Intenções Secretas
N/A – Obrigada a TODOS que têm me enviado encorajamento e reviews! Mademoiselle Morte, não se preocupe, Draco terá sua merecida recompensa.
Capítulo Sete – Conseqüências
Severus se sentia como se tivesse participado de uma batalha e ficado do lado perdedor. Ele entrara na sala de aula pronto amolar Potter um pouco, quando ele ergueu os olhos bem na hora de ver Sonora dando as costas para Draco. Quase em câmera lenta ele pôde ver a raiva e as más intenções no rosto do garoto, seguido viciosamente de sua cruel ação. E então ela caíra no chão e tudo que ele pôde fazer na hora foi evitar matar o garoto.
Mas ele preferiu ignorar Draco em favor da mulher quase inconsciente que jazia no chão.
Algo nele fora partido ao sinal do soluço de dor dela, as lágrimas caindo de seu rosto. Ele não permitira que ninguém a tirasse de seus braços até chegar à enfermaria. Ela estava muito magra, muito pequena, e em agonia.
E quando ele a deitou na cama, o mais gentilmente que conseguiu, tanto o lamento dela quanto sua perna novamente ferida atingira-o em cheio. A dor em seu peito se intensificou quando ela se segurou às suas vestes, e depois à sua mão, como se ele fosse sua única garantia de que ela se livraria daquelas horríveis ondas de dor a que fora submetida. Ele não poderia ter ido embora dali nem se sua vida dependesse disso.
Madame Pomfrey estivera séria e rápida e perfeita, e Severus não conseguira evitar que estremecesse, quando descobriram sua fina perna, muito pálida, com o joelho horrivelmente esmagado e com uma aparência inchada. Ele entendeu quando a enfermeira quisera dizer ao pedir que ele e Dumbledore segurassem Sonora, já sabendo o que estava por vir. E ainda teve que virar o rosto para esconder sua expressão quando ela gritou em sofrimento sob suas mãos.
Agora ele estava sentado e observava o rosto inconsciente da mulher, sua mão ainda segurando a dele determinadamente. E ele não fora capaz de soltá- la, mesmo que pudesse ou devesse. Dumbledore, com seu sutil olhar não perdera um só minuto, e depois que terminou, e a perna dela ficou quase normal, a fraqueza agora habilmente escondida dentro dela, o diretor olhou para Severus e pediu que ficasse ali.
"Eu preciso decidir sobre Draco", Dumbledore dissera, os olhos severos e pesarosos.
Severus se lembrou de sua posição como diretor da Sonserina, e relutantemente começou a se levantar, sabendo que deveria ser ele a trazer o garoto.
Mas Dumbledore sacudira a cabeça e acenou para que se sentasse de novo. "Eu preciso de você aqui", ele dissera. "Preciso saber que Sonora tem alguém tomando conta dela, pronto para quando ela despertar." A sombra de um sorriso veio e se foi na expressão do velho homem, e Severus teve a horrível sensação de que Dumbledore ficara sabendo de todos os pensamentos que ele se esforçara tanto pra esconder nos últimos meses.
Quando o sorriso desapareceu completamente do rosto do diretor, seus olhos se tornaram pesarosos de novo. "A Professora McGonagall irá buscar o Sr. Malfoy. Além do mais, você foi uma testemunha, Severus. Eu gostaria de manter o seu assunto separado do de Draco por algum tempo."
Severus entendera, e pra dizer a verdade, nem pensou em protestar. Além do mais, nenhuma parte dele queria ir embora enquanto aquela mulher ainda parecesse tão vulnerável e inconsciente.
Então seus olhos demoraram-se novamente no rosto dela, calma e silenciosamente. Ao menos a cor parecia estar voltando ao rosto dela. Madame Pomfrey saíra havia alguns minutos e o olhar dele estava livre para demorar-se na franja escura de seus cabelos, e como caíam sobre seu rosto, ou no delicado contorno de seus lábios, ou em como vários cachos de cabelo emolduravam a face dela.
Severus umedeceu seus lábios, baixando o olhar. Ele tinha um problema, finalmente admitiu para si mesmo. As máscaras que ele normalmente usava para disfarçar a si mesmo não funcionavam com ela. A mulher de algum jeito entrara na sua cabeça desde o primeiro momento, e agora ele temia ser incapaz de manter os dois longe de algum perigo.
Ele respirou fundo enquanto Madame Pomfrey entrava, murmurando por sob a sua respiração, ainda parecendo estar com raiva pelo que acontecera à sua paciente. Ele teria agora que manter uma certa distância para que ela não soubesse. Seus olhos caíram novamente sobre o rosto dela, e respirou fundo de novo. Ele estava perfeitamente certo de que não adiantaria, mas ele não tinha certeza se realmente queria que adiantasse.
Sonora continuou deitada, exausta demais para tentar abrir os olhos. Havia algumas vozes há sua volta, e ela ficou ouvindo.
"Você não precisa ficar aqui, ela acordará logo", ela ouviu a voz da Madame Pomfrey dizendo.
"Vou esperar", disse o Professor Snape com sua voz austera. Sonora percebeu que ele ainda segurava fracamente sua mão. Sem pensar muito nisso, seus dedos debilmente procuraram a segurança da mão dele.
Houve uma curta pausa, e então a mão dele segurou a dela do mesmo modo. "Professora Stone?", ela o ouviu dizer.
Sonora respirou fundo e forçou seus olhos a abrirem-se. Deus, como ela se sentia fraca. "Eu acho que você pode me chamar de Sonora agora", ela disse, erguendo os olhos para ver o tenso rosto do Professor Snape, tentando sorrir.
O que pareceu uma certa admiração perspassou o rosto dele antes que o olhar curioso que ela notara desaparecesse como se nunca tivesse estado ali. "Claro", ele disse, como se fosse uma pergunta. "Você vai me chamar de Severus."
Sonora conseguiu um meio sorriso. "Claro", ecoou. Ela respirou fundo de novo, e então se forçou a baixar o olhar. "Bem", ela disse fracamente. "Pelo menos eu ainda tenho uma perna."
