Intenções Secretas

Mara Angel – Obrigada pela explicação! Ainda que eu não tenha completa certeza se eu estava sendo elogiada ou insultada... Lol. De qualquer forma. Estou feliz que esteja gostando!

Shahrezad1 – Um animago? Oh, minha querida, você está pensando demais... heh heh heh.

Mademoiselle Morte – Como sempre, você aumenta meu ego de uma maneira maravilhosa... Lol.

Obrigada a todos que comentaram! Vou tentar terminar essa história até o Natal... Considerem isto como o meu presente para vocês!

E agora... tambores rufando um pouco de DRAMA!!

Capítulo Dezenove – Crises e Conseqüências

Sonora ficou parada enquanto a passagem se fechava com um baixo mas final click, e então suspirou profundamente. Era o que dava tentar acalmar o Mestre de Poções. Um sentimento de culpa começou a crescer sob seu umbrigo. Droga. E para coroar a situação, ele fora chamado por Voldemort.

Ela tremeu num reflexo. Oh, Cristo, teria ele ficado muito distraído com o que acontecera? E se aquele teste estivesse em seus pensamentos, e acabasse escapando de alguma forma? Ela engoliu em seco, tentando afastar o medo. Não tinha importância que ele deixasse qualquer coisa escapar sobre a poção, o medo dela era arriscar perdê-lo. Por causa de um experimento estúpido e de algumas palavras raivosas.

Ela se sentou, ainda que pesadamente, num lado da cama. Ela esperaria, pensou, levando as mãos ao fecho de suas vestes. Ela esperaria até que ele voltasse, quando voltasse. Ela se proibiu de pensar em qualquer outra coisa.

Seus lábios tremeram por um momento antes que ela se controlasse de novo. Severus era um homem forte, perspicaz, inteligente. Ele ficaria bem.

Ela repetiu aquele mantra de novo enquanto se enrolava sob as cobertas. Ele ficaria bem.


O café da manhã seguinte foi uma coisa depressiva para Sonora. Severus não retornara, e ela descobriu que não tinha o menor apetite para devorar os pratos dos feriados que os elfos domésticos persistiam tanto em mostrar a ela. Encarou o pão doce com glacê, feito em forma de uma árvore de Natal, incapaz de forçar si mesma a comê-lo.

Ela suspirou e deixou a sobremesa longe. Ela não estava com humor para doces. Olhando em volta, ela viu que não eram poucos os que estavam tristes naquele café da manhã. O Prof. Dumbledore e a Profª McGonagall estavam murmurando cautelosamente por cima do chá e os bolinhos num canto distante da mesa, mas eles eram os únicos membros do corpo docente presentes.

Mesmo os alunos estavam calados. Na mesa da Grifinória, todos os Weasley, Potter e Granger estavam todos surpreendentemente quietos. Enquanto Sonora observava, ela viu Gina Weasley pousar uma mão sobre o braço de Harry. O garoto de cabelos negros olhou para ela com uma expressão que Sonora reconheceu; ela a vira em Draco e em Severus várias vezes. Era uma expressão que dizia que algo acontecera, algo que aqueles olhos claros e verdes não planejavam dividir com ninguém.

Sonora se perguntou o que poderia ter acontecido em Hogwarts no dia anterior para que aquilo causasse aquele humor nos olhos de Harry, e então suspirou. Era provavelmente algum desencontro tolo e adolescente. Ou mais tendencialmente, algo a ver com a turbulenta vida amorosa dos alunos daquela escola.

Seus olhos seguiram vagamente dois alunos que gritavam na mesa da Corvinal, e então para Draco, sentado sozinho em seu canto na mesa da Sonserina. Sua cabeça estava baixa sobre o prato de mingau de aveia, o cabelo caindo para frente e enfatizando sua expressão. Seu corpo inteiro gritava sobre alguma coisa errada, entretanto.

Sonora desistiu da idéia de comer. Ela simplesmente não seria capaz de pôr nada no estômago, não com Severus ainda longe e furioso com ela. Empurrando a cadeira para trás, ela começou a sair do Salão Principal. Ela teria que ir preparar mais alguns lotes daquela nova poção, desta vez com a mente em Severus. Talvez ele aceitasse isso como um pedido de desculpas.

