Intenções Secretas
Madame Morte: não se preocupe, você terá um pouco mais de Harry no futuro. Não muito, assumo, mas um pouco. E acho que você vai gostar dele um pouco mais...
E a todos que têm me enviado comentários, OBRIGADA.
Capítulo Dez – Precisar e Proteger
Severus não estava no jantar aquela noite, e então Sonora não teve oportunidade de falar com ele. Ela se perguntou se ele não teria tido que sair, para fazer seu trabalho de espião, e conteve um calafrio ao pensar nisso. Ela não tinha realmente considerado o que ele fazia antes, não mesmo. Ela o encontrara sofrendo pela Cruciatus aquela noite, e então nunca pensou o que isso realmente significava.
Ela atravessou a sala de aula agitadamente, já tendo removido todas as flores para o seu quarto. Ela não precisava delas ocupando espaço na sala. Ela tentou não pensar na idéia de que ele pudesse estar em perigo àquela hora. Isso era algo que ele claramente acreditava ser importante, acreditada poder ajudar, ela disse a si mesma. Voldemort não era algo em que alguém visse qualquer luz.
Sonora se virou enquanto a porta da sala se abria e viu Draco Malfoy entrar formalmente. "Professora", ele disse numa voz dura.
"Sr. Malfoy", ela disse, estudando-o. Ele estava tendo um dia difícil, ela pensou. E esse era apenas o primeiro de vários. Ela sentiu uma onda de piedade pelo garoto.
Andou em linha reta até sua mesa. "Sente-se, Sr. Malfoy", ela disse, gesticulando enquanto se sentava em sua própria cadeira. Ela esperou até que o garoto se sentasse, evitando os olhos dela. "Diga-me, Draco", falou gentilmente. "Por que você tentou me ferir?"
Os olhos dele encontraram rapidamente os dela, subitamente atônitos, e encarou-a. "Eu... senhora?", ele balbuciou. Ele parecia amedrontado, ela percebeu. Ele verdadeiramente não estava esperando pela pergunta. Sonora sentiu outro assomo de dó, desta vez por uma educação que nunca forçara este garoto a dar uma boa olhada em si mesmo e em suas ações.
"Não vou penalizá-lo por responder minha pergunta, Draco", ela disse, com a voz suave. Manteve os olhos sobre os dele. "Mas eu preciso saber o porquê."
A resposta pareceu machucá-lo, a voz aumentando enquanto falava. "Porque você tirou pontos da minha Casa! E porque nos deu detenção, e porque não temos mais o Professor Snape!", ele olhou de relance para ela. "E por você querer que eu fosse bom com Potter!"
"Estou vendo", ela disse lentamente, assistindo sua confusão e sua face furiosa. "Então diga-me Draco, eu tirei pontos também da Grifinória?"
"Sim", ele murmurou, baixando a cabeça.
"Eu dei detenção ao Sr. Potter?", ela perguntou.
"Sim", ele disse, a voz baixando.
"Eu quis que o Sr. Potter fosse bom com você?", ela disse calmamente. O garoto não respondeu nada. "Sr. Malfoy, o que eu estive tentando ensinar aos alunos este ano é que ninguém é melhor do que ninguém. Agora", ela ergueu uma mão quando os olhos dele a encararam de novo. "Eu percebo que algumas pessoas acham firmemente que são superiores a outras. Puro sangue contra sangue trouxa." Ela olhou o garoto fixamente. "Eu entendo que foi assim que você foi criado. E eu posso respeitar o direito às suas crenças. O que eu não posso respeitar é quando suas crenças ferem os outros, por palavras ou por atos."
O garoto pareceu fechar-se em si mesmo, e Sonora suspirou silenciosamente e resolver tentar de novo outra hora. "Você terá tempos difíceis pelo resto do ano, Draco", ela disse de fato. "Palavra que se quebrar os termos de seu período de experiência, eu o avisarei para ser muito cuidadoso. Existem pessoas por aqui que amariam vê-lo falhar."
Draco murmurou alguma coisa por sob a respiração. "O que foi, Sr. Malfoy?", ela disse. "Fale claramente."
Ele olhou algum ponto acima da cabeça dela. "Potter e Weasley" ele disse em voz clara.
Sonora inclinou a cabeça. "Eles têm razões para desejá-lo longe daqui?", e então assentiu como se a questão fosse retórica. "Você virá aqui três noites por semana. Será meu assistente para preparar as aulas seguintes, e ocasionalmente irá me ajudar em minhas pesquisas."
Aquilo pareceu baixar a guarda dele. Sonora deu um sorriso triste. "Você parece ter boas mãos e um dom para Poções", ela disse. "Acredito que você será útil em meus últimos esforços." Acabou sendo visto como ele ser capaz de ter a confiança dela de saber no que a estaria ajudando, de todo jeito.
Ela se virou e pegou um pequeno livro que escolhera dentre sua coleção particular. "Finalmente, eu gostaria que fosse lesse um pouco para mim", disse. Deitou o livro então na ponta de sua mesa. "Este é um livro que eu ganhei quando pensei pela primeira vez em estudar Poções seriamente. Creio que você se beneficiará muito com ele". Uma Pitada de Filosofia, escrito na lombada do livro. Sonora sorriu um pouco, lembrando-se do dia em que Dumbledore a presenteara com ele. Ele pensara que poderia ser útil para ela, foi o que dissera com um sorriso, e ela acabou descobrindo verdade em suas palavras. Além de atormentadoras dicas sobre a Regra de Ouro, o livro estava cheio com as origens filosóficas de várias poções, e através dos anos ela se descobrira várias vezes retornando ao gasto e pequeno volume que ela encontrou com surpreendente facilidade.
"Vou adiar a discussão sobre sua leitura para uma próxima vez", disse. Ela indicou o livro com uma mão. "Isso é tudo que eu tenho para você esta noite. Pode ir."
Draco pareceu olhá-la com cuidadoso descrédito. Sonora sorriu gentilmente. "Acho que no fim você vai entender", ela disse acenando ainda na direção do livro. "Não se esqueça disso."
Ela se virou para a pilha de ensaios sobre as origens da Poção Esquele- Cresce e começou a ler, pretendendo não perceber enquanto Draco ficava sentado por um longo momento, olhando incerto para ela antes de se levantar lentamente e pegar o livro da mesa, então saindo rapidamente da classe.
Sonora baixou o ensaio que estava pretendendo ler assim que ele saísse. "Eu espero que sirva", disse em voz baixa. Pelo bem dele, não dela. Com Draco, ela tinha a chance de confrontar o seu atacante e tentar eliminar a raiva de dentro dele. Se ela podia apenas fazer essa pequena mudança, talvez seus pesadelos parassem.
Severus não apareceu enquanto Sonora não terminou de corrigir os ensaios e foi para a cama. Lívidas imagens do que ele podia estar fazendo insistiam em flutuar em sua mente, e como resultado, apenas conseguiu cochilar inquietamente através da noite. Finalmente, nas primeiras e escuras horas da manhã, ela desistiu de insistir numa boa noite de sono, e de fato saiu da cama, agradecida pelo dia seguinte ser fim de semana e não tivesse que dar aulas.
