Título: Aquilo que é vital

Autora: Miss Lyric

E-mail: miss_lyric_fic@yahoo.com.br

Sinopse: Continuação de "Amor, o refúgio das almas". Se passa várias anos depois de Hogwarts. Draco e Ginny estão casados e com filhos, vivendo uma vida tranqüila e feliz num belo lugar na França. Seu amor é ameaçado quando os problemas cotidianos parecem maiores do que a disposição para superá-los. Meio à esses contratempos, eles tentam provar a todos, especialmente a si mesmos, que o amor é, sim, tudo o que precisam para fazer da vida o que eles sempre sonharam.

Disclaimer: Nenhum dos personagens me pertencem. Eles são de J.K.Rowling, que tem todos os direitos sobre eles. Essa fan fic não foi escrita com fins lucrativos. Somente por diversão.

N/A: Eu considero necessário ler a fic que antecede essa, que se chama "Amor, o refúgio das almas". Se quiser arriscar, vá em frente, mas creio que algumas passagens ficaram confusas, etc. No mais, espero que gostem. Adoraria receber reviews e e-mails com o comentário de cada um.

4º Capítulo

Recebendo uma visita

Sem que se passasse um mês, Molly Weasley recebeu uma carta de sua filha, a convidando para conhecer, enfim, a Mansão Malfoy. A Sra. Weasley resolveu aceitar de bom grado e no fim-de-semana seguinte ela embarcava em um trem para a França. Sua filha foi recepcioná-la na estação e desculpou-se por Draco, que não pudera ir também, pois estava trabalhando. E as duas seguiram para a Mansão Malfoy, andando à pé por Paris, onde Ginny mostrava à sua mãe alguns pontos turísticos da cidade, após ser sondada para fazê-lo.

-Mamãe, se prepare. Dentro de alguns minutos será possível enxergar a Mansão Malfoy, o meu lar. Quero sua opnião sincera, por favor –falou Ginny, de braços dados com Molly.

-Eu imagino que seja uma casa muito grande, toda de pedras acinzentadas, com um portão imenso, que não permite que ninguém veja o que tem dentro, igualmente de pedra –sugeriu a Sra. Weasley.

-Mamãe, que horror... a senhora imagina minha casa como uma mansão mal-assombrada, como aquelas de histórias. Lembra dessas histórias? Eu adorava ouví-las quando era criança, e depois não conseguia dormir de noite. Bons tempos –suspirou. –Mas a minha casa é muito diferente... olha, olha! Já dá para ver um pouco!

Ginny fora bem modesta ao declarar que "só dava para ver um pouco", pois isso não coincidia, absolutamente, com a realidade. A Mansão Malfoy era tão grande e ocupava um espaço tão exorbitante, que a Sra. Weasley ficou pasma com tanta grandeza. A imagem que ela guardava da casa só refletia a realidade no aspecto do tamanho, porque o resto era totalmente diferente. A casa era feita de tijolos cor de ocre, com detalhes em branco. A casa tinha vários andares e, no mais alto, como deduziu Molly Weasley, ficavam os quartos e haviam varandas espaçosas em cada um. A do centro (onde devia ser o quarto do casal) ligava todas as outras e era a maior. A casa tinha vários jardins a sua volta e todas as árvores que existiam eram pinheiros e Molly achou que pareciam àrvores de Natal, sem enfeites, é claro. A entrada da mansão era suspensa por alguns pilares de cor branca e a casa era envolta por um muro, combinando com a casa, de iguais tijolos e detalhes. O telhado da casa era triangular, daqueles que, quando neva, toda o gelo é escorrido, para não atrapalhar no aquecimento interno da casa. A visão daquela mansão era magnífica e Molly Weasley poderia não acreditar que todo aquele luxo e aquela grandiosidade pertenciam a sua filha, se não soubesse que era verdade.

-E então? –perguntou Ginny, apreensiva e mordendo o lábio inferior.

-É esplêndida... linda, perfeita. Oh, Ginny, é a casa mais bonita que eu já vi na vida... a mais bonita...

-Modestia à parte, eu também a acho muito bonita. Sabe a varanda principal, lá em cima? Então, no Natal, a gente coloca um guirlanda bem linda lá no topo... e alguns vaga-lumes nos pinheiros, que dão um efeito similar com o daquelas luzinhas de Natal. Fica parecendo casa dos trouxas!

-É muito bonita mesmo.

-Pois você ainda nem a viu por dentro! Creio que irá gostar, também.

As duas andaram, um pouco apressadas, até o portão da Mansão Malfoy. Não foi necessário que Ginny o abrisse, porque Margot já as esperava, pronta para fazer cortesias e votos de boas vindas para a Sra. Weasley.

-Margot, essa é minha mãe, a Sra. Weasley. Mamãe, essa é Margot, a minha mais leal amiga –apresentou Ginny.

Todas se cumprimentaram e, em seguida, atravessaram um pequeno jardim para, enfim, entrar na casa. Havia um hall, onde os casacos, guarda-chuvas e chapéus eram deixados. Depois, elas seguiram para a sala principal, que tinha uma decoração muito bonita. As paredes eram cobertas por tábuas de madeira e haviam muitos sofás, cobertos por um estofamento de cor clara. Tinha uma mesa no centro, algumas poltronas, cadeiras. Tudo no seu lugar, fazendo uma sintonia incrível. A Sra. Weasley sentiu uma certa inveja ao pisar nos tapetes persas e ao olhar os enfeites, vasos e pinturas caros que sua filha possuía. Ginny, percebendo um certo constrangimento por parte de sua mãe, resolveu falar alguma coisa, tentando quebrar o gelo:

-Nós acendemos a lareira de noite, quando faz frio. De dia é ruim se ela fica acessa, porque fica um calor insuportável dentro da casa... venha, mamãe, vou lhe mostrar seu quarto e depois te levarei para conhecer o resto da casa.

