Título: Aquilo que é vital
Autora: Miss Lyric
E-mail: miss_lyric_fic@yahoo.com.br
Sinopse: Continuação de "Amor, o refúgio das almas". Se passa várias anos depois de Hogwarts. Draco e Ginny estão casados e com filhos, vivendo uma vida tranqüila e feliz num belo lugar na França. Seu amor é ameaçado quando os problemas cotidianos parecem maiores do que a disposição para superá-los. Meio à esses contratempos, eles tentam provar a todos, especialmente a si mesmos, que o amor é, sim, tudo o que precisam para fazer da vida o que eles sempre sonharam.
Disclaimer: Nenhum dos personagens me pertencem. Eles são de J.K.Rowling, que tem todos os direitos sobre eles. Essa fan fic não foi escrita com fins lucrativos. Somente por diversão.
N/A: Eu considero necessário ler a fic que antecede essa, que se chama "Amor, o refúgio das almas". Se quiser arriscar, vá em frente, mas creio que algumas passagens ficaram confusas, etc. No mais, espero que gostem. Adoraria receber reviews e e-mails com o comentário de cada um.
1º Capítulo
Monsieur e Madame Malfoy
-Draco, mon cher, mamãe está nos convidando para sua Bodas de Prata com papai. –Ginny falava para o marido, enquanto ele separava as correspondências por sua importância, que haviam chegado na mansão naquele dia. Ela passou um envelope para ele, sorrindo.
Draco Malfoy analisou o envelope e olhou para a esposa. Ela devolveu-lhe o olhar, o encorajando a ler. Ele abriu o cartão e perguntou:
-Ginny, tenho mesmo que ler? Quero dizer, creio que seus pais não gostariam...
-Está destinada ao 'Sr. Malfoy e família', como você pode ver. –respondeu Ginny, sem parecer ofendida. –Mas se não quiser ler, não se incomode.
Draco olhou mais uma vez para a esposa, que parecia implorar-lhe para ler o conteúdo daquele cartão. Ele suspirou e, atendendo o pedido de Ginny, partiu para a leitura do convite. Lia tudo em voz alta, parando em alguns momentos para recuperar o fôlego.
"Sr. Draco Malfoy e família.
Caro Senhor:
Ousamos convidá-lo junto de sua respectiva família, através desse cartão, para a comemoração de Bodas de Prata do Sr. Arthur Malfoy e esposa. Essa festa acontecerá no dia vinte oito próximo, na casa dos anfitriões. Segue o endereço.
'(aqui seguia-se o endereço completo d'A Toca)'
A presença do senhor e sua família na comemoração é muito estimada.
Com nossas considerações,
Arthur e Molly Weasley"
Draco analisou bem o convite e pôde reparar na textura barata do papel, que tencionava imitar um papel fino e caro, geralmente usado pelas camadas mais ricas da sociedade bruxa. A tinta utilizada para escrever a mensagem imitava ouro, mas não passava de um fragmento dourado de segunda-mão. Draco percebia cada detalhe falho e cada gafe de etiqueta e sorria, meio debochado. Ginny percebeu que o marido se divertia às custas das dificuldades financeiras de seus pais, mas a educação adquirida pelo tempo e a natureza de une grande dame – como diria Draco – não permitiam que ela se aborrecesse. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, seu marido comentou:
-Mon Dieu! Que pensez vous de ça?
-O que penso do convite? Muito apropriado. Foi muita delicadeza terem nos convidado, depois de tudo.
-Vê a pouca qualidade do papel e a tinta de segunda-mão? O palavrório não é apropriado, como diz você, ma chérie. Não há razão para nos convidarem, sabendo que é impossível nossa presença. Se fôssemos, teríamos que desistir de nossa viagem para as Américas. O que não acontecerá, não é querida?
-Na verdade, eu estava pensando seriamente em comparecer a essa festa, Draco. Afinal, são meus pais e é uma data importante. Creio que não será nada muito grandioso, porque eles não têm condição para tanto. Mas será agradável e reconfortante para mim estar de novo perto de minha família. Ah, minha família... c'est impayable! O que me diz?
