Intenções Secretas

N/A - Para todos os meus fiéis leitores: Aqui está o último capítulo, e o epílogo de bônus!

Um obrigada muito especial a todos aqueles que comentaram. Vocês me fazem continuar escrevendo.

N/T – a fic ainda não terminou. Fiquem tranqüilos; semana que vem postarei o epílogo traduzido. Espero que tenham gostado!

Capítulo Vinte e Dois – Despertar

Sonora sentou-se e encarou Severus, jazendo ainda contra os lençóis enrolados da cama da ala hospitalar, no cômodo sombrio. Ele não se mexia desde que haviam aparecido no escritório de Dumbledore. Ele estava em tal dor, ela pensou miseravelmente, numa dor tão grande, e tudo por culpa dela. Se ela não tivesse sido tão estúpida a ponto de se deixar capturar, ele estaria desperto e rosnando para ela como deveria.

Ela baixou a cabeça e passou uma mão pelo rosto. Ela não parara de pensar na confusão toda ainda. Houvera um relato apressado e impaciente a Dumbledore depois da corrida até a ala hospitalar, e então o diretor desaparecera para fazer uma coisa ou outra. Sonora pegara seu lugar perto da cama de Severus e não saíra dali nas últimas seis horas.

Um barulho na porta a fez erguer o olhar e ver o que era. Ela deu um sorriso cansado para o garoto parado ali, não verdadeiramente surpresa em vê-lo fora da cama. "Harry", ela disse. "Eu entendo que também devo agradecer a você."

Harry entrou no quarto, em passos calmos, olhos sombrios. "A primeira coisa que eu deveria ter feito de manhã era contar à senhora", ele disse timidamente. "Ao menos você teria sabido que..."

Sonora grunhiu, interrompendo-o. "Sr. Potter, é este o seu nobre traço de teimosia sobre o qual eu ouvi falarem? Por Merlin, não havia um modo de você parar Lucius Malfoy e se disser mais uma palavra sobre isso, eu juro, darei-lhe detenção pelo resto do ano."

Harry piscou. E então piscou de novo. Um pequeno sorriso denunciou-se no canto da boca. "Sim, senhora."

"Além do mais, Harry", Sonora disse, percebendo o quanto ela era parte disso. "Eu queria te dizer que estou orgulhosa de você."

"Por quê?", ele perguntou. Abruptamente sim, mas essa era a reação mais provável dele.

"Você deixou suas diferenças de lado, e trabalhou com pessoas com nas quais você não gostaria nem de acertar a cara", ela disse simplesmente. "Você tratou todos com respeito, e estou enormemente grata pelos resultados."

Desta vez ele sorriu, um sorriso verdadeiro. "Eu apenas estou feliz por tê-la de volta, Professora". A risada era um de um garoto cujos olhos verdes se iluminaram, ainda que a maior parte do tempo se parecessem com os de um homem adulto. "Eu estava com medo de que tivéssemos o Professor Snape em Poções de novo."

Sonora virou os olhos. "Vá", incapaz de refrear o humor em sua voz. "Vá celebrar o Natal com seus amigos, e eu fingirei que não o vi fora da cama."

"Sim, senhora", Harry disse, sorrindo e virando-se para a porta. Ele parou por um momento antes de sair. "Feliz Natal, Professora Stone."

Sonora observou-o sair antes de olhar novamente para Severus. Natal. Era dia de Natal. Ela olhou rapidamente para a janela. Estava nevando, exatamente como devia ser num castelo mágico num dia de Natal. A lua estava lá, e a neve que caía brilhava, pura e branca nas primeiras horas da manhã.

Seus olhos caíram de novo sobre Severus, e seu coração ficou apertado... "Acorde, seu idiota", ela disse, suavemente. "Por favor, apenas acorde."

Sonora estava esgotada, e suas pestanas ficavam pesadas quando ela ouviu outro barulho na porta. Desta vez ela ergueu os olhos para ver Draco parado, quieto e silencioso, nas sombras.

"Draco", ela disse calmamente.

Ele não se moveu, mas seus olhos desencontraram os dela e voltaram ao ponto que ambos estavam observando, Severus. Ficou parado como que equilibrado para voar ou para tomar alguma machadada, ao mesmo tempo. Sonora deu-lhe um sorriso cansado.

"Entre", ela disse. Estendeu a mão para uma cadeira próxima. "Sente aqui comigo."

Draco se mexeu quando Sonora finalmente se levantou. "Está bem, entendi", ele disse numa voz afetada, não deixando que ela pegasse a cadeira para ele.

