Intenções Secretas
Capítulo Seis – Dor
Uma semana depois, Sonora acordou gritando por causa de outro pesadelo, soluçando na lembrança daquela dor. Seu sonho parecia ainda ecoar em seus ouvidos, seus lamentos pareceram todos muito reais, enquanto a proteção do Feitiço Silenciante...
Então ela percebeu que estava ouvindo mais alguém gritando de dor. Era baixinho, dissonante, mas era outra pessoa. Sem pensar, ela jogou as cobertas para o lado e vestiu seu robe enquanto alcançava sua bengala. Outra pessoa estava sofrendo.
Ela abriu a porta do seu quarto e passou rapidamente por seu escuro escritório. Abrindo a porta da sala de aula de Poções, ela viu pela fraca luz de uma tocha uma figura escura escorando-se ao inventário de ingredientes.
"Iluminate", Sonora disse com um vigoroso aceno de varinha. O resto das tochas se acendeu com um silvo e a figura escura contorceu-se sob a luz para revelar a pálida e cansada face do Professor Snape. "Professor Snape?", ela perguntou, dando um passo na direção dele. "O que..."
"Vá embora", ele sibilou. "Volte para a sua cama, e me deixe aqui". Ele se virou de volta para o armário e ela flagrou uma careta em seu rosto. Ele está sofrendo, ela pensou com uma ponta de simpatia.
"Você está machucado", ela disse calmamente, indo mais na direção dele. "Por que você não foi até Madame Pomfrey?"
"Porque quanto menos pessoas souberem das minhas atividades, melhor!", ele sibilou novamente, finalmente chegando até a porta, que abriu com estrondo. "Agora me deixe, mulher!"
Sonora ignorou-o e assistiu por apenas alguns segundos as mãos dele tremerem visivelmente enquanto procurava uma garrafa. De algum modo, o sinal a fez sofrer. "Aqui", ela disse suavemente, com outro aceno de varinha. "Tente isto." Uma garrafa apareceu em suas mãos, convocada de seu malão de viagem.
Ele virou a cabeça para olhá-la desdenhosamente. "Eu não preciso da sua ajuda", ele rosnou.
"Eu suponho que isso tenha sido pela Cruciatus?", ela perguntou calmamente. "Eu conheço os sintomas." Ela fez então com que a garrafa flutuasse na direção dele. "Tente isto."
Ele parou de tremer e encarou a garrafa por um momento. "O que é isso?", ele perguntou, com um tom cauteloso na voz. Ele parecia cansado e dolorido por baixo de toda aquela fachada de calma e independência.
"Foi desenvolvido para dissipar todos os efeitos colaterais da maldição", Sonora contou a ele, sentindo a dor no seu pé se intensificar enquanto ficava parada ali. Ela teve que se apoiar com um pouco mais de força na sua bengala. "Fui eu mesma que fiz."
Snape ficou imóvel por um momento, e então pegou, no que apenas mais tarde foi perceber como um ato de grande confiança, a garrafa flutuante no ar. Então ele desarrolhou-a e virou o líquido rapidamente goela abaixo. Ele curvou a cabeça e Sonora esperou. Ela sabia que a poção trabalhava maravilhosamente rápido.
De fato, poucos instantes depois ele ergueu a cabeça e acenou para ela formalmente. "Obrigado", ele disse, sem olhar pra ela. "Deixe-me sugerir que vá dormir novamente, Professora Stone." Snape estava tomando muito cuidado para não olhar para ela, e ainda contemplava a garrafa azul em sua mão.
Sonora estudou-o, sentindo outra dor se iniciar em outra parte do seu corpo. Teria ela já conhecido alguém tão solitário em toda a sua vida, ela se perguntou. Cansado e ferido em corpo e mente. Dela mesma, alguma pequena voz sussurrou. "Você deve estar cansado", ela disse, um pouco desconfortável ao tentar retomar a mesma linha de pensamento. "Você precisa mesmo dormir."
Snape finalmente se virou e olhou para ela. Havia algo estranho em seu olhar que Sonora não conseguiu reconhecer, que foi logo rapidamente escondido. Ele entregou-a a garrafa azul. "Boa noite", ele disse.
Sentindo-se como algo tivesse acabado de acontecer antes mesmo que ela pudesse se dar conta exatamente do que era, Sonora segurou a garrafa vazia. Seus dedos apertaram a mão dele amigavelmente. "Boa noite", ela disse, um pouco incerta. Ela se virou e começou a ir lentamente de volta até seus aposentos, sentindo o escuro olhar de surpresa do Mestre de Poções atrás dela, assistindo-a ir.