-Je ne ce pas. Ninguém naquela casa aceitaria minha presença de bom grado e isso poderia estragar a comemoração. Sei que você me culparia por isso e acabaríamos brigando.
Ao ouvir o que o marido havia dito, Ginny pareceu levemente irritada, mas isso não durou por muito tempo. Em poucos instantes, seu aspecto voltou à calmaria habitual e Ginny pareceu, novamente, uma lady, como diziam os criados ingleses da mansão.
-Eu não me aborreceria, em absoluto, se você fosse sozinha. –continuou Draco. –Por que não o faz?
-Non, não irei sem você. Todos comentariam e estranhariam. Isto está fora de cogitação. –Ginny parecia convencida, mas falava sem perder a classe.
-Você não iria sozinha, foi maneira de falar. As crianças iriam também e essa poderia ser uma noite muito agradável.
Por mais que Draco falasse ou gesticulasse com as mãos, Ginny parecia irredutível, como há muitos anos não ficava.
-Oh, Draco, você não pode imaginar o quanto eu ficaria feliz se você fosse comigo! Mamãe e papai já fizeram a parte deles, convidando-nos. Por que não fazemos a nossa, comparecendo e dando-lhes um bonito presente, com toda nossa gentileza? Pourquoi?
Draco respirou fundo e encarou a esposa, que o olhava num misto de ternura e firmeza. Desligando-se do que havia sido pedido-lhe, Draco partiu para admirar Ginny, atividade que tanto lhe dava prazer. Ela era imensamente linda, uma beleza forte e delicada, voraz e eterna, encantadora e que o enfeitiçava. Os olhos dela, tão grandes e castanhos o envolviam e o levavam a um mundo diferente e os cabelos emolduravam-lhe o rosto, de traços finos e meigos, num conjunto perfeito. Mas eram as mãos, tão alvas e macias, que prendiam a atenção de Draco na maior parte do tempo. Desde que haviam se conhecido – ainda no tempo de Hogwarts, como gostavam de nomeá-lo – aquelas mãos eram as mesmas. Não envelheciam, nem mudavam. E ainda havia aquele anel, não era uma jóia cara, mas Ginny sempre o usara. Como se daquilo fizesse parte de sua personalidade e de seu caráter.
-Bien! Está bem, Ginny! Milles tonnerres! Sabe o que eu penso? –Ginny pareceu bastante interessada e contente. –Penso que as mulheres, quando colocam uma idéia em suas cabeças, deviam ser proibidas de circular livremente pelo mundo! Elas se tornam extremamente incisivas e vorazes, o que pode representar um perigo à humanidade dependendo da categoria da mulher! Algumas são capazes de tudo para conseguirem o que querem e nós, os homens, somos enfeitiçados por sua delicadeza e beleza. Isso não é, definitivamente, justo! –falava Draco, tentando parecer sério, por mais que isso não causasse resultados positivos.
-Belo discurso, Draco. –falou Ginny, sorrindo de leve. –E para você não me atormentar, dizendo que sou mal-agradecida, o que é uma infâmia contra a minha pessoa... Merci, mon cher! –falando isso, fez uma pequena reverência. –Escreverei imediatamente à mamãe dizendo que iremos! Estou tão feliz, Draco...
Ginny saiu bastante satisfeita do aposento que ela e Draco se encontravam. Seu marido, por sua vez, não conseguia parar de imaginar o quanto desastrosa seria sua ida à Toca e ensaiava frases educadas que usaria na ocasião para não criar conflito algum. Tentava tirar qualquer rastro de francês das suas expressões, já que sua esposa não gostava que eles falassem uma língua estrangeira na presença de sua família, que não entenderia uma só palavra. Essa poderia parecer uma tarefa fácil, mas não era o que pensava Draco. Ele estava por demais acostumado a falar francês ou no mínimo incluir em suas orações expressões nesta língua, assim como todas as pessoas naquela casa. E não fazê-lo era quase como ir contra seus princípios, mas ele tentaria ferozmente.
