Título: Aquilo que é vital

Autora: Miss Lyric

E-mail: miss_lyric_fic@yahoo.com.br

Sinopse: Continuação de "Amor, o refúgio das almas". Se passa várias anos depois de Hogwarts. Draco e Ginny estão casados e com filhos, vivendo uma vida tranqüila e feliz num belo lugar na França. Seu amor é ameaçado quando os problemas cotidianos parecem maiores do que a disposição para superá-los. Meio à esses contratempos, eles tentam provar a todos, especialmente a si mesmos, que o amor é, sim, tudo o que precisam para fazer da vida o que eles sempre sonharam.

Disclaimer: Nenhum dos personagens me pertencem. Eles são de J.K.Rowling, que tem todos os direitos sobre eles. Essa fan fic não foi escrita com fins lucrativos. Somente por diversão.

N/A: Eu considero necessário ler a fic que antecede essa, que se chama "Amor, o refúgio das almas". Se quiser arriscar, vá em frente, mas creio que algumas passagens ficaram confusas, etc. No mais, espero que gostem. Adoraria receber reviews e e-mails com o comentário de cada um.

5º Capítulo

Novidades já consumadas

-Ora! Mas isso é um absurdo! –exclamou Ginny, numa manhã ensolarada, enquanto analisava as correspondências destinadas à sua pessoa, andando de um lado para o outro, parecendo irada, zangada de verdade. –Meu pai está se tornando muito rabugento e cruel, tenho que lembrar de dizer isso para ele na próxima voz que encontrá-lo!

-O que foi agora, Ginny? –perguntou Draco, com um robe azul, tomando um café e lendo as notícias do Profeta Diário.

-Mamãe me escreveu! Acredita que meu pai está ficando aborrecido por eu estar presenteando minha mãe com coisinhas à toa toda vez que ela vem aqui? Não é um absurdo? Por que eu não posso mimar minha mãe, se foi ela que cuidou de mim por toda a vida? Diga-me, porque eu não consigo entender. Ora! –dito com impaciência.

-Ah, Ginny, talvez seu pai se sinta meio, digamos, incapaz, porque não pode mimar a esposa como você faz e teme que ela se acostume com o luxo e que seja, bem... que isso seja... perigoso. Se é que você me entende...

-Pois eu me lembro da primeira vez que mamãe veio aqui –disse Ginny, jogando a carta de Molly em cima da mesa e caindo sobre uma cadeira, parecendo cansada. –Quando mamãe voltou para a casa dela, lembro-me que ela me escreveu dizendo que meu pai havia ficado chateado porque eu havia presenteado-a, o que é loucura, afinal só estou oferecendo à mamãe uma vida mais luxuosa, que ela nunca teve e não entendo que mal há nisso. Ele queria até que ela devolvesse todos os presentes! –depois de uma pausa, ela continuou: -Quer saber? Continuarei a fazer o que acho certo e não me importo que papai descorde do meu modo de viver. Não me importo.

Draco não pôde responder, porque naquele momento havia engasgado com o café, parecendo espantado.

-O que foi, Draco? O que aconteceu? –perguntou Ginny, com aflição, e levantando-se para ir junto ao lugar do marido.

-Ginny, leia essa notícia. –falou Draco, indicando um texto, impresso com letras bem pequeninas (menores que as dos outros textos, aliás) no Profeta Diário.

Dizia assim:

TERROR E PÂNICO AMEAÇAM A TORNAR A DOMINAR O MUNDO

Foram descobertos – no último dia dezessete – vestígios de que um novo e terrível poder ameaça atormentar a tranqüilidade de todas as pessoas ao redor do mundo. Tais vestígios – um número absurdo pessoas mortas cruelmente, atingidas com Maldições Imperdoáveis e a projeção da Marca Negra no céu de vários pontos importantes no planeta – levam as autoridades de todos os principais Ministérios da Magia a crer que um novo Sabe-Se-Quem-É está surgindo. Foi gerada uma preocupação com a série de conseqüências drásticas que ocorrer caso o surgimento de um outro ser como Aquele-que-não-deve-ser-nomeado não seja desmentido – ou, ainda – caso esse ser das trevas não seja derrotado, antes de conseguir aliados e ainda mais poder.

Acredita-se que o novo Sabe-se-quem-é não é o mesmo que no passado foi derrotado, após inúmeros e terríveis feitos. Essa crença, no entanto, ainda não apresenta razões convincentes para que se acredite que ela é verdadeira, porque – como todos sabemos – Você-Sabe-Quem nunca chegou a ser morto, apesar de que poucas pessoas sabem o que realmente aconteceu a ele. Esse ser que começa a expandir seu poder parece ser igualmente cruel a Aquele-que-não-deve-ser-nomeado – isso se eles não forem a mesma pessoa. Há suspeitas, também, de que que ele possa ser algum antigo Comensal da Morte, que não tenha sido derrotado pelos aurores, por Alvo Dumbledore ou por Harry Potter, por mais que haja um número grande de pessoas afirmando que nenhum comensal poderia ter conseguido tanto poder quanto seu antigo mestre.

Aurores já se colocam a postos, caso seja preciso travar uma batalha, como aconteceu a alguns anos atrás, contra o mal. Tempos de guerra poderão chegar, é o que se suspeita, e bruxos ao redor do mundo já se colocam a postos e à disposição da comunidade para – se for preciso – confrontar contra o mal, novamente.

Enquanto isso, o medo toma conta de todos os lares de bruxos, em especial os ingleses – os mais afetados na última guerra, fazendo com que alguns não saiam de casa, a não ser que seja necessário. Especula-se que haja muitas pessoas envolvidas nessas mortes e aconselha-se tomar cuidado e relatar qualquer evento de estranha essência às autoridades.

Da redação

Ginny olhou preocupada para Draco que mantinha constante uma expressão séria, recolhendo as sobrancelhas. Ele colocou sua mão em volta da dela e apertou forte, apreensivo. Ela parecia não perceber e falou:

-Draco... será que isso é verdade?

-Ginny –ele respirou fundo. –, o Profeta Diário é um jornal sério. Não brincaria com uma assunto tão importante, chérie –ela concordou com a cabeça. –Você reparou que voltaram a não nomear o Lorde das Trevas? Você reparou?

-O terror está voltando, Draco. As pessoas estão ficando com medo, algumas apavoradas e o jornal deixa isso bem claro. Eu tenho medo que nossos filhos tenham que viver em um mundo de maldade e guerra. Eu tenho muito medo.

Draco apertou mais forte ainda a mão da esposa e eles não tocaram mais naquele assunto.

Era engraçado e estranho o jeito atrapalhado que Ginny assumiu naqueles dias e até um pouco preocupada, aflita e ansiosa. Por onde ela passava, derrubava um objeto e, se falavam com ela, ela deixava de responder e sua atenção ficava dispersa e ela sorria, com lágrimas nos olhos. Parecia sensível a diversos assuntos, mas, ao mesmo tempo, encorajada por alguma razão obscura aos olhos de seu marido, seus filhos e seus amigos. Draco havia questionado à esposa se ela estava assim por causa da notícia do comentado e bastante especulado ressurgimento das trevas, mas ela negava, distraidamente, e voltava a sorrir, toda boba, e a cantarolar. Ela estava calma e mais serena, ao mesmo tempo que parecia afoita e perdida. E aquilo começou a incomodar e a encantar a todos, fazendo daquela casa um centro de contradições, dúvidas e expectativas confundidas.

"Mamãe está estranha", era o que comentavam Fiona e Théo. Crianças são sensitivas e conseguem perceber as coisas mais rapidamente, mas na maioria das vezes não conseguem associá-las a fatos reais. Eles tinham uma idéia do que estava acontecendo e alguns indícios, que só algumas pessoas poderiam enxergar, enquanto se espreitavam pelas paredes, mas a ingenuidade e não desenvolvido raciocínio não permitiam que elas associassem tudo o que ouviam e, assim, descobrissem exatamente o que acontecia com sua mãe. Faltava prática, indiferença e astúcia, mas eles ainda conquistariam tais características. Era só esperar o tempo passar.

