Intenções Secretas
Capítulo Cinco – Plantando Uma Semente
Severus entrou a passos largos no Salão Principal, escondendo sua fadiga e o ímpeto de rastejar até sua cama atrás de uma máscara de péssimo humor. Ele fez uma carranca para dois segundanistas da Lufa-Lufa que estavam parados em seu caminho, cuja parte foi rapidamente evacuada por eles, sussurrando uns com os outros enquanto ele passava.
A mesa dos professores estava praticamente cheia, muitas das cadeiras contendo professores que já faziam sua refeição. Dumbledore estava escutando atentamente a Professora McGonagall, mas ergueu os olhos quando ele se aproximou. Severus esperou que ele fosse o único que podia ver o olhar de interesse do diretor sobre ele, e se concentrou em ignorar qualquer um à sua volta.
Ele puxou a cadeira e se sentou, sabendo que a comida ajudaria a dar um fim na exaustão e nos resquícios de dor que ele ainda sentia. Era sempre assim, quando ele voltava da companhia do Lord das Trevas. Ele havia se tornado muito bom em esconder qualquer coisa que sentisse, ao menos. Os alunos nunca suspeitavam de nada.
Severus acabara de pegar um belo rolinho de carne quando ergueu os olhos e viu a Professora Stone fazendo seu lento caminho até a mesa. Os estudantes a cumprimentaram com ávidos sorrisos, sorrisos que ela respondeu amigavelmente com acenos de cabeça.
Ele a observou secretamente. Ela havia ganhado a maioria dos alunos em tempo recorde, ele pensou. E os professores. Até a gangue da Sonserina, com a notável exceção de Draco Malfoy, estavam comentando que ela era boa, embora não fosse o Professor Snape. Bons sonserinos sempre apreciavam favoritismo, e Severus sempre teve essa atitude para com eles. Isso acrescentara pontos à sua reputação.
Seus olhos se estreitaram quando a Professora Stone pareceu tropeçar um pouco enquanto passava por um grande grupo de corvinais. Ela foi instantaneamente segurada por mãos rápidas, mas Severus teve que resistir ao ímpeto de gritar em aviso. A mulher precisava de um guardião, foi o que pensou. Vadiando através do castelo com aquela muleta. Já fora surpreendente que ela não tivesse caído e quebrado o outro pé.
Quando a Professora Stone chegou mais perto, os olhos aguados dele puderam detectar os pálidos sinais de dor no rosto dela. Então seu pequeno tropeço tinha custado a ela mais do que deixara transparecer, não é? Por alguma razão, isso fez com que sua expressão se fechasse mais ainda, e ele teve uma estranha vontade de repreender a mulher por não tomar o cuidado devido consigo mesma.
Furioso consigo mesmo, mas não capaz de frear o impulso, Severus meio que ruborizou e puxou a cadeira da Professora Stone, quando ela começou a se aproximar da mesa. Ela olhou-o, surpresa. "Apenas se sente", ele rosnou para ela, interpretando sua reação como mal disfarçada relutância.
Ela deu um fraco aceno, e então fez o que foi orientada, sentando-se em sua cadeira com a cautela já familiar. Severus esperou até que ela estivesse confortável para em seguida sentar-se de novo e estender novamente a mão para sua comida.
"Obrigada", a voz suave da Professora Stone soou ao lado dele, e Severus grunhiu, antes de finalmente pôr a carne na boca.
Sonora checou a prateleira mais uma vez, se esforçando para enxergar algo a pelo menos uns sessenta centímetros de altura da cabeça dela. "Pro inferno com isso", ela murmurou sob sua respiração, depois de olhar rapidamente em volta para ver ser nenhum aluno estava ali para ouvi-la xingar. "Por que tudo por aqui tem que ser feito pra gente alta?". Olhando para os suportes, ela viu Ervas do Norte Australiano e Poções Nativas do Kuwait. Ela encarou a prateleira.
"Tinha que ser por aqui que estava", ela disse em voz baixa, silenciosamente se lembrando do fato de que ela estava falando sozinha, e provavelmente pareceria meio maluca se alguém a visse. "Accio Plantas da Sibéria".
O livro grosso e empoeirado voou até sua mão, e ela quase deixou que caísse no chão. Ela oscilou por um momento, antes de recuperar o equilíbrio, apoiando-se em sua muleta como devia, e fez seu caminho até uma pilha de livros sobre uma mesa próxima.
Silenciosamente ela virou a capa do livro, e começou a copiar a tabela de conteúdos. Agrimônia, manjericão, gerânio de dente de javali, planta do sangue... Ela parou para prestar atenção àquele. Era uma possibilidade, ela pensou, enquanto punha o livro sobre outros dois que ela selecionara.
Sangue de Coração, era como os nativos chamavam, as folhas de um vermelho escuro, e só cresciam nos lugares mais escuros das cavernas, longe da luz. O vilarejo onde ela vivera tinha uma lenda sobre aquela planta, intitulando- a como a reencarnação de dois amantes assassinados há muito tempo, e se colhida com as mais verdadeiras intenções, poderia trazer à pessoa um amor verdadeiro.
Sonora ficara pouco interessada na lenda e mais interessada no fato de que o chá daquelas folhas parecia poder dar fim em qualquer tipo de dor por curtos períodos de tempo. Ela tinha amostras crescendo em sua bagagem havia poucos anos, bem protegidos da luz. Aquela era uma das chaves para sua pesquisa. E agora que ela tinha uma das melhores bibliotecas do mundo bruxo à sua disposição, bem...
Sonora guardou a varinha no bolso das vestes, e cuidadosamente segurou os três livros que encontrara. Virando-se e saindo da Seção Restrita, ela os colocou sobre a mesa de Madame Pince para que ela os checasse.
"Sonora Stone", Madame Pince disse, enquanto arrumava os óculos. Ela começou a anotar o nome dos livros. "Estou muito feliz de ver uma aluna que sempre soube o valor à sabedoria voltando para Hogwarts."