Bocejando, ela saiu de seus aposentos, o robe jogado de qualquer jeito sobre suas roupas de dormir, e entrou em seu escritório. Ela daria uma olhada em suas notas sobre o último fracasso, era no que estava pensando. Talvez o horário curioso em que estava trabalhando naquilo incidisse alguma inspiração sobre o que estava fazendo errado.
Sonora destrancou o lado chaveado de sua mesa com um aceno de varinha e um encanto murmurado, tirando da gaveta aberta suas anotações. Pegou um bom pedaço de pergaminho e murmurando revealeamus, esperou que a escrita aparecesse. Ela sempre tomara inúmeras precauções para proteger seu trabalho através dos anos, e não seria agora que seria diferente. De fato, aquele em particular merecia mais guarda-costas do que qualquer outra coisa, pensou enquanto pegava a primeira folha. Mas simplesmente por estar em Hogwarts seu trabalho estava bem seguro.
Ela estava no meio do caminho da estante dos livros, fazendo notas mentais quando ouviu o som de passos descendo o caminho de pedra. Sua pena congelou no meio do ar e ela escutou. Por alguma razão, sua respiração tornou-se apertada, enquanto esperava que a porta se abrisse.
Esta irrompeu aberta enquanto os passos irrompiam também a sala de aula, seguidos de uma maldição murmurava em voz baixa. Sonora olhou o batente da porta e esperou, o coração martelando com antecipação.
De fato, Severus apareceu no portal poucos segundos depois, as sombras profundas em seus olhos. "O que você está fazendo aqui?", ele demandou rispidamente. "Droga, mulher, vá para a cama, você precisa dormir!"
Sonora baixou suas anotações, sem dar muita importância sobre onde as estava colocando quando se levantou da cadeira. Ela procurou pela sua bengala desajeitadamente ao mesmo tempo que estudava o rosto dele. Havia um risco que parecia como lodo ou sangue no meio do rosto... "Eu não pude dormir", ela disse distraidamente, começando a andar na direção dele. "Severus, você está..."
Parou com um soluço quando ele pareceu estremecer um pouco, surpreendendo- se contra o batente da porta. "Merlin", ela disse num sussurro, movendo-se o mais depressa que podia. Ela estava subitamente com medo por ele. "O que eles fizeram?" Ele sempre parecia tão forte, para vê-lo na realidade demonstrando alguma fraqueza...
Ele respirou profunda e ruidosamente. "Nada que eu não possa suportar", ele disse. "Vá para a cama, Sonora."
Ela o ignorou e pousou uma mão sobre seu queixo. "Personalis diagnosticus", ela murmurou, resistindo ao impulso de cambalear ao perceber o excedente da dor dele a atingindo. "Como você ainda está de pé?", ela sussurrou, controlando-se para não chorar ao ver o quanto ele tinha se ferido.
"Eu estou bem", ele disse de novo, a voz um pouco embargada. "Sonora..."
Ela balançou a cabeça firmemente. "Não. Sente-se, Severus, e me deixe tomar conta de você".
"Eu não preciso..." ele começou.
"Droga, Severus, apenas se sente!", ela exclamou, quase chorando. Ela precisava pôr um fim àquela dor. Ele pareceu estremecer levemente à explosão dela, e encarou o chão. "Por favor", ela disse, tentando se controlar. Suas mãos torciam e retorciam ao estranho impulso de apenas abraçá-lo com toda a força até que se sentisse melhor.
Lentamente ele ergueu a mão e pousou-a sobre o queixo dela por um breve instante, sentindo um assomo de calor dentro de si. "Muito bem", ele disse calmamente. Ela recuou um passo e ele andou um pouco vacilante até a cadeira dela, sentando-se sobre a almofada com uma expressão de mal disfarçado alívio.
Sonora respirou fundo, tentando recuperar a compostura. "Diga-me onde dói, Severus", ela disse com calma, começando a convocar garrafas de seu estoque particular.
Severus encarou-a com os olhos sombrios. "Eu suspeito que haja uma ou duas costelas quebradas", ele disse. "E, claro, cruciatus".
Sonora resmungou consigo mesma e começou com uma garrafa azul. "Beba esta primeiro", ela disse, abrindo-a e estendendo o vidro a ele.
Severus franziu a testa para ele. "Você precisa se sentar", ele disse. Sonora resistiu ao incomum impulso de bater na cabeça dele com o objeto mais pontudo e grande que pudesse encontrar, enquanto ele puxava um banco acolchoado de baixo da mesa com uma careta, posicionando-a diretamente em frente a ele. "Sente aqui", disse ele.
Ela olhou ironicamente para ele. "Estou tomando conta de você, então eu dou as ordens". Dito isso, ela caminhou rapidamente e se sentou, mas apenas porque sua perna doía. Não porque ele dissera para ela fazê-lo. Ela estendeu-o a garrafa azul de novo. "Beba tudo", ordenou.
Os dedos dele tocaram os dela quando ele a pegou, causando um certo choque nela. "É a mesma que você me deu antes?", ele perguntou.
"Escreverei uma receita pra você amanhã, mas esta noite apenas o beba!", ela sibilou, virando-se para pegar a próxima garrafa.
Ela não tinha certeza, mas ela pensou ter surpreendido um sorriso disfarçado nele quando Severus ergueu a garrafa à altura dos lábios e bebeu todo o conteúdo. Tolo, ela pensou exasperada. Tudo que estava tentando fazer era cuidar daquela dor, e ele estava rindo?
Ela observou-o baixar a garrafa e entregá-la para ela. "O que quer que seja, meus cumprimentos", ele disse, de súbito perfeitamente sério. Ela sentiu sua ira ir se acalmando. "Nunca tive algo que servisse tão bem nessa maldição em particular." Ela encarou-o por um momento antes de virar os olhos. O que dizer daquele homem que transmitia emoções indefiníveis pelo ar como se fossem meros morcegos?
Sonora respirou rapidamente, pensando em sua pesquisa, e esperou que pudesse ser capaz de dá-lo algo bem melhor. Ela entregou-o então a garrafa vermelho-rubi. "Esta é a Poção da Cura Rápida", ela disse suavemente. "Outro resultado das minhas pesquisas. Você deverá ser capaz de direcioná- la diretamente para o lugar onde dói."
As sobrancelhas dele se ergueram, mas ele deitou a garrafa azul vazia na mão dela antes de pegar a vermelha. Levou-a aos lábios e tomou uns bons três goles antes de fechar os olhos. "É... fresco", ele murmurou. "Assombroso." Sonora estava sentada em silêncio, observando-o ansiosamente e esperando que a poção tivesse seu devido efeito.
Severus suspirou e abriu os olhos. "Obrigado", ele disse. "Aquela poção foi... muito eficaz."
Ela sorriu de leve. "Eu sei". Os olhos dele demoraram-se então nos dela, e seu sorriso começou a falhar. "Severus", ela disse calmamente, antes que perdesse a coragem. "Diga-me o que te aconteceu esta noite."