Já os criados da casa, em especial, os mais fofoqueiros, comentavam pelas costas de sua patroa o quanto ela estava estranha e especulavam mil e uma razões para esse comportamento, que cresciam e se tornavam cada vez mais irreal. "Encantamento? Pode ser isso", calculavam uns. "Ela arranjou um amante, está traindo o marido! Nunca poderia esperar isso de madame", sugeriam outros. Havia também razões mais justas e prováveis, mas Ginny nunca viria a ter conhecimento sobre elas.

Mas havia uma pessoa na casa, somente uma, que tinha idéia quase exata do que estava acontecendo, pelo o que observava, ouvia, sentia. Margot não comentava com ninguém, nem com a patroa, enfim, guardava para si qualquer conclusão que houvesse lhe ocorrido. Era uma notícia boa, ela sentia, algo bom e prazeroso, e achava que todos na casa ficariam muitos felizes ao ouvir a novidade, não dependendo de quando ela fosse contada, "revelada ao público". E ela estava certa nas suas suposições.

Um mês após a notícia bombástica do suposto ressurgimento das trevas, Ginny havia comunicado a todos que gostaria que eles esperassem por ela, depois do almoço, na sala principal. Ficou entendido, então, que ela contaria o que estava ocorrendo. E os nervos ficaram à flor da pele, uma adrenalina gostoso corria solta pelos corpos e as pessoas ficaram nervosas, porque não tinham certeza se a novidade seria boa ou ruim. E, era dessa última, que eles tinham medo.

E estavam todos lá. Os criados, juntos em um canto, em pé, os menores tentando se esconder atrás dos maiores. Jardineiro e alguns outros empregados colocavam a cabeça do lado de fora para o lado de dentro, pela janela e esperavam, espreitando-se para conseguir um lugar mais confortável. Margot, sendo a principal criada e a mais próxima da família, sentava-se em uma poltrona, ao lado da lareira, e analisava e lixava as unhas, despreocupadamente (ou, pelo menos, tentando passar essa imagem para os demais). Fiona e Théo, por um milagre divino, haviam se tornado criaturas extremamente silenciosas e calmas, e, naquele momento, estavam sentados na beirada do sofá, balançando as pernas para lá e para cá, com visível aflição. Draco Malfoy, o mais nervoso presente, andava de um lado para o outro e suava, tamanha a sua apreensão. Passava a mão no cabelo, todo o tempo, olhava para a porta e soltava exclamações preocupadas. Os comentários que fazia reveleram um homem que poucos conheciam – nada indiferente e extremamente volúvel.

Foi então, naquele momento em que todos tinham os nervos à flor da pele, que a porta imensa de madeira daquela sala foi aberta. Ginny Weasley manteve-se parada, na entrada, durante alguns segundos, analisando todos os rostos das pessoas que na sala estavam e sorrindo para cada uma delas, tentando tranqüilizar aquela gente aflita. E, por último, seu olhar cruzou com o de Draco e ela pôde reparar na preocupação e no nervosismo que o marido sustentava. "Pobre Draco", pensou ela, "não queria preocupá-lo". Ela não conseguiu sorrir para ele, apenas mantinha uma expressão limpa e ilegível, culpando-se por não poder acalmá-lo.

-Que bom que estão todos aqui –falou, enfim, Ginny, fechando a porta da sala atrás de si e mordendo o lábio inferior. –O que eu tenho para dizer é realmente muito importante e eu ficaria imensamente grata se não fosse interrompida, até que eu concluísse o que preciso falar. Poderia ser?

Todos fizeram um sinal positivo com a cabeça.

-Ótimo –falou Ginny, andando bem devagar, serpenteando entre as cadeiras, poltronas, sofás e mesas daquela sala, passando do lado de cada pessoa. Parou na frente de Draco, fixando seu olhar no dele por algum tempo. Depois, retornou com seu andar e sua explicação. –Como todos devem estar sabendo, há uma ameaça de que as trevas estão por retornar e que o mal tem conseguido poder em todo mundo, em especial na Europa – como aconteceu há alguns anos e que eu tenho certeza de que todos vocês ou sabem a respeito ou vivenciaram isso. Um antigo Comensal da Morte viria conduzindo tudo isso, deduzem alguns, mas... bem, eu não creio. Nunca houve um Comensal da Morte que dominasse tanto a magia negra quando o verdadeiro Lorde das Trevas, então nenhum dos seus seguidores poderia se tornar um Vocês-Sabem-Quem, pelo menos, essa é minha opnião, correta ou não. Eu penso que há alguém novo ou o mesmo de alguns anos... que acabou de surgir ou ressurgir... que não participou da última Guerra ou que a causou essa guerra que, pensávamos todos, tivéssemos vencido. Esse bruxo ameaça a tranqüilidade do mundo e, sim, eu estou com medo. Muito.

-Sim, Ginny, nós sabemos disso. Mas qual é a notícia que você precisa nos dar? –perguntou Draco, com impaciência.

-Draco, por favor, não me interrompa –disse Ginny, com certa autoridade. –Isso não tem nenhuma ligação com a notícia que eu preciso passar à vocês, não diretamente. Eu estou repetindo tudo isso que vocês já sabem, porque são essas ameaças que retardaram o anúncio que farei agora. Sim, era para eu ter contado isso à vocês todos há, digamos, cerca de quatro semanas, mas não pude e peço desculpas por ter causado tantas preocupações nesse tempo, e gerado tantas questões sobre o meu mistério. Eu precisava me preprara para esse momento que estamos vivendo. Peço que esperem por mais um instante, que eu já estou chegando ao ponto principal da conversa... bem, por todos esses problemas com o novo Lorde das Trevas, eu fiquei com medo. Tenho duas crianças pequenas para cuidar e não queria que elas crescessem num mundo de guerras e em tempos tão terríveis, porque eu passei a minha juventude assim e sei o quanto pode ser traumatizante. E já me preocupo demais com dois filhos tencionados a viver meio à guerra e fiquei um tanto quanto deprimida quando soube da notícia. Tudo o que eu menos precisava era mais preocupação, de mais crianças para tomar conta –depois de uma pausa, continuou, encarando Draco de frente, com um ar de culpa: -Draco, eu estou grávida.

Draco não conseguiu expressar qualquer reação por palavras. Jogou seu corpo no sofá, ao lado dos filhos, e, enquanto suspirava, alisou os cabelos com as mãos e assumiu um ar preocupado, semelhante à expressão de seu rosto. Depois de refletir por um tempo, sorriu, com alegria, muito alegria e levantou-se, abraçando Ginny:

-Grávida? De novo? Quero dizer... você está grávida, você vai ter mais um filho. Nós vamos ter mais um filho! Mais um, mais um!

Ginny soltou-se do abraço. Não estava alegre como estava Draco, tampouco demonstrava como se estivesse. Não – ela parecia lamentar aquilo tudo.

-Bem, você sabe, a medicina bruxa é muito evoluída. Eu estou grávida de sete semanas, mas já podemos ver quantos bebês serão.

-Como assim, quantos bebês? É só um... não é? –dito num misto de ansiedade e, incrivelmente, mais alegria ainda.

-Na verdade, são dois. Um casal.

E então, naquele momento, todos os presentes pularam. Pularam, comemoraram, se abraçaram e exclamaram o quanto reconfortante era aquela notícia e o quanto bem aquelas crianças seriam recebidas. Oras, mais filhos, mais pureza, mais alegria! Perfume de bebê, choros de madrugada, a primeira mamadeira, as primeiras palavras! Quantas coisas boas estavam por vir, que delícia que seria cuidar dos Malfoy que estavam vindo, como aquelas crianças eram amadas, mesmo antes de nascer! Como eram queridas!

-Um novo irmão e uma nova irmã! Oba! –gritavam Fiona e Théo, abraçando um ao outro.

-Eu sabia... eu desconfiava que esse era o segredo! Eu tinha certeza, eu sabia! –gritava Margot, enquanto algumas lágrimas corriam por seu rosto, e seus lábios se contorciam em um sorriso que, como costuma-se dizer, ia de orelha à orelha.