Sonora sorriu para ela. Ela passara muito tempo na biblioteca, torcida em algum canto com sua lição de casa ou simplesmente lendo. Ela sempre gostou de qualquer tipo de sabedoria, e, após seu terceiro ano, uma coisa qualquer sobre Poções.
"É bom estar de volta", ela disse com um sorriso.
Madame Pince entregou os livros de volta para ela. "Lendo um pouco?", ela perguntou, com um olhar curioso.
"Exatamente", Sonora disse, sorrindo ainda. Bom, ela estava, pensou, enquanto arrumava os livros sob seu braço de novo.
Madame Pince olhou-a, preocupada. "Você tem certeza de que não precisa de nenhuma, querida? Eu posso fazer um desses alunos carregá-los para você..."
"Oh, não", Sonora disse rapidamente. "Estou bem. De verdade." Todas as ofertas para carregar coisas pra ela já estavam começando a ficar cansativas. Ela tinha todos os membros, não perdera nada nem qualquer coisa parecida. Para alguém tão acostumado a viver sozinho e depender apenas de si mesmo, toda aquela atenção era perturbadora.
Ela tomou o caminho para a porta da biblioteca, coxeando, e deu a Madame Pince um aceno de despedida. Seus olhos pousaram em um grupo de quintanistas, numa mesa em um canto. Grifinórios, ela pensou distraidamente, reconhecendo as cabeças vermelha, preta e castanha no famoso trio de amigos. O Sr. Potter ergueu os olhos quando ela abriu a porta e Sonora lançou-lhe um olhar amigável.
Em contrapartida a eles, do outro lado da biblioteca, seus olhos foram pegos pelo malevolente olhar gelado do Sr. Malfoy. O garoto imediatamente desviou o olhar quando ela se virou para ele, mas ela já vira o suficiente para entender que ele ainda estava com muita raiva graças à última aula com Sonora. Era mesmo uma pena, ela pensou ainda distraidamente, enquanto se encaminha para a porta da biblioteca. O garoto tinha boas mãos com um caldeirão.
Sonora já estava quase fora quando a porta se abriu de repente, com força, quase derrubando-a. Sonora ergueu a vista e viu a figura em vestes negras adentrando. Ela olhou diretamente nos olhos do Professor Snape, surpreendida.
Ele amarrou a cara para ela. "Que diabos você está fazendo?", ele perguntou. Olhou então de relance para os pesados livros sob o braço de Sonora. "Você mal consegue andar sozinha, quanto mais carregando esses montes de livros."
Sonora sentiu sua têmpora começar a ruborizar, mas com um pouco de esforço controlou-se. O Professor Snape não mereceria vê-la ruborizar por estar de novo ecoando aquela ladainha que ela já estava cansada de ouvir. "Obrigada, professor, mas eu posso assegurar que posso carregar alguns livros como estes", ela disse, com a voz propositalmente um pouco desdenhosa.
Para sua maior surpresa, Snape bufou. "Claro que você pode. Capaz de carregar qualquer coisa, não é professora", ele sibilou sarcasticamente. Enquanto falou ele simplesmente estendeu os braços e pegou os livros dela. "Qualquer tolo pode ver que você não deveria estar carregando esses livros. Irei deixá-los na sua mesa", ele disse.
Sonora resistiu a pasmar diante dele enquanto Snape se virava com um rápido movimento de sua capa. Se ela não estava enganada, ela pensou, fazendo seu caminho vagarosamente atrás dele, ela diria que Snape estava começando a voltar a si.
Muitas semanas depois, Sonora estava confortavelmente acomodada em seu escritório, bebericando um chá e corrigindo algumas lições do sexto ano sobre a importância de controlar o calor da chama ao fazer uma Poção Relaxante, quando alguém bateu à porta.
"Entre", ela chamou. Ela ergueu os olhos com um sorriso de boas vindas quando a Srta. Granger entrou. "Sim, Srta. Granger?", ela perguntou. "O que posso fazer por você?". Atrás dela Sonora viu o Sr. Potter espreitando-a, muitos passos atrás.
A Srta. Granger limpou um pouco a garganta. "Ah, professora, Harry e eu estivemos nos perguntando se a senhora podia nos explicar sobre as origens da Poção da Limpeza Rápida", disse.
Sonora deu um sorriso encorajador. "Certamente. Sr. Potter", ela chamou, erguendo a voz um pouco enquanto olhava para trás da garota encostada no batente. "se você precisa de ajuda será melhor ouvi-la aqui dentro do que aí fora." O Sr. Potter e, para sua leve surpresa, o Sr. Weasley entraram encabuladamente na sala.
"Eu pensei que a senhora não fosse...", a Srta. Granger começou antes de desistir e ficar quieta.
O Sr. Weasley pareceu estar ruborizando, julgando pelo tom carmesim em volta de suas orelhas. "Precisando de ajuda, ela não se importaria...", ele murmurou para seu amigo.
Sonora assistiu-os, divertida. Estes eram amigos interessantes. "Suas perguntas?", ela lembrou-os gentilmente.
Levou mais um menos uma meia hora para que os alunos relaxassem. Eles se tornaram muito mais agradáveis quando perceberam que ela não iria gritar com eles se não respondessem todas as dúvidas por si mesmos. Aquele Professor Snape, ela pensou tristemente, ele não havia mudado nada mesmo desde que ela tivera aulas com ele.
O Sr. Weasley olhou-a alegremente. "Cara, Professora Stone, a senhora é muito melhor que o Professor Snape. Ele apenas ri da gente e..." sua voz morreu quando viu que a expressão dela tornara-se abruptamente severa. "Uhh..."
"Sr. Weasley", Sonora disse calmamente. "Eu deixei bem claro que apenas comentários respeitosos são permitidos aqui na minha sala. Fazer pouco caso de um professor não é a coisa mais respeitosa do mundo, não acha?". O rosto do garoto enrubesceu. Ela olhou então para o Sr. Potter que parecia estupefato.