-Quantos quartos há na casa? –perguntou a Sra. Weasley.

-Não tenho certeza. Há vinte quartos de hóspedes (para quando as crianças trouxerem os amiguinhos para dormir em casa), talvez mais. Mais o meu quarto, os das crianças, alguns que estão vazios, os dos criados, o quarto de brinquedos. Cerca de trinta e cinco, creio eu.

Molly Weasley ficou pasma e seguiu Ginny, que subia as escadas.

O quarto que a Sra. Weasley ficaria se localizava no andar sob o que ficava o de Ginny e Draco. O quarto dela era muito grande. Havia uma cômoda de mogno, uma cama de casal, um espelho, alguns sofás. Molly reparou que vários quadros eram dispostos pelas paredes, o maior ficava sobre a lareira, e retratava um vaso de flores do campo.

-Se não gosta do quarto, posso levá-la a outro. –falou Ginny, um pouco ansiosa.

-Não será necessário. Esse esta ótimo... ótimo.

Em seguida, Ginny levou suas mãe para conhecer todos os outros cômodos da casa (menos os quartos principais, pois Ginny achava que não seria do gosto de Draco). Elas resolveram sentar, para tomar um chá, na primeira sala que haviam estado. Ginny, gentilmente, convidou Margot para sentar-se, pois as duas sempre usavam daquela horas para conversar, mas a dama de companhia parecia mais envergonhada naquele dia do era de costume. Afinal, ela costuma ser tagarela e falava sem pensar, então, o que estaria acontecendo com aquela mulher?

-Vamos, Margot. Sente-se conosco. Não vá me fazer tal desfeita, pois eu nunca a perdoarei se fizer –insistia Ginny.

-Não, madame, não posso. Esse é um momento seu e de sua mãe, não posso me intrometer... não posso...

-Margot, não faça frescuras, s'il vous plaît! Isso já não é mais um pedido, é uma ordem, sim? Sente-se aqui, do meu lado, e trate de sorrir.

As três mulheres riram, espantadas com a recente autoridade que Ginny havia obtido.

A Sra. Weasley gostou muito de Margot, apreciou seu jeito humilde de ser e considerou muito bom que Ginny tivesse uma companhia como aquela, todos os dias. Como sua filha havia dito, quando chegaram na Mansão Malfoy, Margot era sua mais leal amiga. E todos precisam de amizades leais para se estabelecerem e crescerem, porque sabem que sempre terão alguém disposto a apoiar-lhe, não dependendo da situação.

Margot, por sua vez, também adorou a Sra. Weasley. Ela tinha verdadeira adoração por qualquer pessoa que tivesse ligações amorosas com seus patrões, pelo simples fato de idolatrá-los. Achou a Sra. Weasley boníssima e meiga, deduzindo que Ginny havia se espelhado na mãe para ser tão dedicada e carismática. Sra. Weasley pareceu, aos olhos de Margot, uma mulher guerreira e com muita fibra, apesar de uma mescla de delicado cansaço e terna paciência que era estampada nos seus olhos e no seu rosto. A dama de companhia considerou que a Sra. Weasley seria capaz de tudo para defender seus filhos, poderia encarnar a bravura de uma leoa, se fosse preciso. Aquela era uma mulher forte, o que encantou Margot profundamente.

-Hoje estamos todas cansadas –falou Ginny, beberinco um chá de camomila, que já havia esfriado. –mas amanhã iremos mostrar toda a Paris para mamãe, Margot. Será como nossos passeios de antigamente, querida, não é maravilhoso?

-Sim, sim, sim! Ah, que saudade daqueles tempos! Madame não conhecia nada da cidade, nadinha mesmo! Eu mostrei tudo à ela, Sra. Weasley, eu a ensinei a viver em Paris! Fui eu que ensinei, euzinha aqui! –disse Margot, com as mãos para o céu.

-É verdade. E agora fará o mesmo com mamãe, Margot. Onde acha que devemos estar amanhã? –perguntou Ginny, desistindo de tomar o chá frio.

-Nos pontos principais, é claro. Nos misturaremos com os trouxas e será muito divertido. Iremos ao Maison Louvre, onde há obras magníficas feitas pelos trouxas. A Torre Eiffel, é claro... o Arco do Triunfo, é maravilhoso! É lá que a maioria dos trouxas parisienses comemoram o Ano Novo, é uma festa linda, não é Madame?

-Sim, Margot, é linda –concordou a Sra. Malfoy. –Depois do Arco do Triunfo, podemos virar à direita na avenida dos Campos Elísios e observar os edifícios feitas à imagem do imperialismo Napoleônico.

-Visitaremos a Praça da Concórdia, admiraremos o Obelisco...

E as três mulheres ficaram sentadas naquela sala até anoitecer, planejando como seria o dia seguinte.

Eram quase sete horas da noite, quando percebeu-se um movimento no hall. Draco havia chegado do trabalho e sua esposa, contentada com a recente presença de seu marido, foi recebê-lo, cheio de carinho e mimos. Ela tirou o casaco de Draco e o pendurou, conduzindo o homem, em seguida, para a sala onde ela estava com sua mãe e sua dama de companhia. Draco parecia bem satisfeito em chegar em casa e cumprimentou a todos com muita polidez e educação, causando orgulho em sua esposa e respeito nas outras pessoas. Gentil, o Sr. Malfoy ainda disse estar honrado em receber a mãe de sua esposa em sua casa e esperava que aqueles dias fossem gratificantes e que ela tivesse muito diversão ou calmaria, assim como desejasse. A Sra. Weasley agradeceu, de bom grado, e achou a recém adquirida respeitabilidade de Draco muito apropriada.

-Como foi seu dia, Draco? –perguntou Ginny, sentando-se no chão, frente à poltrona em que estava o marido, e apoiando a cabeça nos joelhos dele.

