Intenções Secretas

Oh, bondosos e gentis leitores: eu agradeço as suas palavras e rezo para que continuem a me agraciar com a sua presença...

Capítulo Nove – Justo e Injusto

Sonora caminhou lentamente das masmorras até o Salão Principal para tomar café sozinha, e assim que entrou no lugar, teve a desconfortável compreensão de que estava em foco pelo corpo estudantil inteiro. O salão silenciou um pouco antes de estourar em conversas novamente, mais altas do que antes. Por um momento, ela desejou que não tivesse resistido ao impulso de bater à porta de Severus e pedir que ele a acompanhasse até ali. Ao menos ela teria alguém ao seu lado enquanto passasse entre os ávidos olhos dos alunos.

Mas, novamente, o pensamento de ver Severus de novo depois de ter chorado abraçada a ele noite passada a fez se encolher um pouco, de medo. Grande e corajosa grifinória ela era, pensou zombeteiramente enquanto caminhava através do salão.

Determinamente dando um suspiro, ela fez seu caminho até a mesa dos professores. Hagrid a reconhecera do outro lado do salão, e viera correndo até ela, uma expressão ansiosa em seu rosto.

"Professora!", ele exclamou, escorregando até poucos passos dela. "Você está bem?"

Sonora deu um sorriso torto. "Vejo que minhas aventuras já percorreram todo o castelo.", ela disse sarcasticamente.

"Venha, deixe-me dar uma mão", ele disse nervosamente quando ela fez menção de puxar a sua cadeira.

Sonora abriu a boca para agradecer a ele, mas foi interrompida por uma voz familiar atrás dela. "Isso não será necessário, Hagrid, eu cuidarei da Professora Stone." Sonora fechou a boca num estalo e desejou que desaparecesse o rubor que ameaçava se destacar em seu rosto. Oh querido, ela pensou, espantada.

Hagrid olhou de volta para Sonora com expressão de aprovação. "Professor Snape", ele disse, mantendo a mão firme no lugar. "Só quis dizer, senhor, sobre o que eu ouvi ontem, estamos todos orgulhosos de dizer que os conhecemos."

Sonora sentiu o silêncio atrás dela, e virou a cabeça para ver Severus encarando a mão de Hagrid com o que ele suspeitava que fosse espanto. Discretamente ela levou o cotovelo para trás de si, cutucando-o na costela. Severus franziu a testa para ela, e ela inclinou a cabeça.

Severus limpou a garganta. "Ah, obrigado. Eu acho", ele disse um pouco duvidosamente, pondo a mão sobre a de Hagrid e estremecendo quando o meio gigante a apertou.

"Certo então. Se o senhor está cuidando da Professora Stone, então, vou sair para ver como Fofo está", Hagrid disse alegremente. Ele pôs uma mão sobre o ombro de Sonora, gentil e timidamente. "Deixe-me saber caso haja algo que eu possa fazer por você, Professora."

"Obrigada, Hagrid", Sonora disse para as costas largas do homem quando ele se virou para sair. Ela balançou a cabeça com um sorriso. Ele era uma graça, com certeza era.

E então Sonora estava saturada. Todos os professores pareciam precisar se aproximar e comentar o incidente de ontem, e oferecer sua ajuda e suporte caso ela precisasse de alguma coisa. Até a Professora McGonagall gentilmente perguntou sobre sua saúde e sugeriu que ela pedisse um elfo doméstico para acompanhá-la o tempo todo.

Ela estava ficando sem paciência, estava absolutamente faminta e sua perna estava começando a tremer por ficar parada tanto tempo. "Verdade, isso não será necessário", ela começou.

Mas foi interrompida por Severus mais uma vez. "Vocês não vêem que a mulher precisa sentar e comer?", ele sibilou para as Professoras McGonagall e Sprout. "Ela está de pé há muito tempo pra quem acabou de sair da enfermaria. Vocês podem oferecer sua ajuda no escritório dela, se precisarem."