A isto, a expressão do homem se fechou. "Não me pergunte isso.", ele disse numa voz sem emoção.
"Por quê?", ela perguntou, sem desviar os olhos. Alguma parte dela alertara- a para não fazer esta pergunta, não se ela queria ficar como estava. Mas sua outra parte sussurrara que ela precisava saber.
"Eu não quero que você saiba", ele disse. "E eu não quero contar a você".
Sonora umedeceu os lábios nervosamente. "Severus", ela disse numa voz suave. "Você provavelmente está certo. Eu não quero saber, e estou certa de que você não quer me contar. Mas", ela se inclinou para a frente e pousou uma mão em seu joelho, "acho que eu preciso saber, e acho que você precisa me contar."
Severus baixou os olhos para onde ela pusera sua mão. Sonora enrubesceu num vermelho brilhante mas não se incomodou. Segurou sua perna um pouco mais fortemente, sentindo os músculos tensos sob seus dedos. Ela sabia, tão certo quanto ela mesma, que ele nunca falara sobre essas coisas com ninguém. Nem mesmo com Dumbledore. Sonora esperou. Ela podia esperar a noite toda, se fosse o tempo necessário. Mas ele não sairia dali sem contar tudo a ela.
"O Lord das Trevas estava... insatisfeito com a minha falta de progresso em um certo problema", ele finalmente disse. "Sua raiva é usualmente condensada na dor de outros. Desta vez, na minha." Deu uma risada áspera. "Estava tão insatisfeito que a cruciatus não foi suficiente. Quando eu caí aos seus pés, ele permitiu que eu ficasse imóvel ali, sem poder me levantar, para sua própria expressão de raiva."
A mão de Sonora apertou o joelho dele. "Quantos danos há em você, Severus?", ela perguntou em voz baixa. Seu coração martelava dentro dela. "O quão forte é a chance de que da próxima vez você não volte?"
Os olhos de Severus fuzilaram os dela, parecendo surpresos. "Sempre existe esta possibilidade", ele disse, não parecendo pensar sobre isso. "Sempre a chance de cometer um erro, de alguém me trair, ou de finalmente deixá-lo com raiva o suficiente."
Sonora respirou fundo. "Então, Severus, eu tenho que dizer a você que esteve errado na última noite, quando disse ser uma dessas pessoas da escuridão". Ele parecia estar tristemente assombrado. Ela balançou a cabeça lentamente. "A escolha que você fez... Só alguém muito cheio de luz a poderia ter feito."
Modesta por tudo que estava arriscando, ela olhou-o e baixou sua cabeça até ficar próxima de sua mão sobre o joelho dele, cansada e preocupada e tentando encontrar um pouco daquela famosa coragem grifinória.
"Sonora", ele disse, superiormente a ela, soando turvo. Sua mão hesitantemente tocou a cabeça dela. "Sonora..."
Ela meramente fechou os olhos e ficou onde estava. Ele estava curado e totalmente de novo, ela podia sentir a força e o calor dele logo abaixo do seu queixo. Ela podia canalizar coragem apenas daquele fato isolado.
A mão dele se moveu lentamente, acariciando os cabelos dela. Seu toque aliviou algo dentro dela. Seus dedos escorregaram e contornaram o traçado de uma orelha, a curva de seu queixo, até voltar a percorrer seus cabelos de novo.
Sonora sentiu um calor, uma suavidade crescendo dentro dela. Ela estava de volta àquele momento da noite passada, quando o mundo inteiro parara enquanto eles olhavam nos olhos um do outro. Sentada ali com os olhos fechados, sentiu tudo de novo.
Meio amedrontada pelo silêncio, Sonora obrigou-se a abrir os olhos e olhar para cima. Severus estava sentado com seus próprios olhos imóveis enquanto sua mão de movia gentilmente sobre o cabelo dela. Ela encarou sua face. Parecia como... ele estava sofrendo, e uma dor que ele estava saboreando, não rejeitando.
Algo dentro de Sonora começou a bater com muita força, e ela agiu antes que pudesse pensar. Usando sua mão sobre o joelho dele para se erguer, ela se sentou rapidamente e se inclinou para a frente. Severus apenas teve tempo de abrir os olhos numa surpresa alarmada antes que ela se erguesse e pressionasse seus lábios contra os dele.
Àquele toque, Sonora sentiu o coração parar de bater. Ele ficou imóvel por um atordoado segundo antes que um som indefinível viesse de sua garganta, e seus braços precipitassem-se rapidamente à volta dela. Ela foi puxada para perto, fortemente contra ele, quase jogada contra o tronco dele enquanto ele a beijava de volta. Ela começara o beijo, mas ele estava devolvendo toda a força agora. Seus lábios estavam quentes e rígidos e demandando contra ela, quando algo em seu peito pareceu se libertar e elevar-se quando ela o beijou de volta, seus lábios movendo-se desajeitadamente mas cheios de vontade contra ele. Sua pele queimava com o calor do corpo dele, seus lábios contra os dela, e aquilo a fez desejar estar mais perto dele ainda.
E então ele fisgou sua cabeça para trás, separando os lábios dos dela embora ainda a tivesse em seus braços. "Por quê?", ele perguntou roucamente, os olhos sombrios e desesperados quando ele a encarou. "Por que fez isso?"
Sonora segurou seu olhar, a respiração tentando se normalizar. "Porque... eu quis", ela disse em espanto, a respiração ruidosa ainda. "Eu... você não me queria?" Alguma parte dela contraiu-se àquele pensamento.
Um grunhido foi segurando na garganta dele. "Não querer... Céus, mulher, eu te quero. Mas não deveria."
Sonora estremeceu levemente em seus braços, as palavras ferindo-a através das nuvens de desejo. "Por quê?", ela demandou, subitamente com raiva. "Diga-me porquê."
Ele pareceu lutar consigo mesmo, e pela primeira vez, Sonora não teve o menor impulso de ajudá-lo com isso. Ela queria vê-lo responder a pergunta, totalmente por sua conta. "Porque", ele finalmente disse, antes de virar a cabeça para o outro lado meditativamente.
Um pouco temerosa, ela livrou sua mão dele e a ergueu para virar o rosto dele de frente para o dela. "Você vai me olhar nos olhos e me dizer", ela ordenou, encarando-o. "Explique-me por que eu não deveria ter te beijado."
A resposta parecia machucá-lo, face e olhos furiosos mesmo com ele a segurando tão perto. "Porque sou sujo, droga! Marcado com a Marca Negra, e com o poder do Lord das Trevas. Você não deveria ficar em qualquer lugar perto de mim." Sua voz estava rouca e raivosa, e ela podia ver a auto- condenação em seus olhos.
Ela observou-o de perto. "Cale a boca", disse a ele, ignorando o modo como o queixo dele caía conforme ela falava. "Estou cansada de ouvir sobre a pessoa horrível que você é, Severus. Você pode ser mal-humorado às vezes, você pode controlar os seus alunos com essa postura de malvado temperamental, você pode até irritar propositalmente seus colegas professores. Mas você não é mau. Você não é 'sujo'."