-Foi normal, Ginny. Estou negociando pessoalmente um grande investimento na América do Sul e outro no Japão. Pretendo firmá-los ainda essa semana e creio eu que teremos sucesso –falou Draco, beberincando um delicioso sherry. –E vocês? Se divertiram muito?

-Depois do almoço, fui buscar mamãe na estação e a levei para ver alguns dos lugares mais conhecidos da cidade. Depois viemos para casa, instalei mamãe e nós, junto com a Margot, ficamos conversando e programando o que vamos fazer amanhã. E então, você chegou.

-Ginny e Margot me falaram de todos os lugares que vou conhecer amanhã. Não vejo a hora disso acontecer! –exclamou a Sra. Weasley, tentando entrar na conversa. –Quando eu era criança, devia ter uns oito anos, eu sempre me imaginava conhecendo Paris, Roma, Viena, Zurich... todos esses lugares, mas nunca havia surgido oportunidade. E agora vou conhecer a capital da França, guiada pelas moças mais agradáveis que existem! Não é uma maravilha?

Draco concordou com a cabeça, mas pareceu um pouco aborrecido por alguém ter interropido sua conversa noturna com Ginny. Os moradores da Mansão Malfoy sabiam que aquele momento era sagrado para o casal.

Margot pediu ajuda da Sra. Weasley para trazer uns petiscos da cozinha até a sala e piscou furtivamente ao pedir isso. Quando as duas estavam sozinhas, a dama de companhia informou à senhora Weasley que aquele momento, no final do dia, quando Draco e Ginny conversavam sobre o que haviam feito era algo muito íntimo e que eles dois não gostavam de serem interrompidos. A Sra. Weasley perguntou a Margot se ela deveria se desculpar com o casal, mas não deu tempo de obter resposta pois, naquele instante, Fiona e Théo vinham descendo, com muita velocidade, as escadas e pularam no pescoço de sua avó. Era a primeira vez que eles apareciam "em público" naquele dia e pareciam mais animados do que era o normal, ou seja, estavam histéricos.

-Oh, meus amores! Que queridos! –falava a Sra. Weasley, abraçando os netos com tanta força que dava a impressão de que alguém estava tentando roubá-los dela.

Depois de se soltaram dos abraços da avó e ouvirem recomendações para não serem tão barulhentos de Margot, Fiona e Théo começaram a chamar por seus pais e, quando encontraram, fizeram uma pequena festa e, contrariando o que Margot havia recomendado-lhes, fizeram muito barulho.

Durante o jantar, a Sra. Weasley sentiu-se levemente deslocada. Não havia Margot para salvá-la e não se sentia à vontade para dirigir a palavra a quem quer que fosse, temendo ser interpretada de maneira controversa.

-Théo, come a salada, filhinho, é bom para você –falou Ginny, colocando umas alfaces e alguns tomates no prato do filho. Ele, por sua vez, fez uma careta e empurrou o prato para o meio da mesa.

-Théo, faz o que sua mãe mandou. Quero dizer, se você deseja ser um frangote fracola, caçoado pelos seus amigos, você não come a salada. Ou se quer ser um rapagão forte, bonito, uma pessoa que desperta a inveja e o respeito, você come todo esse mato –disse Draco, não deixando a discussão se prolongar.

-Você é um bom pai, Draco. Devo confessar que não esperava... –dito por Molly Weasley, que se arrependeu depois de ter falado aquilo.

Draco a olhou, desdenhoso, e tossiu, para limpar a garganta. Estruturou uma resposta cabível e quando percebeu que não obteria resultado algum, respondeu ironicamente:

-Pois você estava certa ao não esperar que eu fosse um bom pai. Eu não sou. Foi só para causar uma boa impressão. –e sorriu, mal-humorado.

-Draco! –ralhou Ginny. –Desculpe, mamãe, por Draco. Sabe como é, ele continua assumindo esse ar e esse humor maravilhosos de vez em quando. Desconsidere isso. E você, Draco, não acha que seria gentil da sua parte desculpar-se com mamãe?

Draco levantou-se, encarou sua esposa e sua expressão facial tornou-se séria e rígida, por mais que quase nenhum músculo estivesse contraído. Depois, pousou os olhos na sogra e ficou parado por alguns instantes. Molly Weasley o olhava, apreensiva, e estava prestes a dizer que não, desculpas não eram necessárias. Foi então que Draco falou, com a voz seca, baixa e controlada:

-Faço das palavras de minha esposa as minhas próprias –dito isso, virou-se e saiu da sala, certificando-se que seu orgulho permanecia intocável.

Ginny levantou-se em seguida, sentindo-se completamente constrangida, e seguiu o marido, o corpo trêmulo de raiva. Na verdade, ela não sabia muito bem como agir.

Ela chamava por Draco quase descontroladamente, antes de concluir que ele estaria no quarto do casal e por isso não ouviria a seus chamados histéricos. Ela subiu as escadas, quase correndo. Escancarou a porta do quarto e viu que seu marido estava sentado em uma poltrona, com uma expressão indiferente. Ele não chegou a olhá-la e mantinha-se parado, olhando para o lado de fora da janela, de um jeito amargo e até um pouco melancólico.

-Draco... por favor... tenha paciência. Você me prometeu... por favor... –falava Ginny, se aproximando do marido.

Demorou algum tempo para que Draco expressasse alguma reação ou falasse algo. Fechou os olhos, parecendo levemente desesperado, o que não era comum. Tentou dizer alguma coisa, mas sua voz falhou na primeira tentativa. Quando respondeu, estava mais seco do que estivera na sala de jantar:

-Você sabe que eu não gosto de visitas em casa. Não gosto que nossa privacidade seja invadida dessa maneira. Não gosto de ser julgado. E, definitivamente, eu não tenho que tolerar isso no meu próprio lar, que é o lugar que eu pensava que poderia descansar sempre que precisasse, sem nenhum intruso para me incomododar!