Conforme saía do Salão, ela sentiu olhos em suas costas e, confusa, virou a cabeça. Seus olhos encontraram os de Harry Potter, que sustentou seu olhar por um momento. Estes estavam muito claros e completamente verdes; os dela, apenas intrigados. Então ele desviou e Gina Weasley tocou seu braço novamente, e não recebeu atenção mais uma vez. Sonora suspirou e voltou-se para a saída, sem perceber os aguçados olhos cinzentos que a assistiam detrás de mechas de cabelo loiro, do outro lado do salão.


Severus estava exausto. O Lord das Trevas o chamara noite passada para participar de uma festa, ou mais particularmente, para providenciar poções que fizessem o resto dos Comensais da Morte compartilhar uma festa. Dessa forma ele gastara a noite inteira preparando poções idiotas que fizessem seus colegas Comensais fazerem coisas impronunciáveis aos pobres azarados que cruzassem seu caminho.

Severus mais uma vez agradeceu pela bênção de nunca ter se interessado por tais coisas. Quando ele fora jovem, preferira manter suas relações sexuais em segredo, e Severus suspeitava que este seu controle nesses assuntos o ajudara a se tornar mais valioso para o Lord das Trevas, tanto naquela época quanto então.

Observando todo o depravamento que o envolvia, Severus sentiu-se doente. Sujo. Mesmo quando ele não estava participando, a mistura de prazer e dor era suficiente para sentir que a maldade daqueles atos pingava de todos os lados como um filete de óleo, nojento e impuro. Merlin, e ele ainda tinha que voltar e encarar Sonora com aquilo nele.

Ele afastou o pensamento. Talvez aquilo nem importasse. Ela se afastara dele mais cedo e ele nem mesmo sabia ainda o que aquilo significava.

E agora, ele tinha finalmente dado sua sumida do dia, e ainda devia mais tarde dar uma passada na Travessa do Tranco, para outra leva da poção que o Lord das Trevas exigia dele.

Com um suspiro exausto, Severus desaparatou, um momento antes de Lucius Malfoy entrar na sala como uma bala, segurando um pedaço de papel e parecendo triunfante.


Sonora cuidadosamente tirou uma concha da poção do caldeirão para colocar em outro menor.

"Nox", ela murmurou, e a sala mergulhou na escuridão. Tomando extremo cuidado com as mãos, ela tateou no escuro até encontrar a trave da caixinha de madeira e abri-la, extraindo três folhas do Sangue de Coração.

Suas mãos trabalhavam sem cessar mesmo quando sua mente devaneava. Estavam tão perto do Natal, um dia quando todos no castelo deveriam estar felizes e despreocupados, e ainda era como se houvesse uma grossa cortina sobre a escola naquela manhã.

Ela mexeu com a primeira folha, murmurando "Severus Snape", ao fazê-lo. Talvez fosse apenas seu mau humor que estava distorcendo as coisas. Ela repetiu as ações com a segunda folha. Afinal de contas, ela não estava num lugar muito feliz naquele momento. Ela odiava ter que ser tão obtusa com as pessoas, e dado que ela estava apaixonada por Severus, sabendo de coisas mais do que sombrias entre eles, fazia tudo ficar mais doloroso ainda.

Pegou a terceira folha. Céus, ela espetava que ele usasse aquela poção, pelo menos. Ela não conseguiu pensar em mais ninguém a quem ela quisesse mais dar a proteção para aquela maldição. "Severus Snape", ela disse uma terceira vez, desta vez o amor e a preocupação perceptíveis em sua voz. A poção oscilou por várias tonalidades, e então brilhou subitamente antes de se formar a cor clara e branca normal.

Sonora suspirou e encarou o líquido por um momento, antes de apertar os lábios e convocar uma garrafa. Cuidando para não derrubar nem uma gota, ela passou o conteúdo do pequeno caldeirão para dentro e lançou um Feitiço Anti-Quebra antes de fechá-la.