Monsieur e Madame Malfoy, como eram conhecidos, haviam se apaixonado em Hogwarts, onde haviam estudado, mas só ficaram efetivamente juntos depois de quatro anos, quando se casaram. Havia sido uma cerimônia bonita e repletas de luxos e caprichos, pois ambas as partes estavam maravilhadas, na época, e queriam que tudo correspondesse a idéia que tinham sobre o casamento, o que ele representava e o que representaria no resto de suas vidas. A união não fora bem-vinda por nenhuma das famílias, mas alguns parentes da noiva e a mãe do noivo fizeram a gentileza, como o casal costumava dizer, de comparecer.
Os anos seguintes foram repletos de surpresas e isso decorreu devido a gravidez de Ginny, anunciada depois de quatro meses de casamento, e a mudança da família para a França, onde Monsieur Malfoy recomeçaria a vida, depois de ter recusado o dinheiro que fora de seu pai. Não demorou muito para Fiona Malfoy nascer, a primeira filha do casal. Eles escolheram, propositalmente, um nome típico inglês e que era considerado, na Inglaterra, um dos mais chiques e requintados, combinando perfeitamente com a pomposa herdeirinha. Dentro de um ano, Ginny engravidou novamente, agora de um menino, e nessa época, Draco Malfoy havia se estabelecido na França e já fazia fortuna. Foram morar em uma casa grande, a nova Mansão Malfoy, e lá construiriam um lar. Theodore Malfoy – o pequeno Théo, como era conhecido – nasceu no luxo e na riqueza e fora bastante mimado por seus pais, mais até que Fiona, por ser menino, não se tornando mais mesquinho que ela, em absoluto.
Draco trabalhava como uma espécie de executivo, era assim que sua profissão era chamada pelos trouxas, e fazia vários investimentos valiosos internacionalmente e era raro não obter bons resultados. Havia se tornado um sujeito de muita sorte, era o que diziam.
Ginny, por sua vez, havia se tornado une jolie femme e une grande dame, como ela mesma se definiria se tivesse a oportunidade. Tivera lições de etiqueta e essa nunca mais lhe faltou. Havia aprendido francês rapidamente e em pouco tempo sua fluência não era mais carregada de inglês. Ela era muito educada e delicada, sabia como se agir em todas as ocasiões, das mais formais às mais extrovertidas. Suas maneiras refinadas eram sempre imitadas por uma legião de jovens francesas que tencionavam ser como ela: linda, rica e feliz. Por mais que muitos bruxos dissessem que outra Ginny Weasley Malfoy não existiria jamais. Madame Malfoy administrava a casa, os criados, os filhos e o marido e fazia tudo isso de maneira tão suave que todos mostravam-se agradecidos pelos seus esforços e por ela ser tão dedicada. Tinham a impressão de que ela fazia o tempo todo um favor, e isso adaptou-se maravilhosamente à realidade, que era bem mais enfadonha.
Com o tempo, foram sendo contratados mais e mais criados para trabalhar na Mansão Malfoy e os senhores da casa nunca pareciam satisfeitos. Com isso, a criadagem fora aumentando cada vez mais e constituía-se de pessoas de diferentes portes e nacionalidades, cada qual cumprindo rigorosamente a função que lhe fora atribuída e evitando invadir o espaço do outro, como fora determinado por sua patroa. Na casa, todos falavam inglês ou francês, e as crianças Malfoy aprenderam as duas línguas, ganhando fluência em ambas. Ao sair da mansão, entretanto, todos encarnavam aspectos franceses e não se distinguiam de ninguém naquele país, de tão perfeitas que ficavam suas feições. Poderiam andar na rua e serem confundidos com qualquer pessoa dali, pois definitivamente tinham se adaptado maravilhosamente bem naquele país e sentiam que pertenciam de verdade àquele lugar.