Depois de todas aquelas semanas de cautelosa amizade, depois da constante e atenta proteção dele, depois do trauma da noite anterior, ela chegara àquele momento. E ela podia ser amaldiçoada se deixasse-o se esquivar dessa por conta de seu maldito orgulho.
"Tempo demais perto de mim pode ser perigoso", ele irrompeu a dizer. Certa parte de Sonora descobrira como era fascinante conversar com ele enquanto era abraçada fortemente daquele jeito, aconchegada nele. "Você não quer chamar a atenção do Lord das Trevas para você, Sonora. E eu não quero você lá."
Como que para sua surpresa, ela se descobriu sorrindo, sentindo a luz e a bravura virem à tona dentro dela. "Você vai mencionar o meu nome a Lord Voldemort?", perguntou. Ele apenas a olhou fixamente, um espasmo de surpresa e descrédito em seus olhos. Aqueles olhos incríveis, que pareciam mergulhá-la até que estivesse quase afogada neles. "Eu não acho. E se mais alguém fizer isso, não há nada que possamos fazer sobre o assunto. E temo que você não possa escapar de ficar perto de mim, Severus. Não quando dividimos uma sala de aula, dividimos uma escola, e não quando você sai do seu caminho para tomar conta de mim."
"É o que está fazendo, você sabe", ela disse, a voz ficando mais gentil conforme seu coração recomeçava a bater depressa. "Tentando tomar conta de mim, me proteger." Ela apoiou uma mão no queixo dele, sentindo o calor entre seus dedos. "E eu o agradeço por isso. Mas de algumas coisas", ela continuou, percorrendo com os dedos as linhas do rosto do homem, "eu não preciso ser protegida."
Mais uma vez foi ela quem ergueu o rosto e começou um beijo. E, mais uma vez, foi ele quem capitulou e começou a tocá-la com o poder e a força de seus lábios contra os dela. Era faminto, como se ele estivesse morrendo de fome e ela fosse seu único alimento. Era desesperado, como se ele temesse que ela fosse desaparecer a qualquer momento, e deixá-lo. E era ao mesmo tempo tão maravilhoso, tão incrível, o modo como seus lábios pressionavam e apartavam os dela, o modo como sua língua encontrava a dela, como se ele estivesse com medo de que não passasse de um sonho. Quando eles se separaram dessa vez, foi para apoiar seu rosto na curva da nuca dela.
Ela passou os dedos pelo cabelo dele, ignorando a impressão de sujeira e sangue que o toque lhe causou. "Eu recebi um grande conforto de você agora, você sabe", ela disse, o rosto ainda tocando o dele. "Só por estar perto de mim. Sua força, ela... me faz sentir corajosa."
Ele a apertou mais um pouco. "Eu não vou me esquecer disso se você vier me ofender", ele disse, a voz abafada pelo contato com a pele dela.
Ela fechou os olhos e apertou o rosto contra os cabelos dele. "Nada irá me acontecer", ela disse, suas palavras como uma solene promessa.
Severus ficou sentado por um longo tempo onde estava, um pouco desconfortável na cadeira do escritório de Sonora. Ele não sairia dali por nada no mundo, de qualquer jeito, não com o modo como ela estava aconchegada nele. Sua respiração era lenta e regular, quando dormira com a cabeça apoiada em seu tórax.
Cuidadosamente, para não acordá-la, ele moveu algumas mechas de cabelos do rosto dela, brilhantes sob a fraca luz, e ainda caídos de qualquer jeito sobre sua cabeça. Ela suspirou em seu sono, e pareceu apertá-lo para si com mais força.
Severus baixou a cabeça e pressionou os lábios contra a nuca da mulher. Sua decisão estava tomada para ele. Ele não poderia ter se soltado da suavidade dos braços dela nem mesmo se o Lord das Trevas estivesse parado diante dele. Ele sentiu uma onda de culpa por deixá-la tocar nele, deixar que ela o abraçasse. Independente do que ela dissera, ele sabia a verdade. A verdade era que ele tinha uma alma asquerosa e tola, e que não deveria ter aceitado o que ela oferecera.
Cuidadosamente, ele mudou a posição de seus braços à volta dela enquanto continuava ali. As dobras lisas da camisola dela escorregaram por um braço e o fizeram sentir uma tensão passar por todo o seu corpo. Ele respirou profundamente, sentindo aquela leve fragrância que ela emanava.
Ele a carregou até o quarto dela, deitando-a gentilmente na cama. Ela trouxera todas as flores para aquele lugar, e agora parecia mais um conto de fadas trouxa, deitando a donzela em sua cama particular. Ele arrumou seus travesseiros, suas cobertas, e colocou sua bengala em seu lugar costumeiro. Incapaz de resistir, passou os dedos pelos traços de seu queixo, seus lábios, e por seu pescoço até sua nuca. Então ele se forçou a parar. E se ela acordasse na manhã seguinte e se arrependesse da coisa toda?
Recuando lentamente, ele manteve os olhos sobre ela até passar pela porta e sair do quarto. Respirando muito fundo, ele forçou a cadeira dela, chutando uma de suas pernas. Ao fazer isso, seus olhos caíram nos montes de papel sobre a mesa dela. Ele apenas bateu os olhos sobre eles, tomando-os logo por ensaios dos alunos, até surpreender ali a palavra crucio.
Severus franziu a testa e leu às pressas a primeira página. Aquilo pareciam ser notas do que quer que fosse que ela estava pesquisando. Pego por um inesperado senso de honra, ele tirou os olhos das páginas. Ele pediria que ela o mostrasse, algum dia, ele não forçaria uma confidência dela sobre o que estaria escrito naqueles papéis.
Ainda assim, ele estava intrigado com o que lera. Estaria Sonora tentando descobrir um modo de curar os efeitos de uma Maldição Imperdoável?
Sua mente então pulou de volta para a imagem dela deitada pacificamente em sua cama, e seu coração se contraiu. O que ele estava fazendo? Como podia arriscá-la daquele jeito? Mais cedo ou mais tarde ele seria descoberto como sendo um traidor, então sua vida não teria o menor valor. Como ele podia permitir que Sonora fosse igualmente arriscada sob o Lord das Trevas?
Outra imagem apareceu num flash em sua mente, a do rosto determinado de Sonora dizendo para ele se sentar e deixá-la tomar conta dele. Assim que ela pousara sua mão sobre seu joelho, quase partiu o coração dele com a beleza de seu gesto. Assim como quando ela olhara nos olhos dele e dissera que nada poderia acontecer a ela.
Nada iria, ele silenciosamente afirmou. Ele não deixaria. Sua mente começou a girar com possibilidades, modos para protegê-la até que veio a parar. Elegantemente simples e ainda tão complexo, ele pensou. Ele não sabia mesmo se isso podia ser feito.
Severus atravessou a sala de aula e pegou um pequeno livro. Acendendo o fogo, começou a virar suas páginas. Ele iria protegê-la, não importava o que a manhã poderia trazer.
