Intenções Secretas
Pra todos que revisaram: me perdoem por não agradecer individualmente, é que com a aproximação do Dia da Ação de Graças estou ficando um pouco... ocupada. Lol.
Mas só para fazer o feriado de vocês melhor, aqui está um capítulo!E não se acostumem com a felicidade, as coisas tendem a descer a ladeira daqui por diante...
Feliz dia de ação de graças! – da Ennui EAF
N/T – ao traduzir essa fic resolvi manter, claro, as notas integrais da Eleanor, como nessa, publicada em 21-10-03; eu não sei absolutamente nada sobre esse dia, pois é hábito freqüente nos Estados Unidos, enquanto aqui, nem sabemos em que dia é comemorado. Vou perguntar a ela e provavelmente terei mais detalhes pra vocês no próximo capítulo.
Capítulo Dezesseis – Poções e Presentes
Sonora cantarolava de lábios fechados enquanto analisava suas anotações. Quando finalmente Severus retornara de sua ronda noturna no castelo, ela estivera esperando por ele. Ele sorriu enquanto observava uma nota sobre aumentar a temperatura em mais dez graus. Tivera sido um final maravilhoso para a noite, ela pensou enrubescendo. Ela estava amando, e estranho seria se aquilo não tornasse o seu dia mais brilhante.
Foi justamente quando houve uma batida na porta. "Entre", ela disse, erguendo a cabeça. A porta se abriu para mostrar Draco, parecendo tentar esconder sua ansiedade. Ela deu um sorriso brilhante para ele. "Bom dia", ela disse. "Não é impressionante o quão quieto esse lugar pode ser?" Os estudantes haviam todos partido para suas casas uma hora atrás, e os corredores positivamente ecoavam com o silêncio.
Draco encolheu os ombros, as mãos apertando pergaminho e penas. "Apenas alguns de nós ficaram", ele disse. Sonora teve vontade de gritar um viva. Era a primeira vez que ele sustentava uma conversa razoável com ela, ela pensou alegremente. Aquele dia ESTAVA mesmo tendendo a ser um bom dia.
"Eu queria dizer a você, Draco", ela disse, baixando suas anotações e sorrindo para ele. "Você e o Sr. Potter tiveram as melhores notas da turma."
"Melhor que a Granger?", ele retrucou, os olhos se arregalando, e então estreitando-se com uma expressão de triunfo.
Sonora riu. "Sim, melhor do que a Srta. Granger. Ainda que eu tenha andando me perguntando que tipo de trabalho sairia se eu a colocasse para trabalhar com você", ela riu baixinho. "Vocês têm as melhores mãos para isso da classe..."
"Por favor, não", ele murmurou sob a respiração, e Sonora resistiu à vontade de provocá-lo ainda mais. E o fato de conseguir se conter, de qualquer forma, já foi um triunfo.
"De qualquer forma, isso foi ontem. Hoje, nós vamos fazer algum trabalho de verdade", ela disse, juntando as mãos. "Isso será divertido. Eu não tive um assistente desde que me formei na escola." Ela se levantou e apontou para um armário na parede. "Há uma caixa de carvalho naquele armário com todos os meus suprimentos. Traga-a até aqui e vamos começar."
Juntos, os dois começaram a fatiar e golpear e pulverizar, e Sonora começou a árdua tarefa de ferver misturas. Assim que pegou uma garrafa de luar líquido, entretanto, fez uma pausa. "Eu quase me esqueci", ela disse, sacando a varinha e lançando um feitiço de proteção. Em seguida piscou para Draco. "Eu não acho que roxo seria exatamente a sua cor".
Draco bufou, a pena em sua mão pronta. "Talvez, se meu último nome fosse Lockhart.", ele disse.
Sonora riu. "Tenho ouvido algumas coisas muito interessantes sobre este homem", ela disse. "Uma gota. É verdade que ele soltou uma gaiola cheia de Diabretes da Cornualha e deixou os alunos pegarem todos eles sozinhos?"
"Isto foi apenas uma das coisinhas sórdidas dele", Draco disse, fazendo uma anotação.
"Duas gotas. Bem, pelo menos ele parecia bom na capa dos seus livros", ela comentou. "Três gotas. Estou certa de que ele fez montes de dinheiro nisso."
"Talvez", Draco encolheu os ombros.
"Quatro gotas. E cinco", Sonora tampou a garrafa e deixou-a de lado. "Muito bem. Agora vamos ver se poderemos fazer o sal servir para isso", ela disse, e ergueu o saleiro. Draco a observou, os olhos aguçados e ansiosos. Sonora foi até o caldeirão, e então pulou para trás involuntariamente quando a porta se abriu num estrondo repentino.
