Intenções Secretas

Capítulo Três – O Começo

Sonora foi pega de surpresa pelo pedido. "Perdão, senhor?" ela perguntou.

Dumbledore sorriu para ela, seus olhos parecendo prestes a piscar mais uma vez. "Você tem feito um bom nome para si mesma através dos últimos anos, minha querida Sonora" ele disse. "Hogwarts seria muito sortuda tendo você como professora assistente."

"Mas... mas... e o Professor Snape?", ela murmurou.

A expressão dele tornou-se séria. "Ah. Isto é parte do porquê do meu pedido". Dumbledore se levantou e caminhou até ficar de frente para o fogo de sua lareira. "Eu estou pronto para contá-la, minha querida, algo que ninguém, salvo uma pequena minoria, sabe, e precisa ser algo estritamente secreto".

"Senhor, você tem a minha palavra", Sonora disse seriamente.

Dumbledore sorriu de leve. "Eu me lembro de quando você era uma estudante. Quando Sonora Stone faz uma promessa, ela a mantém, sem se importar com as conseqüências". Ele suspirou. "Muito bem. Professor Snape está ultimamente trabalho para mim e meus aliados, a Ordem da Fênix, como nós somos chamados, espiões contra Voldemort."

Sonora meramente evitou parecer pasmada. Aquele excêntrico e asqueroso homem?

Dumbledore continuou. "Severus tem um passado, minha querida. Em sua juventude ele foi um Comensal da Morte, e com o retorno de Voldemort, ele assumiu o compromisso de usar sua conexão com ele para aprender o que pudesse e ajudar a Ordem o máximo possível".

"Eu posso ver por que é um segredo tão bem guardado", Sonora disse, mais do que um pouco atordoada. Se Snape estava brincando de agente duplo com o Lord das Trevas, ele não podia arriscar nenhum sussurro nem uma traição.

"De fato", Dumbledore concordou. "E é aqui que você entra. Severus convenceu Voldemort que ele atualmente está enganando a mim, fingindo dar- me informações enquanto serve seu antigo mestre". Sonora resistiu ao impulso de coçar a testa. Era tudo tão complexo. "Como parte do serviço para o Lord das Trevas, ele é freqüentemente chamado para longe de Hogwarts, às vezes por espaços de tempo longos demais para explicar com clareza".

"Eu entendo", disse Sonora, subitamente entendendo o porquê de estar ali. "Você quer alguém para cobrir as aulas dele."

Dumbledore sorriu e caminhou de volta até sua cadeira. "Você tem uma maravilhosa reputação no campo de Poções, Sonora. Eu não pareceria errado se uma professora visitante administrasse as aulas com o Professor Snape, principalmente tratando-se de seus últimos ferimentos, e eu não posso arriscar o disfarce de Severus com Lord Voldemort."

Sonora franziu a testa pensativamente. "O Professor Snape concorda com isso?", ela perguntou.

Dumbledore riu. "Ah, na verdade eu ainda não contei a ele.", ele disse alegremente. "Eu preferi apresentar a ele a idéia já completa."

Sonora riu alto. "Ah, entendo. Você não acha que ele vá gostar disso, acha?", ela sorriu.

Dumbledore sorriu, quase pesaroso. "Não, eu não acho", ele disse.

Severus ficou parado, olhando para Dumbledore. O homem estava louco? "Você quer contratar a Srta. Stone como Professora adicional de Poções?", ele disse, num tom sarcástico. Seu orgulho estava sendo ferido. Ele supostamente sempre teve o melhor par de mãos no preparo de Poções do mundo bruxo. E Dumbledore achava que ele precisava de ajuda?

Dumbledore baixou os óculos para olhar diretamente para ele. "Realmente, Severus, essa não é uma idéia tão estranha", ele disse com um sorriso que deixou Severus ligeiramente nervoso. Ele aprendera através do anos que aquele sorriso geralmente mostrava que Dumbledore tinha algum plano secreto que não queria revelar. "Nós já tivemos professores visitantes antes".

