Título: Aquilo que é vital

Autora: Miss Lyric

E-mail: miss_lyric_fic@yahoo.com.br

Sinopse: Continuação de "Amor, o refúgio das almas". Se passa várias anos depois de Hogwarts. Draco e Ginny estão casados e com filhos, vivendo uma vida tranqüila e feliz num belo lugar na França. Seu amor é ameaçado quando os problemas cotidianos parecem maiores do que a disposição para superá-los. Meio à esses contratempos, eles tentam provar a todos, especialmente a si mesmos, que o amor é, sim, tudo o que precisam para fazer da vida o que eles sempre sonharam.

Disclaimer: Nenhum dos personagens me pertencem. Eles são de J.K.Rowling, que tem todos os direitos sobre eles. Essa fan fic não foi escrita com fins lucrativos. Somente por diversão.

N/A: Eu considero necessário ler a fic que antecede essa, que se chama "Amor, o refúgio das almas". Se quiser arriscar, vá em frente, mas creio que algumas passagens ficaram confusas, etc. No mais, espero que gostem. Adoraria receber reviews e e-mails com o comentário de cada um.

2º Capítulo

Estripulias e algumas travessuras

Fiona Malfoy se orgulhava imensamente dos seus cinco anos recém completados. Gabava-se, dizendo estar "se tornando adulta", por mais que isso fosse dito em sua linguagem, que era bastante pessoal, peculiar. Vestia-se como donzela e assim era tratada, com igual respeito e admiração. Era une charmante demoiselle ou uma princesa, assim definida por seus pais. Era bem apegada aos dois, por mais que se parecesse mais com Draco, não só na aparência. Ela tinha cabelos cacheados e loiros até a cintura, mas seus olhos eram castanhos como os da mãe. Era ativa, mas não tanto quanto seu irmão. Fiona era vaidosa e inteligente, ela e Ginny sempre costuravam juntas, mesmo que a menina não tivesse qualquer prática. Ela aprendia rápido e aos quatro anos já sabia prender botões em camisas e seu bordado era razoável. Gostava de dar ordens aos criados, como fazia sua mãe, e divertia a todos com sua pequena autoridade e veemência. Fiona defendia, entusiasmada, o uso das boas maneiras sempre e às vezes inventava de ensinar normas de etiqueta a Mademoiselle Margot, dama de companhia de mamãe, como ela mesma falava.

Fiona não se enganou muito tempo com a comédia dos adultos. Assim, tornou-se muito atenta a tudo ao seu redor. Era uma mulherzinha curiosa e talvez inoportuna. Mas, ninguém a condenava. Era uma criança e crianças não têm consciência de seus atos.

A pequena Fiona havia feito um trato com sua mãe. Todo mês, a menina comprometia-se a aprender algo novo, podia ser um novo ponto de costura ou tricotar ou conjugar verbos. Era Ginny quem definia o que seria aprendido. Naquele mês de Março, Fiona aprendia a fazer ponto-cruz no bordado e a crochear. Já fazia tudo com perfeição e o mês nem havia acabado.

Alegre e divertido, era Theodore "Théo" Malfoy. Aprontava cada brincadeira que chegava a deixar os cabelos de seus pais em pé e todos os criados exaustos. Era o primeiro a acordar de manhã e, como um senhor responsável, tratava de acordar todos na casa – primeiro sua irmã, às vezes com beijos, às vezes com gritos; depois seu pai, falando baixinho no seu ouvido; e por fim sua mãe, junto dos outros dois, com muitos beijos e abraços. Théo só tinha quatro anos, mas vivia tentando fazer mágicas – que nunca davam certo – e encantamentos, o que resultavam em sonoras risadas de quem o visse, aborrecido, por mais uma tentativa frustada.

Quando se tratava de aparência, Théo era extremamente parecido com Ginny. Dono de cabelos ruivos – que incendiavam qualquer lugar por onde passassem – e olhos bastante verdes (seus pais não sabiam de onde vinha o verde dos olhos, mas Ginny concluira que de algum avô que ela não chegou a conhecer). Era dono de uma alma inquieta e boníssima, o Théo. Não era arrogante como sua irmã tencionava a ser um dia e sim irreverente e risonho. Gostava de se vestir como seu pai, com roupas de adulto, e as suas eram feitas sobre medidas para seu pequeno tamanho.