Quando ela finalmente alcançou a sua cama e relaxou sob as cobertas, foi com o desconfortável sentimento de não saber o que esperar. Ela fechou os olhos e tentou limpar sua mente. Pensaria nisso mais tarde.
Severus esperou até que a porta dela se fechasse, deixando-o novamente sozinho. Droga de fraqueza, ele pensou, virando-se e tomando o caminho de sua própria câmara. O Lord das Trevas estivera raivoso com ele, raivoso o suficiente para deixar que Lúcio Malfoy aproveitasse a oportunidade para brincar com seu espião. E Severus estivera com a guarda baixa, não esperando que a Professora Stone vagueando àquela hora da noite.
E então ela estivera ali, parecendo magra e delicada em uma pequena camisola, feita de algo muito sedoso. Seus olhos haviam estado mais escuros e preocupados, e ela quisera ajudar. E ele, um fraco tolo como era, deixara- se ajudar por ela.
Severus tirou suas vestes e jogou-as sobre uma cadeira enquanto caía na cama. Ele se deixou jazer ali por alguns instantes, até se forçar a levantar outra vez e vestir suas costumeiras roupas de dormir.
Mais uma vez, ele se jogou na cama. Fechou os olhos. O que quer que ela tivesse dado a ele, estava mesmo funcionando, ele pensou. Cruciatus geralmente demorava-se por mais tempo, às vezes até por dias. Esta noite, entretanto, não havia resquícios de dor em suas mãos, nenhuma dor mais demorada em seus braços ou pernas.
Severus respirou fundo. Sonora prestara-lhe um serviço, pensou sonolentamente, não percebendo como o primeiro nome dela escorregara sorrateiramente pra dentro de sua cabeça. Talvez ele não deveria tê-la deixado. Mas já estava feito agora. E ele dormiu.
Na tarde seguinte, Sonora tivera o suficiente. "Sr. Malfoy! Sr. Potter!", ela sibilou, apoiando-se no seu pé saudável tranqüilamente para pegar os dois quintanistas com idênticos olhares desdenhosos e varinhas em punho. "Vinte pontos serão tirados de cada um de vocês, e cada um vai pagar uma detenção!"
Ela já sabia o suficiente sobre a animosidade entre aqueles dois, argumentou o Sr. Weasley. Ela notara os maus bocados que o garoto ruivo sofrera um grande azar na última aula de Herbologia, e freqüentemente tinha que ir até a enfermaria, tendo uma Planta Gigante Insetívora de Vênus removida de sua orelha esquerda. Ao menos a antipatia dos garotos fora primariamente direcionada um ao outro, não a ela mesma ou qualquer outro estudante.
A sala de aula estava num silêncio mortal quando as cabeças dos dois se viraram para ela, claramente surpresos de terem sido pegos. A expressão do Sr. Malfoy imediatamente transformou-se numa de um desdenho raivoso.
"Eu já avisei esta classe", ela disse, sua voz ecoando nas silenciosas paredes de pedra da masmorra. "Eu não vou tolerar desrespeito vindo dos meus alunos!" Ela encarou os dois em questão. "Vocês dois. Imediatamente depois do jantar, preparem-se para passar três horas comigo."
"Três horas!", o Sr. Potter deixou escapar.
"Você não pode fazer isso", o Sr. Malfoy teve a audácia de dar um risinho. "Você não é uma professora de verdade..."
Sonora direcionou um olhar para ele que congelou as cordas vocais do garoto. "Este é o seu erro, Sr. Malfoy. Certamente eu sou uma professora de verdade, e como tal posso infringir a você qualquer punição que eu ache necessária. Dez pontos menos para a Sonserina pela sua falta de educação.". Ela olhou a sala inteira então. "Se mais alguém quiser se juntar a eles agora, é só dizer."
Sem nenhuma surpresa, o silêncio mortal continuava diante dela. "Então vamos continuar", ela disse friamente. O resto da classe continuou num relativo silêncio enquanto Sonora fazia suas costumeiras rondas, checando os caldeirões e evitando que alguns erros se tornassem verdadeiros desastres. Silenciosamente, ela se enfureceu. Ela pensara que ao menos o Sr. Potter teria entendido o recado sobre respeito em sua aula. Ela veria se algumas horas fazendo um trabalho extra bem entediante resultaria em algo útil da parte dos dois.
Severus estava fazendo seu caminho até a mesa dos professores quando entreouviu uma conversa. "... então ela deu detenção para Potter e Malfoy!", um lufa-lufa estava dizendo em voz muito baixa para seus amigos. Severus andou mais devagar para ouvir um pouco mais.