Entretanto, alguém na sala não parecia tão animada e extasiada de alegria por causa daquela novidade. Ginny tentava silenciar a todos, precisava continuar com o seu falatório, oras, será que não podiam parar de gritar? Quando finalmente as pessoas ficaram mais calmas, Ginny pôde dizer:

-Eu sei que, à primeira vista, tudo parece maravilhoso e eu, quando tive certeza de que estava mesmo grávida, fiquei assim como vocês, acreditem. Mas, depois, quando pensei sobre o assunto, percebi que nem tudo são flores. Meus filhos vão nascer no meio da guerra, vocês já pensaram nisso? Já não bastassem dois para proteger e afastar das trevas, agora serão quatro. Quatro! Eu estou com medo, por mais que esteja feliz de ter mais filhos... porque é sempre reconfortante ter crianças para te alegrar quando está triste, ou quando o dia está nublado e tudo parece dar errado.

-Vai dar tudo certo, Ginny. Eu vou estar aqui, para te ajudar sempre –falou Draco, abraçando a esposa. –Será que todos vocês podem me deixar à sós com minha mulher por alguns instantes? –ao dizer isso, todos na sala (exceto Fiona e Théo) saíram de lá, parecendo bem mais felizes do que quando haviam entrado. –Vocês dois também! –disse Draco para os filhos, que partiram da sala, muito contra suas vontades e resmungando algumas palavras que, em outras ocasiões, teriam resultado em vários meses de castigo.

Draco abraçava Ginny muito forte, tentando acalmá-la e fazer com que ela se sentisse acolhida. Ele podia imaginar e reconhecer a tensão que aquela gravidez causava nela e que era maior do que a alegria de ter mais filhos. Entretanto, por mais que Draco se esforçasse, Ginny não dava sinais de se tornar menos atormentada, muito pelo contrário, ela parecia cada vez mais nervosa e desamparada.

-Ginny... chérie, fique calma... por favor... –Draco implorava quando a esposa depois que a esposa tinha começado a chorar, em silêncio. –Vai ficar tudo bem... nós estamos juntos, isso é o que importa... só o nosso amor, as crianças e nada mais. Nada mais... além do que, a guerra não tem confirmação de que vá mesmo acontecer... pode ser que não se realize e que tudo volte ao normal, sem precisar de confusões maiores. Ainda há essa possibilidade... essa esperança... é nela que devemos nos apoiar, senão acabaremos ficando loucos. É sério, Ginny, não deixe ser levada à loucura e, pelo amor de Deus, não deixe a mim doido... agora, vamos nos acalmar... por favor –sem conseguir resultados positivos aos seus pedidos, Draco começava a se desesperar também. Seu autocontrole se mostrava adormecido, enquanto seu lado mais emotivo e descontrolado parecia estar muito bem acordado e pulando, gritando, tornando-se maior e mais dominador. Ali, Draco era só cólera, era só furor. E ele ameaçava chorar também, o que tocou Ginny.

-Ah, Draco, eu não queria causar isso tudo. Pode ser exagero da minha parte, talvez seja, e eu posso estar agindo como uma criança, sendo muito infantil, mas é que essa guerra me aterroriza... você pode me entender? Pode? Eu acho que sim... –falou Ginny, com muito sentimento.

Eles se soltaram do abraço, mas mantinham as mãos dadas, juntas, segurando com muita força, para que ninguém pudesse separar.

-O estranho é que me sinto mais mexido com a notícia dos filhos do que com a notícia da Guerra. É mais importante para mim... –falou Draco. –A Guerra tem sua importância, mas eu não quero ter medo dela... não quero pautar minha vida em cima disso –secou as lágrimas da esposa com os dedos, sorrindo. –E você?

-Eu também não quero –disse Ginny sorrindo. Ela e Draco se beijaram e decidiram que fariam de tudo, sempre, para proteger os filhos. E aquele foi o decreto final.

Em dois meses, a atmosfera da casa havia sido tomado por uma alegria pura e, se alguém de fora aparecesse, estranharia ver todos lá dentro sorrindo, sem parar nenhum instante.

Ginny, como uma mulherzinha apressada e desocupada, passava os dias preparando o enxoval para cada novo bebê e saía às compras todas as tarde, e nunca parecia satisfeita: arranjava sempre algum detalhe, alguma coisa que ainda não havia sido comprada e lá ia ela, junto com Margot, bater pernas por toda Paris. Era tudo tão perfumado, o cheiro das roupinhas, das chupetas e de todas as mamadeiras tomava conta do ambiente e todos pareciam embriagados com aquela sensação, de que a vida estava se renovando e que muitas coisas boas estavam por vir, aquelas eram as suas esperanças e desejos maiores.

Draco parecia atribulado de pensamentos e constantemente se envolvia em discussões com a esposa para decidir os nomes do novos Malfoy que estavam por vir. E eles pareciam não concordarem nunca, o que era realmente muito esquisito.

-O que você tem contra Louise? É um nome bonito –Draco disse aquilo em uma briga pelo nome da menina.

-Ah, não sei... eu só não quero e pronto. É um nome lindo, mas eu sinto que a minha filha, ou melhor, a nossa filha não terá um rosto que combine com isso... ah, não quero e está acabado –responde Ginny, dobrando um casaquinho de lã rosa, bem clarinho.

-Mas eu quero Louise e não está acabado coisa nenhuma. Se, pelo menos, você sugerisse um nome razoável, mas não, anda fissurada com esquisitices.

-Eu realmente gosto de Agatha e quero esse nome –dito com convicção.

-Agatha, não! Não tenho nada contra, mas penso que Louise combina muito mais com essas roupinhas que você comprou.

-Ora, que argumento mais vazio! Agatha é forte e inesquecível, pelo menos, eu acho, e acho também que combinará perfeitamente com nossa herdeirazinha.

-Louise é delicado e igualmente inesquecível. Já posso até imaginar nossos dois filhinhos aprendendo a andar pelo jardim. Louise sendo ajudada por Thomas e eles brincando...

-Louise e Thomas? Por favor, Draco... eu posso imaginar Agatha e Danny aprendendo a andar pelo jardim e fazendo várias brincadeiras...

-Louise e Thomas farão brincadeiras...

-Você está sendo inflexível!

-Somente como você, chérie.

-Mas, sou eu que estou grávida, os filhos estão no meu ventre! Eu tenho o direito de escolher os nomes por causa disso! E eu já desisti do nome Agatha.

-Até que enfim! Já estava achando que brigaríamos feio por causa disso. Demorou para você perceber a graciosidade do nome Louise e aceitá-lo.

-Que Louise, que nada! Minha filha se chamará Marjorie.

-O quê? –exclamou um Draco perplexo. –De jeito nenhum!

E aquilo se repetia todos os dias.

Fiona e Théo, à primeira vista, pareciam bastante excitados e contentes com a chegada dos novos irmãozinhos. Tentavam participar ativamente da compra das roupinhas para os bebês e na escolha dos nomes dos mesmos, mas a exaustão e o tédio pareciam tomar seus pequenos corpos todas as vezes que decidiam exercer suas funções de irmãos mais velhos e mais responsáveis. Entretanto, eram só crianças por demais entusiasmadas, que tentavam atrair a atenção dos adultos, quando se sentiam ignorados.

-Théo! –Fiona estava do lado de fora do quarto do irmão e chamava por ele com notável discrição e sua voz se prolongava na penúltima letra do nome dele. –Théo!

-Que foi? –respondeu uma voz do lado de dentro do quarto. –Eu 'tô com sono...

-Théo! –insistiu Fiona. –Abre a porta...

Um barulho, seguido de outro e mais outro e mais outro. Eram os passos de Théo, andando até a porta do seu quarto, para abri-la para a irmã. Chamar esse som de barulho é extravagância, porque seu corpo parecia encostar de leve no chão, tão pouco pesado era.

Ele não chegou a abrir toda a porta, somente uma fresta, pela qual colocou sua cabecinha, examinando o lado direito e esquerdo daquele corredor, para ver se não havia mais ninguém ali. Na sua frente, Fiona parecia angustiada e um pouco impaciente:

-Vamos, Théo, me deixa entrar logo, de uma vez! –falou ela, um tanto alto.

-Shh! –mandou ele, pedindo silêncio. –Mamãe e papai podem acordar e aí nos estaremos encrendados!

-Eu já te falei que não é encrendados! É endrencados, Théo! Seu burro! –dito com superioridade infantil.

-Não é não, sua boba! É entrencados!