Às vezes, Théo pegava uma pena e molhava a ponta em uma tinta qualquer e fazia pontinhos no rosto, imitando barba e bigode. Ou sentava-se dentro do carro da família (que Draco aprendera a dirigir fazia uns três anos) e fingia estar dirigindo, virando o rolante para lá e para cá, imitando o barulho da buzina com a boca. Sua irmã dizia que ele era mesmo uma criança e ele simplesmente respondia-lhe com uma careta.

Fiona e Théo Malfoy esperavam, ansiosos, por seus pais, que haviam saído fazia algumas horas e ainda não haviam voltado. Enquanto isso, tratavam de atormentar Mademoiselle Margot, com perguntas impertinentes e algumas lamentações.

-Mas, chérie –insistia Fiona Malfoy, gesticulando com as mãos e fazendo biquinhos exagerados quando falava francês –Mamãe me prometeu, pela manhã, que avaliaria meu bordado essa noite! Ela não se atrasaria, não acha?

-Je ne ce pas, mademoiselle. Eu não faço idéia. –Margot tentava explicar e às vezes cobria o rosto com as mãos, mostrando um leve e um pouco exagerado desespero. –Seus pais não são de se atrasar para o chá da cinco, por mais que esse hábito seja pouco comum aqui na França.

-Oui, é um dos hábitos ingleses do qual meus pais nunca deixariam de ter. Então por que essa demora? –perguntava Fiona, dessa vez parecendo aflita.

-Papai é um mau sujeito! Disse para mim, jurou, que essa noite me ensinaria a tranfigurar um livro em um tijolo, ele jurou! Eu quero fazer mágicas, eu quero! Quero, quero e quero!

-Mas, Théo querido, eu não tenho permissão para lhe ensinar mágica alguma! Ordens expressas de sua mãe, ela me disse "nem que ele esperneie, chérie, nada de mágicas", ela disse isso, eu me lembro...

-Odeio ordens, eu nunca posso fazer nada! Quero ser livre de tantas chatices, Margot, eu quero... Vive la liberté! –dizendo isso, Théo ficou em pé no sofá que estava sentado e fingiu estar cavalgando, pulando para as poltronas, depois para o chão, até cair nas costas de sua irmã, que o condenou por isso.

Mademoiselle Margot estava um pouco ofendida por sua patroa ter dispensado sua companhia naquela tarde. A francesa havia acabado de chegar na Mansão Malfoy e descobrira da saída de Ginny com seu marido, ficando bastante contrariada. Para ela estava claro que monsieur era seu esposo, mas era ela, Margot, quem passeava com madame, não o era? E depois tinha les enfants, as crianças que ela adorava. Eles estavam impossíveis naquela noite e Margot pressentia ficar maluca a qualquer momento. Fora um grande alívio quando a porta principal se abriu e por ela passaram duas figuras elegantes e felizes.

-Enfin! –exclamou Margot.

-Ah, meus filhinhos! –exclamou Ginny, abraçando Fiona e Théo. –Que rosto mais quentinho... que saudade dos meus queridinhos!

-Papai! –disse Théo, livrando-se do abraço da mãe e pulando em cima de seu pai. –E a mágica que me prometeu?

-Que mágica, mon cher? –perguntou Ginny, desconfiada. –Não está ensinando mágicas para ele, está?

-É uma magicazinha de nada, Ginny, tolice se preocupar. –Draco piscou para a esposa e ela entendeu o que ele queria dizer. –E a minha princesa? –perguntou, dando um beijo na testa de Fiona.

Ginny voltou-se para Margot (que parecia bem mais calma naquele momento) e perguntou:

-Margot, chérie, as crianças deram muito trabalho?

-Imagina, madame, eles são uns anjinhos. –mentiu a dama de companhia, se retirando para a cozinha para pegar o chá dos patrões.