-Mamãe não está nos invadindo, Draco, não seja injusto dessa maneira! E, além do mais, você havia concordado que minha mãe viesse passar uns dias conosco, em nossa casa!

Algumas lágrimas nasciam nos olhos de Ginny e ela tentava fazer com que não fossem derramadas. Naquele quarto que estava em quase total escuridão, as lágrimas eram facilmente percebidas. Brilhavam, de leve, e despertavam certa piedade em Draco. E piedade era o que ele sempre desejava não sentir pela esposa.

-Ora, Ginny, eu não me importo que ela fique aqui por algum tempo, contanto que não não se meta na nossa vida! Por que eu tenho que tolerar alguém debaixo do meu teto, que tinha a idéia de que eu sou um péssimo pai? Poupe-me, Ginny, poupe-me. É tudo o que posso dizer.

Ginny jogou-se no colo de Draco e chorou baixinho. Até se acalmar, ela não ousou falar uma só palavra. Draco pousou suas mãos grandes sobre a cabeça de Ginny e deixou seus dedos deslizarem pelos cabelos dela.

-Eu vou conversar com mamãe –prometeu Ginny. –Direi à ela para não ser injusta e nem julgar você. Será que você pode fazer o mesmo, Draco?

-Ginny, eu... é difícil. Gostaria de poder.

-Você não pode mesmo?

-Eu vou tentar.

Os dois se abraçaram e se beijaram. E, depois de solucionados todos os problemas surgidos naquele noite, foram se deitar e adormeceram rapidamente, tamanho era o cansaço que sentiam e a vontade de que aquele dia atribulado terminasse o mais rápido possível.

-Aceita mais leite, Sra. Weasley?

Uma criada bem jovem e de estatura média estava encarregada de servir somente à Molly Weasley, parecendo um pouco nervosa, talvez imaginando que aquela senhora seria como seu patrão, respeitável sempre, mas paciente só até um certo ponto, zangando-se se não fosse tratado com polidez e educação. Afinal, a pobre moça não tinha certeza de que era verdade o que estavam dizendo por toda a mansão, quando os patrões viravam as costas. Havia um certo boato de que a senhora Weasley era tão chique e gostava tanto de luxo quanto uma daquelas simplórias, mas amáveis, criadas, e que Molly não haveria se importar se fosse tratada de maneira mais pessoal do que a que estava sendo usada.

-Ah, sim, obrigada, senhorita... bem... como é seu nome mesmo, queridinha? –falou a Sra. Weasley, com um sorriso.

A jovem criada respondeu que seu nome era Emily de não-se-entendeu-o-quê. Era uma palavra tão complicada, que parecia que ela engasgava para proferi-la. Molly Weasley transformou seu sorriso doce em um amarelado e alegou que a chamaria de Emily, porque eram para elas se tornarem amigas. Mas, na realidade, aquela era uma desculpa para que ela não tivesse que se arriscar, proferindo aquele sobrenome e ofendesse a pobre moça. Mas, também, por que diabos alguém suportava ter no nome uma palavra que parecia-se com "edsblumfter"? Oras, edsblumfter! Pobre Emily Edsblumfter, ela deveria estar ansiosa para se casar e livrar-se de uma vez por todas daquele nome.

-Eu nunca consegui falar o sobrenome de Emil. –comentou Fiona, sem perceber a indelicadeza que estava usando. –Ejismplobger, é assim, Emily? Ou será Edstrimptol? Eu juro que me esforço, mas minha língua se enrola todinha!

-Senhorita Fiona, eu já lhe ensinei mil vezes! –Emily podia ter levantado as mãos em direção ao céu ao dizer aquilo, mas segurava uma pesada bandeja e não queria causar nenhum desastre. –É Edesbhürmente, minha tataravó que inventou esse sobrenome, quando minha bisavó nasceu. Ela não gostava do pós nome que ela carregava e resolveu inventar um bem diferente e que dura na família até hoje. Mas, se querem saber, se um dia eu tiver filhos, terei piedade e não os deixarei carregar essa sina para todo o sempre.

-E qual era o sobrenome da sua tataravó, Emily? –perguntou Ginny.

-Se for mais confuso do que o inventado por ela, juro que não poderei acreditar! –exclamou Draco, limpando a boca com um guardanapo de tecido.

-O sobrenome era Smith. Ela era americana, sabiam? De qualquer maneira, é melhor eu parar de conversar e ir fazer meu trabalho, creio que estão precisando de mim lá na cozinha. Bom apetite –dito isso, Emily saiu da sala de jantar, deixando todos confusos, pensando na razão de alguém preferir Edesbhürmente a Smith.

-Há louco para tudo! –comentou a Sra. Weasley.

-Draco –chamou Ginny. –você pode levar as crianças na escola hoje? Nem eu, nem Margot poderemos fazer isso, você sabe.

Draco concordou e animou rapidamente as crianças, que pareciam desanimadas por terem que contentar-se com frutas no lugar de chocolates, bombons e geleias. Disse que estavam atrasados e que se eles pegassem seus materiais escolares bem rapidinho, Draco daria a cada criança um doce bem grande, no caminho para a escola. Com aquela última promessa consumada, Fione e Théo correram escadas para cima, animados, e voltaram em menos de um minuto, segurando uma mala e guardando uma maçã dentro dela. Os três, as duas crianças e Draco (que não deixava se ser infantil também, em alguns momentos), se despediram calorosamente de Ginny, com beijos e muitos carinhos. A vovó Weasley recebeu abraços de seus netos e algumas palavras frias de seu genro. E, assim, partiram para mais um dia que exigiria muito esforço, dedicação e calma, cada um usando dessas qualidades da maneira mais apropriada.

