-Como assim trancada? - sua voz não demonstrava, mas Ginny estava começado a ficar desesperada.
-O Borgin colocou um feitiço para poder ir viajar e não ser importunado por aquele bando de idiotas que chamam de aurores. Todas as portas e janelas estão trancadas. Só dá para abri-las pelo lado de fora com um feitiço específico que só eu e o Sr Borgin conhecemos.
-Não consigo desaparatar.
-Não dá pra fazer isso aqui.
-Pó-de-flú?
-Quando ele reforçou a segurança da loja, acabou fechando as lareiras. Não há mais nenhuma.
-Então eu vou gritar.
-A única coisa que você vai conseguir com isso é causar um dano permanente em meus ouvidos. Ninguém escuta o que se passa aqui.
-Tem que ter alguma coisa que possamos fazer. - ela aponta a varinha para a porta - Alohomora!
-Não! - o feitiço de Ginny rebateu e quebrou um pote que havia no lado oposto, bem em cima do local onde Draco estava. - Sua idiota! Já falei que não adianta tentar abrir por dentro!
-Eu tinha que tentar! Você não está fazendo nada! - ela começava a ficar vermelha de raiva.
-Acha que eu gosto de ficar preso aqui com você?! - ele também estava nervoso - NÃO TEM COMO SAIRMOS!
-Tem que ter um jeito! - ela apontou a varinha para a janela - Deletrius!
-Como você pode ser tão teimosa e burra?! - esbravejou o loiro quando o segundo feitiço também ricocheteou.
-Se você não tem vida, eu tenho. Tenho coisas a fazer! Não posso me dar ao luxo de esperar até seu chefe dar as caras!
-Não é opcional. Se cansar de atirar feitiços nas paredes e se eu não tiver a sorte de um deles te matar, vou estar lá em cima. - dito isso, Draco seguiu para uma porta lateral onde havia uma escada que levava ao andar superior.
Ginny não sabia o que fazer. Não queria ficar ali. Tinha de haver um jeito de sair. E por que Malfoy estava tão calmo? Ela vasculhou todo o local procurando algo que indicasse algum vestígio de saída ou algo que pudesse usar para se comunicar com alguém do lado de fora, mas não encontrou nada. Qualquer tentativa de mágica voltava contra ela. Ela já estava à beira das lágrimas. Após uma hora de tentativas frustradas, ela resolveu subir. Talvez no andar de cima houvesse alguma coisa, apesar de ela ter perdido a maioria das esperanças.
Draco subiu as escadas e seguiu para o banheiro. A queda que ele havia sofrido havia causado um corte no seu antebraço. Ele tentou usar um feitiço para fechar o ferimento, mas este ricocheteou em seu braço e causou um pequeno buraco na parede. Aparentemente, nenhuma mágica podia ser usada ali. Ele estava trancado, com uma Weasley, e sem magia. Fez então o que pôde para conter o sangramento, e foi dar uma olhada no andar. Aquele era o apartamento do Sr. Borgin. Draco só entrava ali caso precisasse usar o banheiro e nunca se aventurava em expedições pelo local. Não que houvesse muito a ser explorado. Havia um pequeno hall pessimamente decorado com uma poltrona velha e uma estante desgastada com alguns livros empoeirados sobre a arte das trevas, uma pequena cozinha, o banheiro, e um quarto igualmente mal mobiliado com apenas uma cama e um armário. Ele se jogou na cama e ficou a encarar o teto, nenhum pensamento concreto se formando por completo em sua mente. Ultimamente essa tinha se tornado a sua especialidade: fixar um ponto no nada e encará-lo, desligado das coisas ao seu redor. Só assim ele conseguira sobreviver ao Sr. Borgin.Draco ficou assim por um bom tempo, mas foi trazido de volta a realidade por Ginny:
-Encontrou alguma coisa, Malfoy?
-Não procurei. Já disse que não tem propósito.
-Por que diabos você tinha que se esconder? Pensei que estivesse limpo com o Ministério.
-Que modos são esses, Weasley? - ele disse fingindo estar chocado. - Os aurores tendem a se empolgar. Alguns deles não gostam da idéia de ter um Malfoy solto por aí.
-Não posso culpá-los. - os olhos dela faiscaram na direção dele - E por que você me escondeu?
-Você mesma já disse. Estava no meu caminho, te arrastei sem pensar. Quando vi o erro que tinha cometido, já era tarde demais.
-Você me dá nojo!