"Eu ouvi os sonserinos dizendo que o Malfoy ficou furioso com essa detenção da Professora Stone", outro aluno da Lufa-Lufa disse. Seu rosto estava sério enquanto falava. "Ele esteve dizendo um monte de coisas horríveis sobre ela, e que ele veria o que o pai dele pode fazer com ela."
O primeiro garoto falou de novo, mas Severus foi forçado a continuar andando. "Você acha que o pai do Malfoy é mesmo um Comensal da Morte? Quero dizer, pareceria que..."
Severus apressou o passo, perdido em pensamentos enquanto pegava seu lugar na mesa. Draco estava se tornando mais franco com seus colegas de Casa sobre sua antipatia com a Professora Stone. Severus estivera tentando fazê- lo entender que aversão não era algo muito inteligente de se demonstrar, mas Draco simplesmente deu de ombros e murmurou algo que Severus não entendeu. Este último encarou seu prato de comida. Ele não conseguia tirar da cabeça que o patifezinho tentaria alguma coisa aquela noite. Draco, ignorando toda a vontade de Severus de estar errado, discreto como estava sendo forçado a ser, estava ainda alarmantemente arrogante e possuía uma forte crença em sua própria superioridade. Severus temia que o garoto nunca aprendesse a pensar por si mesmo, simplesmente seguiria os passos do pai em direção à Escuridão.
Severus percebeu quando a hora da refeição estava quase terminando que Sonora não tinha aparecido. Ele franziu a testa. A mulher estava fraca demais para ficar desaparecendo na hora das refeições. Checaria a situação com Malfoy e talvez a visse comendo algo logo em seguida. Além do mais, ele tentou dizer a si mesmo, ele estava apenas tomando conta da reputação de sua Casa.
Sonora esperou pela chegada dos dois quintanistas. Melhor dar a chance aos garotos de chegarem atrasados, pensou enquanto fazia seu caminho até as masmorras. Chamara alguns elfos domésticos para trazerem o jantar em seu escritório. Ela checou o relógio. Eles tinham dois minutos para não chegarem atrasados, ela pensou.
O Sr. Potter foi o primeiro a chegar, mais ou menos trinta segundos depois. "Professora Stone", ele disse, inclinando a cabeça enquanto alcançava a carteira de Sonora.
Ela estudou-o. "Sr. Potter. O senhor pegará aquelas jarras de pêlo de unicórnio e vai cortá-los. Perfeita e uniformemente, Sr. Potter." Ela teve uma certa satisfação de ver o rosto do garoto murchar enquanto ele via o número de jarras.
O Sr. Potter já começara a trabalhar quando o Sr. Malfoy entrou na masmorra. "Está atrasado, Sr. Malfoy.", ela disse, calmamente. "Dez pontos a menos pra Sonserina." A jovem face do garoto fechou-se de raiva e Sonora se perguntou, não pela primeira vez, por que ele continuava a testá-la. Entretanto, ele teria que aprender limites, nem que fosse a partir de agora.
"O senhor pegará essa bolsa de manjericão, Sr. Malfoy, e irá dissecar e pulverizar cada folha individualmente.", ela disse, indicando uma larga saca no chão. "Você pode usar o Feitiço Minutus Flamatus para secar cada folha. Quando a pulverizar, terá de ser feito com a mão mesmo."
O garoto arrancou a saca do chão, parecendo furioso e foi para o outro lado da sala, enquanto o Sr. Potter ignorava-o completamente. Sonora assistiu os dois por alguns minutos até se virar de volta para uns trabalhos dos quintanistas sobre os usos da raiz de dragão.
Um tempo depois, seu pé estava tenso e doendo, quando ela leu o último ensaio. Com um olhar de relance no relógio, ela percebeu que três horas haviam se passado. Ela se levantou com algum esforço e caminhou até a carteira do Sr. Potter para inspecionar o seu trabalho.
Ela estudou o progresso que o garoto estava fazendo. "Não apresse seu trabalho, Sr. Potter, a não ser que queira mais caldeirões explodindo nesta sala de aula.", foi tudo o que disse enquanto examinava a razoável pilha de pêlos cortados. O garoto estava ao menos tentando, ela pensou. Ela estava fazendo o que lhe fora mandado e não tentava fugir da sua punição.
Sonora se virou e foi lentamente entre as colunas até a carteira onde o Sr. Malfoy estava sentado, um olhar azedo que se tornou um risinho desdenhoso quando ele percebeu seu lento progresso na direção dele. Ela ignorou o desrespeito estampado no rosto do garoto, cansada demais para dar outro sermão no sonserino. Ela examinou o escasso monte de pó de manjericão na jarra.