"Oh, droga", ela disse, antes que toda a sala fosse coberta com uma luz violeta fortíssima. Quando ela pôde piscar e ver de novo, foi para se virar e ver um Severus parecendo muito atormentado parado no portal.
"Não de novo", ele murmurou entredentes, erguendo suas mãos diante do rosto.
Sonora deu apenas uma olhada nele e começou a gargalhar. "Oh, nossa", ela conseguiu dizer antes de ter um ataque de riso. Foi um momento de algumas frases incisivas de Severus e muita risada dela antes que fosse capaz de falar com Draco de novo. Ele estava encarando o diretor de sua Casa numa combinação de pavor, horror e relutante divertimento.
"Draco", ela riu, e o garoto olhou prontamente para ela, os olhos ainda arregalados. "Melhor anotar uma coisa. Ter certeza de que o Professor Snape está bem longe quando eu for adicionar o sal."
Draco piscou e então ela viu a menção de um riso se denunciar em seus olhos. "Sim, professora", ele disse numa voz virtuosa, e ela caiu na risada de novo.
Severus estava mais do que um pouco curioso sobre o trabalho secreto de Sonora, de modo que quando entrou em seu escritório e retirou aquela maldita cobertura roxa de cima de seu corpo, ele respirou profunda e calmamente, e saiu de sua sala.
O amor da sua vida estava ainda segurando risos à volta de outro caldeirão, com Draco Malfoy. Severus lançou ao garoto um olhar reprovador. Aquele era o problema de deixar que Sonora risse dele. Não podia deixar que um aluno tomasse tal liberdade.
Sonora ergueu os olhos, travessa. "Oh, querido, você fica tão bem de roxo", ela disse.
Severus olhou-a fixamente e se jogou em sua cadeira. "Hah. Só pensei que deveria ser seguro entrar na minha própria sala de aula."
Sonora deu risada e ele observou suas mãos peneirando um pouco de vidro picado. "Acho que terei que começar a pôr um aviso na porta", ela disse. "'Entre por seu próprio risco', talvez."
Ele pegou uma pequena caixinha de madeira que estava largada em sua mesa. "Isso seria abrangente", ele disse, virando ao acaso a caixa nas mãos, perguntando-se o que poderia ser.
Sonora ergueu os olhos e viu-o. "Oh, não brinque com isso", ela disse rapidamente, e ele olhou-a, uma sobrancelha erguida em estranheza. "É Sangue de Coração", ela disse, "e até onde eu sei, é o único espécime vivo fora da Sibéria."
Severus baixou a caixa, sua curiosidade profissional agora aguçada. "Sangue de Coração?", ele perguntou. "Nunca ouvi falar disso antes."
Ela estava checando a temperatura do caldeirão. "As tribos normandas locais acreditam que essa flor surgiu do coração de dois amantes assassinados.", ela explicou. "E se colhidos com boas intenções, podem revelar a alguém o amor verdadeiro. Além de ser muito interessante, eles preparam um chá com as folhas que remove temporariamente qualquer dor, enquanto torna o paciente capaz de agir normalmente."
Ambas as sobrancelhas de Severus se ergueram desta vez. "Realmente", ele disse. Aquilo ERA interessante.
Ela estava adicionando o que parecia ser líquido de luar agora. "Pronto, Draco?", ela disse, depois fazendo uma pausa. Lançou então ao garoto um olhar provocador. "Talvez nós devêssemos deixar que o Professor Snape lançasse um feitiço protetor desta vez."
Severus encarou-a, mas rapidamente sacou a varinha e lançou e feitiço. Então inclinou-se para a frente, claramente interessado em ver onde ela queria ir com aquela combinação de ingredientes. Sonora começou a contar conforme adicionava o líquido. "Um. Dois. Três, quatro e cinco.", ela disse, tapando então a garrafa. "Esta parte parece ser perfeitamente segura."
Severus mudou a direção de seu olhar para notar Draco inclinado sobre um pergaminho. Foi bem quando o garoto ergueu os olhos, encontrando os dele. Severus resistiu ao impulso de piscar ao olhar contemplativo naqueles olhos pálidos, que então piscaram em Sonora e voltaram. Severus sentiu seu coração encolher. O garoto não podia estar adivinhando.
Sonora continuava seu trabalho, entretanto, não percebendo os olhares que haviam acabado de circular à sua volta, e estava pegando o sal. "Se quiser, Professor Snape, pode se abrigar embaixo da mesa nesta parte", ela estava dizendo, sorrindo de orelha a orelha. "Eu não gostaria que me assustasse de novo."