-Emily, querida –quem chamava era Ginny, quando viu que a criada passava por elas bem rapidamente, em direção à sala de leitura. –chame Margot para mim, sim? Diga para ela que, dentro de poucos minutos, eu e mamãe estaremos prontas para nosso passeio e que é para ela se aprontar também, por favor –depois, virou-se para sua mãe e falou: -Vamos? Vou pegar uma sombrinha e calçar minhas luvas. Eu recomendo à você, mamãe, que pegue um chapéu, porque eu não me responsabilizo com queimaduras futuras!

-Isso pode acontecer? –perguntou Molly, assustada.

-Claro que não, mamãe! –riu Ginny. –Estava brincando... mas pegue o chapéu, porque o sol pode incomodar se estiver muito forte. Está bem? Vamos subir? Margot já deve estar pronta, se bem a conheço, e ficará irritada se nos atrasarmos. Não queremos zangá-la, não é?

Depois de alguns minutos, como havia sido previsto por Ginny, ela mesma, sua mãe e sua mais fiel amiga, Margot, estavam prontas para partir para seu passeio por toda Paris.

Após terem estado no Arco do Triunfo, tomaram o rumo da direita na avenida dos Campos Elísios, andando meio ao tráfego de pessoas bastante intenso da cidade ao longo dos majestosos edifícios feitos à imagem do imperialismo Napoleónico. A senhora Weasley fazia comentários, elogiando a beleza das construções e chegava até a reparar na beleza dominante da população de Paris.

-Ginny, como é maravilhoso aqui! –exclamou ela, ainda no Arco do Triunfo.

-É maravilhoso, sim, mamãe. Quando passei aqui pela primeira vez, pensei como havia conseguido viver tantos anos sem conhecer um lugar tão lindo. Lembro-me que perguntei isso à Margot e... o que foi mesmo que você respondeu, querida? –dizia Ginny.

-Eu dizia, madame, que a vida é mais feliz quando se conhece Paris, a vida é melhor! Foi isso que eu lhe disse...

-É mesmo, lembro-me como se fosse hoje. Bons adias aqueles, quando eu não tinha filhos e podia me divertir, sem ter responsabilidades. Não que eu esteja reclamando –falou Ginny, gesticulando com as mãos. –, eu amo meus filhos. Só que tenho saudades daquela minha liberdade, que eu sei que nunca mais terei.

Enquanto passeavam pela praça da Concórdia, observaram o Obelisco, passando sobre o rio e atravessando a ponte Alexandre III. Ao estarem na metade da ponte, colocaram os olhos para o lado direito e contemplaram a Torre Eiffel, gigantesca com seus trezentos e vinte metros de altura, que pareciam dançar por entre a neblina de fumo que cobria toda a cidade. A senhora Weasley pediu para que ficassem alguns minutos ali, para que ela pudesse memorizar a linda imagem daquela torre, mas não era necessário muito tempo, já que era completamente inesquecível, aquela visão. Momentos depois, estavam debaixo da torre construída por Gustave Eiffel para a exposição mundial no ano de 1889, caminhando a pé, depois de passarem por uma ponte e pelos jardins do Trocadero, onde aproveitaram para sentarem, descansarem e admirarem a paisagem, distante e nostálgica, inesquecível. Naquele momento, Ginny desejou imensamente que Draco estivesse ali, com ela. Suspirou ao pensar em seu marido. Eram naqueles momentos que ela esquecia as discussões e os defeitos mais irritantes que podia encontrar naquele homem, para somente lembrar-se de seu amor por ele e em como a existência dele era necessária para seu bem-estar continuar sólido e real.

Caminharam, então, até a praça do Hotel de Ville. Como elas adoraram e veneraram aquela parte de Paris! Ficaram em frente de uma bancada de livros no outro lado do Quai de Gesvres, onde podiam ser encontrados alguns exemplares raros de autores como George Sand, Jules Vallès, Vigny, Kipling, Péguy e tantos outros. O Sena dançava na delicadeza das suas águas serenas, cruzando lentamente os arcos de várias pontes, posicionadas sobre ele. Em algum ponto específico da ponte D'arcole, talvez no centro, que ligava a ilha De La Cité à margem direita do Sena, observaram a torre da Saint Chapelle, construída para guardar a coroa de espinhos de Jesus Cristo, assim como um pedaço da cruz. A beleza dos edifícios que se erguiam paralelamente ao rio, reforçava a imagem poética e intensa daquele lugar milenar: o germinador da capital. A arquitetura graciosa, o perfume quase imperceptível do ar e do rio e a brisa suave, transportavam-nas em memórias de uma realidade mais profunda do que as suas próprias, exalando nelas um marco único de cada pedaço de história que por ali se tinha desenrolado em peripécias várias, partindo da Conciergerie, localizada entre a torre de Bonbec e a torre D'Argent, que havia sido, no passado revolucionário, uma prisão política onde esteve Maria Antonieta, até à catedral de Notre-Dame que se erguia majestosa na ilha De La Cité, simbolizando, na arquitetura expressiva dos seus adornos, a essência de toda a capital.

-Ginny, direi ao seu pai que ele precisa vir conhecer Paris! Não conseguirei dormir em paz, sabendo que o companheiro ao meu lado não pôde desfrutar de momentos tão prazerosos e admirar lugares tão lindos, sentirei-me culpada! –comentou a senhora Weasley.

-Pois diga isso para ele sim, mamãe. E acrescente que e Draco estamos sempre prontos para recebê-lo em nossa casa, assim como estamos prontos para receber você, meus irmãos, seus filhos e suas esposas. –falou Ginny.