Todos os dias, Ginny saía com sua dama de companhia, uma francesa muito amável, chamada Margot, carinhosamente apelidada por Ginny de Mademoiselle ou Chérie. As duas passeavam um pouco por Paris e sentavam-se perto do Arco do Triunfo, onde tomavam um café, antes de partirem para buscar a 'princesinha Fiona' e o 'Théo querido' na escola onde estudavam no período da manhã. Eles voltavam para a Mansão Malfoy, para almoçar e depois mãe e filhos saíam para um passeio de tarde e eles contavam à sua mãe tudo que haviam feito naquele dia.
Todas as noites, às vezes nos fins de tarde, Draco chegava em casa, cansado e ao mesmo tempo feliz por voltar ao lar. Ginny retirava-lhe o casaco e colocava o marido em uma aconchegante poltrona, perto da lareira e servia-lhe vinho ou chá quente. Enquanto tomava o que lhe fora servido, Draco contava de seu dia e de seus novos investimentos para sua esposa e seus filhos. Ela, Ginny, prestava atenção a cada palavra e não deixava escapar dela qualquer detalhe, por mais que não entendesse quase nada do que o marido falava. Ela costumava sentar-se no chão, em frente a poltrona do marido e apoiar sua cabeça nos joelhos dele, enquanto Draco fazia nela algum carinho. Ginny sabia que ele pensava que ela adormecia algumas vezes mas isso nunca tinha acontecido e Madame Malfoy, uma dama, não permitiria que acontecesse jamais. Fiona Malfoy recebia um beijo caloroso de seu pai e sentava no braço direito da poltrona dele e adormecia na maioria dos dias, apoiada em Draco. Théo jurava, todos os dias, que daquela vez ouviria até o fim, mas não agüentava e acabava adormecendo também. Quando todo o conteúdo da caneca ou do cálice de Draco estivesse acabado, ele se levantava, dava o braço para a mulher, acordava os filhos e os quatro se dirigiam para a sala de jantar. Fiona acordava sempre sorrindo e Théo ficava bocejando durante quase todo a refeição, só parando de fazê-lo na hora da sobremesa, que eram frutas e doces caseiros, que Ginny fazia questão de preparar ela mesma. Todas as noites, Draco e Ginny brindavam com vinho tinto sua felicidade, sua saúde e sua família. Depois colocavam as crianças para dormir e o casal se sentava em algum aposento da casa e começavam a conversar sobre qualquer coisa que lhes viesse à cabeça e isso às vezes atravessava a madrugada e, quando se davam conta, já estava para amanhecer e eles riam, por serem tão desatentos. A rotina naquela casa era tão rigorosamente cumprida que chegava a ser espantoso que ninguém se cansasse dela. Muito pelo contrário, pareciam todos satisfeitos com a ordem mantida lá dentro e isso era suficiente para que todos fossem felizes.
A criadagem, que tanto admirava os senhores da casa, vivia falando em como a família Malfoy era agora invejada por todos os bruxos da Europa – ou do planeta, como alguns, mais exagerados, acrescentavam. Todos trabalhavam com gosto e sentiam-se em parte responsáveis pelo sucesso da vida familiar dos Malfoy. 'Eles se amam tanto', diziam uns. 'Nunca vi tanto amor e cumplicidade', completavam outros, 'são espantosos a vitalidade das crianças, a educação e a suavidade de madame e a dignidade e o respeito de monsieur para com tudo isso'.
Infelizmente, para ser estruturada uma vida tão perfeita, fora preciso que todos fizessem alguns esforços. O de Draco fora desistir de seu dinheiro e se voltar contra todos que apoiava anteriormente, ficando assim quase só. Ginny, por sua vez, havia afastado-se completamente de sua família e desde que havia se casado (o que fazia um pouco mais de cinco anos) só havia encontrado duas vezes com seus pais e irmãos. Consequentemente, seus filhos ficaram sem avós ou tios ou primos. Ginny tinha comparecido ao casamento de Rony e Hermione, um ano antes de seu próprio casório. Madame Malfoy não sabia, entretanto, se Harry Potter havia ou não se casado e nunca tinha ouvido nada fatídico sobre isso, apenas boatos falsos e certas insinuações maliciosas. Sobre seus outros irmãos, Ginny sabia que todos estavam casados, exceto Jorge, que havia se divorciado há um ano. Já sobre seus pais, Ginny trocava algumas correspondências com sua mãe e seu pai sempre lhe mandava lembranças, pelo o que escrevia a Sra. Weasley. E isso era bastante para Ginny, por mais que desejasse poder reencontrar sua família, depois de tanto tempo. Fora por esse motivo que Ginny insistira tanto para que fossem, Draco e ela, às Bodas de Prata de seus pais.