Não como essa, Severus pensou, mas instantaneamente ele aboliu esse pensamento. Então a mulher devia ter parecido infinitamente melhor depois de ter ido até Madame Pomfrey para o diretor. Mas mesmo assim devia continuar com a aparência de que um vento um pouco mais forte poderia derrubá-la no chão. A Srta. Stone era pequena, de ossos fracos, e especialmente com a muleta próxima de sua cadeira, sempre mergulhada em vestes emprestadas, parecia imensamente frágil. Além disso, ele não se sentia inclinado a dividir suas aulas.

Ele se virou para olhar fixamente para ela. Talvez a mulher fosse fácil de dissuadir.

De fato, o Professor Snape NÃO gostara da idéia de dividir sua sala de aula. "Sonora Stone", ele disse, olhando para ela desdenhoso. "Você é uma pesquisadora. Não uma professora."

"Sei de alguns alunos que o senhor tampouco o é, Professor.", Sonora não pôde resistir a gracejar, com um sorriso. O olhar zangado dele tornou-se mais escuro e Dumbledore interviu.

"Severus, isso ajuda tanto ela quando você" Dumbledore lembrou ao Mestre de Poções. "Você não terá que se preocupar com ausências sem explicação com ela por aqui."

Os olhos de Snape voltaram-se para Dumbledore. "Você contou a ela?", ele perguntou, em um tom incrédulo.

Sonora resistiu a rolar os olhos para o paciente e seco tom que Dumbledore usou em seguida. "Isso foi necessário", ele disse.

Snape se levantou repentinamente. "Vejo que você não se dignou a se importar com a minha opinião sobre o assunto", ele disse, friamente. "Isso parece já ter sido decidido." Ele se virou para olhar Sonora da cabeça aos pés, em um frio e rancoroso olhar. "Será a Senhorita...", ele fez uma pausa. "Professora Stone, capaz de ensinar?"

Sonora de novo evitou rolar os olhos. Pelas barbas de Merlin, ele estava mesmo testando sua paciência. "Eu lhe garanto, Professor Snape", ela disse calmamente. "Estou bem o suficiente para ensinar. Isto" , ela apontou para sua perna, "é tudo o que me impede de me curar totalmente. E enquanto eu for cuidadosa, não causará nenhum problema."

"Então está resolvido", Dumbledore disse, surpreendendo-a a desviando sua atenção do Professor Snape. "Severus, estou certo de que posso contar com você para fazer mostrar a Sonora seu novo quarto e assegurar que ela chegue ao jantar esta noite inteira? Creio que irão querer discutir como irão dividir suas aulas, de qualquer forma."

Snape pareceu olhar furioso para o diretor. "Claro", ele rangeu os dentes. Ele se virou e foi até a porta. "Você vem, Professora Stone?"

Sonora pegou sua muleta. "Logo atrás de você, Professor Snape", ela disse docemente. Isso seria interessante, ela pensou enquanto suspendia a si mesma para caminhar sem se apoiar no pé ruim. Definitivamente interessante.

O Professor Snape abriu a porta que ficava no fundo da úmida masmorra de Poções. "Isto pode servir como a sua sala", ele disse, claramente usando humor negro. "e aquela porta do lado oposto dessa sala irá levá-la aos seus aposentos."

Sonora observou atentamente o quarto escuro e empoeirado, e mentalmente fez uma nota para se lembrar de fazer alguns feitiços de limpeza por ali antes de se sentar em qualquer lugar. "Muito bem", ela disse, se apoiando na muleta, "Nós devemos decidir os horários das aulas antes do jantar?". Na verdade, francamente falando, ela estava faminta.

O Professor Snape caminhou arrogantemente até uma mesa próxima, e deixou-se cair na cadeira. Olhou de modo penetrante para ela. "Eu vou ensinar a turma de Poções Avançadas. Você pode pegar as aulas com os alunos da Grifinória. Como eu me lembro, você mesma foi uma deles, então talvez VOCÊ encontre um modo de lidar com os Weasley." Ele pareceu sorrir maliciosamente ao dizer isso.

Sonora sacou a varinha e transfigurou uma carteira de aluno em outra feita para um professor, e então transformou uma cadeira de aluno, de madeira, numa poltrona acolchoada completa, inclusive com descanso para pernas. Ela então a fez ficar mais próxima da cadeira de Snape com um aceno de varinha, não antes de caminhar coxeando até onde queria pô-la.