"Sr. Malfoy", ela disse calmamente, não achando solução melhor, "Se o senhor continuar desrespeitando as minhas ordens, eu serei obrigada a bani- lo da minha sala de aula. Isto vai resultar na sua perda deste ano e terá que ter todas estas aulas novamente no ano que vem. Entendido, Sr. Malfoy?"
Ela olhou firmemente para ele, vendo uma fúria fria preenchendo o rosto do garoto, suas mãos apertando o tampo da mesa. "Eu não tenho que tolerar a sua incompetência", ele sibilou. "Eu direi ao meu pai..."
"Seu pai não determina seu desempenho na minha sala de aula, Sr. Malfoy", Sonora cortou-o. "Você sim. E isto está sendo dito ao senhor para que mais tarde não chegue a resultados de que não vai gostar. Eu espero mesmo que melhore a partir de agora."
Ela se virou para ir até a sua mesa, e muito meramente viu o flash de violência no rosto do garoto. Ela não viu o movimento antes que fosse tarde demais, quando ele chutou-a com força do lado de trás de seu joelho fraquejado.
Ondas de uma dor cegante a atingiram e suas pernas perderam o equilíbrio. Incapaz de se segurar, Sonora sentiu seu corpo cair com força sobre o chão de pedra. Ela mal podia respirar, mal podia pensar, mal podia ouvir.
Em algum lugar no fundo da sua mente, ela registrou o som de uma gargalhada furiosa, e de outra voz muito rápida falando por cima.
"Madame Pomfrey, Potter... AGORA!", ele ouviu enquanto tentava respirar. Então dois braços muito fortes estavam ali, segurando-a e erguendo-a no ar. Sonora gemeu em agonia enquanto outra mão apalpava seu joelho.
"Segure-se", uma voz tensa disse em seu ouvido. "Estou levando você para a ala hospitalar."
Sonora soluçou de dor, as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto era carregada através da sala. "Isso machuca", ela lamentou.
"Eu sei", a outra voz disse severamente. Sonora forçou seus olhos a abrirem- se para ver o rosto furioso do Professor Snape. Ele olhou para baixo e viu que ela abrira os olhos. "Droga de moleque idiota!", ele murmurou enquanto ela gemia de novo.
Sonora ouviu o barulho de pés descendo rapidamente o corredor vazio, até encontrarem outra pessoa no final dele. A voz de Dumbledore era urgente e insistente. "O que aconteceu, Severus?"
"Draco Malfoy chutou-a no ferimento. Na parte de trás do joelho, imagino." A voz de Snape era fria e áspera.
Madame Pomfrey também estava ali. "Deixe-me levitá-la até a enfermaria, professor, o senhor não precisa carregá-la..."
"Eu a levo", Snape cortou-a. Na verdade, Sonora estava grata que ele a carregasse. De algum modo irracional, ajudava ter alguém forte e seguro contra ela, enquanto lutava contra a dor.
"Minerva, pode buscar o Sr. Malfoy e deixá-lo no meu escritório esperando por mim?", Dumbledore disse numa voz que Sonora nunca o ouvira usar antes. Uma voz que mesmo dolorida como estava, não desejaria direcionada a ela. "Papoula..."
"Deite-a bem aqui, Professor Snape, e deixe-me dar uma olhada...", Madame Pomfrey instruiu. Sonora estava segurada firmemente pelo homem, e ele gentilmente depositou-a sobre a cama, fazendo com que ela tivesse vontade de chorar com as intensas ondas de dor. "Quieta, querida, solte-o, ele não vai embora", a suave voz da curandeira chegou aos seus ouvidos.
Relutantemente, Sonora soltou-o definitivamente, os dedos escorregando sobre as vestes de Snape, apenas para segurar a mão dele. Ele apertou a mão dela, e ela rangeu os dentes, tentando afastar a dor.
"Você... Você pode curar isso?", ela conseguiu perguntar, abrindo os olhos de novo e percebendo a séria expressão da curandeira.
Madame Pomfrey estava um tanto sombria quando ergueu os olhos. "Eu posso, querida, mas acho que vai ficar um pouco manca. Só temo que seja mais do que um pouco. Eu estava tentando deixar que sua perna se curasse sozinha para evitar isto, mas depois desse estrago do Sr. Malfoy, temo que não tenha outra escolha."
"Faça isso", Sonora murmurou, respirando devagar.
Madame Pomfrey olhou por sobre os ombros para Dumbledore, atrás dela. "Eu precisarei do senhor para ajudar o Professor Snape a segurá-la", ela disse, virando-se então de volta para Sonora. "Isto vai doer, minha querida", ela disse, num tom muito gentil.
Sonora engoliu mais lágrimas quando os dois homens a ergueram pelas axilas. E então Madame Pomfrey delicadamente pousou a varinha sobre seu joelho e ela gritou.