-Não é!

-É, sim!

entrendacos!

E eles continuaram por alguns minutos, não mais preocupados se seus pais estariam ouvindo aquela discussão infame. As crianças nem notaram, por exemplo, um barulho de passos largos e firmes estarem sendo marcados no chão, indo em direção onde os pequenos Malfoy estavam.

encrencatos! –gritou Théo, por fim.

-Sinto decepcioná-lo, Théo –falou uma voz masculina, cujo corpo surgia em cena naquele momento -, mas não é nada disso. Você chegou perto, sabe? É uma pena, realmente, mas vocês, vocês dois –completou, passando os olhos por Fiona. –estão encrencados.

Théo e Fiona se encararam, decepcioná-los. Baixaram a cabeça, sem mais forças para uma nova discussão, nem para se rebelar perante a sentença do pai.

-Vocês têm idéia de que horas são? –perguntou Draco, cruzando os braços frente ao peitoral e exibindo um sorriso irônico. –Posso adiantar que é muito tarde, muito tarde, é hora de crianças levadas estarem dormindo! Ou vocês não sabem que sua mãe precisa de repouso, hein? Não sabem? Ela precisa dormir sem ser incomodada e foi muita sorte ela não ter acordado. Vocês querem que os bebês já nasçam estressados? –essa última frase foi dita com o sarcasmo que era peculiar em Draco.

-Non, papa, non! –dito, com urgência, por Théo.

-Então, tratem de fingir que têm respeito pelas outras pessoas da casa!

-Eu só queria conversar com o meu irmão... por favor, papa, a gente promete não fazer mais barulho! –falou Fiona, fazendo um bico de choro, seus olhinhos enchendo de lágrimas.

Draco passou o olhar por seu Théo, depois por sua Fiona, e repetiu isso algumas vezes. Parecia estudar o pedido da filha. Suspirou, vencido.

-C'est bien! –falou, quando o olhar dos seus filhos pareciam atravessar seu corpo como um Avada Kedavra. –Mas só alguns minutos, e depois volte silenciosa para o seu quarto, mocinha. E não pensem que eu esqueci do castigo de vocês, mas, sobre isso, falamos amanhã –dada a sentença final, Draco deu meia volta e retornou ao seu quarto, evitando fazer barulho para não acordar a esposa.

-Entra logo, sua chata! –falou Théo, puxando a irmã para dentro do seu quarto pela mão.

O cômodo estava levemente iluminado, só algumas velas acessas, porque Théo não gostava de dormir numa absoluta escuridão, queria saber o que se passava à sua volta. De outra forma, como ele saberia se um monstro não o atacaria, quando ele estivesse de costas?

A cama era grande demais para Théo, mas Fiona não chegou a reparar, já que a dela própria era daquele jeito. A maior parte dos brinquedos de Théo estavam jogados, sem o menor cuidado, dentro de um imenso baú, de onde só alguns, com maior sorte, sairiam um dia. Os outros cumpririam sua sina, de divertimento temporário de um menino rico e mimado, e logo seriam esquecidos, sem a menor compaixão. Os novos brinquedos, os mais legais, mais modernos, mais bonitos, estavam expostos em duas prateleiras, na parede à direita da janela. E, como era habitual e esperado, mais alguns estavam no chão, obrigando as duas crianças a desviarem, com atenção, deles e andarem pelos espaços que haviam sobrado.

Sem receber convite algum, Fiona se acomodou na cama de Théo, e ele não ficou muito satisfeito com isso:

-Sai da minha cama!

-Pára de reclamar e vem logo aqui.

Muito contra sua vontade, Théo obedeceu a irmã e sentou-se ao lado dela na cama. Eles se encararam, com raiva no olhar. Fiona foi a primeira a falar:

-Eu odeio aqueles bebês! –referindo-se aos novos irmãozinhos.

-Eu também! –concordou Théo.

-Ninguém mais liga para a gente... e quando eles nascerem vai ser pior!

-Muito pior... parece que não somos nada!

-Esses bebês não podem nascer...

-A gente não vai deixar que eles roubem nossos pais, não é Fiona? –perguntou Théo, com apreensão no olhar.

-Nunca –dito com ferocidade. –Eu odeio eles mais que tudo e você?

-Também! Mas a gente não pode fazer nada...

-Eu sei... que raiva!

Depois de muito reclamarem sobre os novos bebês, alegando estarem sendo deixados de lado por seus pais por culpa daquelas pessoinhas que ainda não haviam nem nascido, Fiona e Théo adormeceram, derrotados e exaustos, e ela nem chegou a voltar para o seu quarto.

-Já soube o que os dois andaram aprontando, ontem à noite –falou Ginny, levantando os olhos do seu prato para encarar os filhos, que chegavam à sala de jantar, para o desjejum, naquele exato momento –Muito bonito, não é? Encontros de madrugada, discussões, barulho. O que vocês estavam pensando?

-Desculpa a gente, mamãe... –falou Fiona, sentando-se em uma cadeira, na frente de Ginny.

-É, mãe... não deixa o papai castigar a gente, não...

Draco, que até aquele momento não havia falado nada, pareceu perplexo com o pedido do filho.

-Isso é um absurdo! –falou, encarando a esposa. –Não permita que eles saiam ilesos disso tudo. Não os deixe mais mimados ainda, isso é, se for possível.

-O pai de vocês está certo, queridos –falou Ginny, com um aperto no coração. –Vocês se mostraram crianças muito malvadas neses últimos tempos, o que está havendo? Vocês precisam aprender, de uma vez por todas, a ter respeito pelas outras pessoas.

Théo soltou alguma frase em uma voz tão baixa que cada pessoa entendeu que ele estava falando uma coisa diferente. O que ele havia dito, na verdade, era "agora eu já 'tô bonzinho", com lágrimas nos olhos.

-E o castigo será leve, pois tenho coisas mais importantes a me preocupar, agradeçam por isso –Draco se esticou um pouco para colocar a mão sobre a barriga da esposa. –Vamos ver nossos bebês hoje... temos um consulta marcada com a médi-bruxa da mãe de vocês. Mas vou recomendar à Margot que não deixe que vocês comam doces e guloseimas hoje e amanhã. E isso poderá durar por mais alguns dias, dependendo do comportamento que vocês terão.

-É melhor vocês se apressarem, mounsier, madame –quem falava era Margot que tinha acabado de chegar na sala de jantar. –Ou chegarão atrasados na consulta.

-Está certo, chérie, já estamos indo –falou Ginny, levantando-se e levando Draco junto com ela. –Se comportem, crianças –gritou, quando estava no hall, quase partindo para o consultório da médi-bruxa.

Draco aparatou junto com Ginny, pois achou que ela não deveria fazer nenhum esforço. Eles foram parar na sala de espera no consultório e se apresentaram para a recepcionista.

-Já têm consulta marcada? –perguntou a mulher, que parecia um tanto quanto vulgar, o que podia ser uma falsa impressão que a pinta acima dos seus lábios causava. –Porque se não têm, terão que voltar outro dia. A doutora Amelie está com a agenda lotada. Lo-ta-da.

"Mon Dieu, como ela fica ainda mais ridícula enquanto fala", pensaram Draco e Ginny ao mesmo tempo.

-Não se preocupe –respondeu Draco, falando francês, igual à recepcionista. –Temos essa consulta marcada à semanas. Procura aí –disse, apontando para o caderno que a mulher rabiscava. –por senhor e senhora Malfoy.

A mulher não pôde conter uma leve exclamação de espanto. O nome Malfoy continuava a intimidar as pessoas, afinal.

A recepcionista tirou sua varinha de dentro de seu decote, falou algumas palavras em latim, apontando para o caderno. As folhas começaram a virar sozinhas, numa velocidade incrível, até pararem na página onde estava escrito:

"Dezessete de junho de 1996;

às dez da manhã;

família Malfoy;

dezesseis semanas de gestação;

gêmeos"

-É, vocês marcaram mesmo consulta –falou a recepcionista, mostrando um sorriso forçado. –Esperem sentadinhos ali, naquele sofá, que a doutora Amelie já irá atendê-los, queridinhos.