-Mesmo? Porque quando eu te vejo, meu coração dá pulinhos de alegria!
-Quer saber de uma coisa, Malfoy? Você não passa de um menino mimado que perdeu todo o prestígio mas se recusa a perder seu egocentrismo, sua mesquinharia e sua falta de consideração com os outros. Olhe a sua volta! Você não tem amigos! Nem sequer um bicho de estimação te aturaria! Pra falar a verdade, não sei como você mesmo se agüenta com toda a sua...
Pela segunda vez em uma hora, Draco encontrou um jeito de fazer com que Ginny se calasse. A diferença é que dessa vez, não podendo usar magia, ao invés de amordaçá-la, ele a beijou.
-Ai, obrigado! - disse o loiro voltando a se sentar.
-Você perdeu a noção do perigo? - perguntou ela puxando sua varinha
-Guarde isso. Vai acabar se machucando. Todos os feitiços, sejam eles para sair daqui ou não, são rebatidos. Fiz a única coisa que consegui para você calar a boca.
-Não podemos fazer magia? - perguntou a ruiva decidindo-se por ignorar por ora o último comentário feito pelo rapaz. - De nenhum tipo?
-Vai ficar repetindo tudo o que eu digo? Vai ser uma longa semana...
-SEMANA?!
- O Sr. Borgin foi viajar. Já disse isso. Ele só volta daqui a uma semana.
-Eu não vou ficar aqui uma semana!
-Não vou entrar nessa discussão novamente. Eram minhas férias, sabia?
-Quem se importa? Eu realmente tenho um lugar pra ir!
-Uh, que língua ferina, Weasley... Sua mãezinha iria aprovar esse tipo de comportamento?
-Não a coloque na história, Malfoy. Minha varinha pode ser inútil, mas ainda tenho pulsos.
-Ah, por favor! Um verme-cego causa mais estrago que você.
Ginny nem sequer piscou: fechou o punho e socou Draco. Ele não emitiu um som, mas o anel dela fez com que seu seio de face sangrasse.
-Isso é o melhor que pode fazer?
-É difícil causar algum estrago numa cara feia igual a sua.
-Não, Weasley, agora você está delirando. Egocêntrico, egoísta e até irritante, isso eu posso aceitar. Mas feio? Isso eu não posso permitir. - seu tom de voz era calmo como o de alguém que discutia a possibilidade de chuva no fim-de-semana. Contudo, seus olhos era indecifráveis.
A raiva ferveu em Ginny, seu rosto tomou o tom de seus cabelos. Incapaz de responder, ela girou nos calcanhares e saiu do quarto.
Draco jogou sua varinha na porta que Ginny havia fechado atrás de si. Por um segundo, quase devolvera o soco, mas não foi capaz de tal ato. Contudo, em um duelo, não hesitaria. "Se eu pudesse fazer magia..." pensou ele "ela iria se arrepender".
Ginny já estava quase girando a maçaneta quando voltou a si e lembrou que não podia sair. Ela começou a tremer incontrolavelmente, sem saber se era raiva, desespero ou claustrofobia. Ela não chorava, mas estava desnorteada, pior do que sem saber o que fazer: com plena consciência de que não havia nada a ser feito. Ficou então sentada no chão encostada na parede por um longo tempo. Depois, retirou da sua bolsa um livro sobre dragões, presente de Natal dado por Charlie, e pôs-se a lê-lo.
O rapaz pela segunda vez foi lavar um ferimento. O corte causado pelo anel de Ginny não tinha sido muito profundo, mas ele ainda desejava um feitiço cicatrizador. Sem mencionar que aquilo está destinado a ficar roxo. Subiu-lhe uma vontade de socar o espelho, mas essa idéia foi rapidamente afastada uma vez que só resultaria em mais um corte. Ele resolveu então retomar o que estava fazendo antes da "Weasley nojenta" o interromper, e voltou a encarar o teto.
Quando a ruiva terminou de ler o livro já havia passado das cinco da manhã. Ela o guardou e subiu para ir ao banheiro, rezando para não encontrar Draco no caminho o que, de fato, não aconteceu. Ela então seguiu para o hall e, cansada, se jogou na poltrona.
Não demorou muito para Draco adormecer. Teve um sono conturbado, sonhando as paredes tinha criado lâminas e que começavam a se fechar sobre ele e Weasley. Ele acordou assustado, ouvindo um grito. Imaginou que este tinha sido parte do sonho, mas o ouviu novamente e este, bem real, vinha do hall.
