender.
"Eca!", gritaram Parvati e Gina, batendo os pés no chão.
"Imagine ter aquilo bufando e ofegando sobre você!", exclamou Gina.
"Vamos lá, Hermione. Quem mais há lá, além do Malfoy?"
"Ninguém. Eu não tocaria nenhum deles nem com uma varinha de três metros."
"Buuu...a pergunta não é essa. Se você fosse obrigada, quem você escolheria?"
A mente de Hermione subitamente se voltou para o momento quando o seu cabelo ficou preso no botão da veste de Snape. Como, no processo de soltar seu cabelo, ela havia ficado perto dele, tão perto que sua cabeça ficou junto ao seu peito e seu ombro chegou a se apoiar nele. Ele lembrou ter sentido a solidez do corpo dele, notando a manga da veste que flutuava enquanto seus braços se moviam, a envolvendo momentaneamente e o aroma masculino que desprendia dele.
A lembrança fez um calor dominar seu corpo. Ela esteve tão perto, ligada a ele. Foi quase como se aquele momento tivesse sido uma experiência íntima. Ela ficou chocada ao perceber que a possibilidade de compartilhar uma experiência íntima real com ele a excitava.
"Vejam só, ela está corando. Vamos lá, Hermione.. quem é o Sonserino sortudo?"
Ela olhou para as outras.
"OK, eu acho que vocês tem razão, tem de ser o Malfoy."
Entre 2:00 e 3:00 da tarde
Parecia que o sangramento havia parado. Ao menos a dor na sua cabeça havia diminuído e ele conseguia respirar melhor agora.
Ele tinha que concordar com Granger, o feitiço paralizante poderia ter sido facilmente o Caducus, sem dúvida ele havia ficado desnorteado. Mas ele temia que Malfoy tivesse usado um de seus preferidos: Imus Viritas.
Freqüentemente Lúcio aumentava seu prazer ao machucar as pessoas usando esse feitiço em particular. No processo de voltar a consciência, a vítima normalmente revelava seus desejos mais secretos. Isso não apenas divertia Malfoy como podia se mostrar bastante útil algumas vezes, para chantagem ou outros fins.
Ela não precisava saber disso. Quanto menos detalhes ela soubesse do que se passou em sua mente durante sua recuperação, seus mais secretos desejos, melhor. Que ela continuasse a pensar que havia sido a Caducus.
Ele olhou para ela. Ela parecia estar ilesa. Ela levou água para ele beber, enxaguou o sangue do lenço e colocou o travesseiro da cama sob as costas dele, fazendo com que ele ficasse um pouco mais confortável.
Todo esse cuidado e atenção de um aluno? Essa era uma experiência singular. Da forma que ele tratava cada um deles ele esperava ser deixado no chão para que pisassem nele. Granger, entretanto, tinha um senso extraordinário de moralidade e ética. Ela não o deixaria sofrer. Existia um senso de decência nela.
"...Céus, ouça você mesmo, defendendo a sabe-tudo Grifinória."
Ele continuou a olhar para ela enquanto ela parava ao lado da mesa e bebia um pouco de água. Ele apreciou todas as curvas, cobertas e descobertas do seu corpo, os músculos delineados, mas ainda femininos sob sua pele sedosa e fresca, enquanto ela levava o copo aos lábios...
"Você precisa parar com essa bobagem adolescente! Você tem de parar de olhar para ela desse jeito."
Tudo começou aquela noite, alguns meses atrás, durante o feriado de Páscoa, quando ele acidentalmente a viu saindo do banheiro do terceiro andar.
Ela estava usando uma robe delicado que chegava aos pés. Sua pele parecia limpa e rosada devido ao banho e seu cabelo estava preso no alto da cabeça dando a ela um ar Grego. Foi impossível não lembrar da estátua de Afrodite que uma vez ele havia visto na casa de Lúcio Malfoy.
A visão dela o vez parar em seu caminho.
Era tarde, a escola quase vazia devido ao feriado, ninguém estava por perto e ele tinha certeza que ela não o havia visto em meio as sombras, quando ele parou e a observou, fascinado. Ele, verdadeiramente, não tinha segundas intenções quando a comparara com uma estátua. Então ela começou a andar lentamente pelo corredor em direção a ele, sua mão indo até os cabelos e os soltando dos prendedores. Ela balançou a cabeleira fazendo com que se espalhasse sobre os ombros, mas o movimento fez com que a nécessarie que carregava caísse ao chão. Ao abaixar-se para pegá-la, o nó que prendia o robe se afrouxou, o roupão se abriu completamente, e durante poucos segundos ele teve uma visão completa do seu corpo nu antes que ela se envolvesse novamente no tecido amarrando-o e continuando através do corredor.
Ele afundou-se ainda mais nas sombras, segurando a respiração, sabendo que ela o interpretaria erroneamente se o encontrasse bisbilhotando. Ela passou por ele sem vê-lo.
Nunca antes ele havia reagido a uma aluna daquela forma. Na verdade, fazia um longo tempo desde que qualquer mulher provocasse tal reação nele. Ele teve de esperar uns bons minutos, todo o tempo recitanto ingredientes de poções, antes que fosse capaz de sair das sombras e percorrer o caminho até seus aposentos sem embaraços.
Naquela noite, na privacidade da sua cama, ele pensou nela parada no corredor. Ele não era dado a fantasias, mas nessa ocasião ele se permitiu uma. Ela havia aberto o roupão, mas antes de fechá-lo ela olhou para frente e o viu parado no fim do corredor. Ao invés de gritar de medo e aversão, ela sorriu e deixou o robe aberto enquanto caminhava em direção a ele, entrando nas sombras junto com ele, pressionando seu corpo nu contra o dele, permitindo que ele a tocasse, a beijasse. A mão dele, nesse momento, havia se transformado na mão dela, acariciando-o com uma expertise além da sua idade e experiência.
Depois, ele ficou enojado com ele mesmo. Ela era uma aluna. Mal tinha completado dezoito anos. Há alguns meses atrás ela ainda era uma menina, e ele seria preso caso a fantasia se realizasse. Ele não podia acreditar que havia se deixado levar por uma fantasia idiota, uma fantasia...vulgar. Jovem aluna e professor de meia-idade. Ele se sentiu envergonhado de ter imaginado clichê tão patético. Ele era melhor do que isso. Mais forte que isso.
Agora aqui estavam eles, trancados juntos em uma cela. Sua mente precisava se concentrar na batalha lá fora, nas conseqüências... e no destino de ambos caso o lado errado saísse vencedor.