Apontando a varinha novamente, ela observou em silêncio enquanto a garrafa se nomeava sozinha. Poção Protecrucio, lia-se. Severus Snape.

Ela empurrou a garrafa para o lado, fora então de seu caminho, e começou a limpar seu espaço de trabalho, apenas para parar ao ouvir o som de passos se aproximando no corredor de pedra do lado de fora. Curiosa para saber quem a estaria procurando nas masmorras escuras enquanto ainda era positivamente cedo, ela se virou bem em tempo de ver a porta se abrindo.

Um homem alto e elegantemente vestido atravessou a porta. Longe, no começo do corredor, ela ouviu uma voz chamando, "Pai?"

Sonora sorriu intrigada para o homem. "Olá, posso ajudá-lo?", ela perguntou enquanto ele entrava na sala.

O homem sorriu friamente para ela enquanto ficava bem diante dela. "Sim, Sonora Stone, você pode.", ele disse numa voz que a fazia sentir ondas e arrepios envolvendo sua espinha.

"O que...?", ela perguntou, confusa e mais do que um pouco alarmada quando ele se inclinou e trancou os dedos em seus pulsos. "Com licença, eu não sei quem você é, mas eu não acho que você..." ela começou a dizer enquanto começava a puxar de volta seus pulsos, não gostando do quão direto o homem era.

A voz do lado de fora chamou novamente, mais perto e desta vez reconhecível. "Pai?" Draco, Sonora percebeu. E aquilo tornava aquele homem...

O homem loiro deu uma risada gelada. "Não? Pois conheça. Lucius Malfoy, ao seu dispor.", ele disse, Sonora empalideceu e deu um puxão com o braço para pegar a varinha que ainda estava pousada em sua mesa. "Oh, não", ele disse, aquele sorriso malvado ainda em seu rosto. "Temo que não vá precisar disto."

"Deixe-me em paz", ela disse, entrando em pânico com o esforço.

"Eu acho que não", ele resfolegou. "Sua presença foi requisitada." Ao dizer isto, ele enfiou a mão nas vestes e tirou um pequeno relógio de dentro delas. Seus dedos se apertaram sobre o pulso dela, fazendo-a estremecer. "Hora de ir", ele disse suavemente e ela sentiu um puxão em seu umbigo. Uma chave de portal, foi seu último pensamento claro.


Severus atravessou a passagem para dentro de seu quarto escuro e frio, absolutamente exausto. Fazia tempo demais que ele não dormia. Sua viagem à Travessa do Tranco não fora tranqüila, tanto que ele fora forçado a ser entusiástico demais ao pegar os tais ingredientes com um negociante muito duvidoso.

Ele jogou sua capa ao pé da cama com um suspiro cansado. Como ele adoraria apenas se jogar na cama e dormir, apenas dormir. Mas ele devia ir ter com Dumbledore primeiro.

Atravessou a porta de seu escritório e emergiu na sala de aula para ver, surpreso, um Draco em pânico andando de um lado para outro na sala.

"Sr. Malfoy!", ele sibilou, sem boa vontade o suficiente para ouvir explicações. Droga, ele apenas queria sua cama. Cama, e então Sonora. Se ele ainda a tivesse. "O que diabos pensa que está fazendo?"

O garoto virou-se rapidamente, uma onda de preocupação e então alívio em seu rosto. "Por favor, senhor", ele disse, parecendo chocado. "Eu não quis... Eu nunca pensei..."

Severus não ia gastar sua paciência. "Desembuche, Sr. Malfoy, ou caia fora.", grunhiu. Ele precisava ver Dumbledore antes que dormisse em pé.

Draco engoliu em seco. "Senhor... A Professora Stone."

Severus sentiu algo dentro de si parar bruscamente. "Que tem ela?", perguntou.

Draco passou violentamente uma mão pelo cabelo. Estava tremendo. "Ela... Ela se foi, senhor. Meu pai..."

"Sim?", Severus sibilou, sentindo o medo crescer dentro dele. Andou rapidamente para encarar o pálido adolescente de perto. "Droga, garoto, o que aconteceu?"

Draco engoliu em seco de novo. "Eu acho que meu pai a levou."

