N/A: Desculpa ter demorado tanto! Fui má! Eu sei! Muahahahahaha ( --- risada maligna). Momento tio Voldinho à parte, minha justificativa se chama escola, que ocupa uma boa parte do meu tempo e atrapalha meu ritmo. De qualquer forma, o capítulo chegou e é o maior até agora. Ele é ligeiramente diferente dos anteriores com relação ao conteúdo.

Dessa vez não vou agradecer a todos individualmente para não correr o risco de esquecer alguém. Só tenho que mencionar uma pessoa em especial, que é minha beta Julie, que continua a me aturar e muito.

Só mais uma coisa que pode causar confusão: Bill é o Gui e Charlie, o Carlinhos.

Bem, espero que gostem. Continuem mandando reviews. Tem umas notinhas no final da fic.



Ginny perdeu o ar, como se tivesse descendo uma escada e pulado um degrau sem querer. "Eu me juntei a vocês". Aquelas palavras retumbaram em seus ouvidos, mas não faziam sentido para ela. Eram contra qualquer tipo de lógica.

-Sua expressão não tem preço. – disse Draco, se divertindo com a confusão estampada no rosto da moça. – É assim tão difícil de acreditar?

-A marquinha no seu braço dificulta um pouco o processo. – respondeu ela, sarcástica, finalmente capaz de formar palavras. – Não se apresse em explicar! – exclamou Ginny, após o rapaz apenas a encarar com um sorriso irritante por vários minutos.

-Não há nada a ser explicado. Já falei: não ia ficar ao lado de um bruxo que estava prestes a ser derrubado. – Draco falou, simplesmente, e com toda a calma do mundo.

-E como você sabia disso? Que ele estava para cair? – perguntou Ginny, querendo obter o máximo de informação agora que ele estava falando.

-Um passarinho verde me contou. Não precisa muito para saber disso. Os aurores pegavam mais Comensais a cada dia. Claro, surgiam mais, mas a vitória dependia apenas do Potinho e devemos convir que Lord das Trevas sempre foi extremamente convencido para reconhecer uma real ameaça vinda de um pirralho com a cabeça rachada. Depois que ele matou Dumbledore, passou a se achar invencível. Foi por aí que ele começou a me irritar. Não sou do tipo que aceita ordens de alguém que acha legal parecer com uma cobra. – Draco disse revirando os olhos.

-E o que você fez? Bateu na porta da Ministra da Magia e disse "Olá! Gostaria de mudar de lado"?

-Ligeiramente mais complexo que isso. Ainda mais se considerarmos a bagunça que o lado de vocês sempre esteve. Comensais não são aceitos facilmente. E não se deixa o círculo íntimo de Voldemort com um simples "foi bom te conhecer".

-Como então? – a curiosidade dela havia atingido seu ponto máximo.

-Tenho certeza de que você adoraria saber, mas por hoje já basta. Tem certas coisas que você ainda não está preparada para ouvir ou entender.

-Não tenho cinco anos e garanto que sou mais inteligente que você. – retrucou Ginny, indignada.

-Duvido, mas mesmo que fosse, não tem o emocional para tanto.

Ginny estava quase desistindo. Tentaria arrancar mais informações dele mais tarde. Até que o esclarecimento a atingiu. Ela havia descoberto o motivo de ele ter se calado, questionando o controle emocional dela.

-Você o viu morrer, não viu? – perguntou a moça, séria.

-Ele quem? – Draco sabia muito bem de quem ela falava, mas se fingia de ignorante.

-Bill. Ele foi capturado. E você estava lá, não estava? – apesar da dor que sentia, Ginny manteve sua voz inalterada.

Se Draco ainda tinha esperanças, mesmo que contra a sua vontade, de beijá-la outra vez, estas certamente foram por água abaixo.

-Sim, estava. – ele manteve suas feições neutras.

-Quem o matou? – perguntou ela, sem encará-lo.

-Ginny, não... – começou o outro.

-QUEM O MATOU?! – seu rosto tomou o tom de seus cabelos.

-EU, ESTÁ BEM? – gritou Draco. – Fui eu. – seus olhos estavam frios.

Ginny ficou boquiaberta. Fez então a única coisa que lhe veio à mente: começou a socar Draco com toda a sua força e onde conseguiu atingir. Ela não berrava, nem o xingava, apenas batia. O rapaz segurou os pulsos dela, mas ela continuava a chutá-lo como podia. Ele então, para imobilizá-la, passou uma das pernas por cima da ruiva e sentou em suas coxas.

-Eu poderia dizer um monte de coisas para te fazer se sentir melhor, entender o meu lado, mas prefiro: PARE DE ME BATER, POIS SOU MAIS FORTE QUE VOCÊ! – esbravejou Draco, com um olhar ameaçador. – Compreendes, ou eu preciso soletrar para ti? – perguntou ele, fingindo uma voz doce.

-ME SOLTA, MALFOY! – exclamou Ginny tentando, sem sucesso, se desvencilhar dele.

-Sabe, Weasley, – ele pronunciou o nome com desdém – se você continuar se mexendo assim, vou acabar gostando.