Sonora resistiu ao impulso de rolar os olhos quando se deixou sentar na cadeira que Severus puxara para ela. "Você disse a elas", ela murmurou sob a respiração quando fez menção de pegar um prato de bacon.

"O que foi aquilo?", Severus perguntou enquanto se sentava próximo a ela com um floreio.

"Ah, nada", Sonora murmurou, os lábios se movendo antes que ela pudesse pensar. "Sou só eu, ou o salão inteiro está nos encarando?"

Severus ergueu a cabeça e correu os olhos pelo Salão Principal com o seu olhar intimidante de sempre. Sonora assistiu com mal disfarçada diversão os estudantes congelando a expressão ou imediatamente desviando o olhar. "De forma alguma, Professora", Severus disse com satisfação quando se virou de volta para ela. "Ninguém está prestando a menor atenção."

A atenção de Sonora fora presa, entretanto, pela figura de um garoto sentado no final da mesa da Sonserina. "Este não será um ano fácil para ele", ela disse calmamente para Severus.

Severus bufou enquanto começava a encher os pratos de ambos os dois. "Será pior do que você imagina", ele disse em voz baixa. "Seu pai é Lucius Malfoy." Quando Sonora não reagiu ao nome, ele acrescentou, "o braço direito de Voldemort."

"Oh, Deus", Sonora disse, mais baixo ainda.

"Precisamente", Severus falou suavemente. "O pai dele não é alguém que esquece fraquezas, particularmente quando expostas em público. E Draco tem muitos inimigos em Hogwarts, que amariam vê-lo sendo expulso." Severus fez uma careta, dirigindo o olhar para a mesa da Grifinória. "Potter e seus amiguinhos seriam os primeiros e mais interessados."

Sonora estudou o apertado grupo de colegas da Grifinória. Havia quatro cabeças vermelhas, uma preta, e uma outra com revoltosos cachos castanhos. "Não tenho certeza disso, Severus", Sonora disse lentamente, assistindo os alunos, que pareciam conversar excitadamente. "Mesmo que eu não tenha a pretensão de conhecer os alunos tão bem quando você, me parece que o Sr. Potter ainda vai nos surpreender."

Severus bufou de novo enquanto começava a comer. "Seria muito surpreendente, de fato, se o Sr. Potter e o Sr. Weasley não tentassem tirar vantagem da situação do Sr. Malfoy."

Sonora contemplou os grifinórios por um momento antes que seus olhos retornassem ao solitário sonserino. "Nós veremos", ela disse, enquanto pegava seu garfo.

Sonora manteve estrita vigilância em suas aulas daquele dia, não permitindo nenhuma pergunta sobre o que acontecera poucos tempos atrás. Fofocas irresponsáveis, ela disse a varias classes, eram úteis a ninguém e prejudiciais a muitos.

Ao mesmo tempo, era aparente que a história já correra toda a escola, e que um bom número de alunos agora pensava que ela era alguma espécie de heroína trágica. O primeiro buquê de flores dos alunos mais jovens a surpreendera, mas conforme o dia foi passando e mais flores foram sendo trazidas pelos elfos domésticos, Sonora foi ficando aborrecida.

O que não ajudou foi quando Severus invadiu sua sala no meio da aula com o sexto ano. Ele parou de súbito ao ver o estado da carteira dela, que agora parecia algum tipo de jardim, e deu um risinho sarcástico. "O que está exatamente acontecendo aqui, Professora?", ele demandou.

Sonora tivera um dia desagradável, então não estava tão agradável quando poderia estar quando virou o rosto para ele. Atrás dela, ela quase podia ver as orelhas dos alunos se aguçando para capturar cada palavra. "Os alunos andaram me mandando flores", ela sibilou, sem sorrir. Ela estava cansada, droga, e nem um pouco disposta para tolerar os humores de ninguém.

E, claro, Severus fixou os olhos nela, e então para toda a sala. "Bah!", ele disse depressa, e, para surpresa dela, apenas caminhou rapidamente até a porta para seu próprio escritório. A porta bateu com um baque ressonante enquanto Sonora piscava em descrédito. Ela esperara mais do que um 'bah'. Esperara um discurso ou pelo menos um argumento.