Severus fixou os olhos no garoto e sentiu o mundo tremer sob seus pés. Outra voz suave veio do portal. "Eu temo que seja mais do que isso, Severus", era a voz de Dumbledore.

Severus se virou de repente para ver o diretor parado no umbral da porta. "Diretor?", conseguiu dizer.

Dumbledore entrou na sala, os olhos fixos em Draco. "O Sr. Potter veio até mim esta manhã. Ele tivera um sonho, um que ele não entendeu mas o que preocupou suficientemente para procurar minha ajuda.", ele disse, ainda olhando para o pálido sonserino. "Sr. Malfoy", o diretor disse, parecendo tão severo quanto dizia sua fama. "O que você sabe?"

Draco estava tremendo. "Eu... Meu pai me mandou uma coruja, perguntando sobre algumas coisas", o adolescente disse. "E... Eu estava bravo com a Professora Stone, então mencionei que estava trabalhando com ela num projeto". Ele olhou rapidamente para Severus. "Eu não disse nada, juro! Apenas que eu estava ajudando." O garoto engoliu em seco mais uma vez. "Eu... Eu pensei que isto o agradaria."

"Continue", Severus conseguiu sussurrar. Deus, seus piores medos estavam se tornando realidade.

"Eu... Eu mencionei que o senhor e ela... O senhor e a Professora Stone", o garoto parecia miserável. "Eu espionei vocês, senhor, antes que eu saísse um dia." Severus se esforçou para controlar a náusea crescendo dentro dele. "E... Eu o vi hoje. Eu... Eu pensei que tinha vindo me ver". O garoto voltou os olhos suplicantes para Dumbledore. "Eu juro, senhor, eu pensei que ele tinha vindo me ver. Por causa dos feriados."

Dumbledore olhou severamente para o garoto por um longo momento enquanto Severus tateava cegamente por sua cadeira. Todos os seus piores pesadelos... Afundou no assento, os joelhos fracos. Finalmente Dumbledore falou. "Eu acredito em você, Draco", o velho disse calmamente.

Houve um momento de silêncio antes que Draco soluçasse um pouco. "Obrigado", ele disse, de forma quase inaudível, baixando a cabeça.

Dumbledore se virou para encarar Severus. "Temos pouco tempo a perder, Severus", ele disse brandamente. "Eu preciso que você seja forte. Pelo bem de Sonora."

Severus esfregava as mãos e então passou-as pelo rosto. "Ele a tem.", ele disse, o medo ainda escapando de sua voz.

"Sim", o diretor disse gravemente. "E nós precisamos resgatá-la."

Severus esfregou o rosto mais uma vez, antes de forçar-se a respirar profundamente. Sonora estava em perigo. Ela precisava dele. "O que devemos fazer?", ele perguntou.

Dumbledore suspirou. "Temo que não hajam muitas escolhas", ele disse. Seus olhos estavam austeros. "Você tem que ir pegá-la de volta, Severus. Muito mais depende dela do que você sabe."

Severus olhou com severidade para o velho, que parecia ao mesmo tempo triste e forte. "Ele saberá", disse em tom brando.

Dumbledore assentiu. "Saberá. E ainda assim não acho que você não queira enfrentar as conseqüências."

"Por ela?", Severus riu baixinho. Ele arriscaria tudo e qualquer coisa. Ele prometera isso a sua alma, ou pelo menos ao que restara dela.

Preocupado, até se esquecera de Draco, que continuava parado ali, escutando, até que o garoto subitamente falou. "Deixem que eu ajude", ele disse. Severus virou a cabeça para censurar o garoto apenas com o olhar, ainda que isso fosse indireto e involuntário, de dentro de seu pesadelo em vida. Olhos pálidos e cinzentos encontraram os dele. "Por favor... Eu devo isto a ela.", o garoto insistiu. "Senhor."

Severus encarou o jovem à sua frente. Ele finalmente entendia, ele percebeu sobriamente. Draco crescera mais nos últimos dez minutos que nos últimos cinco anos. E, em seus olhos, ele viu algo familiar: um profundo e assustador medo por Sonora.

Lentamente ele assentiu. "Você vai ajudar."