Draco e Ginny fizeram o que a mulher havia sugerido. Sentaram no tal sofá e esperaram imóveis, com medo que qualquer movimento pudesse fazer a recepcionista voltar a falar.

A sala de espera estava quase vazia. Haviam só mais um casal além dos Malfoy, que pelo jeito havia chegado muito antes do horário de sua consulta. A mulher já estava com uma barriga grande, devia estar com quase seis meses de gravidez. Parecia pouco confortável naquele ambiente, as paredes em tons pastéis, com móveis discretos, o perfume de flor quase imperceptível destoavam de maneira tão violenta da vulgaridade da recepcionista e isso afrontava o bom senso e a tolerância das outras pessoas ali presentes.

A porta do cômodo onde as pessoas eram examinadas foi aberta, algum tempo depois. De lá dentro, saiu uma menina, bem novinha, com no máximo vinte anos, acompanhado por um rapaz que mais parecia mais um franguinho. Ginny lembrou-se de quando havia ficado grávida de Fiona e sorriu, tomada por um saudade gostosa. Será que não era daquela maneira que as pessoas enxergavam ela e Draco, naquela época, tão novos, e já casados, à espera do primeiro filho? Será que tudo o que eles transmitiam naqueles tempos era uma irresponsabilidade divertida e uma vontade muito grande de se provarem capazes de fazer tudo que quisessem? E que, apesar dos esforços, todos haviam enxergado os dois como duas crianças inconseqüentes e malucas, que haviam perdido o juízo? Ginny balançou a cabeça, saudosa, ao ter certeza de que a maneira que naquele momento ela encarava aquele outro casal, pai e mãe tão jovens e imaturos, era como ela e Draco haviam sido encarados, há alguns anos.

-Agora entendo porque nos chamaram de malucos naquela época –cochichou Draco, para sua esposa. Ela sorriu em resposta.

A recepcionista se levantou, entrou na sala da médi-bruxa e, quando voltou, informou:

-Senhor e senhora Malfoy, façam o favor de entrar. Doutora Amelie espera por vocês.

Draco e Ginny levantaram do sofá e andaram, a passos largos, até a sala da médi-bruxa. O vestido que Ginny estava usando na ocasião deixava à mostra sua barriga de quase quatro meses de gestação e foi a primeira vez que Draco reparou que ela estava maior. Os dois pararam na porta da sala e puderam ver a tal Doutora Amelie. Era um mulher baixa, muito magra, que devia ter cerca de quarenta anos. Ela usava um óculos tão grande que se tinha a impressão que o rosto dela era muito menor do que era na realidade. Seu jaleco branco encostava em seus calcanhares, era bem comprido, e as mangas tinham que ser dobradas para não atrapalhá-la. Ela sorriu simpática ao ver Draco e Ginny e os convidou, gentilmente, para entrar.

-Como vão, senhor e senhora Malfoy? –perguntou, quando o casal já estava sentado, frente à ela.

-Muito bem –respondeu Draco.

-E os bebês...?

-Ótimos –falou Ginny, com um sorriso. –Eles estão começando a se mexer com mais frequência nos últimos dias.

-Isso é normal, não se preocupe. Os movimentos podem ser sentidos por você, muito discretos, muito leves, dependendo da sensibilidade da mamãe. E, pelo jeito, você é bastante sensível.

Ginny sorriu.

-Acho que sim –respondeu ela. –Quando peço para Draco sentir os bebês mexendo, ele não sente nada.

-E continuará assim por mais algum tempo, querida –falou a doutora.

-E quando eles vão nascer? –perguntou Draco.

-Bem, vejamos... –a médi-bruxa, contou nos dedos. –São, geralmente, quarenta semanas de gestação... você está entrando na décima sétima... creio que eles nascerão na segunda semana de novembro. Mas, como são gêmeos, podem chegar um ou dois meses antes.

-E isso poderá gerar problemas no futuro? –perguntou um Draco aflito.

-Não precisam se preocupar. Nós tomaremos todas as providências necessárias e os bebês serão saudáveis, certamente. Além do mais, a medicina dos bruxos está num estágio muito avançado, quase beirando a perfeição absoluta! –os três riram. –Ora, mas que esnobe que estou sendo!

-Nada disso, doutora –falou Ginny, simpática.

-Estou sim. Mas, deixemos isso de lado. Vamos ver os bebês, tão amados, tão queridos, mesmo antes de terem nascido? E, caso dúvidas forem surgindo, não hesitem em buscar respostas para elas!

A doutora Amelie pegou sua varinha, depositada sobre sua mesa, e apontou para Ginny. Sorriu, reconfortante. Algumas palavras, movimentos com a varinha e Ginny rodopiou uma ou duas vezes. Ao parar, sua roupa estava depositada em um cabide de um canto da sala e ela vestia um avental branco, de algodão.

-Esses truques facilitam minha vida –declarou a médi-bruxa, assoprando a ponta da varinha. –Venha, Ginny, vamos para uma outra salinha ver como estão nossos queridinhos...

Os três entraram em um outra sala, pequena se comparada com a principal. Havia uma maca, duas cadeiras e só. a doutora Amelie mandou que Ginny se deitasse na maca, enquanto ela e Draco se sentariam nas cadeiras.

Ginny esperou por alguns momentos, enquanto a médi-bruxa passava uma espécie de gel na sua barriga, explicando:

-Nosso método parece com o dos trouxas, mas é muito mais avançado e potente. Podemos ver com mais exatidão e nitidez os rostinhos dos bebês –Ginny sorriu divinamente. –Seus dedinhos, bracinhos... é lindo! Não há quem não se emocione, posso garantir.

-Não vejo a hora... –murmurou Draco.

-Onde que vai aparecer a imagem dos bebês? –perguntou Ginny, pois havia estranhado o fato de não haver nada mais naquela sala, nenhum tipo de telão ou algo como isto.

-Não seja tão ansiosa! –respondeu a médi-bruxa, rindo.

-Na época que eu fiquei grávida dos meus dois primeiros filhos, colocaram um aparelho na minha cabeça e na do Draco e nós enxergávamos, internamente, os bebês... só em nossa mente, sabe? –explicou Ginny.

-Que coisa mais atrasada! –falou a doutora, apontando com a varinha para a barriga de Ginny. Girou-a algumas vezes, falou algumas palavras e depois apontou para um espaço vazio, frente ao rosto dos três naquela sala. Um imagem surgiu no vazio e era possível ver os bebês se mexerem. –Olha, olha que gracinha!

-Ah, meu Deus!, ah, meus Deus! –gritou Ginny, com lágrimas nos olhos.

-Nossos filhos, Ginny, olha só eles! –falou Draco, rindo feito criança. –Algum deles está fazendo uma careta! Só podia ter meu sangue...

-Nessa época, os bebês mantêm as cabeças eretas e podem fazer caretas, pois os músculos faciais estão mais desenvolvidos –explicou a médi-bruxa. –Quem fez essa gracinha é o menino!

-Ah, garotão! Esse é meu filho... –falou Draco, já de pé.

-Meu Deus, aquilo é uma sobrancelha? Na menina! –perguntou Ginny.

-Isso mesmo... e o cabelinho também já começa a aparecer –dito pela doutora. –Os bebês estão medindo cerca de dezoito centímetros, pesando mais ou menos oitenta gramas.

-Só isso? –perguntou um pai surpreso. –É muito pouco! Mas eles crescem mais, não crescem, doutora?

-Perguntando essas coisas, Draco, você até parece um pai de primeira viagem! –riu Ginny. –É claro que eles crescem. Não lembra de Fiona e de Théo? Ela nasceu com quarenta e oito centímetros e ele com cinqüenta e dois.

-Meninos geralmente nascem maiores. Mas as meninas crescem antes na infância. Aí, começa a puberdade e lá pelos quinze anos é que os meninos dão o chamado "espichão". Isso não é uma regra –falou a doutora, mudando um pouco o ângulo de visão dos bebês no ventre da mãe.

-Mas os gêmeos também nascem diferente?

-Sim, sim, sim, Ginny, especialmente quando o sexo dos bebês é diferente.

Depois de admirarem mais um pouco seus filhos e ouvirem recomendações e algumas explicações por parte da doutora Amelie, Draco e Ginny se puseram prontos para irem embora, agradecendo, muito felizes, pelos cuidados da médi-bruxa e seus conselhos.