Ao acontecer as oito horas da noite, a família Malfoy foi jantar. Théo estava, surpreendentemente, animado naquele momento, e a sobremesa nem havia sido servida ainda! Fiona tentava convencer seu pai de que fazer o ponto-cruz era uma atividade complexa, que exigia atenção e dedicação, especialmente nas primeiras tentativas. Draco, por sua vez, não parecia completamente convencido – nem interessado – e fez menção de mudar de assunto rapidamente. Não que não suportasse ouvir sua filha, mas naquele dia, em especial, ela estava um tanto quanto cansativa. Assim, virou-se para Ginny e a supôs que aquele seria o momento de contar aos filhos a novidade. Ela concordou e começou:

-Queridos, creio que não se lembram de seus avós Arthur e Molly, meus pais, não é?

-São aqueles ruivos da foto da sua formatura, mamãe? –perguntou Fiona, bebericando o conteúdo de seu copo, que não devia ser nada mais que água.

-Sim, aqueles mesmo. São seus avós maternos, querida, você os conheceu quando era bem mais nova. –falou Ginny, pegando a mão de sua filha.

-Eu não me lembro deles. –falou Théo, mastigando.

-Você tinha um pouco mais de um ano. –dessa vez quem respondeu foi Draco.

-E não fale de boca cheia, Théo. –completou Ginny. –Como eu dizia, meus pais estarão completando, na próxima semana, vinte e cinco anos de casado.

-Isso se chama Bodas de Prata. –explicou Draco.

-E convidaram-nos para uma pequena comemoração que haverá, queridos. Uma tamanha gentileza, não?

-Oui. –concordou Fiona, por mais que não tivesse idéia do seria considerado um gesto gentil.

-Será n'A Toca. –falou Ginny, tratando de explicar em seguida: -A Toca é a casa que eu morei até me casar com seu pai. Eu já lhes falei dela, tenho certeza. Eu e seu pai conversamos e refletimos e consideramos que seria très aimable se fôssemos e nos mostrássemos agradecidos pelo convite.

-Eh bien –falou Fiona, passando os olhos pela sua mãe e em seguida por seu pai –estaremos na festa?

-Oui, mademoiselle. –respondeu Draco, com convicção, deixando sua esposa muito satisfeita.

Nenhuma das crianças mostrou alguma reação.

Não haviam se levantado ainda, mas monsieur e madame Malfoy, ambos semi-acordados, podiam ouvir alguns sons esquisitos – vindos do quarto de Theodore – e algumas frases como 'que barulho é esse?' e 'já está na hora de acordar?' apareciam mais nítidas em suas mentes, à medida que o sono tornava-se mais leve.

Draco acordou primeiro e abriu a cortina, tentando identificar de onde vinha o barulho que ele ouvia. Tudo estava tranqüilo lá fora e naquele momento ele já podia ouvir alguns grtios e várias, várias risadas. Também havia o som de alguns objetos caindo e um outro barulho, como se guerreassem com travesseiros.

-Guerra de travesseiros!? –gritou Draco, quando o pensamento lhe ocorreu. –Mon Dieu! Ginny, acorda, Ginny! Acorda!

Draco saiu do quarto, andando a passos rápidos e largos e teve um choque ao abrir a porta do quarto de seu filho e deparar-se com Théo e Fiona jogando travesseiros, um no outro.

-O que está havendo aqui? –trovejou Draco, muito bravo (como era raro ele ficar). –Alguém pode me explicar? –insistiu ele, pegando os travesseiros e almofadas das mãos de seus filhos.

Naquele momento, Ginny entrava no quarto também e escapava-lhe um 'Oh' de surpresa, ao ver as penas dos travesseiros espalhadas por todos os cantos, os objetos jogados no chão e seu marido – sempre tão indiferente e controlado – segurar seus filhos, pelos pulsos.

-Um furacão passou por aqui durante meu sono e eu não percebi? –brincou ela, tentando amenizar o clima pesado que estava no quarto.

Logo em seguida, Ginny recebeu de seu marido um olhar que a desaprovava e resolveu calar, por fim.

-Acredite se quiser, Ginny, mas esses dois sujeitos malvados –Draco fez a menção de falar mais alto essa última palavra –estavam fazendo guerra de travesseiros, gritando, quebrando várias coisas, enfin, fazendo tudo o que há de errado nesse mundo antes das sete horas da manhã! Milles tonnerres!