A força com que ele segurava a mão dela fraquejou por um momento antes de voltar ao normal. "Não agradeça ao Sr. Malfoy", ele disse, e Sonora resistiu ao ímpeto de tremer sob a fúria gelada na voz dele. "Eu tentei alcançar aquele garoto. Talvez a expulsão o faça perceber a gravidade das suas ações."
"É isso que Dumbledore vai fazer?", Sonora perguntou, ainda olhando para sua perna. A Madame Pomfrey andava apressada pela ala hospitalar, enquanto eles conversavam em voz baixa.
"É o que deveria", Madame Pomfrey disse por cima do ombro. Sonora não tinha percebido que podia ser ouvida pela curandeira. "O garoto atacou uma professora.", a mulher parecia simplesmente furiosa. "E agora você vai ficar manca pelo resto da sua vida."
Sonora sentou-se calmamente, digerindo a informação. A curandeira dissera algo parecido com aquilo antes, mas... Ela era uma aleijada, pensou. Ela não era mais capaz de correr, teria sempre que andar desajeitadamente. Será que um dia ela poderia voltar à ação? Será que aquele ferimento sempre causaria tanta dor?
Ela suspirou sem perceber até que o aperto na sua mão se tornasse mais firme, e ela olhasse diretamente para Snape. Ele estava observando-a cautelosamente, aquele olhar severo ainda visível em seus olhos. Ela teria que se acostumar com aquele olhar, ela pensou, sentindo-se três vezes mais fraca do que antes quando os seus olhos encontraram os dele.
"Você está bem?", ele estava perguntando a ela.
Sonora suspirou de novo e forçou-se a limpar sua mente. "Certamente", ela disse, tentando sorrir mais. Ela olhou para Madame Pomfrey. "Eu já posso me levantar?"
A curandeira veio rapidamente até ela. "Eu preferiria que você dormisse um pouco, mas o diretor precisa de você no escritório dele primeiro", ela disse, balançando a cabeça. Ela entregou a Sonora a mesma bengala. "Você vai precisar disso", avisou. "E assegure que vá ficar sentada. Logo que tiver terminado, vá direto para a cama e tome uma Poção Para Dormir Sem Sonhar. Você vai precisar de mais descanso. Deixar que o corpo cure sozinho um ferimento desse porte cansa de verdade, você sabe."
Sonora deu um sorriso fraco. "Eu sei", ela disse, fazendo menção de se sentar melhor. Antes que ela pudesse efetivamente fazer isso, Snape estava ali, segurando-a para ajudá-la a se levantar e gentilmente posicionou os pés dela sobre o chão. Ela sorriu para ele, surpresa.
"Obrigada", disse, grata. Surpresa, mas muito agradecida pela ajuda, e sentindo-se terrivelmente instável por causa dele. Ele silenciosamente entregou-a sua bengala, que fora parar em sua mão, de algum jeito. Sonora segurou-a e então tentou uma piada. "Eu acho que podia encontrar algo um pouco mais decorativo, não acha? Talvez uma com alguns gnomos."
Snape não disse nada e ela ergueu os olhos para ver aquele insistente olhar severo nele. Sonora prendeu a respiração, e então olhou rapidamente pra baixo e soltou o ar. Vagarosamente ela se apoiou no pé, bem sabendo que as mãos de Snape estavam ali, prontas para segurá-la se ela caísse.
Temerosamente ela testou cada pé, segurando-se fortemente na bengala ao tentar o pé fraco. "Bem", ela disse pesarosamente enquanto sentia seu joelho tremer, desesperadamente buscando alguma segurança em si mesma, ao mesmo tempo que o olhar fixo dele, queimava em sua cabeça. "talvez isso me faça parecer mais inteligente".
Snape limpou a garganta e então ela se virou para o alto homem. "Você tem certeza de que pode andar?", ele perguntou. Seus olhos pareceram escurecer e se tornarem mais difíceis de se interpretar.
"Levante-se, MacDuff"*, Sonora disse, conseguindo erguer um canto da boca. "Dumbledore está esperando."
Sonora respirava com dificuldade, e tinha a mão de Snape segurando-a pelo cotovelo, servindo de apoio durante o caminho até o escritório de Dumbledore. "Marroio", disse Snape, e em seguida a porta se abriu. Sonora olhou para o último lance de escadas e gemeu.
Snape fez um movimento na direção dela. "Aqui", ele disse asperamente, fazendo menção de carregá-la de novo.
Sonora rapidamente balançou a cabeça, se sentindo ligeiramente nervosa. "Não, não", ela disse depressa. As mãos dele pareceram cair e ela ergueu os olhos para encarar o rosto dele. "Eu, hum, preciso provar que posso fazer isso", ela disse olhando para o pequeno corredor, e tentando ao máximo olhar para as escadas e não para ele. "Além do mais, isso é algo a que preciso me acostumar. Você não vai estar sempre aqui pra me ajudar, professor." De alguma maneira ela não queria olhar nos olhos dele.
"Severus." Sonora ergueu o rosto para ver novamente aquele olhar severo no rosto dele. "Eu já disse que meu nome é Severus.", ele repetiu.
Sonora subitamente sorriu um pouco, um sorriso real, o primeiro em um bom tempo. "Obrigada, Severus", ela disse suavemente. "Você cuidou... muito bem de mim."
Ele estudou-a enquanto baixava os olhos, e Sonora pela primeira vez estava bem ciente da diferença de altura entre os dois. Ela era uma pequena mulher, e agora uma aleijada também. Ele era um homem alto e surpreendentemente forte, julgando o modo como ele a carregara mais cedo. E quando ela ergueu a cabeça, foi pega por aquele escuro olhar estudando-a com atenção. Ele era quase assustador em suas profundezas, ela pensou, subitamente um pouco sem fôlego.
Severus gesticulou com uma mão. "Depois de você", ele disse.
Sonora piscou e se voltou para as escadas. Respirou fundo e então se preparou para enfrentá-las.
Sonora estava muito agradecida de ter chegado ao fim daquilo, que parecera encolher enquanto eles subiam. Ela ficaria surpresa se não fosse sua imaginação, o que era realmente o caso. Além do mais, aquele castelo sempre tinha novas surpresas.