Depois de terem percorrido parte da rua D'Arcole, pararam na praça Du Parvis Notre-Dame, local onde diversos artistas representavam e tocavam para a multidão de pessoas e pombos, que os cercavam de olhos arregalados, se divertindo. As crianças tinham nas mãos balões coloridos que balançavam ao sabor da brisa matinal, refletindo, nos seus rostos nublados, o ar aborrecido de quem não compreendia o divertimento de ver estátuas e edifícios de pedra. E, através do som dos sinos de Notre Dame, Ginny, Margot e Molly foram transportadas para um lugar em paz, simbolizando tudo que estavam sentindo. A fachada da catedral refletia a beleza da sua origem, deliciando seus olhares com a brancura da pedra polida. Era como se Paris tivesse convergido na idade da sua criação, regressando ao ventre de um parto feito de história.

Minutos depois, após terem sintonizado sensações e experiências novas e eternas em suas memórias, caminharam pela ponte Au Double, onde vários pintores exibiam com orgulho os seus quadros, que seguiam, na maioria, o estilo naive. Pelo rio, os barcos deslizavam pela calmaria daquela água serena e macia, perfurando o leito num longo caminho ondulado que se estendia até às margens. Ficaram alguns momentos em olhar o horizonte quebrado pelos edifícios que se formavam paralelos ao rio. A brisa brincava com os cabelos soltos de algumas mulheres que ali estavam, afagando-lhes os rostos com carícias doces e leves, deliciosas. Como todos se sentiam em paz naquele lugar! Mas logo continuaram, Ginny, Molly e Margot, cruzando o Quai de Montebello e seguindo pela rua Lagrange até ao jardim Square René, onde ficava a igreja ortodoxa de St. Julien Le Pauvre. Estavam no coração do Quartier Latin, a zona mais típica de Paris e aquela da que mais gostaram. As ruas estreitas serpenteavam ao longo dos restaurantes que as enlouqueciam com cheiros deliciosos e montras luxuosamente decoradas, contagiando seus conscientes que por momentos pareciam prolongarem-se para além dos limites de suas almas, ou seja, prologavam-se por todo o infinito. Subiram depois o Boulevard de Saint Michel em direção ao jardim do Luxemburgo, passando pelas ruínas de Cluny.

Já dentro do jardim, sentaram-se nas cadeiras individuais que rodeavam o lago. No centro, um pequeno chafariz dava vida às águas moribundas, por onde nadavam alguns patos, refletindo, no seu ondular constante, os raios pouco importantes e expressivos de um sol coberto de pó e de fumaça. À volta delas, as estátuas brancas fixavam-se nas crianças que corriam atrás dos pombos, nos namorados que cochilavam sobre a relva, nos idosos que ali preenchiam o vazio de uma existência vagarosa, e nelas, é claro!

Pararam em um charmoso e tranqüilo lugar, onde tomaram um café e conversaram sobre assuntos levianos e agradáveis, enquanto bebericavam o chá, o cappuccino, o café. Uma brisa suave passava por entre seus corpos e refrescava suas mentes, levando-as a uma dimensão onde a paz reinava absoluta.

-Vocês repararam que tudo que estamos bebendo começa com a letra c? –comentou Ginny, os olhos perdidos dentro de seu café. –Chá, cappuccino, café –as outras duas concordaram com ela. Ginny completou: -Só falta agora conhaque e champagne!

-Ah, mas nessa hora do dia, ninguém toma bebida alcóolica, minha filha! –riu a senhora Weasley. –Mas é uma coincidência realmente curiosa tudo começar com a mesma letra. Eu não reparo nessas coisas, absolutamente.

-Madame Weasley precisa ver o que essa moça pensa o dia inteiro! –falou Margot. –Cada coisa maluca... por exemplo, outro dia ela me perguntou se eu havia reparado em uma passagem estranha na história da Câmara Secreta lá de Hogwarts. Eu disse para ela que, ao meu ver, a história parecia perfeita, por mais que fosse só constituída de maldade e de terror. Sabe o que ela me respondeu, madame Weasley? Ela disse que achava muito esquisito que Harry Potter, tendo dentro de si rastros de Slytherin, não conseguisse dar ordens à imensa serpente que havia dentro da câmara, como fazia Você-Sabe-Quem. Como alguém pode pensar nisso? Pensar nesse terror todo, mesmo vivendo uma vida completamente feliz e maravilhosa!

-Foi só uma dúvida que me ocorreu, mas eu não penso mais nisso.–esclareceu Ginny.

Sua mãe a repreendeu com o olhar, porque não gostava que a filha lembrasse aqueles momentos terríveis, de pânico puro, daquele ano conturbado.

-Ah, eu sei, eu sei, mamãe, que a senhora recomendou, ou melhor, ordenou que eu nunca mais pensasse nessas coisas que aconteceram no meu primeiro ano e que eu havia prometido que esqueceria tudo aquilo e eu tento cumprir minha palavra... mas... mas... –Ginny pareceu, de repente, uma criança indefesa e sozinha e algumas lágrimas brotaram em seus olhos. Ela cobriu o rosto com as mãos e depois falou: -mas eu não posso! Como eu posso esquecer, mamãe? Eu não esqueci e nunca vou fazer isso, mas aprendi a conviver com as minhas lembranças. E Draco me ajuda muito, ele se sente meio culpado, sabe? Afinal, foi o pai dele, meu sogro, que ironia!, quem colocou o diário de Tom Riddle no meio do meu material escolar.

-Draco sabe que você fica pensando nessas coisas ruins? –perguntou a senhora Weasley. –Sabe, ou não?

-Eu não fico pensando nessas coisas o tempo todo, como você pensa, mãe. Eu, às vezes, me lembro e conto para Draco. Ele é tão maravilhoso nesses momentos, você precisa ver! Me acalma, diz coisas bonitas... e quando ele não está por perto, eu fico com a imagem de Fiona e Théo na minha cabeça e obrigou–me a me acalmar. Pergunto-me o que será dessas crianças sem mim e percebo que não posso ficar agindo como uma tola chorona, porque há coisas mais importantes sobre o que se preocupar. E, além do mais, Você-Sabe-Quem está morto, Harry e Dumbledore o mataram, graças a Deus!