Ginny sentiu que Draco colocava a situação nas mãos delas, mas ela não sabia o que fazer. Seus filhos não aprontavam antes das sete horas da manhã (esse período era considerado sagrado naquela casa), tinham bastante respeito com esse horário. Ginny não conseguia estruturar nenhuma repreensão verbal cabível, não sabia o que dizer.

-Draco, solte eles, por favor... –falou, enfim. Draco obedeceu, sentando na cama que havia no quarto e cobrindo o rosto com as mãos. –Draco, o que eu faço? Me diz o que fazer, eu estou perdida!

Em situações como aquela, em que as crianças juntas ou sozinhas aprontavam alguma coisa, era sempre Draco quem punia ou brigava, mas sempre de uma maneira amena. Dessa vez, parecia que ele queria testar sua esposa, vendo como ela se saíria.

Não obtendo resposta a seus apelos, Ginny resolveu que falaria o que muitas vezes havia ouvido Draco falar:

-Crianças, o que foi que combinamos? Vocês podem brincar à vontade, de uma maneria saudável –houve uma pequena pausa e Ginny continuou: -Mas não desse jeito, destruindo tudo, acordando à todos e a essa hora. Ainda é muito cedo, vocês não podem ver isso? Não podem? –Ginny mantinha seu tom de voz controlado e passava os olhos pelos filhos, pousando-os momentaneamente em cada um.

-Oui, mamãe. Pardon, papai. Perdoem a gente, por favor... –Fiona falava, enquanto algumas lágrimas corriam soltas por seu rosto jovem e rosado.

-Eu já deixei de ser un diable! Não sou mais um diabinho... não pára de me amar, papai... vocês me desculpa, mamãe? –dizia Théo Malfoy, segurando no robe de chiffon cor-de-mel de sua mãe e olhando tanto para ela quanto para seu pai. Seus olhinhos brilhavam fulminantemente (talvez por causa das lágrimas que ameaçavam ser derramadas) e ele fazia um bico de choro.

Ginny suspirou, um pouco mais calma. Em seguida, olhou para Draco, como se lhe implorasse:

-Draco, acho que dessa vez eles aprenderam que não podem armar brincadeiras desse tipo a essa hora, você não acho, mon cher?

-Oui, também penso assim. –Draco não tinha mais aquela fúria no olhar e já parecia totalmente acordado. –E penso que o melhor a fazer é esquecermos o que decorreu hoje e decermos para tomar nossa café.

Houve ainda outro evento conturbado naquele dia na Mansão Malfoy. Não satisfeito pela bagunça e pela desordem que havia feito pela manhã, o arteiro Théo decidiu, intimamente, que mais uma confusão não seria de todo o mal. Com essa idéia na cabeça, saiu sorrateiro de seu quarto (onde estava num semi-castigo, como diziam seus pais) e começou a aprontar sua brincadeira.

Théo se dirigiu ao armário secreto (assim era chamado) e considerou ter sido très chance tê-lo encontrado destrancado, tornara-se um sujeito de sorte, o pequeno menino. Encontrou, rapidamente, o que procurava: a vassoura de seu pai. Seus olhinhos brilharam de satisfação quando ele soltou uma risada divertida. Verificou se não havia ninguém na sala, colocando a cabeça para fora do armário. Somente a senhora Gretha Loussohn, uma sueca meio cega que detestava que falassem francês com ela. Théo suspirou aliviado, já que a criada não poderia vê-lo. Saiu do ármario, com a vassoura debaixo do braço e correu para a porta da rua.

-Quem está aí? –perguntou a senhora Loussohn, num inglês carregado de sotaque. –Não pense que porque sou cega não percebo as pessoas ao meu redor! Quem está aí? –mas, enquanto a mulher falava, Théo já não estava mais na casa.

-Hoje eu vou voar! Comme un oiseau, um pássaro! –falava Théo para si mesmo, indo para o jardim que havia atrás da Mansão Malfoy. –Eu vou chegar até a lua! La lune, très joile!

Théo passou as pernas por entre a vassoura e esperou, esperou por alguns minutos que mais pareceram uma eternidade. Ele parecia decepcionado.

-Mas, mas, mas... mas por que não estou voando? –perguntou, balançando a vassoura e a xingando com vários nomes, que sua mãe classificava de "palavras feias" e ensinava seu filho a nunca dizê-las.