Todavia, ela estava mais do que pronta pra cair em uma cadeira qualquer quando os dois entraram no escritório do diretor. Quando ela irrompeu para dentro, Dumbledore ergueu os olhos de onde estava sentado, escrevendo num pedaço de pergaminho.
"Minha querida Sonora", ele disse, rapidamente dando um risinho e dando a volta em sua mesa. Severus guiou-a até uma das cadeiras. Quando ela se sentou, um daqueles tradicionais apoios para sua perna apareceu com um pequeno estalo. "Como você está?", Dumbledore perguntou, a face e os olhos sérios.
Sonora olhou para cima, com a intenção de clarear um pouco a tensão que sentia naquela sala, mas descobriu os próprios olhos presos pelos azuis do diretor. "Eu... estou com raiva", ela admitiu. "Estou com fome, dolorida, e gostaria de fazer coisas com essa bengala que certamente são ilegais."
Dumbledore sorriu para ela, pouco iluminando seu rosto e expressão. "Você não está escondendo isso, então. Estou satisfeito. Seus ferimentos poderão ser amenizados depois se você puder admiti-los agora."
Sonora suspirou enquanto ajustava com mais precisão sua perna no apoio. "Eu sei", ela disse. "E enquanto isso eu tenho uma porção de coisinhas que gostaria de fazer com o Sr. Malfoy, e também percebi que foi uma grande tolice dele, aplicando mal sua raiva."
Com uma bufada atrás dela, Sonora percebeu que Snape se jogara na outra cadeira perto da dela. "Aquele moleque sabia bem o que estava fazendo", Snape disse, o rosto austero e inflexível.
Dumbledore suspirou e voltou para seu assento. "Minerva está com ele nesse preciso momento, e trará o garoto aqui em alguns minutos", ele disse. "Se você quiser, Severus, gostaria que me descrevesse o que viu."
Os olhos de Snape encontraram rapidamente os dela antes de voltarem ao rosto de Dumbledore. "Eu estava entrando na sala de aula, logo depois de chegar da biblioteca, onde eu havia ido logo após o jantar", ele disse, sem emoção. "Como aconteceu, eu vi o Sr. Potter empenhado em partir os pêlos de unicórnio e havia parado para ter uma palavrinha com ele. Eu olhei para cima por um momento, quando ouvi Sonora falando com outra pessoa no outro lado da sala, e a vi dar as costas para o Sr. Malfoy." A despeito da lembrança da dor que sentiu naquela hora, Sonora sentiu uma onda de calor escorregar por ela ao ouvir o conforto com que Snape dissera seu primeiro nome. "Quando ela fez isso, Draco pareceu furioso e acertou-a com um pé, chutando-a pelas costas."
Snape fez uma pausa. "Sonora caiu, e então eu mandei Potter buscar Pomfrey."
Ficou tudo muito silencioso na sala enquanto Sonora digeria as informações. Aquilo batia com o que ela se lembrava. Dumbledore finalmente assentiu. "Sonora, minha querida... Pode me contar sobre o comportamento do Sr. Malfoy?"
Sonora se mexeu um pouco em seu assento. "O Sr. Malfoy tem sido... problemático em aula.", ela disse, tentando escolher as palavras com cuidado, e evitando deixar que sua raiva pelo garoto pusesse mais cor nos acontecimentos. "Eu fui muito clara com todos os alunos, especialmente a classe dele, que não toleraria falta de respeito com qualquer outro aluno ou professor. O Sr. Malfoy, assim como Potter e Weasley, extrapolaram essa regra."
Sonora balançou a cabeça. "Eu finalmente me cansei de apenas tirar pontos dos garotos e apliquei detenções na noite do dia em que novamente os peguei desobedecendo às regras na minha aula. O Sr. Malfoy sugeriu que eu não poderia dar detenção a ele como seu eu não fosse uma professora 'de verdade'". Ela então se permitiu, desdenhosamente, a dar um sorrisinho de satisfação. "Então o convenci de que estava enganado, mandando que se apresentasse logo depois do jantar."
Ela balançou a cabeça de novo. "O Sr. Potter foi pontual, e aceitou sua punição como deveria. O Sr. Malfoy chegou atrasado e fez muito pouco do trabalho que foi mandado realizar." Sonora deu de ombros discretamente. "Eu admito que foi um esforço inútil, de tudo que poderia ser feito por ele."
Foi a vez de Dumbledore assentir. "Draco nunca teve mesmo o hábito de calcular as conseqüências de seus atos", ele disse calmamente. "Ele foi muito privilegiado algumas vezes, sempre sendo protegido. Temo que Severus estava certo, ele sabia o que estava fazendo. Não que eu acredite que ele não perceba onde seus atos poderiam parar."
Snape franziu a testa. "Ele tem sido muito crítico com relação a você", ele disse, olhando diretamente para Sonora. "Como o diretor da Casa dele, eu ouvi várias críticas severas sobre esse assunto." Ele fez uma careta. "Eu disse a ele há varias semanas atrás que sua raiva estava mal posicionada e que ele deveria ficar mais calmo."
Dumbledore pareceu pesaroso. "Eu não vejo muita escolha no que tenho que fazer", ele disse, com a voz pesada. "E ainda me dói expulsá-lo quando há uma chance de recuperar esse garoto."
Logo em seguida houve uma batida leve na porta do escritório. "Entre", Dumbledore chamou. Sonora se virou para ver a porta abrir-se e um muito pálido Draco Malfoy entrando, seguida pela austera Prof.ª McGonagall.
"Diretor", McGonagall disse em cumprimento, antes de olhar para Sonora. "Professora Stone, como está se sentindo?"
Sonora deu um fraco sorriso para a mulher, vendo o interesse honesto dela em seus olhos. "Tão bem quanto pode ser esperado, obrigada, professora."
O garoto estava parado, encarando um ponto da parede para não enfrentar os olhos de ninguém ali. "Draco", o Prof. Dumbledore disse calmamente. Lenta e relutantemente os olhos do aluno moveram-se para encontrar os do diretor. "Você está aqui e então podemos finalmente decidir a punição pelos seus atos." O diretor fez uma pausa. "Deliberada e intencionalmente atacou um professor, Sr. Malfoy", Dumbledore continuou com uma voz muito grave. "Causou um ferimento que nunca mais poderá ser curado."