Madame Morte: não se preocupe, você terá um pouco mais de Harry no futuro. Não muito, assumo, mas um pouco. E acho que você vai gostar dele um pouco mais...
E a todos que têm me enviado comentários, OBRIGADA.
Capítulo Dez – Precisar e Proteger
Severus não estava no jantar aquela noite, e então Sonora não teve oportunidade de falar com ele. Ela se perguntou se ele não teria tido que sair, para fazer seu trabalho de espião, e conteve um calafrio ao pensar nisso. Ela não tinha realmente considerado o que ele fazia antes, não mesmo. Ela o encontrara sofrendo pela Cruciatus aquela noite, e então nunca pensou o que isso realmente significava.
Ela atravessou a sala de aula agitadamente, já tendo removido todas as flores para o seu quarto. Ela não precisava delas ocupando espaço na sala. Ela tentou não pensar na idéia de que ele pudesse estar em perigo àquela hora. Isso era algo que ele claramente acreditava ser importante, acreditada poder ajudar, ela disse a si mesma. Voldemort não era algo em que alguém visse qualquer luz.
Sonora se virou enquanto a porta da sala se abria e viu Draco Malfoy entrar formalmente. "Professora", ele disse numa voz dura.
"Sr. Malfoy", ela disse, estudando-o. Ele estava tendo um dia difícil, ela pensou. E esse era apenas o primeiro de vários. Ela sentiu uma onda de piedade pelo garoto.
Andou em linha reta até sua mesa. "Sente-se, Sr. Malfoy", ela disse, gesticulando enquanto se sentava em sua própria cadeira. Ela esperou até que o garoto se sentasse, evitando os olhos dela. "Diga-me, Draco", falou gentilmente. "Por que você tentou me ferir?"
Os olhos dele encontraram rapidamente os dela, subitamente atônitos, e encarou-a. "Eu... senhora?", ele balbuciou. Ele parecia amedrontado, ela percebeu. Ele verdadeiramente não estava esperando pela pergunta. Sonora sentiu outro assomo de dó, desta vez por uma educação que nunca forçara este garoto a dar uma boa olhada em si mesmo e em suas ações.
"Não vou penalizá-lo por responder minha pergunta, Draco", ela disse, com a voz suave. Manteve os olhos sobre os dele. "Mas eu preciso saber o porquê."
A resposta pareceu machucá-lo, a voz aumentando enquanto falava. "Porque você tirou pontos da minha Casa! E porque nos deu detenção, e porque não temos mais o Professor Snape!", ele olhou de relance para ela. "E por você querer que eu fosse bom com Potter!"
"Estou vendo", ela disse lentamente, assistindo sua confusão e sua face furiosa. "Então diga-me Draco, eu tirei pontos também da Grifinória?"
"Sim", ele murmurou, baixando a cabeça.
"Eu dei detenção ao Sr. Potter?", ela perguntou.
"Sim", ele disse, a voz baixando.
"Eu quis que o Sr. Potter fosse bom com você?", ela disse calmamente. O garoto não respondeu nada. "Sr. Malfoy, o que eu estive tentando ensinar aos alunos este ano é que ninguém é melhor do que ninguém. Agora", ela ergueu uma mão quando os olhos dele a encararam de novo. "Eu percebo que algumas pessoas acham firmemente que são superiores a outras. Puro sangue contra sangue trouxa." Ela olhou o garoto fixamente. "Eu entendo que foi assim que você foi criado. E eu posso respeitar o direito às suas crenças. O que eu não posso respeitar é quando suas crenças ferem os outros, por palavras ou por atos."
O garoto pareceu fechar-se em si mesmo, e Sonora suspirou silenciosamente e resolver tentar de novo outra hora. "Você terá tempos difíceis pelo resto do ano, Draco", ela disse de fato. "Palavra que se quebrar os termos de seu período de experiência, eu o avisarei para ser muito cuidadoso. Existem pessoas por aqui que amariam vê-lo falhar."
Draco murmurou alguma coisa por sob a respiração. "O que foi, Sr. Malfoy?", ela disse. "Fale claramente."
Ele olhou algum ponto acima da cabeça dela. "Potter e Weasley" ele disse em voz clara.
Sonora inclinou a cabeça. "Eles têm razões para desejá-lo longe daqui?", e então assentiu como se a questão fosse retórica. "Você virá aqui três noites por semana. Será meu assistente para preparar as aulas seguintes, e ocasionalmente irá me ajudar em minhas pesquisas."
Aquilo pareceu baixar a guarda dele. Sonora deu um sorriso triste. "Você parece ter boas mãos e um dom para Poções", ela disse. "Acredito que você será útil em meus últimos esforços." Acabou sendo visto como ele ser capaz de ter a confiança dela de saber no que a estaria ajudando, de todo jeito.
Ela se virou e pegou um pequeno livro que escolhera dentre sua coleção particular. "Finalmente, eu gostaria que fosse lesse um pouco para mim", disse. Deitou o livro então na ponta de sua mesa. "Este é um livro que eu ganhei quando pensei pela primeira vez em estudar Poções seriamente. Creio que você se beneficiará muito com ele". Uma Pitada de Filosofia, escrito na lombada do livro. Sonora sorriu um pouco, lembrando-se do dia em que Dumbledore a presenteara com ele. Ele pensara que poderia ser útil para ela, foi o que dissera com um sorriso, e ela acabou descobrindo verdade em suas palavras. Além de atormentadoras dicas sobre a Regra de Ouro, o livro estava cheio com as origens filosóficas de várias poções, e através dos anos ela se descobrira várias vezes retornando ao gasto e pequeno volume que ela encontrou com surpreendente facilidade.
"Vou adiar a discussão sobre sua leitura para uma próxima vez", disse. Ela indicou o livro com uma mão. "Isso é tudo que eu tenho para você esta noite. Pode ir."
Draco pareceu olhá-la com cuidadoso descrédito. Sonora sorriu gentilmente. "Acho que no fim você vai entender", ela disse acenando ainda na direção do livro. "Não se esqueça disso."
Ela se virou para a pilha de ensaios sobre as origens da Poção Esquele- Cresce e começou a ler, pretendendo não perceber enquanto Draco ficava sentado por um longo momento, olhando incerto para ela antes de se levantar lentamente e pegar o livro da mesa, então saindo rapidamente da classe.
Sonora baixou o ensaio que estava pretendendo ler assim que ele saísse. "Eu espero que sirva", disse em voz baixa. Pelo bem dele, não dela. Com Draco, ela tinha a chance de confrontar o seu atacante e tentar eliminar a raiva de dentro dele. Se ela podia apenas fazer essa pequena mudança, talvez seus pesadelos parassem.
Severus não apareceu enquanto Sonora não terminou de corrigir os ensaios e foi para a cama. Lívidas imagens do que ele podia estar fazendo insistiam em flutuar em sua mente, e como resultado, apenas conseguiu cochilar inquietamente através da noite. Finalmente, nas primeiras e escuras horas da manhã, ela desistiu de insistir numa boa noite de sono, e de fato saiu da cama, agradecida pelo dia seguinte ser fim de semana e não tivesse que dar aulas.