Lembrou-se, então, de uma vez, quando tinha visto seu pai voar na vassoura. Eram alguns flashes rápidos na sua cabeça, mas parecia claro para ele que Draco, após montar na vassoura, dava um impulso, como se empurasse o chão para baixo. Decidiu que faria o mesmo e, para ter mais certeza de um bom resultado, resolveu que fazer uma oração poderia lhe trazer ainda mais sorte.

Assim, montou na vassoura, mordeu o lábio inferior, segurou com força, fechou os olhos, pediu por graças a Deus e fez o tal impulso, inspirando-se em seu pai. A vassoura saiu do chão e ele gritava algumas palavras, demonstrando toda sua satisfação e felicidade. Em pouco tempo, ele já voava em uma altura razoável e já saía da área pertencente a sua família. Não tinha todo o controle sobre a vassoura e não conseguia virá-la para a direita, nem para esquerda, nem para qualquer lugar que desejasse.

-Estou voando! –gritou ele, sem perceber o perigo que corria. –Eu sou o máximo!

Como um representante fiel do que era ser um menino arteiro, Théo achou emocionante quando começou a voar na direção de uma árvore. Demorou bastante para ele perceber que sofreria um acidente e quando isso lhe ocorreu, começou a gritar descontroladamente. Chamava por ajuda, por seu pai, sua mãe, ou qualquer pessoa que estivesse por perto.

Estava à uma distância de meio metro da árvore. Resolveu tentar uma manobra arriscada e levou a vassoura para baixo, livrando-se de bater no tronco da árvore. Chegou bem perto do chão e perdeu o equilíbrio, caindo na grama e suspirando aliviado.

-Pelo menos ninguém ficará sabendo do que aconteceu. –falou. –Eu acho. –completou, quando viu seus pais correndo na sua direção.

Théo levantou-se rapidamente e começou a bater em suas vestes, tentando tirar o resto da grama que estivesse grudada nelas. Sua mãe lhe alcançou e o abraçou, desesperadamente.

-Ah, meu filho! Nunca mais faça isso, eu posso morrer do coração... –falava Ginny, chorando.

Já Draco não era tão carinhoso e parecia bastante contrariado. Tirou seu filho dos braços de Ginny e lhe deu uma boa sacudidela, enquanto falava:

-O que você estava pensando, menino? Que voaria perfeitamente e seria declarado herói da nação? E se algum trouxa o visse? Irresponsável, inconseqüente!

-Draco, por favor –dizia Ginny. –Ele está assustado, querido, deixe as repreensões para mais tarde.

-Ginny –falou Draco, soltando seu filho, bruscamente. –Ele tem que aprender, de uma vez por todas, que não pode continuar fazendo essas coisas perigosas! Você sempre o defende e é muito boa para ele e para Fiona, por isso que eles continuam aprontando e nunca entendem o que é certo e o que não é! Alguém tem que estruturar limites para essas crianças, e se esse papel foi atribuído a mim, vou realizá-lo da maneira que considero correta!

-Você é que está certo, querido, eu sei... mas eu tenho o coração tão mole... desculpe-me por isso...

-Theodore, faz idéia do que acontecerá com você? –perguntou Draco, com um pouco de ironia, que parecia ter sido extraída de seus tempos de irresponsabilidade em Hogwarts.

-Estou de castigo? –arriscou o menino, enxugando algumas lágrimas.

-Foi merecido, sabia? –quem gritou isso foi Fiona. Ela estava encostada na porta do quarto de seu irmão (que estava trancada) e falava com Théo, que não tinha permissão para sair do aposento.

-Não me irrita, Fiona. –respondeu uma voz, de dentro do quarto.

-Mas é verdade! Quantas vezes nos disseram para não tentar voar? Você não tem mesmo solução...

-Como você é chata... que irritante! Vai embora, sua boba!

-Não vou, não... vou te fazer companhia, porque sou uma boa irmã.

-Pior que ficar trancado nesse quarto é ter que aturar você! Você é uma menina muito má.

-Merci, mon cher, merci. Nunca ouvi elogios tão bonitos.

-E esquisita... nunca vi uma pessoa gostando de ser chamada de má.

Fora muita sorte Ginny passar por aquele corredor, onde ficavam os quartos de dormir da casa, naquele momento. Foi como se ela tivesse pressentido a discussão de seus filhos e apareceu lá, para acabar com as desavenças.