Ela olhou a porta um pouco incerta antes de se voltar para sua tarefa de checar os caldeirões. Talvez ela conseguisse reunir coragem para perguntar a Severus sobre aquilo mais tarde.

Até entrar na masmorra e ver o desordeiro monte de flores cobrindo a mesa de Sonora, Severus estivera congratulando a si mesmo por ter mantido uma quantidade respeitável de distância dela. Ele estivera lá para fazê-la sentar e comer, mas não fora tão presente para fazer qualquer um pensar que fosse algo além de simples amizade.

Claro, seu sangue estivera martelando suas veias, sentado próximo dela e sendo capaz de sentir a suave fragrância que ela parecia emanar. Mas ele não dera nenhum sinal, e conseguira conversar naturalmente, ele pensou, quando ela o perguntou sobre Draco.

E então ele vira todas aquelas flores e algo parecera ter se remexido dentro dele. ELE queria ter dado flores a ela, percebeu num flash enjoativo. Ele queria ver os olhos dela se iluminarem com agradabilidade e bom humor, mas os alunos tinham feito aquilo primeiro então tudo que podia fazer era pôr aquele olhar fechado em seus olhos.

Severus se amaldiçoou silenciosamente, ele fora um tolo de não saber o que fazer sobre isso. Então houve uma leve fisgada em seu braço e ele quase congelou. Ele teria que ir.

Entre aturar a curiosidade de todas as suas classes o dia todo e o comportamento peculiar de Severus mais cedo e agora suas novas preocupações com Draco depois daquela refeição, a batida na porta de seu escritório uma hora antes de jantar era inesperada.

"Entre", Sonora chamou, baixando sua pena. "Ora, Srta. Granger", ela disse com nenhuma surpresa. "O que posso fazer por você?"

A garota parecia estar tentando encontrar palavras para explicar um problema particularmente complicado e hesitou por um momento ou dois antes de falar. "Você tem alguns minutos, Professora Stone?"

Sonora olhou curiosa para ela. "Certamente". Gesticulou em direção a uma cadeira, esperando que não fosse sobre a noite passada. Ela não estava com ânimo para alimentar um moinho de rumores.

A Srta. Granger se sentou, e bateu as mãos com força no próprio colo. "Eu... A senhora se importa se eu disser exatamente o que penso?", ela deixou escapar. "Eu sei que deveria tentar ser respeitosa e tudo o mais, mas eu tenho este problema e realmente não posso..."

Sonora sorriu um pouco. "Srta. Granger, ser respeitosa não significa que não pode ter sentimentos, não pode detestar ou ter dificuldades com alguém, e certamente não significa que não pode falar sobre os seus problemas com outra pessoa." Ela deu um sorriso encorajador. "Agora, qual seria o seu problema?"

A Srta. Granger soltou um suspiro. "É Malfoy.", ela disse. Sonora sentiu seu sorriso falhar. Oh, droga. "Oh, não, ele não fez nada", a garota acrescentou depressa. "Eu... Bem, veja, alguém descobriu as novas regras sobre ele. E há algumas... pessoas, que gostariam de vê-lo expulso da escola."

"Eu entendo", Sonora disse lentamente. "Seriam algumas dessas pessoas os Srs. Potter e Weasley?"

"Entre outros", a Srta. Granger admitiu. "Draco fez muita gente odiá-lo por aqui. Entretanto, eu não tenho certeza sobre Harry. Ele esteve tremendamente quieto hoje."

A Srta. Granger respirou fundo. "Veja, a coisa é, eu estava lendo sobre a Regra de Ouro, como esteve nos contando e... É verdade que o feitiço pode funcionar ao contrário? Que ser desagradável pode fazer com que isso volte para você?"

Sonora assentiu seriamente. "Ah, sim", ela disse. "Eu acredito que haja um trouxa que diz, como é também derivado do feitiço... 'colha o que plantou'?"

