Capítulo 10

O amanhecer trará a resposta

5:00 da manhã

Como ele, Severo Snape, chegou até aquele ponto?

Até ontem ela era uma pequena e inconveniente fraqueza que de alguma forma atravessara suas defesas e o deixava tonto cada vez que ele a encontrava. A causa de suas fantasias noturnas.

Agora ele estava envolvido pelos braços daquela mulher, se sentindo protegido, confortado, até mesmo amado. Algo que ele não experimentava desde sua tenra infância.

Aquilo era ... bom.

Excepcionalmente, bom.

A cabeça dele continuava descansando sobre o seio dela, ouvindo as batidas de seu coração, sentindo o movimento rítmico de seu peito quando ela respirava.

Mesmo em meio a todo o perigo da situação, ele não podia pensar em outro lugar que quisesse estar, que não fosse o círculo tranqüilo e aquecido que ela havia criado ao redor dele.

Os céus deviam estar rindo dele. Tinham guardado aquele zelo delicado e carinhoso para as suas últimas horas de vida...

Não apenas o carinho que ele estava recebendo, mas tudo que ele desejava dar a ela...

Se eles saíssem dali com vida...

O que?

O que Severo? O que você planeja fazer? Levá-la de volta à escola e escondê-la em seus aposentos? Ser seu professor de dia e seu amante à noite? O Ministério iria sem dúvida aplaudir!

Mas...

Como ele poderia deixá-la? Agora que ele havia experimentado o prazer de ter alguém que se preocupava com ele, alguém que o fazia querer...amar.

6:00 da manhã

"Professor..?", ela sussurou.

Ele levantou a cabeça para olhá-la com uma expressão estranha no rosto.

"Como você ainda pode me chamar assim?", ele perguntou gentilmente, acariciando o rosto dela com a ponta dos dedos.

Ela sentiu o rosto corar.

"De que mais... eu não sei.."

"Severo. Meu nome é Severo."

"Eu sei, mas...eu não poderia."

"Hermione, dada as circunstâncias..."

"Eu sei, mas não é apenas isso. Nós estamos fora de contexto, não estamos? Tudo está diferente devido as 'circunstâncias'. Se nós voltarmos à escola, voltarmos à vida normal, você vai me odiar pelo que aconteceu aqui esta noite", ela desabafou.

"É essa a reação que você espera do seu Mestre de Poções?"

"Bem...é", ela respondeu sem encará-lo.

Ele olhou para o outro lado e balançou a cabeça. "Entendo..."

"E o homem que você viu aqui essa noite, como ele reagiria?", ele acrescentou.

O homem que ela tinha conhecido aquela noite apenas havia feito com que os sentimentos que ela nutria pelo original aumentassem. Seu Mestre de Poções era cruel, rude, amargo e mesmo assim ela sentia aquela atração inexplicável por ele. Uma atração que enchia a sua cabeça de pensamentos despudorados e invadia suas noites com sonhos ousados.

Aquilo tinha sido um tipo de atração animal, mas o homem com ela essa noite havia enternecido seu coração, comovido-a, feito com que ela sentisse que perdê-lo seria como matar algo dentro de si. Se apenas...

"Mas você não é o homem que eu conheci essa noite. Você não vê? Você é uma pessoa diferente aprisionado aqui...", ela afirmou.

Ele deu um longo suspiro e olhou para ela com resignação.

"Sim, eu vejo", ele disse num sussurro. "Eu peço desculpas, Hermione. Eu fui imperdoavelmente irresponsável. Eu deveria ter percebido que apesar de você desejar que isso acontecesse, você se arrependeria..."

"Eu não me arrependo de nada que aconteceu entre nós...", ela disse rapidamente, mas foi interrompida por ele.

"Mas você se arrependerá. Quando você deixar de ser essa pessoa diferente e voltar a ser Hermione Granger, será você que me odiará. Seu desejo dizia respeito a essa noite, e a essa noite apenas..."

"Bem...", e foi a vez dela interrompê-lo.

Ela enrolou a ponta do manto nos dedos. Ele estava esperando para saber o que ela diria a seguir. O coração dela batia descontroladamente. Ela tinha certeza que não deveria dizer isso a ele, mas...

"Bem, isso não é exatamente verdade."

"Como...?", ele perguntou aturdido.

Ela sentiu o rosto ficar quente outra vez.

"A verdade é que...eu venho tendo pensamentos... estranhos... em relação a você...bem antes dessa noite", ela confessou.

Eu falei demais. Fiz papel de boba. Eu preciso melhorar isso!

"...mas é claro que eu sei que nós só fizemos sexo porque estávamos aprisionados juntos. Isso nunca teria acontecido se não fosse por isso, teria?", ela completou.

"Não. Isso nunca teria acontecido.."

Ela sabia que essa seria a resposta dele, mas por um breve instante ela teve esperança que ele...

"...mas faz um longo tempo que eu tenho desejado que isso acontecesse", ele afirmou.

Demorou um pouco até que as palavras dele fizessem sentido para ela. Ela olhou para ele perplexa. Olhos negros olhavam para ela confirmando cada palavra dita anteriormente.

Então ela lembrou do cheiro dele aquele dia na aula de poções, quando o cabelo dela havia ficado preso no botão da túnica dele. Ele tinha ficado tão agitado e excitado quanto ela!

Ele a beijou, tão suavemente, tão lentamente, a mão dele mantendo-a unida a ele. Um beijo de rendição.