Ela sorriu um pouco. Ele estava ficando tão parecido com Severus, e de tantos modos... "Sente-se, Draco", ela disse, gentilmente. Ele se sentou, e então eles ficaram em silêncio. Sonora observando Draco. Draco observando Severus.

Finalmente, o silêncio foi quebrado. "Ele está morto."

Sonora piscou. "Quem?", perguntou, imediatamente voltando o olhar para Severus. Foi aliviada pelas suaves subidas e descidas do peito dele.

Draco encarou a forma de seu professor de Poções, deitado ali na cama. "Meu pai", ele disse. Sua voz estava quase casual. "Dumbledore simplesmente me contou. Ele está morto."

"Oh, Draco", Sonora disse, seu coração mais encolhido ainda. Ela não sabia o que dizer, o que fazer. Ela se sentou sem ajuda e olhou o jovem, a pálida luz da lua brilhando em seu cabelo.

Draco encolheu os ombros, ainda que estivesse tenso. "Ele tentou te matar.Tentou matar o Professor Snape", ele disse, e agora sua voz era firme. "Ele me usou para entrar na escola." Fez uma pausa. "Ele não ligava a mínima pra mim, e eu estou feliz que ele esteja morto."

Sonora sentiu-se ferida com a dureza na voz do rapaz, que fizera seu coração doer. Abriu a boca e então fechou-a de novo. Como uma pessoa responderia aquilo? Como passar conforto quando ele não era querido e a criança nem acreditava merecê-lo?

Ela suspirou. "Draco", ela disse, tentando encontrar as palavras e desejando ser outra pessoa, alguém mais sábio. "Não há nada errado em lamentar".

O rosto dele permaneceu como pedra. "Ele era um bastardo", disse.

"Sim", Sonora concordou. "Ele era. Ele era cruel, e ele me machucou. Ele quis matar Severus e eu. Ele te usou." Ela fez outra pausa. "Ele pode não ter te amado", ela disse suavemente, adivinhando e sabendo quando o garoto assentiu que ela estava certa.

"Mas ele era seu pai", ela disse. "E você o amava."

"Ele não...", Draco começou antes que parasse, fechando os punhos.

Sonora empurrou a cadeira e chegou mais perto. "Draco. Não há nada de errado em lamentar a morte dele", ela disse calmamente. Estendeu uma mão e tocou o queixo do garoto, gentilmente fazendo-o olhar nos olhos dela. Já haviam passado por tanta coisa desde o dia em que uma criança maldita arruinara sua vida. Agora um jovem homem a encarava com os olhos cinzentos e angustiados.

"VOCÊ o amava", ela disse de novo. "E o amor nunca é uma coisa ruim." Ela não conseguiu evitar de olhar de novo para a cama, antes de focar os olhos em Draco mais uma vez. "E nunca, nunca é errado sofrer por isso, mesmo quando o amor dá errado."

Aqueles olhos cinzentos agora imploravam para desviar dos dela, ainda que seu queixo jazesse docemente na mão dela, mas ela mesma estava firme e estável. "Não é errado lamentar", ela repetiu, observando-o.

Tudo foi um grande esforço, mas finalmente Sonora viu o momento em que a expressão de Draco partiu-se, e lentamente dissolveu-se em dor e miséria e em luto. "Meu... pai...", ele deixou escapar, mesmo quando tentou desesperadamente afastar as lágrimas. Sonora se inclinou e puxou-o forte, tanto que o garoto teve que sair da cadeira e cair de joelhos no chão. Ela passou seus braços à volta dele, abraçando-o com força.

E Draco chorou. Suas lágrimas estavam empoladas e quentes, como ele não estava acostumado a chorar, mas ainda assim o fez. Seus braços ficaram suspensos dos lados, mesmo quando ele foi abraçado por Sonora. Ela mexeu em seu cabelo murmurando sons sem sentido e apenas abraçando-o. Ela desejara aquilo quando seus próprios pais morreram, e não houvera ninguém lá. Agora ela podia ao menos fazer isso por Draco.

Finalmente as lágrimas pareceram parar, e Sonora apenas o abraçou no quarto escuro da ala hospitalar. Ele pareceu contente de estar contra ela um pouco, antes de lentamente voltar-se e sentar-se de novo em sua cadeira. Sonora deixou-o ir, enquanto ele se sentava de novo, os olhos desviados. Garotos adolescentes e emoções, ela não pode deixar de pensar com uma irônica diversão.

Juntos eles se sentaram e olharam para Severus, ainda silencioso sobre a cama. Dessa vez, o silêncio foi mais longo conforme a neve caía sob o luar. Castelos mágicos, Sonora pensou mais uma vez.

Ela estivera olhando para Severus um pouco quando o pensamento ocorreu-lhe. "Vocês três são incrivelmente parecidos, não são?", ela disse.

