DUAS REALIDADES


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Duas Realidades
Episódio II – O Tempo Não Pode Parar
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Hermione já estava em casa. Morava num pequeno e aconchegante apartamento, que ficava próximo a faculdade. Quanto menos tempo perdesse em sua locomoção para o local, melhor! Queria usar as 24 horas normais de um dia, sem ter que esticá-lo, literalmente, como fizera por duas vezes na sua época de Hogwarts: na primeira vez, enquanto estava no terceiro ano; na segunda, quando estava no sétimo. Usar um vira-tempo é muito útil, mas o desgaste físico e mental é ainda maior do que se corresse naturalmente contra o tempo como qualquer outra pessoa fazia. Até mesmo os trouxas conseguiam fazê-lo!



Havia despido seu blazer e estava descalça, sentindo grande alívio por sair de dentro daqueles sapatos finos de salto alto. Teria que deixar a vaidade de lado e começar a optar pelo conforto do trio sagrado tênis-jeans-camiseta. Estava preparando a comida de Bichento, que estava impaciente e faminto, roçando-lhe as pernas, quando a companhia do apartamento tocou.



_Quem será a essa hora? - Olhava em direção à porta, acompanhada do olhar do gato, e voltando-se a ele: _Deve ser a vizinha novamente querendo que eu a ajude a abotoar o vestido!
Saiu da cozinha para atender a porta, seguida por Bichento, enquanto ia divagando com seu gato.

_Nós mulheres somos mesmo complicadas, né Bichento? Moramos sozinhas e compramos roupas com abotoamento nas costas! Vaidade é mesmo algo irracional!
Divertia-se com suas próprias palavras, sendo ela própria experiente no assunto "Bom, pelo menos eu tenho uma varinha mágica!". Ao abrir a porta, seu sorriso desapareceu num susto.

_Sr. Snape! O que faz aqui?! - Falou num sobressalto, ao ver aquele homem alto trajando negro da cabeça aos pés, parado diante de sua porta.

_Detesto ter que admitir que eu estou errado e detesto ainda mais ter que concordar com Potter, mas... como a senhorita abre a porta sem ao menos verificar quem está chamando e, ainda por cima, sem ao menos portar sua varinha, Srta. Granger? - Snape falava baixo, porém estava bravio. Seus olhos negros pareciam querer fuzilar a moça.

_Oras... entre, por favor! Não moro sozinha neste prédio! - Convidou secamente uma Hermione aborrecida com o que acabava de acontecer.



Snape entrou em dois passos. Hermione fechava a porta sem olhá-lo, estava aborrecida pela visita inesperada e ainda mais de quem era.


Hermione o encarava, recostada à porta, sua voz era seca e entediada.

_Aconteceu alguma coisa, Sr. Snape? Por que veio até aqui?

_Ainda não respondeu minha pergunta, Srta. Granger. Fui ingênuo em crer que a senhorita tinha frieza e ponderação, mas vejo que é mesmo uma cabeça-oca como seus amigos a chamam!

_Pensei que fosse a vizinha que mora ao lado, isso é muito comum. Mas o senhor não veio até aqui para testar a minha segurança, não é? Ou será que veio aqui apenas para me ofender? Meus amigos podem chamar-me de cabeça-oca o quanto quiserem, mas não lhe dou esse direito, Sr Snape! Não sou mais sua aluna e aqui é minha casa!

_Continua sem responder minha pergunta, senhorita! E se eu fosse um comensal que planeja raptá-la?

_Mas o senhor é um comensal, ao menos um falso! - Hermione já demonstrava um profundo aborrecimento por aquela intromissão de Snape em sua casa. O que ele estava pensando afinal? Quem ele pensa que era para estar ali, em sua casa, sem ter sido convidado, passando-lhe um sermão?! _A menos que o senhor esteja se revelando um traidor da Ordem e seja o senhor a me raptar para atrair Harry! - Hermione o encarava enquanto seus olhos quase se fechavam com sua expressão raivosa.

"Até que raptá-la não seria uma má idéia, Srta. Granger..." - Snape pensava consigo mesmo, deixando transparecer um leve sorriso no rosto. Hermione sentiu sua espinha gelar com aquela expressão que se formou no rosto de seu antigo professor.