Ele ficou quieto por um momento, e então suspirou. "As regras desta escola são muito claras. Eu deveria expulsá-lo imediatamente, Sr. Malfoy". Sonora viu a face do garoto ficar mortalmente pálida, e então foi como se ele tentasse mudar sua expressão, tentando mostrar o rosto irônico que sempre apresentara.
Quando ele fez isso, Snape bufou do outro lado da sala. "Eu não acho que você tenha entendido bem, Draco", ele disse numa voz gelada. O garoto olhou- o. "Suas ações foram deliberadas sério o suficiente para que seu pai não seja capaz de livrá-lo da expulsão". Os olhos de Snape estavam sombrios e gelados, parecendo perfurar a pele do aluno. "E com essa sua marca acadêmica recordista de apenas um ato, contra um professor, sem chance, nenhuma escola respeitável irá te aceitar."
Para a surpresa de Sonora, naquele momento ela sentiu nada menos que pena de Draco Malfoy, como se estivesse se tornando claro para ele a dimensão do problema em que fora se meter. "Mas... senhor... meu pai...", pareceu escapar dele enquanto ele olhava suplicante para Snape.
Snape inclinou-se para frente em seu assento. "Eu te avisei, Draco", ele disse numa voz gelada e macia, "para deixar essa raiva ridícula de lado e aprender a ter algum controle. Você escolheu ignorar o meu conselho, e agora vai enfrentar as conseqüências." Ele se recostou de novo, o rosto impenetrável. "Seu pai certamente não ficará satisfeito com a sua expulsão", ele disse calmamente. E assistindo-o, Sonora pensou ter pego um vislumbre de pena.
O Sr. Malfoy olhou para Dumbledore, a pele pastosa e branca. "Por favor, senhor", ele quase sussurrou.
O diretor lentamente balançou a cabeça, rosto grave. "Você não me deixa muita escolha, Draco", ele disse austeramente. Quando ele falou, Sonora viu os olhos dele encontrarem-se com os dela brevemente.
De repente ela sentiu um súbito ímpeto de falar. "Se eu puder propor uma alternativa, Prof. Dumbledore...?", Sonora umedeceu os lábios quando os quatro voltaram-se para ela, Snape e McGonagall com variado choque, o Sr. Malfoy com medo e talvez com um toque de esperança nos olhos, e Dumbledore com tranqüila expectativa.
"Sim, Professora Stone?", o diretor perguntou. "Você certamente tem o direito de contribuir com a decisão."
Sonora estudou o garoto à sua frente. Ele estava com medo, ela pensou, provavelmente pela primeira vez na vida. Ela sabia pouco sobre a vida dele em casa, mas pela menção do pai dele, tinha que assumir que não seria algo muito suportável.
"Eu proponho que demos ao Sr. Malfoy uma segunda chance", ela disse lentamente, mantendo seu olhar no pálido e amedrontado garoto. A isto, os olhos dele brilharam de volta com esperança e agradecimento. Havia uma descrença resmungada por um dos professores atrás dela, e então ergueu a mão para que esperassem até ela terminar.
"Eu sugiro que coloquemos o Sr. Malfoy numa estrita probabilidade de repetir o ano", ela disse, assistindo-o enquanto falava. "Ele está aqui porque não pôde aprender a respeitar seus colegas e professores. Por esta razão eu sugiro que além disso ele não possa ser responsável por um só ponto somado à sua Casa."
Os olhos de Draco pareceram aumentar enquanto ela falava, e interrompeu antes que pudesse pensar no assunto. "Mas é impossível! Se mais alguém souber eles irão...", e então percebeu que se enganara ao perceber que dissera tudo em voz alta.
Sonora manteve os olhos e a fala estáveis. "De fato, Sr. Malfoy. Os outros estudantes provavelmente irão tirar proveito da situação. Você não poderá retrucar, não importa qual provocação seja. Não por palavra, não por atos."
Houve silêncio enquanto o menino encarou-a num horror desacreditado. Então Dumbledore limpou a garganta. "Parece ser uma ótima sugestão, Professora Stone", ele disse. Sonora olhou para ele para ver o mais aberto apoio estampado em seus olhos. "Contanto que o Sr. Malfoy entenda a seriedade dessa situação, você pode dá-lo a oportunidade de prestar satisfações."
"Se eu puder adicionar uma sugestão, senhor", Snape falou devagar de onde estava. Sonora olhou-o com surpresa. "Eu acredito que o Sr. Malfoy poderia também se beneficiar passando algum tempo como assistente da Professora Stone. Como agora ele é responsável por quaisquer dificuldades futuras que ela possa ter, me parece a coisa certa que ele deva fazer, passando algumas noites ajudando-a no que ela precisar."
Sonora sorriu só um pouquinho. Deixe que Severus ache um modo de torcer a faca, ela pensou com certa pena um alguma diversão enquanto assistia Draco ruborizar durante a fala do diretor de sua Casa.
Dumbledore falou de novo. "Minerva? Qual é a sua opinião?"
McGonagall batia o pé contra o carpete. "Eu acho que a Professora Stone está sendo mais generosa do que o Sr. Malfoy merece", ela disse, categoricamente.
Dumbledore assentiu antes de olhar para o garoto ainda parado em frente à sua mesa. "Bem, Draco", ele disse numa voz muito calma. "Você escolhe agora. Você pode aceitar os termos de seu período experimental, ou a expulsão. Qual será sua escolha?"
A boca de Draco se abriu e então fechou-se, e ele pareceu estar discutindo consigo mesmo. Ele olhou de novo para Snape, mas não encontrou nenhum encorajamento do professor que ele costumava considerar um aliado. Sonora descobriu-se prendendo a respiração, esperando quando ele finalmente encarou de novo o diretor.
"Eu aceito ficar, senhor", ele disse, a voz fraca.
*Nota da tradutora: Quando Sonora diz "Levante-se, MacDuff", que depois de rachar a cabeça acabei traduzindo de "Lead on, MacDuff", ela faz referência à uma peça de Shakespeare, Macbeth.