"Ah, assim é melhor", ela disse, cuidadosamente colocando a perna ferida sobre o descanso da poltrona. "Pomfrey disse para que eu me sentasse o máximo possível."

Snape olhou para ela de sua cadeira. "Você não podia perguntar antes de sair reformando a minha sala de aula?", ele disse.

Sonora encolheu-se ligeiramente. "É verdade. Minhas desculpas, professor." Snape pareceu ter ficado levemente surpreso com o tímido pedido de desculpas. "O quê?", Sonora perguntou, curiosa. "Esta é a SUA sala de aula, e eu fui muito pretensiosa já saindo arrumando tudo pra mim."

Snape deu um aceno de cabeça e então entregou a ela num quase arremesso uma pilha de papéis. "Esses são dos alunos do quarto ano de Grifinória e Lufa- Lufa", ele disse, num leve tom sarcástico e zombeteiro. "Desde que eles sejam suas turmas a partir de agora, você também estará apta para nivelá- los."

Sonora pôs a pilha sobre sua própria mesa. "Você tem tarefas que gostaria que eu acompanhasse com os meus alunos?", ela perguntou. Snape pareceu ficar imóvel em surpresa de novo. "Professor", ela disse, o mais delicadamente que conseguiu, "Eu não estou aqui para tornar a sua vida mais difícil. Na verdade, eu acredito que estou aqui apenas para torná-la mais fácil. Por favor não fique surpreso quando eu tentar cumprir o meu dever, então."

Snape estudou-a atentamente, antes de sorrir inclinando sua cabeça. "Razoável o suficiente", ele disse. Ele pareceu hesitar por um momento, e então seu olhar tornou a ficar obscuro. "Então eu vou lhe dar um aviso. Existem dois alunos do sétimo ano com os quais você vai querer ter cuidado. Os gêmeos Weasley."

"Oh, querido" Sonora disse, começando a sorrir. "Gêmeos?"

Ele fez uma leve careta. "De fato. Eles mesmos se autodenominam comediantes. Agradeça a Merlin que eles não estão na turma de Poções esse ano. Mas você vai querer assisti-los bem de perto, indiferente, enquanto eu pareço ser o alvo favorito deles. E os grifinórios e sonserinos do quinto ano particularmente se odeiam mutuamente. O sr. Longbottom tende a explodir tudo em cada aula, o sr. Potter e o sr. Weasley parecem acreditar que estão acima das regras, e a srta. Granger é uma insuportável sabe-tudo."

Sonora fez uma nota mental dos nomes. "Vou me lembrar disso. Obrigada, Professor", ela disse. Com outro aceno de varinha, ela conjurou pergaminho e pena. "Vamos então discutir as lições da semana?"

Severus estava agora no comando de uma divisão de aulas com uma mulher. Ele olhou zangado como se estudasse as listas à sua frente. Não era um prospecto agradável.

Não tinha importância que a mulher fosse uma especialista no assunto. Não importava que ela sabia de seu segredo e o aceitava sem o menor problema. Não mudava nada o fato de que ela dissera calmamente que estava ali para tornar a vida dele mais fácil.

Ele ainda não gostava da idéia. Severus resistiu ao ímpeto de rir auto deprecivamente. Ele nunca se dera bem com mulheres, muito menos com o tipo da Professora Stone. As mulheres pervertidas e obscuras que ele conhecera em sua juventude, antes de recuperar os sentidos e voltar-se para o lado da luz, ele entendera muito bem. Elas não eram muito diferente dele mesmo.

Mas mulheres como aquela abrigada e confortável numa cadeira próxima da dele, aquelas sim pareciam um mistério. E verdade seja dita, elas nunca gostaram muito dele, e ele também não gostara delas. E agora ele tinha praticamente que viver com uma.

Ele franziu a testa de novo. E droga, por que ela tinha que ser tão, bem, bondosa? Se havia um tipo de mulher que o fazia sempre recuar, eram as boazinhas. As amigáveis. Aquelas que achavam que havia alguma coisa que podia ser salva nele. O humor de Severus piorou. Não havia nada pra salvar nele, e as poucas pessoas que haviam tentado através dos anos haviam sido tolos. Apenas Dumbledore sempre o fazia sentir que havia algo que fizesse a vida valer a pena.