_Apenas vim lhe dizer que sei o quanto sabe precaver-se e como defender-se caso seja necessário, Srta. Granger... - a voz de Snape era baixa e macia, mas expressava algo que parecia ser ternura? Hermione não conseguiu disfarçar a expressão de surpresa enquanto olhava praquele homem parado no meio de sua sala.

_... e confio na senhorita tanto quanto Alvo confia. Mesmo assim quero que tenha muito cuidado por onde andará e tenha muita cautela com o que for fazer nos próximos dias...

_Por que está me dizendo isso? - Hermione gaguejou para falar, sua expressão era de surpresa e apreensão. _Há mais alguma coisa que o senhor não contou na reunião?

Snape apenas a fitava, porém sua expressão estava como sempre, inalterada. Se Hermione não estivesse tão preocupada com a surpresa, veria que seus olhos exclamavam um grande carinho para com ela. Por fim, resolveu falar, no seu tom mais macio e grave de voz:

_Há... há sim. Mas não posso lhe falar agora. Apenas quero que você não confie em aparências, não confie em tudo que ver. Eu irei protegê-la, Hermione. Estarei ao seu lado todo o tempo. - dito isso, Snape desaparatou, sem dar qualquer chance de pergunta à Hermione, que estava atônita.

_Bichento! Acho que acabei de ter um delírio! Acho que Rony está certo: meu cérebro está derretendo!

O gato olhava para sua mãe e voltava a roçar-lhe a perna, lembrando-lhe que ainda estava muito faminto.



*



Logo cedo, Hermione despertou ao som do rádio-relógio. Tocava uma de suas músicas favoritas, "She's Like The Wind"*, do ator trouxa Patrick Swaize. Era um flashback da longínqua década de 80, mas, mesmo assim, adorava. Achava as músicas antigas muito melhores do que essas que eram feitas nos dias atuais. Olhou a hora. O relógio marcava 7:02h. Tinha tantas coisas a serem feitas logo de manhã que nem se deu ao luxo de ficar remoendo aquele estranho acontecimento da noite anterior. Espreguiçou-se, levantou e foi direto pro chuveiro.

Já eram quase nove horas quando chegou ao Caldeirão Furado, onde pegaria o atalho para o Beco Diagonal. Estava com o pergaminho que continha a lista de livros e materiais que usaria este ano na faculdade de transfiguração. Eram mais materiais pedidos do que na época de Hogwarts, e ainda tinha que ir buscar a lista de materiais da faculdade trouxa, ainda este dia.

Caminhou diretamente pra livraria Floreio & Borrões, estava muito ansiosa para ver os livros e sedenta por novidades também. Há muito tempo estava esperando pelo lançamento de um romance bruxo, que havia chegado à livraria nesta semana. Era uma pena não ter tido tempo de ir à noite de autógrafos, estava na reunião da Ordem, neste momento. "Espero que tenham separado uma edição autografada para mim" - pensava, esperançosa e feliz.

Comprara seus livros. Estava radiante com sua edição autografada do romance que tanto aguardara o lançamento. Ia pelas ruelas, admirando as capas dos livros. Ainda tinha que comprar os outros materiais que eram pedidos na lista. Como tudo tinha se resolvido o mais rápido do que havia previsto, iria dar-se ao luxo de passear um pouco pelo Beco e ver as novidades do mundo bruxo.

Ao passar por uma ruazinha ainda menor que ficava paralela a rua principal, algo parecia ter-lhe chamado a atenção. Era uma grande placa ricamente trabalhada em madeira e ferro fundido, que pendia-se acima da entrada de uma lojinha. Não se lembrava de ter visto tal loja, devia ser nova ali. E foi em sua direção, atraída, principalmente, pela placa de adornos feitos esmerosamente, uma verdadeira obra-prima "Parece ser algo muito antigo". Ao aproximar-se pode ler que tratava-se de uma antiquário. Ficou maravilhada! Esse tipo de coisa sempre a encantou, mesmo os antiquários trouxas. "Todas as coisas antigas são mais belas! Eram feitas com amor, não é como hoje...". Parou em frente a vitrine e seu sorriso era largo. Muitos artefatos antigos para estudo estavam ali expostos: uma escrivaninha acompanhada de uma belíssima cadeira estofada, ambas um conjunto feito em madeira mágica, ricamente adornados em entalhes e metais, que ela julgava ser ouro. Ao seu redor, penas, tinteiros, pastas para pergaminhos, porta-penas... todos muito bem trabalhados manualmente, cada um sendo pequenas obras de arte. Seus olhos brilhavam de felicidade e resolveu dar uma entradinha na loja.