Ginny então, usou dos conhecimentos adquiridos convivendo com seus seis irmãos e cuspiu no rosto do loiro. Draco passou a segurar ambos os pulsos dela com uma só mão, e com aquela que ficou livre, limpou o rosto.

-Você me dá nojo! – ela sibilava cada palavra.

O rapaz levantou a mão livre mas em uma fração de segundos conseguiu se controlar, seus dedos apenas raspando de leve no nariz sardento dela.

-Você não vale a pena. – disse ele, mais para si do que para ela.

Draco a soltou, e saiu do quarto batendo a porta com força atrás de si, deixando-a ali, deitada, e com lágrimas aflorando em seus olhos.


O rapaz seguiu para o primeiro andar onde pegou um peso de papel de vidro e o jogou com toda a força contra a parede, estilhaçando-o. Mais uma vez, se assegurava de que não se arrependia de seus atos, mas houvera algo nos olhos de Ginny que o fizera sentir-se diferente. Bill Weasley não fora sua única vítima que ele havia feito e sua irmã não era, certamente, a única parente a encará-lo com ódio. Mas algo era diferente. Talvez porque esse assassinato fora diferente.

Ele tinha acabado de voltar de uma missão em Dublin e fora reportar seu sucesso ao Lord das Trevas. Ao deixar os aposentos do bruxo, encontrou com seu pai. Na sua mente, ouvia as exatas palavras dele: "Nós pegamos um Weasley."

Naquela época, o loiro já trabalhava para os dois lados, mas ignorar aquele fato iria atrair suspeitas de qualquer um, independente do sobrenome. Então, ele colocou no rosto seu sorriso mais desdenhoso e divertido e seguiu os passos de seu pai até o local onde os "capturados" eram gentilmente interrogados.

Draco chegou ao salão frio e mal-cheiroso, o último local de tantos homens e mulheres que lutaram contra o Lord. Sentado numa cadeira de pedra, similar às existentes nos julgamentos do Ministério, e amarrado pelos pulsos, estava um homem, com longos cabelos vermelhos. Sua cabeça estava caída; provavelmente já estava ali há bastante tempo e deveria ter levado várias Cruciatus para falar sobre a Ordem da Fênix. Julgando pelo fato de que ele ainda respirava, não deveria ter falado muito, se é que falou algo.

O "interrogatório" durou por horas. Bill já havia até desistido de gritar, mas nada falava. Nem ao menos uma palavra. Maldição Império também não parecia funcionar nele. Os Comensais então, já entediados com a tortura, resolveram finalmente usar Veritaserum. E Draco foi o encarregado de buscar a poção. Foi aí que uma idéia o atingiu. Na hora de ministrar o líquido transparente ao ruivo, ele também conseguiu pingar algumas gotas de veneno que ele carregava consigo. Uma receita que ele havia aprendido em um dos livros empoeirados que podiam ser encontrados embaixo do assoalho de sua casa e que ele planejava usar se algum dia fosse capturado. Bastavam algumas gotas e a morte era praticamente instantânea; o veneno, impossível de ser rastreado por magia.

E foi assim que Draco Malfoy assassinou Bill Weasley. Não por bondade, mas para manter seu disfarce e ao mesmo tempo assegurar o segredo da Ordem. Porque se ele falhasse em proteger qualquer um deles, estaria condenado.

Obviamente, a morte do bruxo levantou muitas perguntas. Mas não havia nada de errado com a poção. Assim, foi presumido que a tortura havia sido excessiva. Draco, contudo, nunca mais ficou encarregado de administrar poções aos capturados. E por isso ficou agradecido. Golpes de misericórdia não faziam seu estilo.


Ginny, no quarto, só fazia chorar. Perder seu irmão fora um dos acontecimentos de sua vida que ela, na época, não acreditava ser capaz de superar. E agora tudo voltava à tona. Ela havia jurado que, se algum dia descobrisse quem fora o assassino de Bill, iria fazê-lo pagar e sofrer pelos seus atos, mas nem disso fora capaz. A situação toda era tão surreal que ela chegou ao ponto de desistir de tentar entender e simplesmente deixar as lágrimas correrem livres pelo seu rosto.

E assim ela o fez por horas até que, já tarde da noite, o choro parecia ter se esgotado. Ginny queria continuar, sua mente implorava por mais lágrimas para que ela não tivesse que lidar com a situação, mas seus olhos se recusavam a isso. A ruiva, então, seguiu para o banheiro e lavou o rosto. Evitou olhar-se no espelho: sabia que estaria vermelha e inchada. Estava pensando no que faria quando seu estômago, como que respondendo à sua pergunta, roncou alto. Ela se lembrou de que não comia desde o almoço do dia anterior. Contudo, saindo do quarto, ela poderia encontrar com Draco, e ela não queria que ele a visse assim. Foi só com a segunda súplica de seu corpo que Ginny decidiu que não poderia ignorar a fome.

Como ela havia previsto, Draco estava sentado em um canto olhando pela janela imunda (ou pelo menos na direção dela, uma vez que ela não acreditava ser possível enxergar algo além da sujeira). Ginny agiu como se ele fizesse parte da mobília e pegou para si uma maçã, um pedaço de pão e um copo d'água. Já estava quase atingindo a porta do quarto quando, surpreendendo até a si mesma, se voltou para ele.