"Foi o que pensei", a garota disse, parecendo frustrada. "Mas Rony pode pensar que é um modo de fazer Malfoy finalmente pagar por todas as coisas que ele disse nos últimos anos. E seus irmãos podem achar a mesma coisa. E o resto dos grifinórios... Não estou certa de que não haja uma só pessoa que não esteja planejando alguma coisa."

O coração de Sonora ficou apertado. Draco Malfoy estava encrencado. "Como você se sente sobre isso, Srta. Granger?", ela disse.

A garota suspirou. "Eu não gostaria que Draco fosse expulso", ela disse. "Eu não posso pensar em nada pior do que ser obrigado a deixar Hogwarts. Apesar de Draco ter feito uma coisa horrível" ela desviou os olhos.

Foi a vez de Sonora suspirar. "Sim, eu suponho que o Sr. Potter tenha lhe contado todos os detalhes", ela disse.

A Srta. Granger assentiu gravemente. "Harry não guarda segredo de Rony ou de mim. Bem, a maioria das vezes. Mas ele não disse a mais ninguém, e nem nós o faremos também. Outra pessoa contou ao resto dos alunos."

"Eu acredito em você, Srta. Granger", Sonora disse gentilmente. "E você está certa, o que Draco fez foi um ato de violência diretamente contra um professor. Sob normais circunstâncias, não haveria alternativa que não sua expulsão." Ela suspirou de novo. "Mas Draco nunca encarou as conseqüências de seus atos antes.", ela disse, lembrando-se do que Dumbledore dissera a ela. "Então ele recebeu uma última chance, chance essa que não será nem um pouco fácil para ele."

"Eu apenas... Não acho que seja justo que todos estejam planejando fazer essas coisas quando Draco não pode se defender", Srta. Granger disse, soando frustrada.

"Não é justo", Sonora disse calmamente. "Não é justo mesmo. A vida geralmente também não é." Ela balançou a cabeça, pensando por um momento. "Gostaria de um conselho, Srta. Granger?"

"Sim, por favor", a garota disse, erguendo a cabeça e olhando para ela.

"'Fazer o mesmo aos outros', Srta. Granger", Sonora falou calmamente. "Coloque-se no lugar do Sr. Malfoy antes de agir, e diga a seus amigos para fazerem o mesmo antes disso. Draco já tem seus próprios problemas sem falar ainda da escola. Você poderá ficar muito surpresa com o resultados dessa atividade. E", ela acrescentou com um sorriso triste. "onde um vai, os outros o seguem."

A garota ficou quieta por um momento, e então pareceu respirar fundo. "Obrigada, Professora", ela disse então. "Gostei muito de falar com a senhora."

Sonora sorriu. "Quando quiser", disse. Plante uma semente, ela pensou de novo enquanto assistia a Srta. Granger sair. Plante uma semente e a veja crescer.

Severus caiu no chão com um grunhido de dor. A lama sujou o chão de pedra e havia mais sobre seus lábios, o sabor amargo e podre. O Lord das Trevas andou em volta dele. "Você falhou comigo, Severus", Voldemort disse numa voz gelada. "Falhou de novo. Que utilidade tem um espião que não traz informações?"

Severus tinha experiência o suficiente para não tentar se defender. Isso apenas o deixaria mais furioso.

Voldemort encarou por mais alguns momentos antes de erguer a varinha. "Talvez seja hora de dar-lhe um corretivo", seu mestre disse. Suas vestes voavam atrás dele, os olhos flamejantes sobre a luz das tochas. Os outros Comensais da Morte estavam parados ali, formando um círculo, assistindo, ele sabia. Todos eles adoravam aquilo, divertir-se com a sua dor, como ele anteriormente fizera com cada um deles. Eles o odiavam tanto quanto ele odiava a eles.

"Talvez isto te inspire para encontrar o que eu quero". Severus mal teve tempo de respirar e se preparar antes que as palavras viessem. "Crucio!"