Bocejando, ela saiu de seus aposentos, o robe jogado de qualquer jeito sobre suas roupas de dormir, e entrou em seu escritório. Ela daria uma olhada em suas notas sobre o último fracasso, era no que estava pensando. Talvez o horário curioso em que estava trabalhando naquilo incidisse alguma inspiração sobre o que estava fazendo errado.
Sonora destrancou o lado chaveado de sua mesa com um aceno de varinha e um encanto murmurado, tirando da gaveta aberta suas anotações. Pegou um bom pedaço de pergaminho e murmurando revealeamus, esperou que a escrita aparecesse. Ela sempre tomara inúmeras precauções para proteger seu trabalho através dos anos, e não seria agora que seria diferente. De fato, aquele em particular merecia mais guarda-costas do que qualquer outra coisa, pensou enquanto pegava a primeira folha. Mas simplesmente por estar em Hogwarts seu trabalho estava bem seguro.
Ela estava no meio do caminho da estante dos livros, fazendo notas mentais quando ouviu o som de passos descendo o caminho de pedra. Sua pena congelou no meio do ar e ela escutou. Por alguma razão, sua respiração tornou-se apertada, enquanto esperava que a porta se abrisse.
Esta irrompeu aberta enquanto os passos irrompiam também a sala de aula, seguidos de uma maldição murmurava em voz baixa. Sonora olhou o batente da porta e esperou, o coração martelando com antecipação.
De fato, Severus apareceu no portal poucos segundos depois, as sombras profundas em seus olhos. "O que você está fazendo aqui?", ele demandou rispidamente. "Droga, mulher, vá para a cama, você precisa dormir!"
Sonora baixou suas anotações, sem dar muita importância sobre onde as estava colocando quando se levantou da cadeira. Ela procurou pela sua bengala desajeitadamente ao mesmo tempo que estudava o rosto dele. Havia um risco que parecia como lodo ou sangue no meio do rosto... "Eu não pude dormir", ela disse distraidamente, começando a andar na direção dele. "Severus, você está..."
Parou com um soluço quando ele pareceu estremecer um pouco, surpreendendo- se contra o batente da porta. "Merlin", ela disse num sussurro, movendo-se o mais depressa que podia. Ela estava subitamente com medo por ele. "O que eles fizeram?" Ele sempre parecia tão forte, para vê-lo na realidade demonstrando alguma fraqueza...
Ele respirou profunda e ruidosamente. "Nada que eu não possa suportar", ele disse. "Vá para a cama, Sonora."
Ela o ignorou e pousou uma mão sobre seu queixo. "Personalis diagnosticus", ela murmurou, resistindo ao impulso de cambalear ao perceber o excedente da dor dele a atingindo. "Como você ainda está de pé?", ela sussurrou, controlando-se para não chorar ao ver o quanto ele tinha se ferido.
"Eu estou bem", ele disse de novo, a voz um pouco embargada. "Sonora..."
Ela balançou a cabeça firmemente. "Não. Sente-se, Severus, e me deixe tomar conta de você".
"Eu não preciso..." ele começou.
"Droga, Severus, apenas se sente!", ela exclamou, quase chorando. Ela precisava pôr um fim àquela dor. Ele pareceu estremecer levemente à explosão dela, e encarou o chão. "Por favor", ela disse, tentando se controlar. Suas mãos torciam e retorciam ao estranho impulso de apenas abraçá-lo com toda a força até que se sentisse melhor.
Lentamente ele ergueu a mão e pousou-a sobre o queixo dela por um breve instante, sentindo um assomo de calor dentro de si. "Muito bem", ele disse calmamente. Ela recuou um passo e ele andou um pouco vacilante até a cadeira dela, sentando-se sobre a almofada com uma expressão de mal disfarçado alívio.
Sonora respirou fundo, tentando recuperar a compostura. "Diga-me onde dói, Severus", ela disse com calma, começando a convocar garrafas de seu estoque particular.
Severus encarou-a com os olhos sombrios. "Eu suspeito que haja uma ou duas costelas quebradas", ele disse. "E, claro, cruciatus".
Sonora resmungou consigo mesma e começou com uma garrafa azul. "Beba esta primeiro", ela disse, abrindo-a e estendendo o vidro a ele.
Severus franziu a testa para ele. "Você precisa se sentar", ele disse. Sonora resistiu ao incomum impulso de bater na cabeça dele com o objeto mais pontudo e grande que pudesse encontrar, enquanto ele puxava um banco acolchoado de baixo da mesa com uma careta, posicionando-a diretamente em frente a ele. "Sente aqui", disse ele.
Ela olhou ironicamente para ele. "Estou tomando conta de você, então eu dou as ordens". Dito isso, ela caminhou rapidamente e se sentou, mas apenas porque sua perna doía. Não porque ele dissera para ela fazê-lo. Ela estendeu-o a garrafa azul de novo. "Beba tudo", ordenou.
Os dedos dele tocaram os dela quando ele a pegou, causando um certo choque nela. "É a mesma que você me deu antes?", ele perguntou.
"Escreverei uma receita pra você amanhã, mas esta noite apenas o beba!", ela sibilou, virando-se para pegar a próxima garrafa.
Ela não tinha certeza, mas ela pensou ter surpreendido um sorriso disfarçado nele quando Severus ergueu a garrafa à altura dos lábios e bebeu todo o conteúdo. Tolo, ela pensou exasperada. Tudo que estava tentando fazer era cuidar daquela dor, e ele estava rindo?
Ela observou-o baixar a garrafa e entregá-la para ela. "O que quer que seja, meus cumprimentos", ele disse, de súbito perfeitamente sério. Ela sentiu sua ira ir se acalmando. "Nunca tive algo que servisse tão bem nessa maldição em particular." Ela encarou-o por um momento antes de virar os olhos. O que dizer daquele homem que transmitia emoções indefiníveis pelo ar como se fossem meros morcegos?
Sonora respirou rapidamente, pensando em sua pesquisa, e esperou que pudesse ser capaz de dá-lo algo bem melhor. Ela entregou-o então a garrafa vermelho-rubi. "Esta é a Poção da Cura Rápida", ela disse suavemente. "Outro resultado das minhas pesquisas. Você deverá ser capaz de direcioná- la diretamente para o lugar onde dói."
As sobrancelhas dele se ergueram, mas ele deitou a garrafa azul vazia na mão dela antes de pegar a vermelha. Levou-a aos lábios e tomou uns bons três goles antes de fechar os olhos. "É... fresco", ele murmurou. "Assombroso." Sonora estava sentada em silêncio, observando-o ansiosamente e esperando que a poção tivesse seu devido efeito.
Severus suspirou e abriu os olhos. "Obrigado", ele disse. "Aquela poção foi... muito eficaz."
Ela sorriu de leve. "Eu sei". Os olhos dele demoraram-se então nos dela, e seu sorriso começou a falhar. "Severus", ela disse calmamente, antes que perdesse a coragem. "Diga-me o que te aconteceu esta noite."