Capítulo Seis – Dor
Uma semana depois, Sonora acordou gritando por causa de outro pesadelo, soluçando na lembrança daquela dor. Seu sonho parecia ainda ecoar em seus ouvidos, seus lamentos pareceram todos muito reais, enquanto a proteção do Feitiço Silenciante...
Então ela percebeu que estava ouvindo mais alguém gritando de dor. Era baixinho, dissonante, mas era outra pessoa. Sem pensar, ela jogou as cobertas para o lado e vestiu seu robe enquanto alcançava sua bengala. Outra pessoa estava sofrendo.
Ela abriu a porta do seu quarto e passou rapidamente por seu escuro escritório. Abrindo a porta da sala de aula de Poções, ela viu pela fraca luz de uma tocha uma figura escura escorando-se ao inventário de ingredientes.
"Iluminate", Sonora disse com um vigoroso aceno de varinha. O resto das tochas se acendeu com um silvo e a figura escura contorceu-se sob a luz para revelar a pálida e cansada face do Professor Snape. "Professor Snape?", ela perguntou, dando um passo na direção dele. "O que..."
"Vá embora", ele sibilou. "Volte para a sua cama, e me deixe aqui". Ele se virou de volta para o armário e ela flagrou uma careta em seu rosto. Ele está sofrendo, ela pensou com uma ponta de simpatia.
"Você está machucado", ela disse calmamente, indo mais na direção dele. "Por que você não foi até Madame Pomfrey?"
"Porque quanto menos pessoas souberem das minhas atividades, melhor!", ele sibilou novamente, finalmente chegando até a porta, que abriu com estrondo. "Agora me deixe, mulher!"
Sonora ignorou-o e assistiu por apenas alguns segundos as mãos dele tremerem visivelmente enquanto procurava uma garrafa. De algum modo, o sinal a fez sofrer. "Aqui", ela disse suavemente, com outro aceno de varinha. "Tente isto." Uma garrafa apareceu em suas mãos, convocada de seu malão de viagem.
Ele virou a cabeça para olhá-la desdenhosamente. "Eu não preciso da sua ajuda", ele rosnou.
"Eu suponho que isso tenha sido pela Cruciatus?", ela perguntou calmamente. "Eu conheço os sintomas." Ela fez então com que a garrafa flutuasse na direção dele. "Tente isto."
Ele parou de tremer e encarou a garrafa por um momento. "O que é isso?", ele perguntou, com um tom cauteloso na voz. Ele parecia cansado e dolorido por baixo de toda aquela fachada de calma e independência.
"Foi desenvolvido para dissipar todos os efeitos colaterais da maldição", Sonora contou a ele, sentindo a dor no seu pé se intensificar enquanto ficava parada ali. Ela teve que se apoiar com um pouco mais de força na sua bengala. "Fui eu mesma que fiz."
Snape ficou imóvel por um momento, e então pegou, no que apenas mais tarde foi perceber como um ato de grande confiança, a garrafa flutuante no ar. Então ele desarrolhou-a e virou o líquido rapidamente goela abaixo. Ele curvou a cabeça e Sonora esperou. Ela sabia que a poção trabalhava maravilhosamente rápido.
De fato, poucos instantes depois ele ergueu a cabeça e acenou para ela formalmente. "Obrigado", ele disse, sem olhar pra ela. "Deixe-me sugerir que vá dormir novamente, Professora Stone." Snape estava tomando muito cuidado para não olhar para ela, e ainda contemplava a garrafa azul em sua mão.
Sonora estudou-o, sentindo outra dor se iniciar em outra parte do seu corpo. Teria ela já conhecido alguém tão solitário em toda a sua vida, ela se perguntou. Cansado e ferido em corpo e mente. Dela mesma, alguma pequena voz sussurrou. "Você deve estar cansado", ela disse, um pouco desconfortável ao tentar retomar a mesma linha de pensamento. "Você precisa mesmo dormir."
Snape finalmente se virou e olhou para ela. Havia algo estranho em seu olhar que Sonora não conseguiu reconhecer, que foi logo rapidamente escondido. Ele entregou-a a garrafa azul. "Boa noite", ele disse.
Sentindo-se como algo tivesse acabado de acontecer antes mesmo que ela pudesse se dar conta exatamente do que era, Sonora segurou a garrafa vazia. Seus dedos apertaram a mão dele amigavelmente. "Boa noite", ela disse, um pouco incerta. Ela se virou e começou a ir lentamente de volta até seus aposentos, sentindo o escuro olhar de surpresa do Mestre de Poções atrás dela, assistindo-a ir.