Molly e Margot sorriram na direção de Ginny. Ela era uma pessoa tão boa, mas ao mesmo tempo tão dramática, que causava nas outras duas uma vontade de rir da sua dedicação excessiva e do jeito forçado que ela possuía.

-Madame –era Margot chamando Ginny –não é melhor tomarmos o caminho de volta para casa? Mounsier Malfoy chegará para o almoço e não nos encontrará, se não nos apressarmos!

-É verdade, Margot, é verdade! O que seria de mim sem você? Diga-me! Estava tão bom nosso passeio que nem vi o tempo passar... vamos pedir a conta e já iremos! Mãe, sabia que eu uso dinherio trouxa agora? –essa última frase foi dita por Ginny num sussuro.

Molly riu, antes de soltar uma frase, dizendo que isso se tornava necessário quando se vivia numa cidade como aquela.

Como havia sido previsto por Margot, quando as três mulheres chegaram na Mansão Malfoy, Draco já havia buscado Fiona e Théo na escola e os três haviam chegado em casa. Naquele momento, alguns minutos antes do almoço, as crianças imploravam para o pai fazer alguma mágica e quando ele resolvia ceder e executava algum feitiço bem simples, como fazer uma caneta flutuar, seus filhos gritavam animados, aplaudiam e davam pulinhos curtos.

-O papai é demais! –diziam. –Ele é o bruxo mais poderoso que já existiu! –continuavam.

Ginny, quando viu o que estava acontecendo, não pôde evitar de sorrir. Ela sabia o tamanho da frustração de Draco, por Harry Potter, seu pior inimigo, ser declarado por todo o mundo como bruxo mais poderoso, o melhor, de verdade. Afinal, era sempre o menino-que-sobreviveu que vencia Draco em todas as batalhas, por menores que fossem. E, ser reconhecido pelos próprios filhos como o melhor bruxo, era tudo que Draco precisa ouvir para esquecer de suas frustrações. Ele costumava dizer para sua esposa que Harry Potter podia tê-lo vencido em várias batalhas, mas em uma, Draco havia se saído melhor: na conquista de Ginny. Ele vencera Potter e esse parecia seu maior triunfo, pois ele vivia com seu amor e o outro tinha uma vida amorosa fracassada.

-Draco, querido, chegamos. Demoramos muito? –falou Ginny, dando um beijo de leve nos lábios do marido.

-Não muito. Eu estava mostrando para as crianças como eu sou invencível se tiver, na mão, a minha varinha! –respondeu Draco, fazendo uma pose, enquanto erguia bem alto sua varinha e assumia uma expressão falsamente séria, que era mais divertida do que qualquer outra coisa.

Fiona e Théo bateram palmas e gritaram, extasiados de orgulho. Seu pai era demais e eles seriam assim, também, num futuro próximo! Haveria expectativa melhor para sustentar?

-Mamãe, a senhora precisava ver a mágica super legal que o papai fez! Ele transformou um vaso em um castiçal! E com vela, mamãe, acesa! Foi sim, mamãe... pai, faz para a mamãe ver que eu acho que ela não está acreditando no seu poder! –não era possível identificar quem dizia cada frase, já que Fiona e Théo basicamente se atropelavam e falavam enquanto o outro fazia o mesmo, além do mais, voz de criança é muito parecida uma com a outra, mesmo sendo menino e menina.

No almoço reinou a paz. Não houve brigas e discussões iguais às da noite anterior, por mais que Draco preferisse se manter calado quase todo o tempo e Ginny falasse por ela e pelo marido, parecendo bastante afobada e atrapalhada naquele dia. A senhora Weasley parecia exageradamente gentil para com Draco, tentava ser amigável e dirigia-lhe sorrisos sempre que surgia alguma oportunidade, irritando profundamente o genro.

-Sabe, vó –falou Fiona, com um jeito adulto que era engraçado. -, você não precisa ficar sorrindo o tempo todo, sabe? Me irrita.

-Fiona! –ralhou Ginny. –Desculpe-se agora com a sua avó, menina má!

-Não, não, Ginny, não precisa. Talvez ela esteja certa. Ficar sorrindo o tempo todo pode irritar algumas pessoas e agradar a outras. É melhor eu me manter neutra.

A senhora Weasley calou-se e forçava sua boca a manter-se fechada. Ela pareceu, de repente, muito interessada nas batatas do seu prato.

-Ah, mãe, eu queria que esse dias que você está passando aqui, na minha casa, fossem inesquecíveis e maravilhosos. Mas, às vezes, tenho a impressão que você está sendo maltratada, que não estamos sendo educados com você, bons hospedeiros... –falou Ginny, dramatizando de novo. Aquilo se tornava uma mania, mas até que era bastante divertido.

-Ginny, vocês estão sendo maravilhosos, sim, minha filha! –falou a Sra. Weasley. –Eu que penso que estou incomodando, às vezes! mas eu estou adorando passar esses dias com vocês, só acho que você, Ginny, deveria tentar controlar esse seu lado dramático, minha filha! Você faz drama para tudo, choraminga, exagera, coisas chatas mesmo.

-Concordo com a sua mãe, Ginny –disse Draco, com o guardanapo em frente à boca, pois ele estava mastigando.

-Ora, o que é isso? Um complô contra mim? –perguntou Ginny, parecendo um pouco indignada. –Não faz nem cinco minutos que vocês mal se falavam e agora armam uma contra mim?

-Não, minha filha, você sabe que só estamos tentando te ajudar! Por que você não tenta se policiar com seus dramas? Por que não pede ajuda ao seu marido? Draco não negaria à você uma coisa dessas...

-Eu também quero ajudar –falou Théo.