-Vamos, Fiona, vamos para a sala e você pode me mostrar seu bordado. –falou Ginny, puxando a filha pela mão.

-Não, mamãe, estou bem, fazendo companhia para Theodore. –falando isso, Fiona soltou-se de sua mãe e sentou em frente à porta do quarto do irmão.

-Não, você irá comigo. Entendido? E não se preocupe, Théo não se sentirá só e será melhor que ele fique em silêncio, pensando em como foi malvado.

Depois que as duas saíram dali, quem apareceu foi Draco. Ele andou de um lado para o outro, frente à porta de seu filho e tirou uma chave do bolso de seu casado. Encaixou-a na fechadura e virou, destrancando a porta. Colocou-se para dentro e deparou-se com seu filho, que tinha a cabeça enterrada no travesseiro e parecia chorar.

Draco estava sentado na beirada da cama e passava a mão pelo cabelo de seu filho, que não demonstrava alguma reação, absolutamente. De tempo em tempo, deixava escapar algum soluço, mas ele e seu pai pareciam nem reparar.

-Não faça mais essas coisas, por favor –falando isso, Draco levantou-se e saiu do quarto.

A porta foi deixada aberta, afinal Théo havia sido absolvido de seu castigo.

Os senhores da Mansão Malfoy, Draco e Ginny, estavam sentados frente à lareira, bebericando um delicioso vinho tinto. Ainda não tinham sido tomados por uma sensação de embriaguez e conversavam sobre os acontecimentos daquela dia. Ambos pareciam exaustos.

-Não foi um dia fácil, querida –falou Draco, olhando diretamente para sua esposa e vendo em seus olhos a imagem do fogo.

-Não foi mesmo. Fazia algum tempo que as crianças não aprontavam tanto. Eu me sinto muito cansada.

-Eu também. mas resolvi absolver Théo do castigo, acho que ele aprendeu o que tinha que aprender. Espero que, a partir de agora, ele e Fiona nos proporcionem algum descanço.

-Oh, sim... ou não aguentarei.

Draco riu de leve.

-Dentro de uma semana estarei junto de meus pais e meus irmãos novamente, depois de tantos anos –comentou Ginny, desviando seu olhar para suas mãos. –Você não imagina como isso é estranho para mim.

-Estranho? Estranho por quê?

-Não tenho certeza de que saberei como agir, como me comportar, sobre o que falar.

-Aja como sempre agiu, querida. É sua família, eles gostarão de você de qualquer maneira. Quanto à mim, tenho certeza que me detestarão e isso poderá ser bastante desagradável.

-Não penso assim, Draco. Acho que papai e mamãe te tratarão muito bem, com polidez e respeito. Quanto a meus irmãos, talvez eles sejam um pouco mais rudes, mas nada muito avassalador.

-Espero que seja assim, pois não estou com paciência de ficar brigando.

-Oh, ainda bem. Não comece a xingá-los ou humilhá-los, que eu sempre te defenderei. Se você não provocar e for tratado mal, quem te tratou assim perde totalmente a razão. E será considerada sem bom senso e educação.

-Eu vou me controlar, prometo. Se começar a me irritar, me retiro gentilmente e vou falar com as crianças, ou até mesmo com você. Ou faço qualquer coisa que me impeça de responder bruscamente.

-Vê? Para tudo há um jeito, uma solução. Será que mamãe me perguntará como vai meu casamento?

-Não tenho dúvidas a respeito. E também questionará se você é feliz, se eu te trato bem.

-E eu responderei 'Sim, mamãe. Sou muito feliz e Draco é muito bom para mim e eu o amo' com muito orgulho e sinceridade.

Draco riu, pegou as mãos da sua esposa e as beijou. Ela ficou encantada com aquele gesto e se inclinou para frente, deixando-se abraçar pelo marido. Levantou a cabeça e os lábios dos dois se tocaram de leve. Como era bom amar o outro...

A sala era iluminada somente pelo fogo vindo da lareira e quando queimou a última estaca de madeira, Draco e Ginny subiram, abraçados, para seu quarto.

N/A 2: Era para eu ter postado ontem, mas esqueci completamente...