N/A – Obrigada a TODOS que têm me enviado encorajamento e reviews! Mademoiselle Morte, não se preocupe, Draco terá sua merecida recompensa.
Capítulo Sete – Conseqüências
Severus se sentia como se tivesse participado de uma batalha e ficado do lado perdedor. Ele entrara na sala de aula pronto amolar Potter um pouco, quando ele ergueu os olhos bem na hora de ver Sonora dando as costas para Draco. Quase em câmera lenta ele pôde ver a raiva e as más intenções no rosto do garoto, seguido viciosamente de sua cruel ação. E então ela caíra no chão e tudo que ele pôde fazer na hora foi evitar matar o garoto.
Mas ele preferiu ignorar Draco em favor da mulher quase inconsciente que jazia no chão.
Algo nele fora partido ao sinal do soluço de dor dela, as lágrimas caindo de seu rosto. Ele não permitira que ninguém a tirasse de seus braços até chegar à enfermaria. Ela estava muito magra, muito pequena, e em agonia.
E quando ele a deitou na cama, o mais gentilmente que conseguiu, tanto o lamento dela quanto sua perna novamente ferida atingira-o em cheio. A dor em seu peito se intensificou quando ela se segurou às suas vestes, e depois à sua mão, como se ele fosse sua única garantia de que ela se livraria daquelas horríveis ondas de dor a que fora submetida. Ele não poderia ter ido embora dali nem se sua vida dependesse disso.
Madame Pomfrey estivera séria e rápida e perfeita, e Severus não conseguira evitar que estremecesse, quando descobriram sua fina perna, muito pálida, com o joelho horrivelmente esmagado e com uma aparência inchada. Ele entendeu quando a enfermeira quisera dizer ao pedir que ele e Dumbledore segurassem Sonora, já sabendo o que estava por vir. E ainda teve que virar o rosto para esconder sua expressão quando ela gritou em sofrimento sob suas mãos.
Agora ele estava sentado e observava o rosto inconsciente da mulher, sua mão ainda segurando a dele determinadamente. E ele não fora capaz de soltá- la, mesmo que pudesse ou devesse. Dumbledore, com seu sutil olhar não perdera um só minuto, e depois que terminou, e a perna dela ficou quase normal, a fraqueza agora habilmente escondida dentro dela, o diretor olhou para Severus e pediu que ficasse ali.
"Eu preciso decidir sobre Draco", Dumbledore dissera, os olhos severos e pesarosos.
Severus se lembrou de sua posição como diretor da Sonserina, e relutantemente começou a se levantar, sabendo que deveria ser ele a trazer o garoto.
Mas Dumbledore sacudira a cabeça e acenou para que se sentasse de novo. "Eu preciso de você aqui", ele dissera. "Preciso saber que Sonora tem alguém tomando conta dela, pronto para quando ela despertar." A sombra de um sorriso veio e se foi na expressão do velho homem, e Severus teve a horrível sensação de que Dumbledore ficara sabendo de todos os pensamentos que ele se esforçara tanto pra esconder nos últimos meses.
Quando o sorriso desapareceu completamente do rosto do diretor, seus olhos se tornaram pesarosos de novo. "A Professora McGonagall irá buscar o Sr. Malfoy. Além do mais, você foi uma testemunha, Severus. Eu gostaria de manter o seu assunto separado do de Draco por algum tempo."
Severus entendera, e pra dizer a verdade, nem pensou em protestar. Além do mais, nenhuma parte dele queria ir embora enquanto aquela mulher ainda parecesse tão vulnerável e inconsciente.
Então seus olhos demoraram-se novamente no rosto dela, calma e silenciosamente. Ao menos a cor parecia estar voltando ao rosto dela. Madame Pomfrey saíra havia alguns minutos e o olhar dele estava livre para demorar-se na franja escura de seus cabelos, e como caíam sobre seu rosto, ou no delicado contorno de seus lábios, ou em como vários cachos de cabelo emolduravam a face dela.
Severus umedeceu seus lábios, baixando o olhar. Ele tinha um problema, finalmente admitiu para si mesmo. As máscaras que ele normalmente usava para disfarçar a si mesmo não funcionavam com ela. A mulher de algum jeito entrara na sua cabeça desde o primeiro momento, e agora ele temia ser incapaz de manter os dois longe de algum perigo.
Ele respirou fundo enquanto Madame Pomfrey entrava, murmurando por sob a sua respiração, ainda parecendo estar com raiva pelo que acontecera à sua paciente. Ele teria agora que manter uma certa distância para que ela não soubesse. Seus olhos caíram novamente sobre o rosto dela, e respirou fundo de novo. Ele estava perfeitamente certo de que não adiantaria, mas ele não tinha certeza se realmente queria que adiantasse.
Sonora continuou deitada, exausta demais para tentar abrir os olhos. Havia algumas vozes há sua volta, e ela ficou ouvindo.
"Você não precisa ficar aqui, ela acordará logo", ela ouviu a voz da Madame Pomfrey dizendo.
"Vou esperar", disse o Professor Snape com sua voz austera. Sonora percebeu que ele ainda segurava fracamente sua mão. Sem pensar muito nisso, seus dedos debilmente procuraram a segurança da mão dele.
Houve uma curta pausa, e então a mão dele segurou a dela do mesmo modo. "Professora Stone?", ela o ouviu dizer.
Sonora respirou fundo e forçou seus olhos a abrirem-se. Deus, como ela se sentia fraca. "Eu acho que você pode me chamar de Sonora agora", ela disse, erguendo os olhos para ver o tenso rosto do Professor Snape, tentando sorrir.
O que pareceu uma certa admiração perspassou o rosto dele antes que o olhar curioso que ela notara desaparecesse como se nunca tivesse estado ali. "Claro", ele disse, como se fosse uma pergunta. "Você vai me chamar de Severus."
Sonora conseguiu um meio sorriso. "Claro", ecoou. Ela respirou fundo de novo, e então se forçou a baixar o olhar. "Bem", ela disse fracamente. "Pelo menos eu ainda tenho uma perna."