Ginny beijou um envelope de leve e o entregou para sua dama de companhia, que saiu apressada da casa, depois de fazer uma reverência à patroa e ao patrão, que acabara de aparecer por trás da esposa. Essa, por sua vez, virou-se para o marido e falou:
-Mademoiselle Margot foi colocar a carta que escrevi no correio. É uma carta para mamãe e eu digo para ela que compareceremos à festa, sim. Eh bien?
-Eh bien –Draco parou por um momento, antes de continuar –preciso cancelar a reserva dos hotéis que ficaríamos na América. Você pode me trazer papel e tinta, ma chérie?
-Oui. –rapidamente, Ginny trouxe para seu marido o que ele lhe pedira. –Estava pensando em sair para comprar o presente de meus pais. Quero algo bonito e, é lógico, de prata. Talvez uma jarra, mas isso me parece bastante impessoal. Que pensez vous?
-Hum –Draco não prestava muita atenção no que Ginny falava, pois estava demasiado concentrado na carta que escrevia. –Tenho certeza que você saberá exatamente o que comprar.
-En une voilá une affaire! –exclamou Ginny com as mãos para o céu. –Eis um problema e não sei como resolver. Não quero dar algo muito caro, pois pode ser considerado esnobe da nossa parte e que esbanjamos dinheiro. Algo muito barato, também não. Parece que não nos importamos ou não consideramos demasiadamente as pessoas presenteadas. Não quero algo impessoal, afinal sou filha deles! Ao mesmo tempo, algo muito pessoal pode parecer ousado, já que não tenho muito contato com eles há algum tempo. –Ginny parecia realmente exausta. –Oh, Draco, não sei o que fazer! Preciso tanto de sua opnião, você sempre sabe como me ajudar.
-Pardon, Ginny, mas creio que não poderei ajudar. Não me ocorre nenhum presente cabível a todos esses quesitos que você acabou de falar. –Draco estava terminando sua carta e falou a seguir, mudando totalmente de assunto. –Como eu não tenho uma dama de companhia, como você, nem ninguém tão leal e dedicado para me atender, vou mandar minha coruja enviar a minha carta.
-Acho que é melhor não fazer isso, Draco, os trouxas podem ver sua coruja voando e isso causaria sérios problemas para nós.
-Eu uso corujas para entregar minhas cartas há anos, nunca aconteceu nada, Ginny. Não acho que hoje acontecerá, absolutamente, eu sou bastante cuidadoso quando se trata dessas coisas.
-Mesmo assim, eu penso que é arriscado. Mas acho que você sabe o que faz, não? Você tem o resto da tarde livre?
-Oui, madame. Pourquoi?
-Penso que talvez possa me acompanhar, já que essa é a tarde livre de Margot. Estou disposta a procurar ferozmente algum presente adequado para meus pais e apreciaria imensamente se você fosse junto comigo.
-Como eu poderia dizer não, querida? Quando fosse começa a falar com todo seu requinte e seu charme eu não consigo negar-lhe o que me pede. –ele riu.
-Magnifique! Vou pegar minha sombrinha e calçar minhas luvas e já volto... espere só um instante, s'il vous plaît! –Ginny gritou essa última parte do alto da escada.
Dentro de alguns minutos, não foram muitos, Ginny apareceu com luvas um tecido fino e carregava uma sombrinha púrpura com o cabo branco, que combinavam perfeitamente com o vestido de algodão lilás.
-Como estou? –perguntou ela, sabendo que viria a seguir uma resposta encantadora e, é claro, em francês.