"Sr. Potter. Vou aproveitar essa oportunidade para dar este aviso aos dois, um que eu espero que passem a todos os seus colegas." Ela certamente tinha a atenção deles, Sonora pensou tristemente. "Sua classe em particular parece lutar com o conceito de respeito. Não há nenhuma vitória para encontrar em respostas atravessadas, em fofocas e em palavras desnecessariamente rudes."
"Mas são sempre os sonserinos que começam!", Srta. Granger deixou escapar, mas imediatamente pareceu arrependida.
Sonora olhou-a fixamente. "Isso pode ser verdade, Srta. Granger, mas vocês não são obrigados a respondê-los. Se desrespeitarem seus sentimentos em algum momento, vocês sempre devem seguir a Regra de Ouro."
O Sr. Potter franziu a testa. "Regra de Ouro, senhora?"
"Fazer com os outros o que você gostaria que fizessem com você", a Srta. Granger completou. "Você nunca ouviu isso, Harry? Costumam ensinar no primário."
"Ensinam feitiços em escolas trouxas?", o Sr. Weasley soou fascinado. "Você nunca me disse isso, Hermione."
A Srta. Granger fez uma careta para ele. "Não é um feitiço, é apenas algo para ajudar a aprender boas maneiras."
"Atualmente, Srta. Granger", Sonora disse. "A Regra de Ouro é um feitiço. E aquele que a seguir, traz harmonia e bem estar ao castelo."
"Mas é realmente difícil ser legal com alguém quando ele começa a dizer coisas", o Sr. Weasley disse em voz baixa, com um olhar furioso no rosto. Obviamente, estava se lembrando de algo específico.
"E isso, Sr. Weasley, é porque a Regra de Ouro raramente é seguida à risca", Sonora disse calmamente. "Cumpri-la requer uma verdadeira confiança na Regra, e verdadeira dedicação ao conceito. De outro modo, o feitiço não funcionará. Quando feito corretamente, as pessoas não apenas são generosas, mas começam a ser tratadas do mesmo modo pelos outros."
A Srta. Granger parecia fascinada, e a menos que Sonora estivesse enganada, estava planejando uma visita à biblioteca para ler sobre a Regra de Ouro. O Sr. Potter parecia pensativo, e o Sr. Weasley, apenas um pouco confuso.
Sonora resistiu ao impulso de suspirar. "Se vocês não têm mais perguntas sobre a tarefa...", ela disse gentilmente.
Todas as três expressões dos alunos se desanuviaram. "Não, senhora", a Srta. Granger disse educadamente. "Obrigada."
Com certo capricho, Sonora agitou a varinha quando os três estudantes saíram e pôs um Encanto Ouvidor na porta.
"Cristo, ela é um pouco insana, não é?", ela escutou o Sr. Weasley dizer enquanto os três seguiam seu caminho pelo corredor.
"Eu não sei, Rony, se ela está certa sobre a Regra de Ouro, então faz muito sentido", a Srta. Granger retrucou. "Vou dar uma passada na biblioteca pra verificar. Vocês vêm?"
"Não, eu tenho um ensaio de Feitiços pra escrever", o Sr. Potter respondeu. "Ela é muito melhor que o Snape, eu penso, não acham?"
Então houve um murmúrio. "Definitivamente parece melhor", Sr. Weasley disse. "Até tirar todos aqueles pontos das Casas, claro."
"Siga a Regra de Ouro, Rony", a Srta. Granger lembrou-o.
"Diga isso à Malfoy", o outro murmurou.
Sonora deu outro aceno de varinha, encerrando o feitiço, e se sentou de volta em sua cadeira, com um sorriso. Ela tudo como plantar uma semente, ela pensou sorrindo, enquanto se virava para os ensaios do sexto ano. Dumbledore dissera aquilo a ela já havia muito tempo, e ela duvidava que o velho maroto não estivesse certo.
Severus estava cansado, e mais do que preparado pra cair na cama quando ele foi até a sala do diretor aquela noite. Prestando atenção em dois papéis que carregava. Mais cedo ou mais tarde, ele iria fraquejar e o Lord das Trevas teria a sua vingança. Cansado, Severus contemplou o fim. Seria doloroso, ele não tinha dúvida, mas em outros vários sentidos seria um alívio. Além do mais, o que ainda o prendia à sua vida?
Seus passos tornaram-se mais lentos conforme ele se aproximou das masmorras. Dumbledore perguntara como ele estava se dando com a Professora Stone, e custou um grande esforço a ele para se controlar e não rir alto. Como ele estava se dando com ela? Ele estava lentamente ficando maluco, ele pensou, furiosamente.
Todos os dias, ele se surpreendia percebendo coisas que não devia sobre ela. Coisas como a magreza de seus dedos, posicionados sobre uma pena enquanto escrevia. Coisas como o brilho lustroso de seu cabelo escuro, mesmo depois de um dia inteiro passado entre caldeirões. Coisas como o seu pálido tom de pele e o modo como suas vestes escuras deslizavam nela, dando a impressão de que era mais frágil ainda. Ou como seus olhos negros pareciam verdadeiras janelas para seus pensamentos, agora que ele estava ficando mais e mais capaz de identificar disfarçados sinais de dor, fadiga ou raiva.
O pior de tudo era como ele se surpreendia divagando sobre como ela olhava pra ele. Aqueles que sabiam seu segredo inevitavelmente olhavam-no de cima com expressões de desdenho, desgosto, raiva, ou pior, pena. Todos menos Dumbledore olhavam-no como se dissessem que ele não era um deles, e nunca poderia ser. Mas a Professora Stone... seus olhos estavam sempre claros quando se viravam pra ele. Não havia nem um pingo de indiferença, apenas aceitação, e ele era audacioso o suficiente pra pensar isso, respeito.
Severus franziu a testa furiosamente enquanto punha a mão sobre a maçaneta da porta. Ele não precisava perceber essas coisas. Já era ruim o suficiente o quanto ele se sentia ridículo sempre tomando aquele cuidado para que ela se sentasse em segurança quando fazia suas refeições no Salão Principal. Tudo que ele precisava era se deixar devanear sobre aqueles olhos, e então teria problemas.