Antes de partirem do consultório, ainda tiveram que ouvir algumas palavras simpáticas e sinceras da recepcionista, que já não conseguia tirá-los do sério.

-Então madame viu mesmo os bebês? De verdade? –perguntou Margot, ajudando uma recém chegada ao lar, Ginny, a tirar o sobretudo.

-Sim, Margot, eu vi! Os dois, tão lindos... são uma graça, chérie, e eu finalmente cheguei a uma conclusão!

-A respeito do quê? –perguntou Draco, que acabava de passar pela porta de entrada.

-Dos nomes dos nossos filhos... –falou Ginny, mordendo o lábio inferior.

-Realmente? E qual são? –questionou Draco, desdenhoso. –Nada de Agatha, Marjorie, Danny... não é?

-Largue desse desdém, desse ar irritante, ou eu não contarei... –ameaçou Ginny.

-Que mulherzinha difícil com quem me casei! –disse Draco, erguendo as mãos para o alto, depois cedendo: -Está bem, Ginny, conte-me quais são os nomes.

-Diga, madame, diga logo! –Margot falava com uma saudável ansiosidade.

-C'est bien, eu direi. Andei pesquisando sobre nomes, vendo seus significados e, no momento que meus olhos miraram meus filhos, eu soube como eles se chamariam. Para a menina mais querida e mais doce, o nome Sophia, que significa sabedoria. O menino, todo carismático e sapeca (como pudemos ver na consulta... Margot, acredita que ele nos fez uma careta? Super simpático), receberá o nome Leonard, significando valente. Afinal, conheço meu marido e seu que ele trata seus filhos como divindades, invencíveis, imortais e especiais, e quem não fica valente se sentindo tão poderoso dessa maneira? –sorriu, gloriosa. –E eles não são tudo isso? Eu acho –depois de algum tempo, continuou, um pouco desentusiasmada e receosa, devido a falta de uma resposta: -E então? Os nomes foram aprovados? Vocês gostaram? Draco, você gostou? Digam alguma coisa, pelo amor de Deus!

Draco sorriu, arqueou as sobrancelhas e resumiu tudo em uma só palavra:

-Perfeito.

Ginny se jogou nos braços do marido e os dois riram, sinceramente felizes, ele erguendo-a no ar e girando em torno de si mesmo. Margot, como boa expectadora, aplaudia, com curtas palmas, e fazia reverências, só de brincadeira, àquele casal tão unido.

Sua presença não era percebida, devido a tamanha a discrição que possuía, ou talvez ele não estivesse ali de verdade. Seu corpo estava, sem dúvida, isto era incontestável, mas sua alma e seu pensamento estavam perdidos, vagando por algum canto escuro, engolidos pelos silêncios e barulhos da madrugada. Mirava, com um desgosto cruel, o fogo queimando na lareira e a lentidão com qual se apagava parecia torná-lo ansioso e irritado. Era como se aquele fogo que queimava brutalmente e que se apagava sem remorso, determinasse o tempo que faltava para o sono lhe bater e ele ir deitar-se, afastando-se de todos aqueles pensamentos absurdos.

A verdade era que, por mais que parecesse completamente controlado, ele estava beirando a margem mais escorregadia do insano caos sentimental. Em outras palavras, a felicidade o invadia, atropelando qualquer muralha em seu coração, mas a preocupação e o nervosismo também poderiam ser capazes de derrubá-lo.

E Draco Malfoy tentava manter a racionalidade e sanidade mental no meio de tudo isso.

Sua esposa, Ginny, e seus dois filhos já haviam ido deitar-se e Draco tinha quase certeza que os três estariam já adormecidos.

Quando o relógio anunciou o término da primeira hora da madrugada, uma criada chegou no cômodo onde Draco estava e assustou-se com a presença do patrão ali. Constrangida, tentou se explicar:

-Oh, monsieur Malfoy, pardon! Perdão, eu não tinha idéia de que o senhor ainda estava acordado e... aqui! Eu vim dar um jeito na lareira, madame fica zangada quando esquecemos de apagar o fogo e... bem, perdão, monsieur Malfoy...

-Vá dormir, está tudo bem –compadeceu-se Draco.

-E quanto à lareira...? –dito com receio.

-Não se preocupe. Eu deixarei apagar naturalmente e quando eu for me deitar, não haverá mais fogo... vá descansar, eu permanecerei mais algum tempo por aqui.

-Sim, monsieur Malfoy. Bonne nuit, monsieur Malfoy.

-Bonne nuit.

E Draco voltou a ficar só.

E voltou a ser invadido de pensamentos. E de sentimentos.

E de novo o caos.

A confusão.

A insanidade.

A preocupação.

A melancolia.

Era sim uma invasão, no sentido figurado da palavra.

O que acontecia com ele era somente um dúvida que lhe recorria a alma. Podia estar enganado, seria bom se estivesse enganado, mas essa possibilidade não servia para acalmá-lo, em absoluto. Ele estava atormentado e essa é a palavra mais adequada para descrevê-lo enquanto esteve naquele estado.

A notícia do suposto ressurgimento das trevas havia afetado-o inicialmente, mas não de uma maneira tão alucinada como naquele momento. Isso porque foi só naqueles últimos instantes que havia ocorrido a ele uma possibilidade escabrosa. Seu pai, Lúcio Malfoy, havia sido um dos principais e mais fiéis Comensais da Morte de Voldemort. Os dois tinham objetivos semelhantes, ambição e crueldade, o que os diferenciava era, na realidade, a quantidade de poder que cada um possuía. Nisso o Lorde das Trevas ganhava disparado. E, por isso, era ele quem controlava, quem ditava as ordens, o cérebro por trás de todas aquelas enroscadas e maldades. Voldemort estava morto, mas ninguém nunca soubera direito que havia acontecido com Lúcio Malfoy. E ninguém dava importância a isso, porque sem seu Lorde, pensavam todos, nenhum dos comensais teria poder e valentia suficiente para ressurgir. Alguns falavam que Lúcio havia morrido, por suícido ou por homicídio, não importava. Outros comentavam que sua alma estava perdida e que ele seria linchado nas ruas, por isso ficava se escondendo em algum lugar sombrio, esperando, sem entusiasmo, por sua morte que, com certeza, não tardaria a chegar. Devido a falta de notícias sobre Lúcio Malfoy, o dinheiro foi destinado a Draco, que o renunciou imediatamente. A fortuna ficara à disposição do Ministério da Magia da Inglaterra, que faria um bom proveito de cada galeão.

Não, não era isso que atormentava Draco. Era algo de uma importância bem maior, pelo menos para ele...

E se, numa desgraçada comédia do destino, o "novo Voldemort", que ganhava mais e mais poder com o passar dos dias, existisse mesmo e – pior que isso – fosse Lúcio Malfoy?

Essa possibilidade aterrorizava Draco e ele não se atrevia a comentá-la com sua esposa. Se recusava a lembrá-la que seu sogro era um demônio, cheio de crueldade e vazio de compaixão, e que faria de tudo para distribuir a mulher que tirara seu filho do caminho da maldade e, o pior: havia tido dois filhos de seus herdeiros e estava esperando mais dois.

Ora, mas que absurdo que aquilo devia ser na mente de Lúcio Malfoy! Naquelas crianças, o sangue Malfoy e o sangue Weasley se misturavam e corriam juntos pelas veias, por todo corpo... tornavam vivos os indícios mais óbvios do crime de Draco e Ginny, o grande e terrível engano acertado de se amarem.

Se fosse mesmo Lúcio Malfoy o novo senhor do terror (o que Draco esperava com todas as forças que não fosse verdade), ele se vingaria de Ginny, das crianças e certamente de Draco. Por uma pura questão de honra, de orgulho ferido. Draco não suportava a idéia de sua família estar ameaçada por culpa dele mesmo. Por sua fraqueza em se apaixonar por Ginny. Mas, que fraqueza boa era aquela? Ele se sentia tão bem amando aquela mulher e a idéia de desgostá-la era até imbecil... só podia ser obra de uma mente impiedosa e ridícula, como a de Lúcio Malfoy. Draco, se pudesse escolher, tiraria a vida do próprio pai e até dele mesmo, se fossem precisos esses sacrifícios, para poupar sua esposa e seus filhos, as pessoas que mais amava no mundo todo.