-E eu também –dito por Fiona.

Ginny levantou-se, com lágrimas nos olhos, e exclamou que até seus filhos, crianças inocentes, estavam se envolvendo com organizações contra ela. Depois, quando já havia pensado melhor e refletido sobre o assunto, declarou que todos os outros tinham razão e que ela ficaria muito feliz se pudesse contar com a ajuda deles.

Mais tarde, Ginny convidou sua mãe para sair às compras. Molly Weasley tentou argumentar, dizendo que ela não tinha dinheiro para possuir todas aquelas coisas chiques que a filha tinha e que não podia ficar esbanjando todas suas economias daquela maneira.

-Mas, mamãe! –falava Ginny, colocando um chapéu e mirando a mãe pelo reflexo do espelho, no hall. –Eu pago para você tudo que você tiver vontade de comprar. Dinheiro não é o problema.

-Ginny, eu não vou usar o dinheiro de Draco para comprar roupas, tecidos e perfumes! –falou a senhora Weasley.

-O dinheiro não é só de Draco, viu? É meu também e ele não se importa que a nós gastemos um pouquinho. É melhor que guardar tudo, como uma família de gente egoísta e com ganância! –falou Ginny, virando-se para sua mão e sorrindo de orelha à orelha.

-Está decidido, Ginny. Não, não e não. Não quero usar seu dinheiro e está acabado, por favor, não insista.

-Certo, está combinado, então. Você só me acompanhará às compras e, se resolver, gostar de alguma coisa, é só me pedir que eu compro para você. Mas, é claro que estamos saindo sem compromisso e que você não precisa comprar algo se não quiser. Agora, vamos, que eu quero te mostrar uma loja maravilhosa, uma Perfumaria e Farmácia, que tem umas essências e lavandas deliciosas.

Já na tal perfumaria, Ginny separava dois ou três perfumes que ela iria comprar e não parava de insistir para que sua mãe comprasse algo também. Fazia ela sentir o cheiro das melhores essências e é verdade que Molly ficou tentada a aceitar a proposta de Ginny e comprar mil frascos, mas estava decidida a se controlar. No fim, usando a desculpa de não querer passar uma imagem de mal-agradecida, disse que aceitaria que Ginny comprasse um perfume pequeno, o mais barato. E, assim, a primeira etapa daquelas compras foram vencidas.

Quando chegaram à uma loja que vendia tecidos, vestidos, lenços, chapéus, luvas e outros artefatos femininos, Molly achou que não conseguiria resistir e que acabaria comprando alguma coisa. Mas, encorajada pela imagem de seu marido, dizendo-lhe, quando ela havia deixado a Inglaterra, para ela não esbanjar dinheiro nem deixar-se engraçar pelos caprichos de Ginny, ela suspirou fundo e depositou uma dose suficiente de confiança em si mesma. "E depois dizem que os filhos não podem influenciar os pais!", era isso exatamente o que Molly pensava.

A senhora Weasley estava em uma parte da loja pouco badalada e com vestidos simplórios e baratos, de segunda-mão. Ginny indignou-se com aquilo e pareceu muito zangada, dizendo que, se fosse para comprar algum vestido, que a mãe comprasse um bem lindo, "feitos com fios de ouro", disse ela, exagerando mais uma vez. Molly se encantou com um vestido de algodão branco e com um par de meias de sedas e acabou que ela não pôde mais resistir. Ginny pagou, com muito gosto, junto com luvas novas para ela mesma, que eram tantas, mas tantas que cabiam numa caixinha. Eram cerca de quatro pares de luvas, fora o leque entalhado e fitas de várias cores para o cabelo. E ela ainda levava alguns presentes e mimos para Fiona, fazendo a senhora Weasley olhá-la, como se dissesse para a moça controlar seu consumismo.

-Sabe, fico imaginando se algum dia eu terei renda em meus vestidos... –falou Molly Weasley, distraída, fazendo sua filha rir.

-Mamãe, já está acabando a tarde! –falou Ginny, quando ela e a mãe já haviam entrado em mais duas lojas. –Precisamos voltar para casa antes de anoitecer, porque hoje você precisa dormir cedo, para conseguir acordar amanhã e pegar o trem para a Inglaterra. Passou tão rápido, não é? Podia durar mais vários dias! Vários, sim...

Pela noite, quando Fiona (ela, muito contente pelos presentes que havia ganhado de sua mãe) e Théo já deviam estar dormindo, houve uma espécie de confraternização e um momento de desculpas e despedidas, etre Molly, Ginny e Draco. Todas as desavenças pareceram definitivamente superadas, assim como as brigas e as diferenças. No dia seguinte, antes da sete horas da manhã, o casal Malfoy levou a senhora Weasley até a estação, onde ela entrou em um trem, de volta para sua casa, com a mala um pouco mais pesada pelas comprinhas com Ginny, como estava também a sua consciência, por ter ido contra os conselhos de seu marido e esbanjado um dinheiro que ela não possuia.

Não é preciso relatar que as visitas de Molly Weasley à Mansão Malfoy se tornaram freqüentes e aconteciam, no mínimo, uma vez ao mês. Tudo financiado, é claro, por Draco. Mas ele não se importava em gastar algum dinheiro nessas visitas, pois elas agradavam imensamente sua esposa. E o tempo foi passando. Já estavam para completar três meses desde a primeira ida da senhora Weasley à Mansão Malfoy e ninguém imaginava que muitas novidades estavam para chegar.

N/A 2: O tour por Paris eu achei no site e apenas fiz algumas modificações. Ah, talvez o comportamento de Ginny nessa fic esteja um pouco diferente do normal, mas asseguro que é de propósito... eu tenho minhas razões para fazer isso, hehe!

N/A 3: Muito obrigada pelas reviews e e-mails que recebi depois do último capítulo. Foram de grande ajuda..=)..