Sonora largou seu caldeirão, sentindo-se quente e suada e incrivelmente irritada. Que droga, era o terceiro caldeirão que ela fundia aquela noite e já estava começando a dar nos nervos, ela pensou. Cuidadosamente, ela peneirou as pétalas de rosa na mistura borbulhante. Depois de toda aquela leitura, ela ainda não começara a experimentar com o Sangue de Coração. Agora, pela parte que ela não podia parecer hesitar, o líquido meia- noite...
Ela checou suas notas enquanto deixava uma gota cair sobre a solução. Quatro anos ela passara, trabalhando nessa poção em segredo. Ela deixara outra cair e assistiu a mistura clarear. Ela tivera alguns fracassos espetaculares, incluindo aquele que a forçou a se mudar da Sibéria para o Paquistão. O vilarejo siberiano não apreciara ver seu telhado sumindo numa rajada de luz roxa, e ela tivera que usar várias vezes o Obliviate depois de normalizar as outras coisas.
Ela adicionou a terceira gota e começou a ficar tensa. Se ela conseguisse balancear os ingredientes corretamente, dessa vez poderia dar certo...Seria o triunfo, finalmente. Tanta dor desapareceria do mundo. Sua mão estava instável quando ela adicionou a quarta gota. Ao menos ela já conseguira outras coisas com o seu trabalho, como a Poção da Cura Rápida. Ela adicionou a quinta gota e rapidamente tampou a garrafa. Mas eles não seriam nada comparados com aquilo.
Ela alcançara o vidrinho de sal quando a porta da masmorra se abriu com um tremendo estrondo. Sal demais caiu no caldeirão e Sonora instintivamente ergueu o braço antes que o familiar flash de luz roxa tomasse toda a sala.
Quando ela baixou o braço, foi para ver outro caldeirão destruído, outra bagunça, e ainda por cima, um irado Professor Snape, que parecera ter tomado um banho de tinta lilás.
"Ah, nossa", Sonora disse em voz baixa, olhando para ele, sem conseguir impedir os cantos de seus lábios de formarem um sorrisinho. Sua reação pareceu irritar ainda mais o homem quase ao seu lado.
O Professor Snape olhou fixamente para ela. "Que diabos você está fazendo?", ele demandou. Ele ergueu suas mãos e estudou-as antes de voltar seu olhar furioso para ela. "Que droga, estou roxo!"
Sonora ergueu a varinha e começou a lançar feitiços de limpeza por toda a parte, para arrumar a bagunça. "Eu estava trabalhando na minha pesquisa", ela disse, ainda tentada a sorrir. "Você me assustou."
"Estou roxo", Snape repetiu, sua voz erguendo-se.
"Não se preocupe, professor", ela disse, de maneira calmante, esforçando-se ao máximo para não rir. "Isso sairá em mais ou menos um dia."
"Um dia?? VOCÊ não está roxa", ele demandou furiosamente.
"Ah, não, eu lancei alguns feitiços de proteção em mim e na minha sala", Sonora disse, os lábios tremendo com o esforço de não rir, ainda. "Eu não acho que você apreciaria uma sala de aula lilás."
Snape olhou suas mãos de novo. "Um dia? Vá pro inferno", ele murmurou, antes de começar a se virar e ir para os seus aposentos. Então ele abruptamente parou e olhou em volta. "E o quê é isso no que você está trabalhando?", ele demandou de novo.
Sonora sorriu. "Você saberá assim que eu descobrir", ela disse.
Ela pensou ter ouvido um grunhido vindo da garganta do professor antes que ele se virasse e desaparecesse atrás da porta.
Sonora então riu de si mesma e limpou todo o seu próprio escritório. Ela quase não via o Professor Snape, recentemente. Ele parecia estar tentando manter-se fora de seu caminho. Além das listas de lições que ele deixava em sua mesa toda a semana, e de seu constante silêncio ao lado dela durante o jantar, ela apenas o vira aquele dia em que ele carregara os livros para ela.
Ela se sentou devagar em sua cadeira, e cuidadosamente acomodou seu pé no lugar de sempre. Madame Pomfrey disse-lhe que estava se curando devagar, mais do que ela antecipara, Ao menos, Sonora fora promovida da muleta para uma bengala, e ela estava decidida a ver aquilo como um progresso.
Fez uma careta. Se ao menos ela pudesse também ser promovida da dor igualmente, ela pensou, massageando sua coxa. Aquilo nunca parecia melhorar.
Para sua surpresa na manhã seguinte, Snape apareceu para o café da manhã. Ele puxou a cadeira dela, como era de costume, antes de sentar-se com um gesto largo de suas vestes. Sonora olhou para ele, impressionada. "Nossa, você não está mais roxo", ela disse surpresa, sem pensar.
O Professor Snape lançou-a um olhar presunçoso. "Quando você tiver ensinando aqueles cabeças-ocas por tanto tempo quanto eu, terá também desenvolvido uma série de antídotos para várias coisas", ele disse, pegando para si um belo monte de ovos.
Sonora riu, deliciada de que finalmente estivessem conversando. "Você já ficou roxo antes?", ela perguntou, esperando que ele lhe passasse uma tigela.
Snape fungou. "Os gêmeos Weasley conseguiram um grande número de cores durante os últimos seis anos". Sonora pensou ter ouvido uma nota de humor em sua fala e riu. Por incrível que pareça, Snape sorriu. Foi um sorriso duro e seco, pra ser sincera, mas definitivamente havia uma curva nos seus lábios. "Por obséquio me faça um favor, Professora Stone, e não tente aborrecê-los. Meu estoque de pó de chifre de unicórnio está muito baixo."
Sonora riu baixinho. "Farei meu melhor, professor", ela disse com um largo sorriso.
Ele ofereceu a tigela. "Ovos?"
"Obrigada", ela sorriu e aceitou a oferta.