-Très jolie, madame. –Draco ofereceu seu braço para a esposa e ela o aceitou de bom grado.
Os dois desfilavam por todas as ruas de Paris e paravam em todas as boutiques. No fim, Ginny entrou em uma loja – ela ansiava por um novo vestido de baile – e viu a sua frente um tecido lindo, era uma seda da cor do céu da madrugada. Ela poderia comprar o tecido e mandar fazer um vestido, que ficaria pronto a tempo de ela usá-lo na festa de seus pais. Olhou suplicante para Draco e ele falou, em um francês perfeito:
-Ginny, pensei que tivéssemos saído para comprar o presente de seus pais. Além do mais, você comprou um tecido verde água há três dias e ainda não decidiu o que fazer com ele. Não acha que comprar esse também é um pouco exagero? –ele tentava falar de uma maneira que ela não considerasse ofensiva, pois tudo o que ele desejava era não magoar sua esposa.
-Está insinuando que sou uma consumista ou aspirante a me tornar uma? –perguntou Ginny, em igual francês. –Draco, o tecido verde que comprei não é adequado para a noite. Já este, este é perfeito para a festa de papai e mamãe. Por favor, não me negue esse capricho... eu prometo tentar me controlar a partir de agora, só não me negue essa seda... por favor...
Eram raros esses momentos em que Ginny se tornava extremamente mimada e infantil e Draco não gostava muito quando isso acontecia. Ele também quase nunca negava comprar o que sua esposa quisesse ou controlava dinheiro, só que naquele momento sentia que aquela mulherzinha estava começando a gastar mais do que seria apropriado. Não pelo dinheiro, absolutamente. Na verdade, ele temia que ela se tornasse uma pessoa fútil e vazia.
-Promete que a partir de agora irá se controlar? –Draco levantou o rosto de Ginny, puxando seu queixo para cima. Ela fez um sinal positivo com a cabeça. Ele suspirou, ainda encarando a mulher. Falou, dessa vez olhando para o vendedor: -Eu fico com a seda.
-Você está fazendo um grande negócio, senhor. Esta é uma seda puríssima e... –o vendedor falava, explicando o quanto maravilhoso era aquele tecido, mas Draco não prestava muita atenção. Ginny, por sua vez, estava fascinada e muito feliz em ter conseguido seu pequeno capricho.
Quando Draco abriu a porta da loja, que dava para a rua, e a manteve aberta para Ginny sair, pode-se ouvir o som de um sino que ficava preso na porta. Draco simplesmente detestava aqueles sinos, eram tão irritantes!
Ginny parecia não notar qualquer som vindo de qualquer sino. Quando já estavam andando novamente nas ruas de Paris, ela comentava sobre o modo de se vestir das parisienses e suas maneiras quase sempre educados e elegantes para com ela.
-Não acha aquela muito bonita? Não creio que seja daqui, penso que ela é alemã ou irlandesa... tem um modo muito peculiar de usar sua sombrinha, mas não me parece muito inteligente. –Ginny riu de sua própria observação. –Estava pensando em ir a uma joalheria, escolher um lindo colar para mamãe. Mas me lembrei que o presente é também para papai e não acho que um colar de prata possa ser muito útil para ele, a não ser que o use para se exibir para seus amigos, mostrando como sua esposa se enfeita graciosamente. –Ginny riu mais uma vez. Draco só sorriu de leve, o que deixou sua mulher bastante satisfeita. –Ainda bem que você demonstrou alguma reação. Já estava pensando que você estaria magoado ou irritado comigo. E você sabe como eu me orgulho de dizer para quem quizer ouvir que nós nunca brigamos, em todos esses cinco anos de casamento!
-Percebeu que já fazem quase dez anos que nos conhecemos efetivamente? Lembro-me bem daquele ano, e que ano! Toda aquela história da... como era mesmo seu nome? Sim, Charlotte Wicked e o louco do pai dela, o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, seu nome...
-Esmé Kindly.