"Três?", Draco disse a seu lado. Ele não olhou para ela, e ela não olhou para ele. Apenas olhavam para o homem imóvel.

"Você, Harry e Severus", Sonora não pode conter o pequeno sorriso quando Draco fez uma careta.

"Eu não tenho nada em comum com Potter", ele grunhiu.

"Vocês todos têm os mesmos olhos", ela disse, vendo-os em mente. "Vocês todos já viram muito". Draco resmungou algo por sob a respiração que ela escolheu não ouvir. "Vocês todos são enganados pelo que as pessoas pensam de vocês."

Draco bufou. "Sim, pobrezinho Santo Potter", ele grunhiu de novo.

Sonora balançou a cabeça. "Use a cabeça, Draco", ela disse calmamente. "As pessoas olham para Severus e o que vêem? Um Comensal da Morte, o malvado e cruel professor de Poções que fica afundado numa masmorra, apenas esperando para tornar a vida de alguém uma miséria." Ela lançou um olhar para o garoto. "Como eles vêem você?"

"Filho de um Comensal da Morte. Um sonserino repugnante." A voz de Draco era estranha, talvez resignada?, ela se perguntou. Ou talvez mais triste.

"E eles vêem Harry como o Santo Potter, o Menino-Que-Sobreviveu. O-Garoto-Que-Tem-Que-Salvar-Todos-Nós-De-Novo", ela disse calmamente. "E nenhum de vocês sequer chega perto dessas coisas."

Não houve nenhum som do garoto a seu lado, e Sonora deixou por isso mesmo. Talvez ele pensasse sobre isso, e veria o que significava. Plante uma semente, Sonora pensou. Plante uma semente e a veja crescer.

Então ela comprimiu um suspiro. Se ao menos Severus acordasse, ela poderia contar a ele.

Severus voltou lentamente ao mundo dos vivos. Lenta e bem dolorosamente. Maldito Malfoy, ele pensou irritado. O idiota apenas TINHA que fazer tudo com o máximo de dor possível.

O pensamento atormentou-o conforme ele se lembrava de Malfoy amaldiçoando-o. Sonora...

Ela estava sentada, parecendo adormecida ainda que desconfortável, numa cadeira ao lado de sua cama. Havia uma cadeira vazia ao lado dela. Severus manteve-se perfeitamente parado e olhou para ela, apenas constatando que ela estava viva e realmente sentada ali.

Ele notou movimento pelo canto do olho e virou a cabeça para ver Draco inclinando-se sobre uma janela a alguns passos de distância. Ele estudou o garoto, que estudou-o de volta. Então Draco acenou para ele, um triste sorriso, virou-se e calmamente tomou o rumo para sair da sala. Parou pouco antes da porta e olhou de volta. "Feliz Natal", o rapaz disse, num sussurro suave. E então se foi.

Severus voltou os olhos outra vez para Sonora, e fartou-se de vê-la. Haviam sombras escuras entre os olhos dela, sua delicada pele parecendo esgotada e cansada. Suas pestanas caídas pesadamente. Ele não viu o cabelo desarrumado, suas roupas amassadas e sujas, a palidez de seu complexo que ganhara devido ao trauma do dia anterior. Tudo que ele viu foi o suave subir e descer do peito dela, e a respiração que escapava por seus lábios. Ele estremeceu com o alívio. Ela estava viva.

Ignorando suas dores e os protestos de seu corpo exausto, ele se sentou e pôs as pernas ao lado da cama. Cuidadosamente, como se ela fosse de uma porcelana altamente quebrável, passou os braços em volta da mulher adormecida e ergueu-a da cadeira, torcendo o rosto a outro protesto de algum músculo de seu estômago.

Ele só relaxou ao estar com a cabeça sobre os travesseiros mais uma vez. Desta vez, Sonora estava acomodada sobre ele, sua cabeça ajeitava naturalmente na curva do ombro dele. Ela suspirou e apertou-se contra ele, sem acordar. Ele sorriu e fechou os olhos. Haveria tempo o suficiente de manhã para conversar, para perdoar a briga de antes. Haveria explicações, planos para o futuro, tramas contra Voldemort. Ele não teria que se preocupar em manter seu relacionamento em segredo, ele pensou. Ele não era mais um espião.

Seu braço firmou-se um pouco. Ainda teria que pensar mais sobre isso. Aquilo fora parte dele por tanto tempo, Severus não estava certo se poderia ainda perder aquelas características que já faziam parte de sua personalidade.

Mas enquanto isso, sua mulher estava segura, em seus braços, e a luz estava brilhando sobre a neve de Natal. Ele beijou a testa de Sonora, e deixou-se adormecer.