Capítulo Cinco – Plantando Uma Semente
Severus entrou a passos largos no Salão Principal, escondendo sua fadiga e o ímpeto de rastejar até sua cama atrás de uma máscara de péssimo humor. Ele fez uma carranca para dois segundanistas da Lufa-Lufa que estavam parados em seu caminho, cuja parte foi rapidamente evacuada por eles, sussurrando uns com os outros enquanto ele passava.
A mesa dos professores estava praticamente cheia, muitas das cadeiras contendo professores que já faziam sua refeição. Dumbledore estava escutando atentamente a Professora McGonagall, mas ergueu os olhos quando ele se aproximou. Severus esperou que ele fosse o único que podia ver o olhar de interesse do diretor sobre ele, e se concentrou em ignorar qualquer um à sua volta.
Ele puxou a cadeira e se sentou, sabendo que a comida ajudaria a dar um fim na exaustão e nos resquícios de dor que ele ainda sentia. Era sempre assim, quando ele voltava da companhia do Lord das Trevas. Ele havia se tornado muito bom em esconder qualquer coisa que sentisse, ao menos. Os alunos nunca suspeitavam de nada.
Severus acabara de pegar um belo rolinho de carne quando ergueu os olhos e viu a Professora Stone fazendo seu lento caminho até a mesa. Os estudantes a cumprimentaram com ávidos sorrisos, sorrisos que ela respondeu amigavelmente com acenos de cabeça.
Ele a observou secretamente. Ela havia ganhado a maioria dos alunos em tempo recorde, ele pensou. E os professores. Até a gangue da Sonserina, com a notável exceção de Draco Malfoy, estavam comentando que ela era boa, embora não fosse o Professor Snape. Bons sonserinos sempre apreciavam favoritismo, e Severus sempre teve essa atitude para com eles. Isso acrescentara pontos à sua reputação.
Seus olhos se estreitaram quando a Professora Stone pareceu tropeçar um pouco enquanto passava por um grande grupo de corvinais. Ela foi instantaneamente segurada por mãos rápidas, mas Severus teve que resistir ao ímpeto de gritar em aviso. A mulher precisava de um guardião, foi o que pensou. Vadiando através do castelo com aquela muleta. Já fora surpreendente que ela não tivesse caído e quebrado o outro pé.
Quando a Professora Stone chegou mais perto, os olhos aguados dele puderam detectar os pálidos sinais de dor no rosto dela. Então seu pequeno tropeço tinha custado a ela mais do que deixara transparecer, não é? Por alguma razão, isso fez com que sua expressão se fechasse mais ainda, e ele teve uma estranha vontade de repreender a mulher por não tomar o cuidado devido consigo mesma.
Furioso consigo mesmo, mas não capaz de frear o impulso, Severus meio que ruborizou e puxou a cadeira da Professora Stone, quando ela começou a se aproximar da mesa. Ela olhou-o, surpresa. "Apenas se sente", ele rosnou para ela, interpretando sua reação como mal disfarçada relutância.
Ela deu um fraco aceno, e então fez o que foi orientada, sentando-se em sua cadeira com a cautela já familiar. Severus esperou até que ela estivesse confortável para em seguida sentar-se de novo e estender novamente a mão para sua comida.
"Obrigada", a voz suave da Professora Stone soou ao lado dele, e Severus grunhiu, antes de finalmente pôr a carne na boca.
Sonora checou a prateleira mais uma vez, se esforçando para enxergar algo a pelo menos uns sessenta centímetros de altura da cabeça dela. "Pro inferno com isso", ela murmurou sob sua respiração, depois de olhar rapidamente em volta para ver ser nenhum aluno estava ali para ouvi-la xingar. "Por que tudo por aqui tem que ser feito pra gente alta?". Olhando para os suportes, ela viu Ervas do Norte Australiano e Poções Nativas do Kuwait. Ela encarou a prateleira.
"Tinha que ser por aqui que estava", ela disse em voz baixa, silenciosamente se lembrando do fato de que ela estava falando sozinha, e provavelmente pareceria meio maluca se alguém a visse. "Accio Plantas da Sibéria".
O livro grosso e empoeirado voou até sua mão, e ela quase deixou que caísse no chão. Ela oscilou por um momento, antes de recuperar o equilíbrio, apoiando-se em sua muleta como devia, e fez seu caminho até uma pilha de livros sobre uma mesa próxima.
Silenciosamente ela virou a capa do livro, e começou a copiar a tabela de conteúdos. Agrimônia, manjericão, gerânio de dente de javali, planta do sangue... Ela parou para prestar atenção àquele. Era uma possibilidade, ela pensou, enquanto punha o livro sobre outros dois que ela selecionara.
Sangue de Coração, era como os nativos chamavam, as folhas de um vermelho escuro, e só cresciam nos lugares mais escuros das cavernas, longe da luz. O vilarejo onde ela vivera tinha uma lenda sobre aquela planta, intitulando- a como a reencarnação de dois amantes assassinados há muito tempo, e se colhida com as mais verdadeiras intenções, poderia trazer à pessoa um amor verdadeiro.
Sonora ficara pouco interessada na lenda e mais interessada no fato de que o chá daquelas folhas parecia poder dar fim em qualquer tipo de dor por curtos períodos de tempo. Ela tinha amostras crescendo em sua bagagem havia poucos anos, bem protegidos da luz. Aquela era uma das chaves para sua pesquisa. E agora que ela tinha uma das melhores bibliotecas do mundo bruxo à sua disposição, bem...
Sonora guardou a varinha no bolso das vestes, e cuidadosamente segurou os três livros que encontrara. Virando-se e saindo da Seção Restrita, ela os colocou sobre a mesa de Madame Pince para que ela os checasse.
"Sonora Stone", Madame Pince disse, enquanto arrumava os óculos. Ela começou a anotar o nome dos livros. "Estou muito feliz de ver uma aluna que sempre soube o valor à sabedoria voltando para Hogwarts."