-Sim, assim era como ele se chamava. Mas, apesar de tudo o que aconteceu, você deve concordar se eu disser que tudo isso ajudou para que nós fiquemos juntos de vez. –Draco olhou de relance para sua esposa e a viu concordar com a cabeça, ao mesmo tempo que sorria. –Na época você namorava Harry Potter, lembra-se?
-Sim, Draco, eu lembro. Mas não gostava dele, não mais, e você demorou muito para compreender que eu dizia a verdade.
-Quanto tempo perdido, querida, quanto tempo! Se eu tivesse acreditado em você desde o começo, teria sido bem mais fácil... pois depois de tudo isso, ainda esperamos muitos anos, uns três ou quatro, se não me engano, para ficarmos juntos.
-Foram quatro anos e depois desse longo tempo, nós nos casamos e eu vivo os anos mais felizes da minha vida desde então. Está certo que eu tinha apenas dezenove anos, meu Deus, e era uma criança, mas tudo correu maravilhosamenete bem.
-Você amadureceu rápido a partir dali e a culpa foi, em parte, de Fiona, nossa princesinha, que nasceu logo em seguida. Não teve como você não amadurecer, teria sido impossível e teríamos ficado malucos, tenho certeza disso.
-Eu sou tão feliz, Draco, quando eu e você concordamos que nossa vida é muito boa e que somos gratos por tudo isso –ela disse, encarando o marido e ele lhe beijou na testa. Assim, ela teve certeza que ele não estava ressentido pelo recente consumismo dela e isso foi gratificante para ambas as partes.
Depois de algum tempo em que estiveram andando em silêncio, Draco tomou a iniciativa de começar um novo diálogo:
-Por que não passamos em um lugar especializado em prataria?
-Oui, essa é uma boa idéia. Eu sabia que você acabaria me sugerindo algo. –Ginny sorriu. –Creio que sei onde fica algum desses lugares. Venha, é por aqui. –ela puxou-lhe pela mão, para entrar em uma rua estreita, mas bastante iluminada.
-Acho que a penúltima casa, Draco, tenho quase certeza.
Eles andaram para a casa que Ginny havia indicado e abriram a porta. Lá dentro, tudo era muito arrumado e haviam cerca de outras cinco pessoas. Ginny lembrava-se de ter trocado uma ou duas palavras com uma mulher que estava na loja e fez questão de cumprimentá-la, gentilmente. Passou, em seguida, a observar todas as peças daquela lugar. Haviam jarros de prata, copos, vasos, enfeites, castiçais, conjunto completo de jantar, porta-retratos, molduras. Ginny olhava todos e analisava cada detalhe que eles tivessem, separando mentalmente os que achasse mais bonitos.
-Draco, acho que o melhor seria esse jogo completo de jantar. Tem vários pratos, talheres, copos e outros objetos úteis. A minha família é imensa e utilidade para esse jogo de jantar não faltaria! Poderia mandar cravar um W de Weasley em cada peça, assim ficaria mais pessoal.
-Para mim, isso é perfeito. –falou Draco, enquanto olhava uma abajur, tentando entender sua utilidade. –Ginny –sussurou ele, para ninguém mais ouvir. –esses trouxas têm cada objeto engraçado... esse, por exemplo, não flutua no ar!
-Isso se chama abajur, querido. –falou Ginny, num tom de voz igualmente baixo. –Meu pai costumava me mostrar alguns, sabia que eles funcionam por uma coisa que se chama... como é mesmo? Elecritidade, eu acho. Ou algo assim.
-Hum –resmugou Draco, colocando o abajur de volta ao seu lugar. –Então ficamos com o jogo de jantar e mandamos cravar a letra W, Ginny?
N/A 2: Ah, sim, eu não sei francês meeesmo. Conheço uns expressões básicas e me inspiro para usá-las nos livros da Agatha Christie, é claro, que eu amo de paixão. Só uma coisa: viva a intertextualidade!
N/A 3: O primeiro capítulo é sem graça, mas isso é só o começo... espera que a fic vai "engrenar" em breve! Deixem reviews, please!