Quando ela finalmente alcançou a sua cama e relaxou sob as cobertas, foi com o desconfortável sentimento de não saber o que esperar. Ela fechou os olhos e tentou limpar sua mente. Pensaria nisso mais tarde.
Severus esperou até que a porta dela se fechasse, deixando-o novamente sozinho. Droga de fraqueza, ele pensou, virando-se e tomando o caminho de sua própria câmara. O Lord das Trevas estivera raivoso com ele, raivoso o suficiente para deixar que Lúcio Malfoy aproveitasse a oportunidade para brincar com seu espião. E Severus estivera com a guarda baixa, não esperando que a Professora Stone vagueando àquela hora da noite.
E então ela estivera ali, parecendo magra e delicada em uma pequena camisola, feita de algo muito sedoso. Seus olhos haviam estado mais escuros e preocupados, e ela quisera ajudar. E ele, um fraco tolo como era, deixara- se ajudar por ela.
Severus tirou suas vestes e jogou-as sobre uma cadeira enquanto caía na cama. Ele se deixou jazer ali por alguns instantes, até se forçar a levantar outra vez e vestir suas costumeiras roupas de dormir.
Mais uma vez, ele se jogou na cama. Fechou os olhos. O que quer que ela tivesse dado a ele, estava mesmo funcionando, ele pensou. Cruciatus geralmente demorava-se por mais tempo, às vezes até por dias. Esta noite, entretanto, não havia resquícios de dor em suas mãos, nenhuma dor mais demorada em seus braços ou pernas.
Severus respirou fundo. Sonora prestara-lhe um serviço, pensou sonolentamente, não percebendo como o primeiro nome dela escorregara sorrateiramente pra dentro de sua cabeça. Talvez ele não deveria tê-la deixado. Mas já estava feito agora. E ele dormiu.
Na tarde seguinte, Sonora tivera o suficiente. "Sr. Malfoy! Sr. Potter!", ela sibilou, apoiando-se no seu pé saudável tranqüilamente para pegar os dois quintanistas com idênticos olhares desdenhosos e varinhas em punho. "Vinte pontos serão tirados de cada um de vocês, e cada um vai pagar uma detenção!"
Ela já sabia o suficiente sobre a animosidade entre aqueles dois, argumentou o Sr. Weasley. Ela notara os maus bocados que o garoto ruivo sofrera um grande azar na última aula de Herbologia, e freqüentemente tinha que ir até a enfermaria, tendo uma Planta Gigante Insetívora de Vênus removida de sua orelha esquerda. Ao menos a antipatia dos garotos fora primariamente direcionada um ao outro, não a ela mesma ou qualquer outro estudante.
A sala de aula estava num silêncio mortal quando as cabeças dos dois se viraram para ela, claramente surpresos de terem sido pegos. A expressão do Sr. Malfoy imediatamente transformou-se numa de um desdenho raivoso.
"Eu já avisei esta classe", ela disse, sua voz ecoando nas silenciosas paredes de pedra da masmorra. "Eu não vou tolerar desrespeito vindo dos meus alunos!" Ela encarou os dois em questão. "Vocês dois. Imediatamente depois do jantar, preparem-se para passar três horas comigo."
"Três horas!", o Sr. Potter deixou escapar.
"Você não pode fazer isso", o Sr. Malfoy teve a audácia de dar um risinho. "Você não é uma professora de verdade..."
Sonora direcionou um olhar para ele que congelou as cordas vocais do garoto. "Este é o seu erro, Sr. Malfoy. Certamente eu sou uma professora de verdade, e como tal posso infringir a você qualquer punição que eu ache necessária. Dez pontos menos para a Sonserina pela sua falta de educação.". Ela olhou a sala inteira então. "Se mais alguém quiser se juntar a eles agora, é só dizer."
Sem nenhuma surpresa, o silêncio mortal continuava diante dela. "Então vamos continuar", ela disse friamente. O resto da classe continuou num relativo silêncio enquanto Sonora fazia suas costumeiras rondas, checando os caldeirões e evitando que alguns erros se tornassem verdadeiros desastres. Silenciosamente, ela se enfureceu. Ela pensara que ao menos o Sr. Potter teria entendido o recado sobre respeito em sua aula. Ela veria se algumas horas fazendo um trabalho extra bem entediante resultaria em algo útil da parte dos dois.
Severus estava fazendo seu caminho até a mesa dos professores quando entreouviu uma conversa. "... então ela deu detenção para Potter e Malfoy!", um lufa-lufa estava dizendo em voz muito baixa para seus amigos. Severus andou mais devagar para ouvir um pouco mais.