Mulheres. Bah, Severus pensou. Ele tinha um pressentimento de que aquela na sua frente causaria mais problemas do que ele gostaria.

Sonora percebeu que Snape poderia ser muito cortês quando ele desejava ser, e que ele verdadeiramente conhecia suas poções. Ele fora muito inteligente em seu último ano, ela se lembrava, mas ele ainda não havia aprendido como ensinar. Perceptível, isso acontecia desde o seu primeiro ano. Ela esperou que todo o seu trabalho para se formar agora voltaria para ela. Ela havia ensinado algumas classes há alguns anos atrás, e aprender a preparar uma poção complicada pelo ignorante fora desafiador.

Ela estudou o Professor de Poções enquanto eles conversavam. Ele era jovem, talvez seis ou sete anos mais velho do que ela, quando ele começou a ensinar. Ela não podia se lembrar se eles estiveram durante algum tempo juntos em Hogwarts. Ela fora uma grifinória muito quieta durante os primeiros anos, agradecida por uma vida solitária depois de seus pais terem morrido. Até mesmo seus colegas de Casa não deram pela presença dela por poucos anos, e ela também levou um tempo para se prestar atenção a eles. Ela nunca se preocupara com os estudantes mais velhos até seu terceiro ou quarto ano.

Então, isso acabou acontecendo, ela percebeu que não podia se esconder da vida pra sempre, e forçou-se a sair de sua concha. Como resultado, ela foi aceita pelos outros, e talvez algumas amizades com seus colegas de turma.

Ela estudava Snape agora. Ele parecia mais velho, isso era verdade. Seu rosto se tornara mais maduro e fixara-se em uma expressão que já tinha visto e feito muita coisa para lembrar e se arrepender. Ele precisava de um banho, ela pensou distraidamente, provavelmente por ficar tão envolvido por caldeirões sujos todos os dias. Ela muitas vezes estremeceu de estar pensando naquilo depois de um dia tão comprido. Ela não o podia ver como um homem que se cuidava muito, de qualquer forma. Se alguém pudesse capturar o passado naquelas linhas de mágoa e arrependimento, além do olhar frio e severo, ele não era feio, ela pensou. Ao menos, ele podia ser uma pessoa interessante para se trabalhar junto.

Ele ergueu os olhos, e surpreendeu o estudando e olhou-a fixamente. "Está tentando ver através de mim?", ele sibilou.

Ela lançou-lhe um olhar de desculpas. "Sinto muito, eu estava", ela disse. "Temo que seja um mau hábito meu. Eu tenho estado sozinha a maioria dos últimos anos, e outros rostos tendem a me fascinar agora."

O olhar dele estava obscuro. "Bem, deixe-me sozinho." Ele grunhiu, baixando pena e pergaminho. "O jantar será servido em mais ou menos uma hora, então sugiro que você se acomode em seus aposentos enquanto isso." Ele ruborizou enquanto falava e caminhou para longe, na porta do outro lado da grande masmorra que deveria levar aos seus próprios aposentos.

Sonora observou a porta bater atrás dele, a pesada madeira vibrando. Bem, ele seria interessante, ela refletiu, antes de se levantar com um suspiro e uma careta. Era melhor que ela prestasse atenção à gentil sugestão dele e ir ver seus quartos.

Resumidamente, ela pensou em sua bagagem e o que Remus Lupin teria feito com elas. Ela não as vira durante a viagem, mas não achou necessário perguntar qualquer coisa, pensou enquanto ia para seu novo escritório.

Ela entrou. Lumos, ela disse, enrugando o nariz para o lugar bolorento. Aquilo teria que servir. Ela atravessou o pequeno escritório e abriu a porta para as outras câmaras. Para seu alívio, suas malas estavam ao pé de uma cama que parecia ótima, como se tivesse acabado de ter sido arrumada.

Sonora sorriu. Alguns feitiços de limpeza, montes de velas e luz, talvez algo perfumado para tirar o cheiro das poções feitas pelos alunos que deram errado... Sim, aquele lugar poderia ser muito confortável. Com um aceno de sua varinha, ela abriu suas malas e começou a desfazê-las.