A loja parecia desprovida de qualquer forma humana, não havia ninguém ali, nem atendente. Era melhor, pois ela poderia ficar admirando tudo que havia ali dentro sem um vendedor chato a importunando com perguntas bobas, como todos esse vendedores, sejam bruxos ou trouxas, faziam, achando-se gentis e servidores, o que eram apenas aborrecentes na verdade. Dentro, inúmeras peças antigas se apinhavam em todos os cantos. Na verdade, a loja era tão cheia de produtos antigos que só restavam pequenos espaços para a locomoção. As paredes estavam preenchidas com todos os tipos de quadros e adornos. O teto estava coberto por todos os tipos de lustres, cada um mais ricamente decorado que o outro, com cristais e diversos tipos de pedras preciosas. Num outro canto da loja, havia os mais diversos tipos de relógios bruxos, cobrindo inteiramente toda a parede. Abaixo, uma grande mobília sustentava diversos outros tipos: ampulhetas, relógios-de-sol, relógios-d'água. Hermione lembrou-se do tempo que sempre tenta esticar o máximo possível, e sentiu-se atraída por essa parede de relógios.

Estava admirando cada um dos artefatos usados para medir o tempo, cada qual mais interessante que o outro. Questionava-se se aquelas ampulhetas eram para marcar o tempo ou se eram vira-tempos... "que bobagem, é claro que são apenas marcadores de tempo! Vira-tempos são artigos muito restritos e controlados pelo ministério, não ficariam expostos numa lojinha para quem quisesse ver..." Hermione estava tão distraída que não percebeu a entrada de uma pessoa na loja, tão sorrateira, com longas vestes negras e cabeça coberta por um capuz, que mais parecia um vulto, uma alma penada.

_Hermoine Granger?


O vulto a chamava secamente. Hermione virou-se num salto, decerto era algum conhecido que a vira entrar na loja. Seu sangue gelou ao focalizar a figura sinistra que empunhava a varinha em sua direção. Neste mesmo momento, do interior da loja, saía um senhor franzino, calvo e de pequenos óculos de leitura, carregando alguns objetos de antiquário.

Foi tudo muito rápido. O homem encapuzado lançou sobre Hermione uma maldição estuporante. Enquanto ela era arremessada contra a parede de relógios e antes de desfalecer completamente, ainda pode perceber coisas estranhas como o senhor da loja erguendo a mão nua em direção ao comensal, lançando-lhe longe, derrubando muito objetos no caminho; parece ter ouvido todos os relógios badalarem ao mesmo tempo, enquanto sentia a imagem dos mesmos rodarem a sua volta, tudo muito confuso, o barulho ensurdecedor dos relógios ia diminuindo, até não ouvir mais nada e só enxergar as trevas.

N/A: É neste finalzinho deste capítulo que a trama pega emprestado a base do tal capítulo de Silent Möbius. Um resumão bem rapidinho pra vc saber qual é: uma das protagonistas da série, Nani (acho _,), é atraída para dentro de um antiquário, onde ela compra um antigo moedor de café manual - ela é dona de uma cefeteria. Nessa, Nani é atacada por um dos inimigos, seres extra-dimensionais chamados Lucifer Halk (acho tb _,,) e, por qualquer motivo, ambos são arremessados 30 anos no passado, indo parar no final da década de 90 - a série se passa pela década de 2020. Completamente perdida e sem noção alguma do que fazer naquele passado estranho, Nani conhece um rapaz, com quem acaba ficando por uns tempos...
Bom, depois eu conto mais, senão estraga o resto da minha fic, afinal, ela é baseada nesse episodio {;-P}

* - Usei essa música numa songfic sobre o shipper SS/HG, escrita anteriormente a esta fic aqui. Então, quis fazer uma pequena referência...

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Fim do Capítulo II - continua
By Snake Eye's - 2004
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