A isto, a expressão do homem se fechou. "Não me pergunte isso.", ele disse numa voz sem emoção.
"Por quê?", ela perguntou, sem desviar os olhos. Alguma parte dela alertara- a para não fazer esta pergunta, não se ela queria ficar como estava. Mas sua outra parte sussurrara que ela precisava saber.
"Eu não quero que você saiba", ele disse. "E eu não quero contar a você".
Sonora umedeceu os lábios nervosamente. "Severus", ela disse numa voz suave. "Você provavelmente está certo. Eu não quero saber, e estou certa de que você não quer me contar. Mas", ela se inclinou para a frente e pousou uma mão em seu joelho, "acho que eu preciso saber, e acho que você precisa me contar."
Severus baixou os olhos para onde ela pusera sua mão. Sonora enrubesceu num vermelho brilhante mas não se incomodou. Segurou sua perna um pouco mais fortemente, sentindo os músculos tensos sob seus dedos. Ela sabia, tão certo quanto ela mesma, que ele nunca falara sobre essas coisas com ninguém. Nem mesmo com Dumbledore. Sonora esperou. Ela podia esperar a noite toda, se fosse o tempo necessário. Mas ele não sairia dali sem contar tudo a ela.
"O Lord das Trevas estava... insatisfeito com a minha falta de progresso em um certo problema", ele finalmente disse. "Sua raiva é usualmente condensada na dor de outros. Desta vez, na minha." Deu uma risada áspera. "Estava tão insatisfeito que a cruciatus não foi suficiente. Quando eu caí aos seus pés, ele permitiu que eu ficasse imóvel ali, sem poder me levantar, para sua própria expressão de raiva."
A mão de Sonora apertou o joelho dele. "Quantos danos há em você, Severus?", ela perguntou em voz baixa. Seu coração martelava dentro dela. "O quão forte é a chance de que da próxima vez você não volte?"
Os olhos de Severus fuzilaram os dela, parecendo surpresos. "Sempre existe esta possibilidade", ele disse, não parecendo pensar sobre isso. "Sempre a chance de cometer um erro, de alguém me trair, ou de finalmente deixá-lo com raiva o suficiente."
Sonora respirou fundo. "Então, Severus, eu tenho que dizer a você que esteve errado na última noite, quando disse ser uma dessas pessoas da escuridão". Ele parecia estar tristemente assombrado. Ela balançou a cabeça lentamente. "A escolha que você fez... Só alguém muito cheio de luz a poderia ter feito."
Modesta por tudo que estava arriscando, ela olhou-o e baixou sua cabeça até ficar próxima de sua mão sobre o joelho dele, cansada e preocupada e tentando encontrar um pouco daquela famosa coragem grifinória.
"Sonora", ele disse, superiormente a ela, soando turvo. Sua mão hesitantemente tocou a cabeça dela. "Sonora..."
Ela meramente fechou os olhos e ficou onde estava. Ele estava curado e totalmente de novo, ela podia sentir a força e o calor dele logo abaixo do seu queixo. Ela podia canalizar coragem apenas daquele fato isolado.
A mão dele se moveu lentamente, acariciando os cabelos dela. Seu toque aliviou algo dentro dela. Seus dedos escorregaram e contornaram o traçado de uma orelha, a curva de seu queixo, até voltar a percorrer seus cabelos de novo.
Sonora sentiu um calor, uma suavidade crescendo dentro dela. Ela estava de volta àquele momento da noite passada, quando o mundo inteiro parara enquanto eles olhavam nos olhos um do outro. Sentada ali com os olhos fechados, sentiu tudo de novo.
Meio amedrontada pelo silêncio, Sonora obrigou-se a abrir os olhos e olhar para cima. Severus estava sentado com seus próprios olhos imóveis enquanto sua mão de movia gentilmente sobre o cabelo dela. Ela encarou sua face. Parecia como... ele estava sofrendo, e uma dor que ele estava saboreando, não rejeitando.
Algo dentro de Sonora começou a bater com muita força, e ela agiu antes que pudesse pensar. Usando sua mão sobre o joelho dele para se erguer, ela se sentou rapidamente e se inclinou para a frente. Severus apenas teve tempo de abrir os olhos numa surpresa alarmada antes que ela se erguesse e pressionasse seus lábios contra os dele.
Àquele toque, Sonora sentiu o coração parar de bater. Ele ficou imóvel por um atordoado segundo antes que um som indefinível viesse de sua garganta, e seus braços precipitassem-se rapidamente à volta dela. Ela foi puxada para perto, fortemente contra ele, quase jogada contra o tronco dele enquanto ele a beijava de volta. Ela começara o beijo, mas ele estava devolvendo toda a força agora. Seus lábios estavam quentes e rígidos e demandando contra ela, quando algo em seu peito pareceu se libertar e elevar-se quando ela o beijou de volta, seus lábios movendo-se desajeitadamente mas cheios de vontade contra ele. Sua pele queimava com o calor do corpo dele, seus lábios contra os dela, e aquilo a fez desejar estar mais perto dele ainda.
E então ele fisgou sua cabeça para trás, separando os lábios dos dela embora ainda a tivesse em seus braços. "Por quê?", ele perguntou roucamente, os olhos sombrios e desesperados quando ele a encarou. "Por que fez isso?"
Sonora segurou seu olhar, a respiração tentando se normalizar. "Porque... eu quis", ela disse em espanto, a respiração ruidosa ainda. "Eu... você não me queria?" Alguma parte dela contraiu-se àquele pensamento.
Um grunhido foi segurando na garganta dele. "Não querer... Céus, mulher, eu te quero. Mas não deveria."
Sonora estremeceu levemente em seus braços, as palavras ferindo-a através das nuvens de desejo. "Por quê?", ela demandou, subitamente com raiva. "Diga-me porquê."
Ele pareceu lutar consigo mesmo, e pela primeira vez, Sonora não teve o menor impulso de ajudá-lo com isso. Ela queria vê-lo responder a pergunta, totalmente por sua conta. "Porque", ele finalmente disse, antes de virar a cabeça para o outro lado meditativamente.
Um pouco temerosa, ela livrou sua mão dele e a ergueu para virar o rosto dele de frente para o dela. "Você vai me olhar nos olhos e me dizer", ela ordenou, encarando-o. "Explique-me por que eu não deveria ter te beijado."
A resposta parecia machucá-lo, face e olhos furiosos mesmo com ele a segurando tão perto. "Porque sou sujo, droga! Marcado com a Marca Negra, e com o poder do Lord das Trevas. Você não deveria ficar em qualquer lugar perto de mim." Sua voz estava rouca e raivosa, e ela podia ver a auto- condenação em seus olhos.
Ela observou-o de perto. "Cale a boca", disse a ele, ignorando o modo como o queixo dele caía conforme ela falava. "Estou cansada de ouvir sobre a pessoa horrível que você é, Severus. Você pode ser mal-humorado às vezes, você pode controlar os seus alunos com essa postura de malvado temperamental, você pode até irritar propositalmente seus colegas professores. Mas você não é mau. Você não é 'sujo'."