"Muito engraçado", ele grunhiu, afastando o olhar do rosto de Draco e involuntariamente observando Sonora. Olhou-a. "Continue, faça isso logo."
Cuidadosamente, Sonora começou a adicionar o sal, um grão por vez. Severus observou fascinado em ver como o tom de lavanda ia ficando mais forte conforme ela o fazia. "Vinte e cinco, vinte e seis", Sonora contou baixinho. Fez então uma pausa e estudou a poção. "O que você acha, está preto ou apenas roxo escuro?"
Severus observou o líquido. "Mais dois grãos", disse. Olhou de relance para Draco para vê-lo encarando-o de novo. Desta vez, ele fixou os olhos no garoto, desafiando-o a continuar tentando adivinhar as atividades de Severus. Sem surpresas, o garoto baixou de volta os olhos para o caldeirão.
"Draco? O que você acha?", ela perguntou a ele, e então Severus viu-o enrubescer pelo prazer em estar sendo questionado. Se Sonora não fosse cuidadosa, ele pensou silenciosamente, teria um amor adolescente em suas mãos.
"Ainda está roxo", Draco murmurou.
"Certo", Sonora disse, e derrubou outro grão para estudar o resultado. "Acho que você está certo, dois grãos. São vinte e oito no total, Draco", ela disse, antes de adicionar o último grão. Severus se descobriu prendendo a respiração e se preparando para outra explosão de violeta.
Ao invés disso, a mistura continuou borbulhando serenamente. Sonora baixou o saleiro e sorriu. "Excelente. Vamos deixar isso cozinhar um pouco, e talvez amanhã ou depois, Sr. Malfoy, poderemos começar com o Sangue de Coração."
Severus se encostou e contemplou enquanto os dois começaram a limpar as coisas, Malfoy fazendo a maior parte do trabalho antes que Sonora pudesse começar. O Natal estava perto, e ele não tinha nenhum presente para Sonora. Verdade, ele a dera a corrente que ela usava sob as vestes, mas aquele não era um presente de verdade. Ele teria que fazer uma viagem rápida ao Beco Diagonal, pensou. E teria que ser discreto. Felizmente, ele costumava comprar presentes para os outros professores nos anos anteriores, de forma que ninguém estranharia.
Os olhos de Draco encontraram os dele mais uma vez, e Severus estreitou os seus ao ver aquele olhar contemplativo de novo em seu rosto pálido. Ele não deixaria um garoto em quem não confiava ruir com o que ele tinha, pensou, olhando enquanto Draco saia da sala. Assim que a porta fechou, Sonora se virou para ele, sorrindo. Nenhum Malfoy a afastaria dele, jurou.
Sonora estava procurando por Hagrid, e fora informada pela Profª McGonagall de que o encontraria na cabana do guarda-caça. Então agora ela estava equipada com sua capa mais pesada e fazendo seu caminho lentamente através da grama congelada até a casinha de Hagrid.
Ofegando, sem fôlego, ela finalmente alcançou a construção e subiu os degraus. Bateu à porta, tremendo um pouco conforme o vento soprava. Ela ficaria mais que satisfeita quando o verão retornasse.
A porta se abriu e a forma imensa de Hagrid preencheu o portal. "Professora Stone! O que está fazendo aqui nesse gelo?", ele perguntou. "Venha agora, vamos ficar melhor aqui dentro, no calor", ele disse, e antes que Sonora pudesse piscar, foi puxada pra dentro e sentada numa grande poltrona em frente ao fogo.
Sonora sorriu para Hagrid. "Eu vim para pedir um favor", ela disse, empurrando o capuz para trás.
Ele afundou numa poltrona igualmente enorme, esta que parecia acomodá-lo sem querer afundá-lo, como estava acontecendo com ela. "Claro. Ficarei feliz em ajudar", ele disse prontamente, um grande sorriso iluminando seu rosto.
Ele era mesmo uma alma doce, Sonora se descobriu pensando. "E eu estava esperando que pudesse me levar até Hogsmeade para fazer umas compras de férias", ela disse. E olhou-o esperançosamente.
Com certeza, o meio gigante não a desapontou. "Adoraria", ele disse. "Estive querendo dar um pulinho ou dois no Três Vassouras, e eu também gostaria de comprar umas coisinhas pra mim mesmo". Ele olhou-a. "Quando quer ir?"
"Agora?", Sonora ofereceu avidamente. "Se não estiver ocupado, é claro."
Hagrid sorriu largamente. "Não. Tudo que estive fazendo era sentar aqui e esquentar os meus pés", ele disse e se ergueu da poltrona. "Espere um pouco que vou pegar minha capa".