Ele iria até o inferno se Ginny pedisse que fizesse isso. Ele traria a lua e as estrelas para suas crianças, se fosse isso que os filhos quisessem. Draco não tinha culpa, afinal, de ser tão intenso nos seus sentimentos, tanto quando eram bons quanto quando eram ruins. Era assustador, às vezes, ter que controlar todas suas emoções e sentir a intensidade e poder que cada uma exalava. Podiam levá-lo à loucura em um momento e no instante seguinte fazer dele senhor de suas razões. Mas, por que, diabos, seres humanos haviam de suportar tantos sentimentos contraditórios e terríveis? Por que tudo não podia ser mais fácil, mais simples, mais singelo – só como um piscar de olhos?

Se ele ao menos pudesse... se soubesse... se tivesse conhecimento da verdade... poderia combatê-la... ou aliviar-se... qualquer uma dessas possiblidades servia... ficar na dúvida, não... era insuportável... o indefinido era como uma coceira muito forte... somente insuportável...

O fogo já era quase imperceptível... se apagava mais rapidamente naquele momento... o tempo estava correndo junto com a falência do fogo... Draco precisava se decidir... precisava de uma resposta... tinha poucos minutos para alcança-la... podia até atiçar mais fogo na lareira... mas tinha medo do que poderia pensar em todo o tempo que lavaria para tudo apagar-se novamente... tinha medo dos seus pensamentos... das conclusões certas e erradas que poderia chegar... tinha pouco tempo... o relógio anunciava mais uma hora passada... era tarde... não sentia-se sonolento, nem nada... se ao menos pudesse ficar face à face com seu pai... tinha tantas perguntas, tanto assuntos inacabados... precisava de alguns momentos junto de seu pai e isso era tudo... poderia dormir mais tranqüilo... ele só queria vê-lo e falá-lo... seria pedir muito?... um minuto, dois talvez... tinha tanto para discutir, tanto para descobrir, para saber... para comentar... para reclamar... para chorar... para gargalhar... tudo o que ele precisava era de instantes... de um tempo... somente isso... tempo, tempo, tempo... mas o relógio corria louco... a vida não parava... ele queria um tempo...

Um barulho. Estranho. O que seria aquilo? Parecia como... como um murro na madeira.

-Murro na madeira? –exclamou Draco a si mesmo. –Tem alguém batendo na porta! A essa hora? Que horas são? Quem será?

Essas e outras perguntas martelavam na sua cabeça. Ele não estava com medo, absolutamente. Morava em um bairro trouxa e com a varinha preparada, ninguém naquela região podia com ele. Mas a estranheza da situação chegava a ser cômida. Draco duvidou dos próprios sentidos, em determinado momento. Estaria ficando realmente louco? Estava ouvindo coisas que não existiam? Não era possível, o barulho era muito claro e sonoro.

Segurando sua varinha, escondeu as mãos nas costas e andou até a porta de entrada da casa. Sim, aqueles murros na porta eram verdadeiros e o barulho, assim, tão de perto, era bem real. Chamou, aos gritos, por uma identificação de quem era a pessoa do outro lado da porta, mas não obteve resposta. Com coragem e curiosidade, foi abrindo a porta devagar, tarefa que parecia demorar séculos para ser finalizada. Uma respiração ofegante, vinda do outro lado, era facilmente identificada. Já quem a emitia, ainda era um desconhecido.

Quando a porta foi totalmente escancarada por Draco (que, nesse ponto, já estava embriagado de nervosismo), ele se deparou com uma pessoa encapuzada e ainda não reconhecia quem era. Cabelos que já haviam sido dourados e, naquele momento, estavam mais próximos do prateado do que de qualquer outra cor, saíam, desregulares, do capuz daquela capa, escorriam por aquele corpo. A pessoa foi entrando, sem pedir licença, na Mansão Malfoy e Draco nem lembrou-se de impedí-lo. Eles tinham quase a mesma altura e Draco já não tinha mais dúvidas de quem se tratava.

Draco fechou a porta, atrás de si, e caminhou, junto do outro, até a sala principal daquela casa.

O desconhecido tirou, lentamente, seu capuz. Um rosto repleto de rugas surgiu. Apesar das marcas óbvias de velhice e de cansaço, Draco reconhecia aquela face e reconheceria mesmo que ela tivesse sido queimada, ou estivesse cheia de cicatrizes. Aqueles olhos, idênticos ao seus, tão frios, cruéis e misteriosos não deixavam que Draco se enganasse. Aquela boca, fechada em um sorriso irônico, quase desconfiado, mas satisfeito, sempre contorcida em sinal de reprovação. Aquela expressão superior, maldosa... não poderia ser mais ninguém além dele. Lúcio Malfoy era inconfundível.

Mais envelhecido, com uma barba mal cuidada e imensa, mais fraco e com menos poder, mas, ainda assim, era o pai de Draco.

A primeira reação que os dois Malfoy, pai e filho, assumiram foi se jogarem, um nos braços do outro, e iniciarem um abraço, para marcar aquele reencontro tão inesperado. Era uma abraço repleto de ressentimento e sentimentos diversos. Como se dois estranhos se abraçassem, por alguma razão inimaginável.

Quando se soltaram, ficaram se encarando por alguns minutos. Draco parecia desconfiado e não acreditava no que estava acontecendo. Lúcio mantinha uma expressão neutra, sem desviar o olhar dos olhos de seu filho.

Em meio de algumas tosses, Lúcio falou, com dificuldades, em uma voz seca e baixíssima:

-Draco... você tinha razão... acabou por se dar melhor do que eu na vida.

Já que ele não obteve resposta, continuou:

-Diga-me... é verdade o que comentam por essas bandas? Você fez fortuna com honestidade? Seu dinheiro é digno, é? Me responda! –tossiu algumas vezes.

Draco se irritou com aquelas perguntas. Sua boca contorceu-se em um meio sorriso, de impaciência, e ele falou:

-Não há uma só moeda que não seja de meu merecimento.

-Isso não diz que foi ganha honestamente. Você pode ter batalhado pelo dinheiro, mas de uma maneira... digamos... torta.

-Meu dinheiro não é torto. É dinheiro honesto.

Lúcio contorceu o rosto em uma expressão ilegível. Um misto de admiração com sarcasmo, como se pouco se importasse com aquilo tudo e parabenizasse seu filho por mera obrigação. Ou talvez ele realmente se importasse com aquilo e deixasse transparecer uma certa admiração invejosa por Draco. Não dava para entender ao certo o que ele queria dizer.

-Sua mansão é maior do que foi a minha -comentou Lúcio, sem entusiasmo, andando, com dificuldades, por aquela sala.

-A minha mansão é um lar. A sua nunca seria.

-Você tem razão –dito com indiferença. –Você tem razão –repetiu, sorrindo.

Lúcio andou até uma estante onde haviam dezenas de porta-retratos, com fotos de toda a família Malfoy. As pessoas se moviam nas fotografias e todos na família, Ginny, Draco, Fiona e Théo, pareciam muito felizes.

Apontando para um retrato recente, onde Théo e Fiona se abraçavam e se beijavam, depois viravam para o lado, fazendo caretas, Lúcio falou:

-Esses são seus... seus filhos, eu presumo.

-Sim, são eles. Fiona é a mais velha, está para completar seis anos. Theodore é um ano mais novo que a irmã. Ginny ainda está grávida de mais dois filhos meus, gêmeos. Um casal, Sophia e Leornad.

-Theodore tem o cabelo ruivo! –dito com reprovação. –Fiona poderia até se passar por uma Malfoy pura, legítima, não tem traços de nenhum dos Weasley. Sim, é isso. Eu simpatizei imensamente com ela, poderia ter um futuro grandioso... já dele eu não quero saber.

Draco soltou um muxoxo, reclamando da falta de discrição e pobreza de critérios de seu pai.

-Eu gosto dos dois o mesmo tanto –comentou o mais novo entre eles, com negligência.

Pegando um porta-retrato, onde Ginny e Draco estavam abraçados e se divertindo, Lúcio balançou a cabeça, negativamente, e falou, desapontado:

-Ainda está casado com essa mulherzinha? Não me diga que ela carrega o sobrenome Malfoy junto a Weasley.