Sonora sorriu para ela. Ela passara muito tempo na biblioteca, torcida em algum canto com sua lição de casa ou simplesmente lendo. Ela sempre gostou de qualquer tipo de sabedoria, e, após seu terceiro ano, uma coisa qualquer sobre Poções.
"É bom estar de volta", ela disse com um sorriso.
Madame Pince entregou os livros de volta para ela. "Lendo um pouco?", ela perguntou, com um olhar curioso.
"Exatamente", Sonora disse, sorrindo ainda. Bom, ela estava, pensou, enquanto arrumava os livros sob seu braço de novo.
Madame Pince olhou-a, preocupada. "Você tem certeza de que não precisa de nenhuma, querida? Eu posso fazer um desses alunos carregá-los para você..."
"Oh, não", Sonora disse rapidamente. "Estou bem. De verdade." Todas as ofertas para carregar coisas pra ela já estavam começando a ficar cansativas. Ela tinha todos os membros, não perdera nada nem qualquer coisa parecida. Para alguém tão acostumado a viver sozinho e depender apenas de si mesmo, toda aquela atenção era perturbadora.
Ela tomou o caminho para a porta da biblioteca, coxeando, e deu a Madame Pince um aceno de despedida. Seus olhos pousaram em um grupo de quintanistas, numa mesa em um canto. Grifinórios, ela pensou distraidamente, reconhecendo as cabeças vermelha, preta e castanha no famoso trio de amigos. O Sr. Potter ergueu os olhos quando ela abriu a porta e Sonora lançou-lhe um olhar amigável.
Em contrapartida a eles, do outro lado da biblioteca, seus olhos foram pegos pelo malevolente olhar gelado do Sr. Malfoy. O garoto imediatamente desviou o olhar quando ela se virou para ele, mas ela já vira o suficiente para entender que ele ainda estava com muita raiva graças à última aula com Sonora. Era mesmo uma pena, ela pensou ainda distraidamente, enquanto se encaminha para a porta da biblioteca. O garoto tinha boas mãos com um caldeirão.
Sonora já estava quase fora quando a porta se abriu de repente, com força, quase derrubando-a. Sonora ergueu a vista e viu a figura em vestes negras adentrando. Ela olhou diretamente nos olhos do Professor Snape, surpreendida.
Ele amarrou a cara para ela. "Que diabos você está fazendo?", ele perguntou. Olhou então de relance para os pesados livros sob o braço de Sonora. "Você mal consegue andar sozinha, quanto mais carregando esses montes de livros."
Sonora sentiu sua têmpora começar a ruborizar, mas com um pouco de esforço controlou-se. O Professor Snape não mereceria vê-la ruborizar por estar de novo ecoando aquela ladainha que ela já estava cansada de ouvir. "Obrigada, professor, mas eu posso assegurar que posso carregar alguns livros como estes", ela disse, com a voz propositalmente um pouco desdenhosa.
Para sua maior surpresa, Snape bufou. "Claro que você pode. Capaz de carregar qualquer coisa, não é professora", ele sibilou sarcasticamente. Enquanto falou ele simplesmente estendeu os braços e pegou os livros dela. "Qualquer tolo pode ver que você não deveria estar carregando esses livros. Irei deixá-los na sua mesa", ele disse.
Sonora resistiu a pasmar diante dele enquanto Snape se virava com um rápido movimento de sua capa. Se ela não estava enganada, ela pensou, fazendo seu caminho vagarosamente atrás dele, ela diria que Snape estava começando a voltar a si.
Muitas semanas depois, Sonora estava confortavelmente acomodada em seu escritório, bebericando um chá e corrigindo algumas lições do sexto ano sobre a importância de controlar o calor da chama ao fazer uma Poção Relaxante, quando alguém bateu à porta.
"Entre", ela chamou. Ela ergueu os olhos com um sorriso de boas vindas quando a Srta. Granger entrou. "Sim, Srta. Granger?", ela perguntou. "O que posso fazer por você?". Atrás dela Sonora viu o Sr. Potter espreitando-a, muitos passos atrás.
A Srta. Granger limpou um pouco a garganta. "Ah, professora, Harry e eu estivemos nos perguntando se a senhora podia nos explicar sobre as origens da Poção da Limpeza Rápida", disse.
Sonora deu um sorriso encorajador. "Certamente. Sr. Potter", ela chamou, erguendo a voz um pouco enquanto olhava para trás da garota encostada no batente. "se você precisa de ajuda será melhor ouvi-la aqui dentro do que aí fora." O Sr. Potter e, para sua leve surpresa, o Sr. Weasley entraram encabuladamente na sala.
"Eu pensei que a senhora não fosse...", a Srta. Granger começou antes de desistir e ficar quieta.
O Sr. Weasley pareceu estar ruborizando, julgando pelo tom carmesim em volta de suas orelhas. "Precisando de ajuda, ela não se importaria...", ele murmurou para seu amigo.
Sonora assistiu-os, divertida. Estes eram amigos interessantes. "Suas perguntas?", ela lembrou-os gentilmente.
Levou mais um menos uma meia hora para que os alunos relaxassem. Eles se tornaram muito mais agradáveis quando perceberam que ela não iria gritar com eles se não respondessem todas as dúvidas por si mesmos. Aquele Professor Snape, ela pensou tristemente, ele não havia mudado nada mesmo desde que ela tivera aulas com ele.
O Sr. Weasley olhou-a alegremente. "Cara, Professora Stone, a senhora é muito melhor que o Professor Snape. Ele apenas ri da gente e..." sua voz morreu quando viu que a expressão dela tornara-se abruptamente severa. "Uhh..."
"Sr. Weasley", Sonora disse calmamente. "Eu deixei bem claro que apenas comentários respeitosos são permitidos aqui na minha sala. Fazer pouco caso de um professor não é a coisa mais respeitosa do mundo, não acha?". O rosto do garoto enrubesceu. Ela olhou então para o Sr. Potter que parecia estupefato.