"Eu ouvi os sonserinos dizendo que o Malfoy ficou furioso com essa detenção da Professora Stone", outro aluno da Lufa-Lufa disse. Seu rosto estava sério enquanto falava. "Ele esteve dizendo um monte de coisas horríveis sobre ela, e que ele veria o que o pai dele pode fazer com ela."
O primeiro garoto falou de novo, mas Severus foi forçado a continuar andando. "Você acha que o pai do Malfoy é mesmo um Comensal da Morte? Quero dizer, pareceria que..."
Severus apressou o passo, perdido em pensamentos enquanto pegava seu lugar na mesa. Draco estava se tornando mais franco com seus colegas de Casa sobre sua antipatia com a Professora Stone. Severus estivera tentando fazê- lo entender que aversão não era algo muito inteligente de se demonstrar, mas Draco simplesmente deu de ombros e murmurou algo que Severus não entendeu. Este último encarou seu prato de comida. Ele não conseguia tirar da cabeça que o patifezinho tentaria alguma coisa aquela noite. Draco, ignorando toda a vontade de Severus de estar errado, discreto como estava sendo forçado a ser, estava ainda alarmantemente arrogante e possuía uma forte crença em sua própria superioridade. Severus temia que o garoto nunca aprendesse a pensar por si mesmo, simplesmente seguiria os passos do pai em direção à Escuridão.
Severus percebeu quando a hora da refeição estava quase terminando que Sonora não tinha aparecido. Ele franziu a testa. A mulher estava fraca demais para ficar desaparecendo na hora das refeições. Checaria a situação com Malfoy e talvez a visse comendo algo logo em seguida. Além do mais, ele tentou dizer a si mesmo, ele estava apenas tomando conta da reputação de sua Casa.
Sonora esperou pela chegada dos dois quintanistas. Melhor dar a chance aos garotos de chegarem atrasados, pensou enquanto fazia seu caminho até as masmorras. Chamara alguns elfos domésticos para trazerem o jantar em seu escritório. Ela checou o relógio. Eles tinham dois minutos para não chegarem atrasados, ela pensou.
O Sr. Potter foi o primeiro a chegar, mais ou menos trinta segundos depois. "Professora Stone", ele disse, inclinando a cabeça enquanto alcançava a carteira de Sonora.
Ela estudou-o. "Sr. Potter. O senhor pegará aquelas jarras de pêlo de unicórnio e vai cortá-los. Perfeita e uniformemente, Sr. Potter." Ela teve uma certa satisfação de ver o rosto do garoto murchar enquanto ele via o número de jarras.
O Sr. Potter já começara a trabalhar quando o Sr. Malfoy entrou na masmorra. "Está atrasado, Sr. Malfoy.", ela disse, calmamente. "Dez pontos a menos pra Sonserina." A jovem face do garoto fechou-se de raiva e Sonora se perguntou, não pela primeira vez, por que ele continuava a testá-la. Entretanto, ele teria que aprender limites, nem que fosse a partir de agora.
"O senhor pegará essa bolsa de manjericão, Sr. Malfoy, e irá dissecar e pulverizar cada folha individualmente.", ela disse, indicando uma larga saca no chão. "Você pode usar o Feitiço Minutus Flamatus para secar cada folha. Quando a pulverizar, terá de ser feito com a mão mesmo."
O garoto arrancou a saca do chão, parecendo furioso e foi para o outro lado da sala, enquanto o Sr. Potter ignorava-o completamente. Sonora assistiu os dois por alguns minutos até se virar de volta para uns trabalhos dos quintanistas sobre os usos da raiz de dragão.
Um tempo depois, seu pé estava tenso e doendo, quando ela leu o último ensaio. Com um olhar de relance no relógio, ela percebeu que três horas haviam se passado. Ela se levantou com algum esforço e caminhou até a carteira do Sr. Potter para inspecionar o seu trabalho.
Ela estudou o progresso que o garoto estava fazendo. "Não apresse seu trabalho, Sr. Potter, a não ser que queira mais caldeirões explodindo nesta sala de aula.", foi tudo o que disse enquanto examinava a razoável pilha de pêlos cortados. O garoto estava ao menos tentando, ela pensou. Ela estava fazendo o que lhe fora mandado e não tentava fugir da sua punição.
Sonora se virou e foi lentamente entre as colunas até a carteira onde o Sr. Malfoy estava sentado, um olhar azedo que se tornou um risinho desdenhoso quando ele percebeu seu lento progresso na direção dele. Ela ignorou o desrespeito estampado no rosto do garoto, cansada demais para dar outro sermão no sonserino. Ela examinou o escasso monte de pó de manjericão na jarra.