-Naturalmente que sim.

-O que fiz para merecer isso?

-Deseja mesmo que eu lhe responda? Posso listar todos seus enganos do passado, e te reativar a memória.

-Não será preciso, Draco –dito com raiva. –E, lembre-se: nada de sarcasmo com seu pai. Não comigo. Nunca.

Draco assentiu com a cabeça, como se ainda fosse um rapazinho, temeroso às ordens do pai severo.

E foi só naquele momento, enquanto Lúcio analisava as fotos daquela que devia ser sua família, que Draco teve tempo para pensar no que estava acontecendo. Era, no mínimo, estranho que seu pai reaparecesse daquela maneira, naqueles dias, depois de tantos anos.

Tanta coisa havia acontecido e os dois pareciam mais distantes do que nunca.

Tanta coisa havia acontecido e os dois pareciam mais próximos do que nunca tinham sido no passado.

Era como se nada houvesse mudado e, ao mesmo tempo, como se tudo estivesse diferente.

O mais acertado a se fazer era mandar Lúcio para fora de sua mansão mas, por algum motivo, Draco não tinha coragem para fazer isso. Ele queria perguntar tanta coisa e sua curiosidade era imensa, não permitia que aquela ocasião se resumisse naquelas breves palavras, sem nenhum importância real.

-Como me achou? –perguntou Draco, com a voz tremida. Lúcio nem chegou a se virar para responder.

-Passei os últimos meses a te procurar. Não foi difícil, admito. Qualquer pessoa sabe onde você mora. Pelo menos você manteve a família Malfoy conhecida, por razões diferentes agora, é claro.

-Os Malfoy são motivos de admiração nos dias de hoje. Minha familia é perfeita e estabilizada. Somos bem mais populares na comunidade mágica atualmente, devo dizer.

-Sempre um grande convencido, não Draco? Você não perde essas qualidades nunca mais, será assim para sempre. Arrogante, convencido, narcisista, sarcástico, irônico, cruel na sua essência. Mas, aprendeu a usar tudo isso ao seu favor, o que é surpreendente. Grandes jogadas como esta nunca foram do seu feitio mas, de maneira inusitada, você talvez tenha deixado de possuir uma alma miserável. Bem ao contrário de mim, naturalmente.

Ignorando aquilo que deviam ser elogios, Draco partiu para o ataque, disposto a exclarecer todas suas dúvidas:

-Ainda pratica Magia Negra?

-Já não tenho mais força e poder para isso. Mas, ensino todos os feitiços do mal para jovens brilhantes cheios de idéias e de vontades.

-Então é só nisso que contribui para o mal atualmente? –perguntou com alívio. Aliviado estava, mas não completamente. Afinal, por mais que seu pai não fizesse mais feitiços daquele tipo, estava criando monstros como ele mesmo havia sido. No entanto, sua monstruosidade ainda estava nascendo era mais fácil interferir quando ainda estivesse no começo do que em um estágio mais avançado.

-Sim, isso é tudo –depois de algum tempo encarando Draco, Lúcio falou, achando muita graça naquilo tudo: -Oh, não, Draco, você não pensou realmente que eu era a mente por trás do ressurgimento do mal que está sendo comentado por todos os cantos, não é? Pensou? –Draco assumiu uma expressão de culpa. –Poupe-me de seus delírios, imbecil.

-Como eu podia saber? E não me chame de imbecil, eu não sou mais um garoto, caso você não tenha percebido.

Lúcio deu de ombros e voltou-se para outro assunto:

-Eu já ouvi falar desse novo Você-Sabe-Quem. É alguém querendo aparecer, tenho quase certeza... dizem que é o meu antigo lorde está por trás disso. Não tenho opinião quanto a isso... mas, se não for ele, só pode ser um babaca perdedor qualquer, querendo alguns minutos de atenção.

-E se não for? –perguntou Draco, com receio.

-Então abriremos uma garrafa de champagne e brindaremos aos bons tempos que estarão se aproximando! Agora, me ajude... me ajude... preciso me sentar... estou tão cansaço... vim andando à pé até sua casa, não imagina desde quando... e nem de quão longe eu venho.

Draco ajudou seu pai a se sentar no sofá. Lúcio pareceu-lhe, pela primeira vez, acabado. Antes, a aparência envelhecida dele mostrava um cansaço físico, mas mental e emocional não pareciam ter chegado. No entanto, quando viu o pai deitado sobre o sofá, Draco sentiu que o fim daquele homem estava se aproximando bem rapidamente.

De repente, Draco foi invadido por uma onda de sentimentos. Tristeza e felicidade pela falência do pai, remorso por suas emoções ingratas para com ele, raiva, ódio, compaixão e muita piedade – Lúcio o mataria se soubesse disso. Draco encarava o pai com desconfiança, sem coragem para dizer qualquer coisa que fosse.

Lúcio se contorcia de cansaço e dizia coisas sem sentido, frases e palavras perdidas, que não se completavam, nem nada. Toda sua sanidade de alguns minutos passados parecia ter evaporado. Sua barba era como uma manta, um cobertor, que o esquentava, e ele nem ao menos sentia frio. Sua capa já não disfarçava sua magreza, doentia, talvez. Pelo contrário, aquele tecido acentuava suas costelas e a falta de carne em seu corpo. Devia ter passado por maus bocados naqueles últimos anos. Fome, miséria, preconceito, dor, sofrimento, devia ter sentido tudo isso na pele. Um castigo razoável por tudo o que havia feito, mas Draco tinha dó. Só dó. Achava que era tudo merecido, mas ainda sim se sentia contrariado por aquela situação miserável do pai. O grande, poderoso, soberano e saudável Lúcio Malfoy estava reduzido a um velho sem forças, condenado a uma existência nula e a uma realidade dura e triste. Não havia nada do velho Lúcio naquele homem, nenhum rastro de que aquela pessoa havia sido alguém de tanta importância. Estava acabado – essa era a melhor palavra para definí-lo.

Draco podia até imaginar o fim de seu pai. Os ossos daquele homem seriam derretidos, derretidos, até se transformar em poeira... seriam misturados, nesse estado arenoso, ao ar e seriam esquecidos... seu corpo seria todo absolvido pela terra, sendo desintegrado, pouco à pouco, e sumiria, junto a seus ossos... sua alma, tão deplorável e desmerecedora, seria expulsa do paraíso e talvez nem o inferno a quisesse... talvez ficasse vagando por aquele mundo afora, como um fantasma, lotado de assuntos pendentes... ou, talvez, nem isso fosse-lhe cedido. Talvez porque ele não possuísse alma... ou a tivesse perdido a muito tempo... e nunca mais havia tido oportunidade de reencontrá-la... Lúcio Malfoy estaria acabado em pouco tempo. aquele era sua sina, ele haveria de aceitá-la e cumprí-la.

Depois de algumas horas, Draco ajudou Lúcio a se levantar e o acompanhou até a porta. Se despediram, com polidez, e Lúcio foi andando (parecia estar se arrastando com dificuldades, na verdade), pelo gramado do jardim, sem nem ao menos olhar para trás. Sua figura foi sumindo à medida que tomava distância – se misturando e derretendo na paisagem – e Draco prestava atenção à cada movimento daquele homem. Suspirou, quando mirou Lúcio – seu pai, afinal – cruzando o portão e o vendo pela última vez em toda sua vida. Sentiu vontade de sair correndo para acolher Lúcio Malfoy em sua casa, porque naquele estado ele não era ameçava à ninguém. Mas, isso errado e Draco não o faria de jeito nenhum. Por sua honra, dignidade, respeito e amor a si mesmo e à sua família. Na última vez que seus olhos cruzaram os de seu pai, foi como se ele se enxergasse neles e o fato de Lúcio estar senil tornou-se real para ele.

N/A 2: Hum, esse capítulo marca uma nova "era" – por assim dizer – na fan fic. Muitaaaas mudanças daqui para frente. Finalmente =P

N/A 3: Ei, leiam minha fic R/Hr, Uma história de fogo e vigilância, eu gosto tanto dela, hehe! Eu sou a mais chata lalalá...