"Sr. Potter. Vou aproveitar essa oportunidade para dar este aviso aos dois, um que eu espero que passem a todos os seus colegas." Ela certamente tinha a atenção deles, Sonora pensou tristemente. "Sua classe em particular parece lutar com o conceito de respeito. Não há nenhuma vitória para encontrar em respostas atravessadas, em fofocas e em palavras desnecessariamente rudes."
"Mas são sempre os sonserinos que começam!", Srta. Granger deixou escapar, mas imediatamente pareceu arrependida.
Sonora olhou-a fixamente. "Isso pode ser verdade, Srta. Granger, mas vocês não são obrigados a respondê-los. Se desrespeitarem seus sentimentos em algum momento, vocês sempre devem seguir a Regra de Ouro."
O Sr. Potter franziu a testa. "Regra de Ouro, senhora?"
"Fazer com os outros o que você gostaria que fizessem com você", a Srta. Granger completou. "Você nunca ouviu isso, Harry? Costumam ensinar no primário."
"Ensinam feitiços em escolas trouxas?", o Sr. Weasley soou fascinado. "Você nunca me disse isso, Hermione."
A Srta. Granger fez uma careta para ele. "Não é um feitiço, é apenas algo para ajudar a aprender boas maneiras."
"Atualmente, Srta. Granger", Sonora disse. "A Regra de Ouro é um feitiço. E aquele que a seguir, traz harmonia e bem estar ao castelo."
"Mas é realmente difícil ser legal com alguém quando ele começa a dizer coisas", o Sr. Weasley disse em voz baixa, com um olhar furioso no rosto. Obviamente, estava se lembrando de algo específico.
"E isso, Sr. Weasley, é porque a Regra de Ouro raramente é seguida à risca", Sonora disse calmamente. "Cumpri-la requer uma verdadeira confiança na Regra, e verdadeira dedicação ao conceito. De outro modo, o feitiço não funcionará. Quando feito corretamente, as pessoas não apenas são generosas, mas começam a ser tratadas do mesmo modo pelos outros."
A Srta. Granger parecia fascinada, e a menos que Sonora estivesse enganada, estava planejando uma visita à biblioteca para ler sobre a Regra de Ouro. O Sr. Potter parecia pensativo, e o Sr. Weasley, apenas um pouco confuso.
Sonora resistiu ao impulso de suspirar. "Se vocês não têm mais perguntas sobre a tarefa...", ela disse gentilmente.
Todas as três expressões dos alunos se desanuviaram. "Não, senhora", a Srta. Granger disse educadamente. "Obrigada."
Com certo capricho, Sonora agitou a varinha quando os três estudantes saíram e pôs um Encanto Ouvidor na porta.
"Cristo, ela é um pouco insana, não é?", ela escutou o Sr. Weasley dizer enquanto os três seguiam seu caminho pelo corredor.
"Eu não sei, Rony, se ela está certa sobre a Regra de Ouro, então faz muito sentido", a Srta. Granger retrucou. "Vou dar uma passada na biblioteca pra verificar. Vocês vêm?"
"Não, eu tenho um ensaio de Feitiços pra escrever", o Sr. Potter respondeu. "Ela é muito melhor que o Snape, eu penso, não acham?"
Então houve um murmúrio. "Definitivamente parece melhor", Sr. Weasley disse. "Até tirar todos aqueles pontos das Casas, claro."
"Siga a Regra de Ouro, Rony", a Srta. Granger lembrou-o.
"Diga isso à Malfoy", o outro murmurou.
Sonora deu outro aceno de varinha, encerrando o feitiço, e se sentou de volta em sua cadeira, com um sorriso. Ela tudo como plantar uma semente, ela pensou sorrindo, enquanto se virava para os ensaios do sexto ano. Dumbledore dissera aquilo a ela já havia muito tempo, e ela duvidava que o velho maroto não estivesse certo.
Severus estava cansado, e mais do que preparado pra cair na cama quando ele foi até a sala do diretor aquela noite. Prestando atenção em dois papéis que carregava. Mais cedo ou mais tarde, ele iria fraquejar e o Lord das Trevas teria a sua vingança. Cansado, Severus contemplou o fim. Seria doloroso, ele não tinha dúvida, mas em outros vários sentidos seria um alívio. Além do mais, o que ainda o prendia à sua vida?
Seus passos tornaram-se mais lentos conforme ele se aproximou das masmorras. Dumbledore perguntara como ele estava se dando com a Professora Stone, e custou um grande esforço a ele para se controlar e não rir alto. Como ele estava se dando com ela? Ele estava lentamente ficando maluco, ele pensou, furiosamente.
Todos os dias, ele se surpreendia percebendo coisas que não devia sobre ela. Coisas como a magreza de seus dedos, posicionados sobre uma pena enquanto escrevia. Coisas como o brilho lustroso de seu cabelo escuro, mesmo depois de um dia inteiro passado entre caldeirões. Coisas como o seu pálido tom de pele e o modo como suas vestes escuras deslizavam nela, dando a impressão de que era mais frágil ainda. Ou como seus olhos negros pareciam verdadeiras janelas para seus pensamentos, agora que ele estava ficando mais e mais capaz de identificar disfarçados sinais de dor, fadiga ou raiva.
O pior de tudo era como ele se surpreendia divagando sobre como ela olhava pra ele. Aqueles que sabiam seu segredo inevitavelmente olhavam-no de cima com expressões de desdenho, desgosto, raiva, ou pior, pena. Todos menos Dumbledore olhavam-no como se dissessem que ele não era um deles, e nunca poderia ser. Mas a Professora Stone... seus olhos estavam sempre claros quando se viravam pra ele. Não havia nem um pingo de indiferença, apenas aceitação, e ele era audacioso o suficiente pra pensar isso, respeito.
Severus franziu a testa furiosamente enquanto punha a mão sobre a maçaneta da porta. Ele não precisava perceber essas coisas. Já era ruim o suficiente o quanto ele se sentia ridículo sempre tomando aquele cuidado para que ela se sentasse em segurança quando fazia suas refeições no Salão Principal. Tudo que ele precisava era se deixar devanear sobre aqueles olhos, e então teria problemas.