A força com que ele segurava a mão dela fraquejou por um momento antes de voltar ao normal. "Não agradeça ao Sr. Malfoy", ele disse, e Sonora resistiu ao ímpeto de tremer sob a fúria gelada na voz dele. "Eu tentei alcançar aquele garoto. Talvez a expulsão o faça perceber a gravidade das suas ações."
"É isso que Dumbledore vai fazer?", Sonora perguntou, ainda olhando para sua perna. A Madame Pomfrey andava apressada pela ala hospitalar, enquanto eles conversavam em voz baixa.
"É o que deveria", Madame Pomfrey disse por cima do ombro. Sonora não tinha percebido que podia ser ouvida pela curandeira. "O garoto atacou uma professora.", a mulher parecia simplesmente furiosa. "E agora você vai ficar manca pelo resto da sua vida."
Sonora sentou-se calmamente, digerindo a informação. A curandeira dissera algo parecido com aquilo antes, mas... Ela era uma aleijada, pensou. Ela não era mais capaz de correr, teria sempre que andar desajeitadamente. Será que um dia ela poderia voltar à ação? Será que aquele ferimento sempre causaria tanta dor?
Ela suspirou sem perceber até que o aperto na sua mão se tornasse mais firme, e ela olhasse diretamente para Snape. Ele estava observando-a cautelosamente, aquele olhar severo ainda visível em seus olhos. Ela teria que se acostumar com aquele olhar, ela pensou, sentindo-se três vezes mais fraca do que antes quando os seus olhos encontraram os dele.
"Você está bem?", ele estava perguntando a ela.
Sonora suspirou de novo e forçou-se a limpar sua mente. "Certamente", ela disse, tentando sorrir mais. Ela olhou para Madame Pomfrey. "Eu já posso me levantar?"
A curandeira veio rapidamente até ela. "Eu preferiria que você dormisse um pouco, mas o diretor precisa de você no escritório dele primeiro", ela disse, balançando a cabeça. Ela entregou a Sonora a mesma bengala. "Você vai precisar disso", avisou. "E assegure que vá ficar sentada. Logo que tiver terminado, vá direto para a cama e tome uma Poção Para Dormir Sem Sonhar. Você vai precisar de mais descanso. Deixar que o corpo cure sozinho um ferimento desse porte cansa de verdade, você sabe."
Sonora deu um sorriso fraco. "Eu sei", ela disse, fazendo menção de se sentar melhor. Antes que ela pudesse efetivamente fazer isso, Snape estava ali, segurando-a para ajudá-la a se levantar e gentilmente posicionou os pés dela sobre o chão. Ela sorriu para ele, surpresa.
"Obrigada", disse, grata. Surpresa, mas muito agradecida pela ajuda, e sentindo-se terrivelmente instável por causa dele. Ele silenciosamente entregou-a sua bengala, que fora parar em sua mão, de algum jeito. Sonora segurou-a e então tentou uma piada. "Eu acho que podia encontrar algo um pouco mais decorativo, não acha? Talvez uma com alguns gnomos."
Snape não disse nada e ela ergueu os olhos para ver aquele insistente olhar severo nele. Sonora prendeu a respiração, e então olhou rapidamente pra baixo e soltou o ar. Vagarosamente ela se apoiou no pé, bem sabendo que as mãos de Snape estavam ali, prontas para segurá-la se ela caísse.
Temerosamente ela testou cada pé, segurando-se fortemente na bengala ao tentar o pé fraco. "Bem", ela disse pesarosamente enquanto sentia seu joelho tremer, desesperadamente buscando alguma segurança em si mesma, ao mesmo tempo que o olhar fixo dele, queimava em sua cabeça. "talvez isso me faça parecer mais inteligente".
Snape limpou a garganta e então ela se virou para o alto homem. "Você tem certeza de que pode andar?", ele perguntou. Seus olhos pareceram escurecer e se tornarem mais difíceis de se interpretar.
"Levante-se, MacDuff"*, Sonora disse, conseguindo erguer um canto da boca. "Dumbledore está esperando."
Sonora respirava com dificuldade, e tinha a mão de Snape segurando-a pelo cotovelo, servindo de apoio durante o caminho até o escritório de Dumbledore. "Marroio", disse Snape, e em seguida a porta se abriu. Sonora olhou para o último lance de escadas e gemeu.
Snape fez um movimento na direção dela. "Aqui", ele disse asperamente, fazendo menção de carregá-la de novo.
Sonora rapidamente balançou a cabeça, se sentindo ligeiramente nervosa. "Não, não", ela disse depressa. As mãos dele pareceram cair e ela ergueu os olhos para encarar o rosto dele. "Eu, hum, preciso provar que posso fazer isso", ela disse olhando para o pequeno corredor, e tentando ao máximo olhar para as escadas e não para ele. "Além do mais, isso é algo a que preciso me acostumar. Você não vai estar sempre aqui pra me ajudar, professor." De alguma maneira ela não queria olhar nos olhos dele.
"Severus." Sonora ergueu o rosto para ver novamente aquele olhar severo no rosto dele. "Eu já disse que meu nome é Severus.", ele repetiu.
Sonora subitamente sorriu um pouco, um sorriso real, o primeiro em um bom tempo. "Obrigada, Severus", ela disse suavemente. "Você cuidou... muito bem de mim."
Ele estudou-a enquanto baixava os olhos, e Sonora pela primeira vez estava bem ciente da diferença de altura entre os dois. Ela era uma pequena mulher, e agora uma aleijada também. Ele era um homem alto e surpreendentemente forte, julgando o modo como ele a carregara mais cedo. E quando ela ergueu a cabeça, foi pega por aquele escuro olhar estudando-a com atenção. Ele era quase assustador em suas profundezas, ela pensou, subitamente um pouco sem fôlego.
Severus gesticulou com uma mão. "Depois de você", ele disse.
Sonora piscou e se voltou para as escadas. Respirou fundo e então se preparou para enfrentá-las.
Sonora estava muito agradecida de ter chegado ao fim daquilo, que parecera encolher enquanto eles subiam. Ela ficaria surpresa se não fosse sua imaginação, o que era realmente o caso. Além do mais, aquele castelo sempre tinha novas surpresas.