"Sr. Malfoy", ela disse calmamente, não achando solução melhor, "Se o senhor continuar desrespeitando as minhas ordens, eu serei obrigada a bani- lo da minha sala de aula. Isto vai resultar na sua perda deste ano e terá que ter todas estas aulas novamente no ano que vem. Entendido, Sr. Malfoy?"
Ela olhou firmemente para ele, vendo uma fúria fria preenchendo o rosto do garoto, suas mãos apertando o tampo da mesa. "Eu não tenho que tolerar a sua incompetência", ele sibilou. "Eu direi ao meu pai..."
"Seu pai não determina seu desempenho na minha sala de aula, Sr. Malfoy", Sonora cortou-o. "Você sim. E isto está sendo dito ao senhor para que mais tarde não chegue a resultados de que não vai gostar. Eu espero mesmo que melhore a partir de agora."
Ela se virou para ir até a sua mesa, e muito meramente viu o flash de violência no rosto do garoto. Ela não viu o movimento antes que fosse tarde demais, quando ele chutou-a com força do lado de trás de seu joelho fraquejado.
Ondas de uma dor cegante a atingiram e suas pernas perderam o equilíbrio. Incapaz de se segurar, Sonora sentiu seu corpo cair com força sobre o chão de pedra. Ela mal podia respirar, mal podia pensar, mal podia ouvir.
Em algum lugar no fundo da sua mente, ela registrou o som de uma gargalhada furiosa, e de outra voz muito rápida falando por cima.
"Madame Pomfrey, Potter... AGORA!", ele ouviu enquanto tentava respirar. Então dois braços muito fortes estavam ali, segurando-a e erguendo-a no ar. Sonora gemeu em agonia enquanto outra mão apalpava seu joelho.
"Segure-se", uma voz tensa disse em seu ouvido. "Estou levando você para a ala hospitalar."
Sonora soluçou de dor, as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto era carregada através da sala. "Isso machuca", ela lamentou.
"Eu sei", a outra voz disse severamente. Sonora forçou seus olhos a abrirem- se para ver o rosto furioso do Professor Snape. Ele olhou para baixo e viu que ela abrira os olhos. "Droga de moleque idiota!", ele murmurou enquanto ela gemia de novo.
Sonora ouviu o barulho de pés descendo rapidamente o corredor vazio, até encontrarem outra pessoa no final dele. A voz de Dumbledore era urgente e insistente. "O que aconteceu, Severus?"
"Draco Malfoy chutou-a no ferimento. Na parte de trás do joelho, imagino." A voz de Snape era fria e áspera.
Madame Pomfrey também estava ali. "Deixe-me levitá-la até a enfermaria, professor, o senhor não precisa carregá-la..."
"Eu a levo", Snape cortou-a. Na verdade, Sonora estava grata que ele a carregasse. De algum modo irracional, ajudava ter alguém forte e seguro contra ela, enquanto lutava contra a dor.
"Minerva, pode buscar o Sr. Malfoy e deixá-lo no meu escritório esperando por mim?", Dumbledore disse numa voz que Sonora nunca o ouvira usar antes. Uma voz que mesmo dolorida como estava, não desejaria direcionada a ela. "Papoula..."
"Deite-a bem aqui, Professor Snape, e deixe-me dar uma olhada...", Madame Pomfrey instruiu. Sonora estava segurada firmemente pelo homem, e ele gentilmente depositou-a sobre a cama, fazendo com que ela tivesse vontade de chorar com as intensas ondas de dor. "Quieta, querida, solte-o, ele não vai embora", a suave voz da curandeira chegou aos seus ouvidos.
Relutantemente, Sonora soltou-o definitivamente, os dedos escorregando sobre as vestes de Snape, apenas para segurar a mão dele. Ele apertou a mão dela, e ela rangeu os dentes, tentando afastar a dor.
"Você... Você pode curar isso?", ela conseguiu perguntar, abrindo os olhos de novo e percebendo a séria expressão da curandeira.
Madame Pomfrey estava um tanto sombria quando ergueu os olhos. "Eu posso, querida, mas acho que vai ficar um pouco manca. Só temo que seja mais do que um pouco. Eu estava tentando deixar que sua perna se curasse sozinha para evitar isto, mas depois desse estrago do Sr. Malfoy, temo que não tenha outra escolha."
"Faça isso", Sonora murmurou, respirando devagar.
Madame Pomfrey olhou por sobre os ombros para Dumbledore, atrás dela. "Eu precisarei do senhor para ajudar o Professor Snape a segurá-la", ela disse, virando-se então de volta para Sonora. "Isto vai doer, minha querida", ela disse, num tom muito gentil.
Sonora engoliu mais lágrimas quando os dois homens a ergueram pelas axilas. E então Madame Pomfrey delicadamente pousou a varinha sobre seu joelho e ela gritou.