Depois de todas aquelas semanas de cautelosa amizade, depois da constante e atenta proteção dele, depois do trauma da noite anterior, ela chegara àquele momento. E ela podia ser amaldiçoada se deixasse-o se esquivar dessa por conta de seu maldito orgulho.
"Tempo demais perto de mim pode ser perigoso", ele irrompeu a dizer. Certa parte de Sonora descobrira como era fascinante conversar com ele enquanto era abraçada fortemente daquele jeito, aconchegada nele. "Você não quer chamar a atenção do Lord das Trevas para você, Sonora. E eu não quero você lá."
Como que para sua surpresa, ela se descobriu sorrindo, sentindo a luz e a bravura virem à tona dentro dela. "Você vai mencionar o meu nome a Lord Voldemort?", perguntou. Ele apenas a olhou fixamente, um espasmo de surpresa e descrédito em seus olhos. Aqueles olhos incríveis, que pareciam mergulhá-la até que estivesse quase afogada neles. "Eu não acho. E se mais alguém fizer isso, não há nada que possamos fazer sobre o assunto. E temo que você não possa escapar de ficar perto de mim, Severus. Não quando dividimos uma sala de aula, dividimos uma escola, e não quando você sai do seu caminho para tomar conta de mim."
"É o que está fazendo, você sabe", ela disse, a voz ficando mais gentil conforme seu coração recomeçava a bater depressa. "Tentando tomar conta de mim, me proteger." Ela apoiou uma mão no queixo dele, sentindo o calor entre seus dedos. "E eu o agradeço por isso. Mas de algumas coisas", ela continuou, percorrendo com os dedos as linhas do rosto do homem, "eu não preciso ser protegida."
Mais uma vez foi ela quem ergueu o rosto e começou um beijo. E, mais uma vez, foi ele quem capitulou e começou a tocá-la com o poder e a força de seus lábios contra os dela. Era faminto, como se ele estivesse morrendo de fome e ela fosse seu único alimento. Era desesperado, como se ele temesse que ela fosse desaparecer a qualquer momento, e deixá-lo. E era ao mesmo tempo tão maravilhoso, tão incrível, o modo como seus lábios pressionavam e apartavam os dela, o modo como sua língua encontrava a dela, como se ele estivesse com medo de que não passasse de um sonho. Quando eles se separaram dessa vez, foi para apoiar seu rosto na curva da nuca dela.
Ela passou os dedos pelo cabelo dele, ignorando a impressão de sujeira e sangue que o toque lhe causou. "Eu recebi um grande conforto de você agora, você sabe", ela disse, o rosto ainda tocando o dele. "Só por estar perto de mim. Sua força, ela... me faz sentir corajosa."
Ele a apertou mais um pouco. "Eu não vou me esquecer disso se você vier me ofender", ele disse, a voz abafada pelo contato com a pele dela.
Ela fechou os olhos e apertou o rosto contra os cabelos dele. "Nada irá me acontecer", ela disse, suas palavras como uma solene promessa.
Severus ficou sentado por um longo tempo onde estava, um pouco desconfortável na cadeira do escritório de Sonora. Ele não sairia dali por nada no mundo, de qualquer jeito, não com o modo como ela estava aconchegada nele. Sua respiração era lenta e regular, quando dormira com a cabeça apoiada em seu tórax.
Cuidadosamente, para não acordá-la, ele moveu algumas mechas de cabelos do rosto dela, brilhantes sob a fraca luz, e ainda caídos de qualquer jeito sobre sua cabeça. Ela suspirou em seu sono, e pareceu apertá-lo para si com mais força.
Severus baixou a cabeça e pressionou os lábios contra a nuca da mulher. Sua decisão estava tomada para ele. Ele não poderia ter se soltado da suavidade dos braços dela nem mesmo se o Lord das Trevas estivesse parado diante dele. Ele sentiu uma onda de culpa por deixá-la tocar nele, deixar que ela o abraçasse. Independente do que ela dissera, ele sabia a verdade. A verdade era que ele tinha uma alma asquerosa e tola, e que não deveria ter aceitado o que ela oferecera.
Cuidadosamente, ele mudou a posição de seus braços à volta dela enquanto continuava ali. As dobras lisas da camisola dela escorregaram por um braço e o fizeram sentir uma tensão passar por todo o seu corpo. Ele respirou profundamente, sentindo aquela leve fragrância que ela emanava.
Ele a carregou até o quarto dela, deitando-a gentilmente na cama. Ela trouxera todas as flores para aquele lugar, e agora parecia mais um conto de fadas trouxa, deitando a donzela em sua cama particular. Ele arrumou seus travesseiros, suas cobertas, e colocou sua bengala em seu lugar costumeiro. Incapaz de resistir, passou os dedos pelos traços de seu queixo, seus lábios, e por seu pescoço até sua nuca. Então ele se forçou a parar. E se ela acordasse na manhã seguinte e se arrependesse da coisa toda?
Recuando lentamente, ele manteve os olhos sobre ela até passar pela porta e sair do quarto. Respirando muito fundo, ele forçou a cadeira dela, chutando uma de suas pernas. Ao fazer isso, seus olhos caíram nos montes de papel sobre a mesa dela. Ele apenas bateu os olhos sobre eles, tomando-os logo por ensaios dos alunos, até surpreender ali a palavra crucio.
Severus franziu a testa e leu às pressas a primeira página. Aquilo pareciam ser notas do que quer que fosse que ela estava pesquisando. Pego por um inesperado senso de honra, ele tirou os olhos das páginas. Ele pediria que ela o mostrasse, algum dia, ele não forçaria uma confidência dela sobre o que estaria escrito naqueles papéis.
Ainda assim, ele estava intrigado com o que lera. Estaria Sonora tentando descobrir um modo de curar os efeitos de uma Maldição Imperdoável?
Sua mente então pulou de volta para a imagem dela deitada pacificamente em sua cama, e seu coração se contraiu. O que ele estava fazendo? Como podia arriscá-la daquele jeito? Mais cedo ou mais tarde ele seria descoberto como sendo um traidor, então sua vida não teria o menor valor. Como ele podia permitir que Sonora fosse igualmente arriscada sob o Lord das Trevas?
Outra imagem apareceu num flash em sua mente, a do rosto determinado de Sonora dizendo para ele se sentar e deixá-la tomar conta dele. Assim que ela pousara sua mão sobre seu joelho, quase partiu o coração dele com a beleza de seu gesto. Assim como quando ela olhara nos olhos dele e dissera que nada poderia acontecer a ela.
Nada iria, ele silenciosamente afirmou. Ele não deixaria. Sua mente começou a girar com possibilidades, modos para protegê-la até que veio a parar. Elegantemente simples e ainda tão complexo, ele pensou. Ele não sabia mesmo se isso podia ser feito.
Severus atravessou a sala de aula e pegou um pequeno livro. Acendendo o fogo, começou a virar suas páginas. Ele iria protegê-la, não importava o que a manhã poderia trazer.