Todavia, ela estava mais do que pronta pra cair em uma cadeira qualquer quando os dois entraram no escritório do diretor. Quando ela irrompeu para dentro, Dumbledore ergueu os olhos de onde estava sentado, escrevendo num pedaço de pergaminho.
"Minha querida Sonora", ele disse, rapidamente dando um risinho e dando a volta em sua mesa. Severus guiou-a até uma das cadeiras. Quando ela se sentou, um daqueles tradicionais apoios para sua perna apareceu com um pequeno estalo. "Como você está?", Dumbledore perguntou, a face e os olhos sérios.
Sonora olhou para cima, com a intenção de clarear um pouco a tensão que sentia naquela sala, mas descobriu os próprios olhos presos pelos azuis do diretor. "Eu... estou com raiva", ela admitiu. "Estou com fome, dolorida, e gostaria de fazer coisas com essa bengala que certamente são ilegais."
Dumbledore sorriu para ela, pouco iluminando seu rosto e expressão. "Você não está escondendo isso, então. Estou satisfeito. Seus ferimentos poderão ser amenizados depois se você puder admiti-los agora."
Sonora suspirou enquanto ajustava com mais precisão sua perna no apoio. "Eu sei", ela disse. "E enquanto isso eu tenho uma porção de coisinhas que gostaria de fazer com o Sr. Malfoy, e também percebi que foi uma grande tolice dele, aplicando mal sua raiva."
Com uma bufada atrás dela, Sonora percebeu que Snape se jogara na outra cadeira perto da dela. "Aquele moleque sabia bem o que estava fazendo", Snape disse, o rosto austero e inflexível.
Dumbledore suspirou e voltou para seu assento. "Minerva está com ele nesse preciso momento, e trará o garoto aqui em alguns minutos", ele disse. "Se você quiser, Severus, gostaria que me descrevesse o que viu."
Os olhos de Snape encontraram rapidamente os dela antes de voltarem ao rosto de Dumbledore. "Eu estava entrando na sala de aula, logo depois de chegar da biblioteca, onde eu havia ido logo após o jantar", ele disse, sem emoção. "Como aconteceu, eu vi o Sr. Potter empenhado em partir os pêlos de unicórnio e havia parado para ter uma palavrinha com ele. Eu olhei para cima por um momento, quando ouvi Sonora falando com outra pessoa no outro lado da sala, e a vi dar as costas para o Sr. Malfoy." A despeito da lembrança da dor que sentiu naquela hora, Sonora sentiu uma onda de calor escorregar por ela ao ouvir o conforto com que Snape dissera seu primeiro nome. "Quando ela fez isso, Draco pareceu furioso e acertou-a com um pé, chutando-a pelas costas."
Snape fez uma pausa. "Sonora caiu, e então eu mandei Potter buscar Pomfrey."
Ficou tudo muito silencioso na sala enquanto Sonora digeria as informações. Aquilo batia com o que ela se lembrava. Dumbledore finalmente assentiu. "Sonora, minha querida... Pode me contar sobre o comportamento do Sr. Malfoy?"
Sonora se mexeu um pouco em seu assento. "O Sr. Malfoy tem sido... problemático em aula.", ela disse, tentando escolher as palavras com cuidado, e evitando deixar que sua raiva pelo garoto pusesse mais cor nos acontecimentos. "Eu fui muito clara com todos os alunos, especialmente a classe dele, que não toleraria falta de respeito com qualquer outro aluno ou professor. O Sr. Malfoy, assim como Potter e Weasley, extrapolaram essa regra."
Sonora balançou a cabeça. "Eu finalmente me cansei de apenas tirar pontos dos garotos e apliquei detenções na noite do dia em que novamente os peguei desobedecendo às regras na minha aula. O Sr. Malfoy sugeriu que eu não poderia dar detenção a ele como seu eu não fosse uma professora 'de verdade'". Ela então se permitiu, desdenhosamente, a dar um sorrisinho de satisfação. "Então o convenci de que estava enganado, mandando que se apresentasse logo depois do jantar."
Ela balançou a cabeça de novo. "O Sr. Potter foi pontual, e aceitou sua punição como deveria. O Sr. Malfoy chegou atrasado e fez muito pouco do trabalho que foi mandado realizar." Sonora deu de ombros discretamente. "Eu admito que foi um esforço inútil, de tudo que poderia ser feito por ele."
Foi a vez de Dumbledore assentir. "Draco nunca teve mesmo o hábito de calcular as conseqüências de seus atos", ele disse calmamente. "Ele foi muito privilegiado algumas vezes, sempre sendo protegido. Temo que Severus estava certo, ele sabia o que estava fazendo. Não que eu acredite que ele não perceba onde seus atos poderiam parar."
Snape franziu a testa. "Ele tem sido muito crítico com relação a você", ele disse, olhando diretamente para Sonora. "Como o diretor da Casa dele, eu ouvi várias críticas severas sobre esse assunto." Ele fez uma careta. "Eu disse a ele há varias semanas atrás que sua raiva estava mal posicionada e que ele deveria ficar mais calmo."
Dumbledore pareceu pesaroso. "Eu não vejo muita escolha no que tenho que fazer", ele disse, com a voz pesada. "E ainda me dói expulsá-lo quando há uma chance de recuperar esse garoto."
Logo em seguida houve uma batida leve na porta do escritório. "Entre", Dumbledore chamou. Sonora se virou para ver a porta abrir-se e um muito pálido Draco Malfoy entrando, seguida pela austera Prof.ª McGonagall.
"Diretor", McGonagall disse em cumprimento, antes de olhar para Sonora. "Professora Stone, como está se sentindo?"
Sonora deu um fraco sorriso para a mulher, vendo o interesse honesto dela em seus olhos. "Tão bem quanto pode ser esperado, obrigada, professora."
O garoto estava parado, encarando um ponto da parede para não enfrentar os olhos de ninguém ali. "Draco", o Prof. Dumbledore disse calmamente. Lenta e relutantemente os olhos do aluno moveram-se para encontrar os do diretor. "Você está aqui e então podemos finalmente decidir a punição pelos seus atos." O diretor fez uma pausa. "Deliberada e intencionalmente atacou um professor, Sr. Malfoy", Dumbledore continuou com uma voz muito grave. "Causou um ferimento que nunca mais poderá ser curado."