"Vai ser estranho quando voltarmos a escola, não?", ela falou com um sorriso, as cabeças de ambos ainda se tocando.

"Um pouco."

"Será apenas por alguns meses, e então eu deixarei a escola", ela afirmou.

"E eu também."

"O que?", e ela olhou para ele sem compreender.

"Se Potter vencer eu estarei livre para deixar Hogwarts. Eu não precisarei mais me esconder nas sombras, não precisarei me disfarçar de professor.."

"Era isso que você vinha fazendo?", ela perguntou.

"O diretor me convidou para ficar em Hogwarts e ajudar na luta contra o Lorde das Trevas. Nós precisávamos de um motivo para eu ficar na escola, então eu me tornei Mestre de Poções."

"Mas você queria o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, não? Por que o Professor Dumbledor não deixou?", ela quis saber, curiosa.

"Eu sugeri o cargo, mas ele simplesmente disse 'Eu acho que eu o deixarei ensinar Poções e veremos como você se sai'. Parece que eu me saí bem demais...", ele disse divertido.

"E o que você vai fazer quando deixar a escola?", ela perguntou.

Ele franziu as sobrancelhas.

"Eu não tenho idéia. Eu passei toda a minha vida adulta lutando de um lado ou do outro. Eu devo admitir que a liberdade, depois de todos esses anos, parece assustadora..."

Ela não pode se controlar. Ela interrompeu a frase dele com os lábios, movendo o corpo para ainda mais perto dele, sentindo mais uma vez, lágrimas brotarem em seus olhos.

7:00 da manhã

"Não que eu não adore seus beijos", ele murmurou no ouvido dela. "Mas existe algum motivo para a abrupta interrupção nas minhas divagações?"

"Você parecia tão...vulnerável..."

Ela olhou para ele, uma expressão estranha no rosto, como se ela tivesse acabado de solucionar um problema difícil. Os olhos dela estavam úmidos e enquanto ele a observava uma lágrima rolou pela face macia.

Pela segunda vez naquela noite ele sentiu como se tivesse sido atingido por um raio.

"Ouça", ele a ouviu dizer. "Se ele ganhar, eles virão nos buscar e será muito tarde para dizer..."

Ele pôs os dedos trêmulos sobre os lábios dela.

"Não diga nada", ele pediu, sua mente lógica exigindo compreender o que acontecia ali.

"Você não sabe o que eu ia dizer", ela alegou.

"Sim, eu sei", ele afirmou. Ele olhou para ela e mordeu os lábios. Pela primeira vez em sua vida ele estava reagindo segundo suas emoções e não conforme sua mente exigia. E ele não se importava. "Sim, eu sei", ele continuou. "Antes que seja tarde você ia dizer que...", ele se abaixou e sussurou em seu ouvido. Ele a beijou. Beijou sua boca, seus olhos, suas orelhas e sussurou as palavras outra vez.

Ela estava deitada na cama. O corpo dele sobre o dela. Ele a beijou mais uma vez enquanto sussurava repetidamente, até que os lábios dela o silenciaram.

Nenhum deles notou quando o céu assumiu uma tonalidade dourada.

8:00 da manhã

Ele estava cansado. Tão cansado... Ele era velho demais para aquilo. Talvez fosse a hora dele se reunir a seu amigo Nicolau Flamell. Entretando naquele momento ele não tinha tempo para tais divagações, o dever o chamava. Harry havia lutado bravamente. Ele havia se saído melhor do que Dumbledore esperava. Tom Riddle e o ser que ele chamava de Voldemort estavam enfim destruídos. O mundo bruxo estava a salvo novamente.

Houveram perdar, perdas demais. Todas o entristeceram, mas algumas partiram seu coração...

Agora ele precisava libertar os poucos que haviam sido feito prisioneiros em Azkaban.

Dumbledore deslizava pelos corredores da prisão, algumas vezes tendo de se apoiar nas portas enquanto procurava celas que contivessem aliados.

Ele adoraria sentar em frente a lareira com uma xícara de chá nas mãos e conversar com... Oh, ele pode esquecer que ela estava morta?

Ele enxugou uma lágrima e a sua mão alcançou o cadeado da cela seguinte.

Então alguma coisa o fez parar.

Ele olhou para a porta e no mesmo instante soube quem estava do outro lado.

Ele abriu um sorriso enquanto seu "sétimo sentido" lhe revelava a verdade.

"Eu imaginava quando você descobriria isso, Severo", ele disse para si mesmo.

Ele levantou a mão e desenhou uma cruz invisível na porta. Depois lançou um feitiço sobre ela, de forma que a porta só poderia ser aberta pelo lado de dentro. Ainda sorrindo ele continuou andando pelo corredor.

Dentro da cela, Hermione e Severo estavam adormecidos nos braços um do outro.

Hermione se aconchegou ao corpo dele enquanto um feixe de sol atravessava a janela no topo do quarto, aquecendo o aposento. Lentamente os olhos dela se abriram, depois de uma noite de sexo, e o encontraram na cama ao seu lado.

Ela se aproximou dele e o beijou, deliciada quando ele respondeu ao seu beijo ainda sonolento. Severo nunca havia sido despertado com tanto carinho. Ele manteve os olhos fechados, saboreando a sensação, sentindo o calor daquela criatura maravilhosa que se movia sobre ele.

Ele gemeu com prazer quando a mão de Afrodite voltou a acariciá-lo...

Na porta, do lado de dentro, claramente visível quando eles resolvessem olhar para lá, estava o brasão brilhante da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts.

A garantia da liberdade.

Fim