E então, uma hora depois, Sonora se descobriu com felicidade no vilarejo. Hagrid batera em rápida retirada assim que ela entrara numa loja de roupas, e dissera que ela devia deixar ali todos os pacotes, que ele carregaria tudo quando fossem embora. Ela o encontraria no Três Vassouras, ele acrescentou e depois se foi.
Sonora provou alguns vestidos novos, feitas numa sedosa textura de fino tecido. Ela adorava aquilo, mas usualmente se restringia àquelas que podiam ser guardadas facilmente e não pudessem ser destruídas por seus experimentos. Isso geralmente significava algo para usar sob as vestes normais, ou para dormir. E aquela confecção de seda vermelha fez seu coração feminino bater mais depressa. Ela imaginou a reação de Severus e sorriu. Ela levaria aquele.
Adicionou-o à sua pilha crescente de vestes planas, novas roupas de baixo e outro conjunto de vestes vermelhas que escolhera. O que comprar para Severus de Natal, ela se perguntou de novo. Algo com significado. Algo que ele pudesse guardar sem ter medo de a estar arriscando.
Ela vagou até o fundo da loja, e se descobriu na seção de acessórios. Ela estudou abotoaduras, relógios e lenços. Uma pena prateada capturou seu olhar e ela resolveu dá-la de presente ao diretor. Aquilo combinaria com suas vestes costumeiras, ela pensou com uma piscadela.
E então Sonora virou e espiou uma caixa no final do armarinho. Curiosa, ela pegou-a, ergueu-a e levantou a tampa empoeirada. Era um belo artesanato, ela pensou, tateando o mosaico de madeira embutido. O lado de dentro estava vazio, esperando. Uma caixa de memória, ela pensou, lembrando. Feita para proteger e guardar quaisquer lembranças que seu dono não quisesse perder. Fechou a caixinha de novo, e estudou a parte de cima. Se ela olhasse cuidadosamente num canto do mosaico, podia ver a letra "S".
Sonora sorriu. Perfeito.
Severus havia se esquecido de quanto ele odiava fazer compras. Ele foi empurrado para trás de novo por outro cliente maluco e fechou a cara. Inferno. As coisas que ele fazia por aquela mulher...
E apesar de todas as lojas em que se metera e tudo que comprara, não encontrara nada para Sonora. Ao diretor, sim. Ele dera uma boa olhada num livro intitulado Como Ter Sucesso Como Diretor, e num momento de extravagância, comprara-o. Ele conseguira comprar caixas de doces para todos os professores.
Ele parou e encarou a janela de uma perfumaria. Sonora não precisava de perfume. Ela já tinha um cheiro maravilhoso como era. Continuou vagando, parando em cada vitrine até o fim da rua, numa aparentemente ruim loja de penhores.
Severus hesitou, olhando a vitrine encardida, e então entrou. A loja cheirava a mofo e os corredores estavam sujos e cheios de uma confusão de itens. Nenhum parecia ser interessante.
Ele começou a andar ao acaso, examinando prateleiras, franzindo a testa ao encontrar uma pequena coleção de cabeças enrugadas. Ele nem queria saber quem fizera aquilo. Havia quase terminado sua passagem pelo segundo corredor quando percebeu um brilho dourado, logo atrás de um horroroso vaso chinês.
Curioso, ele colocou o vaso de lado e pegou o objeto. Era uma pequena estatueta de ouro. A figura de uma mulher, esguia e bela como uma sílfide, com os braços erguidos graciosamente sobre a cabeça, o corpo ereto e a cabeça erguida, parecendo prestes a dançar alegremente. Fascinado, Severus correu os dedos pela superfície polida e lisa, sentindo-a esquentar sob sua mão. Muito parecida com Sonora, ele refletiu, vendo-a nas curvas da mulher da estatueta.
"Esta é 'A Bênção'", uma voz grave disse próxima dele, e Severus teve que resistir ao impulso de pular. Recuperado, virou-se para ver quem falara, apenas para ver um velho bruxo apoiado num canto.
"O quê?", Severus demandou.
O velho homem gesticulou à figura. "É chamada de 'A Bênção'. Consegui-a de um pobre lenhador que a teve em sua família por anos. Pareceu ter detestado se separar dela. Disse que aquilo devia trazer boa sorte e proteção para seu dono."
Severus olhou para a figura de novo. Boa sorte e proteção. Decidindo-se, levou a estatueta até o balcão. "Embrulhe", ele disse. "Vou levar."
O velho deu um sorriso sem dentes. "Claro que vai. Estive esperando por alguém como você.", ele disse e enquanto Severus ficava parado confuso com suas palavras, desapareceu nos fundos da loja.