Ele ficou quieto por um momento, e então suspirou. "As regras desta escola são muito claras. Eu deveria expulsá-lo imediatamente, Sr. Malfoy". Sonora viu a face do garoto ficar mortalmente pálida, e então foi como se ele tentasse mudar sua expressão, tentando mostrar o rosto irônico que sempre apresentara.
Quando ele fez isso, Snape bufou do outro lado da sala. "Eu não acho que você tenha entendido bem, Draco", ele disse numa voz gelada. O garoto olhou- o. "Suas ações foram deliberadas sério o suficiente para que seu pai não seja capaz de livrá-lo da expulsão". Os olhos de Snape estavam sombrios e gelados, parecendo perfurar a pele do aluno. "E com essa sua marca acadêmica recordista de apenas um ato, contra um professor, sem chance, nenhuma escola respeitável irá te aceitar."
Para a surpresa de Sonora, naquele momento ela sentiu nada menos que pena de Draco Malfoy, como se estivesse se tornando claro para ele a dimensão do problema em que fora se meter. "Mas... senhor... meu pai...", pareceu escapar dele enquanto ele olhava suplicante para Snape.
Snape inclinou-se para frente em seu assento. "Eu te avisei, Draco", ele disse numa voz gelada e macia, "para deixar essa raiva ridícula de lado e aprender a ter algum controle. Você escolheu ignorar o meu conselho, e agora vai enfrentar as conseqüências." Ele se recostou de novo, o rosto impenetrável. "Seu pai certamente não ficará satisfeito com a sua expulsão", ele disse calmamente. E assistindo-o, Sonora pensou ter pego um vislumbre de pena.
O Sr. Malfoy olhou para Dumbledore, a pele pastosa e branca. "Por favor, senhor", ele quase sussurrou.
O diretor lentamente balançou a cabeça, rosto grave. "Você não me deixa muita escolha, Draco", ele disse austeramente. Quando ele falou, Sonora viu os olhos dele encontrarem-se com os dela brevemente.
De repente ela sentiu um súbito ímpeto de falar. "Se eu puder propor uma alternativa, Prof. Dumbledore...?", Sonora umedeceu os lábios quando os quatro voltaram-se para ela, Snape e McGonagall com variado choque, o Sr. Malfoy com medo e talvez com um toque de esperança nos olhos, e Dumbledore com tranqüila expectativa.
"Sim, Professora Stone?", o diretor perguntou. "Você certamente tem o direito de contribuir com a decisão."
Sonora estudou o garoto à sua frente. Ele estava com medo, ela pensou, provavelmente pela primeira vez na vida. Ela sabia pouco sobre a vida dele em casa, mas pela menção do pai dele, tinha que assumir que não seria algo muito suportável.
"Eu proponho que demos ao Sr. Malfoy uma segunda chance", ela disse lentamente, mantendo seu olhar no pálido e amedrontado garoto. A isto, os olhos dele brilharam de volta com esperança e agradecimento. Havia uma descrença resmungada por um dos professores atrás dela, e então ergueu a mão para que esperassem até ela terminar.
"Eu sugiro que coloquemos o Sr. Malfoy numa estrita probabilidade de repetir o ano", ela disse, assistindo-o enquanto falava. "Ele está aqui porque não pôde aprender a respeitar seus colegas e professores. Por esta razão eu sugiro que além disso ele não possa ser responsável por um só ponto somado à sua Casa."
Os olhos de Draco pareceram aumentar enquanto ela falava, e interrompeu antes que pudesse pensar no assunto. "Mas é impossível! Se mais alguém souber eles irão...", e então percebeu que se enganara ao perceber que dissera tudo em voz alta.
Sonora manteve os olhos e a fala estáveis. "De fato, Sr. Malfoy. Os outros estudantes provavelmente irão tirar proveito da situação. Você não poderá retrucar, não importa qual provocação seja. Não por palavra, não por atos."
Houve silêncio enquanto o menino encarou-a num horror desacreditado. Então Dumbledore limpou a garganta. "Parece ser uma ótima sugestão, Professora Stone", ele disse. Sonora olhou para ele para ver o mais aberto apoio estampado em seus olhos. "Contanto que o Sr. Malfoy entenda a seriedade dessa situação, você pode dá-lo a oportunidade de prestar satisfações."
"Se eu puder adicionar uma sugestão, senhor", Snape falou devagar de onde estava. Sonora olhou-o com surpresa. "Eu acredito que o Sr. Malfoy poderia também se beneficiar passando algum tempo como assistente da Professora Stone. Como agora ele é responsável por quaisquer dificuldades futuras que ela possa ter, me parece a coisa certa que ele deva fazer, passando algumas noites ajudando-a no que ela precisar."
Sonora sorriu só um pouquinho. Deixe que Severus ache um modo de torcer a faca, ela pensou com certa pena um alguma diversão enquanto assistia Draco ruborizar durante a fala do diretor de sua Casa.
Dumbledore falou de novo. "Minerva? Qual é a sua opinião?"
McGonagall batia o pé contra o carpete. "Eu acho que a Professora Stone está sendo mais generosa do que o Sr. Malfoy merece", ela disse, categoricamente.
Dumbledore assentiu antes de olhar para o garoto ainda parado em frente à sua mesa. "Bem, Draco", ele disse numa voz muito calma. "Você escolhe agora. Você pode aceitar os termos de seu período experimental, ou a expulsão. Qual será sua escolha?"
A boca de Draco se abriu e então fechou-se, e ele pareceu estar discutindo consigo mesmo. Ele olhou de novo para Snape, mas não encontrou nenhum encorajamento do professor que ele costumava considerar um aliado. Sonora descobriu-se prendendo a respiração, esperando quando ele finalmente encarou de novo o diretor.
"Eu aceito ficar, senhor", ele disse, a voz fraca.
*Nota da tradutora: Quando Sonora diz "Levante-se, MacDuff", que depois de rachar a cabeça acabei traduzindo de "Lead on, MacDuff", ela faz referência à uma peça de Shakespeare, Macbeth.