Sonora largou seu caldeirão, sentindo-se quente e suada e incrivelmente irritada. Que droga, era o terceiro caldeirão que ela fundia aquela noite e já estava começando a dar nos nervos, ela pensou. Cuidadosamente, ela peneirou as pétalas de rosa na mistura borbulhante. Depois de toda aquela leitura, ela ainda não começara a experimentar com o Sangue de Coração. Agora, pela parte que ela não podia parecer hesitar, o líquido meia- noite...
Ela checou suas notas enquanto deixava uma gota cair sobre a solução. Quatro anos ela passara, trabalhando nessa poção em segredo. Ela deixara outra cair e assistiu a mistura clarear. Ela tivera alguns fracassos espetaculares, incluindo aquele que a forçou a se mudar da Sibéria para o Paquistão. O vilarejo siberiano não apreciara ver seu telhado sumindo numa rajada de luz roxa, e ela tivera que usar várias vezes o Obliviate depois de normalizar as outras coisas.
Ela adicionou a terceira gota e começou a ficar tensa. Se ela conseguisse balancear os ingredientes corretamente, dessa vez poderia dar certo...Seria o triunfo, finalmente. Tanta dor desapareceria do mundo. Sua mão estava instável quando ela adicionou a quarta gota. Ao menos ela já conseguira outras coisas com o seu trabalho, como a Poção da Cura Rápida. Ela adicionou a quinta gota e rapidamente tampou a garrafa. Mas eles não seriam nada comparados com aquilo.
Ela alcançara o vidrinho de sal quando a porta da masmorra se abriu com um tremendo estrondo. Sal demais caiu no caldeirão e Sonora instintivamente ergueu o braço antes que o familiar flash de luz roxa tomasse toda a sala.
Quando ela baixou o braço, foi para ver outro caldeirão destruído, outra bagunça, e ainda por cima, um irado Professor Snape, que parecera ter tomado um banho de tinta lilás.
"Ah, nossa", Sonora disse em voz baixa, olhando para ele, sem conseguir impedir os cantos de seus lábios de formarem um sorrisinho. Sua reação pareceu irritar ainda mais o homem quase ao seu lado.
O Professor Snape olhou fixamente para ela. "Que diabos você está fazendo?", ele demandou. Ele ergueu suas mãos e estudou-as antes de voltar seu olhar furioso para ela. "Que droga, estou roxo!"
Sonora ergueu a varinha e começou a lançar feitiços de limpeza por toda a parte, para arrumar a bagunça. "Eu estava trabalhando na minha pesquisa", ela disse, ainda tentada a sorrir. "Você me assustou."
"Estou roxo", Snape repetiu, sua voz erguendo-se.
"Não se preocupe, professor", ela disse, de maneira calmante, esforçando-se ao máximo para não rir. "Isso sairá em mais ou menos um dia."
"Um dia?? VOCÊ não está roxa", ele demandou furiosamente.
"Ah, não, eu lancei alguns feitiços de proteção em mim e na minha sala", Sonora disse, os lábios tremendo com o esforço de não rir, ainda. "Eu não acho que você apreciaria uma sala de aula lilás."
Snape olhou suas mãos de novo. "Um dia? Vá pro inferno", ele murmurou, antes de começar a se virar e ir para os seus aposentos. Então ele abruptamente parou e olhou em volta. "E o quê é isso no que você está trabalhando?", ele demandou de novo.
Sonora sorriu. "Você saberá assim que eu descobrir", ela disse.
Ela pensou ter ouvido um grunhido vindo da garganta do professor antes que ele se virasse e desaparecesse atrás da porta.
Sonora então riu de si mesma e limpou todo o seu próprio escritório. Ela quase não via o Professor Snape, recentemente. Ele parecia estar tentando manter-se fora de seu caminho. Além das listas de lições que ele deixava em sua mesa toda a semana, e de seu constante silêncio ao lado dela durante o jantar, ela apenas o vira aquele dia em que ele carregara os livros para ela.
Ela se sentou devagar em sua cadeira, e cuidadosamente acomodou seu pé no lugar de sempre. Madame Pomfrey disse-lhe que estava se curando devagar, mais do que ela antecipara, Ao menos, Sonora fora promovida da muleta para uma bengala, e ela estava decidida a ver aquilo como um progresso.
Fez uma careta. Se ao menos ela pudesse também ser promovida da dor igualmente, ela pensou, massageando sua coxa. Aquilo nunca parecia melhorar.
Para sua surpresa na manhã seguinte, Snape apareceu para o café da manhã. Ele puxou a cadeira dela, como era de costume, antes de sentar-se com um gesto largo de suas vestes. Sonora olhou para ele, impressionada. "Nossa, você não está mais roxo", ela disse surpresa, sem pensar.
O Professor Snape lançou-a um olhar presunçoso. "Quando você tiver ensinando aqueles cabeças-ocas por tanto tempo quanto eu, terá também desenvolvido uma série de antídotos para várias coisas", ele disse, pegando para si um belo monte de ovos.
Sonora riu, deliciada de que finalmente estivessem conversando. "Você já ficou roxo antes?", ela perguntou, esperando que ele lhe passasse uma tigela.
Snape fungou. "Os gêmeos Weasley conseguiram um grande número de cores durante os últimos seis anos". Sonora pensou ter ouvido uma nota de humor em sua fala e riu. Por incrível que pareça, Snape sorriu. Foi um sorriso duro e seco, pra ser sincera, mas definitivamente havia uma curva nos seus lábios. "Por obséquio me faça um favor, Professora Stone, e não tente aborrecê-los. Meu estoque de pó de chifre de unicórnio está muito baixo."
Sonora riu baixinho. "Farei meu melhor, professor", ela disse com um largo sorriso.
Ele ofereceu a tigela. "Ovos?"
"Obrigada", ela sorriu e aceitou a oferta.