-Você sabe como é? – perguntou ela com a voz mais firme do que ela imaginava ser capaz.

-Quê? – Draco perguntou de volta, grosso e irritado por ter sido trazido de volta de seus pensamentos.

-Você sabe como é receber uma carta e ter certeza de que nunca mais vai ver uma das pessoas que você mais ama no mundo?

-Não. – respondeu o outro, seco.

-É, imaginei que não. Porque você nunca amou ninguém além de si mesmo. – Ginny sibilou as últimas palavras fazendo-as retumbarem nos ouvidos de Draco. Diante do silêncio dele, ela continuou. - Fui eu quem abriu a carta. A letra de Charlie, tremida, dizendo que Bill tinha sido capturado, que estava desaparecido. Não há nenhuma maldição imperdoável que supere isso. O sentimento de impotência, a dor que transcende o físico. Você. Não. Sabe.

-Weasley, fique quieta. – ordenou ele, ameaçador.

-VOCÊ MATOU O MEU IRMÃO! – berrou ela, tremendo descontroladamente, não de medo, mas de raiva.

-Você não entende? Se você não é morto logo de cara, será interrogado. É assim que funciona. Se seu irmão idiota tivesse aberto a boca, estaríamos todos condenados! E ele seria morto logo em seguida. Só antecipei as coisas.

-Do que diabos você está falando?! – questionou ela, incerta sobre o que ele estava querendo dizer.

-Isso mesmo que você entendeu! Eu o matei para que ele continuasse calado. Ele poderia resistir à tortura, mas não a Veritaserum.

-Eu não acredito nisso! Bill não falaria o que não sabia, você não seria prejudicado! Desde quando você ajuda alguém só pelo prazer da caridade?

-Nunca fiz isso. Ele poderia não saber sobre mim, mas denunciaria quem sabia. Esse era o maior problema de vocês: a interdependência e a união. Isso causa um efeito dominó: quando um cai, todos vão junto. A única sorte que vocês tinham era o fato de que eram corajosos e idiotas, morriam antes de soltar algo útil. Seu irmão seria a exceção à regra se não fosse por mim.

-Não! Você está mentindo! – na verdade, suas exclamações eram um motivo para convencer a si mesma. Ela sabia que Draco dizia a verdade, mas era menos doloroso culpar alguém. – A culpa foi sua!

As lágrimas de Ginny voltaram a descer e ela começou a bater contra o peito de Draco, incapaz de continuar a falar qualquer coisa, mesmo que sem sentido. Ela soluçava, e ele, sem saber como reagir, segurou-a pelos pulsos com apenas a força necessária para fazê-la parar, o que não era muito. Ginny, então, começou a escorregar lentamente para o chão e Draco, ainda a segurando, caiu de joelhos. Chorando desesperadamente, ela se jogou no ombro dele, que a abraçou até ela finalmente adormecer, meia hora depois. Draco, então, a pegou no colo e a levou para cama, deitando-se a seu lado e dormindo pouco tempo depois, segurando a mão dela.


Quando Draco acordou, pela segunda vez em dois dias, não quis abrir os olhos imediatamente. Ele não mais inventava desculpas para a sensação em seu baixo ventre, apesar de ainda não acreditar que gostava de ter Ginny em seus braços.

A moça, por sua vez, estava ainda levemente adormecida. Em uma tentativa de dormir profundamente mais uma vez, ela mudou de posição, se virando de barriga para cima. Contudo, ela acabou por sentir algo que não esperava e despertou completamente: a mão de Draco, que deveria estar em sua cintura sem que ela se desse conta de tal fato, havia escorregado quando ela se virou e agora repousava em sua barriga.

Ginny não ousava checar se ele dormia ou não. A verdade era que ela gostava do peso que a mão dele fazia contra seu corpo. Somente quando Draco a puxou mais para perto e sussurrou em seu ouvido que ela descobriu que o rapaz estava, de fato, bem ciente do que fazia.

-Hoje você não vai me bater. – Draco a segurou com força, imobilizando seus braços, mas tomando cuidado para não machucá-la.

-Me dê um motivo e o farei. – seu tom não era bravo, mas ela não estava brincando.

-Já não dei o suficiente? – ele falava em seu ouvido, Ginny sentia a respiração dele em seu pescoço, deixando-a arrepiada.

- Aquilo foi... Eu entendi o que ocorreu. – disse ela séria, após uma longa pausa. A verdade era que ela compreendia as circunstâncias da morte de Bill, apesar de não saber a história com detalhes, algo que ela nem queria.

-Me desculpe. – falou Draco, meio a contra-gosto, mas sem ironia ou sarcasmo.

-Aí está algo que não se escuta todo dia: Draco Malfoy pedindo desculpas. – ela se desvencilhou dele e levantou-se da cama.

-Ginevra, não vou implorar pelo seu perdão. Não me arrependo do que fiz. Era necessário. – ele também se levantou e parou na frente dela.

-Por que está se desculpando então?- ela examinava reações do loiro, como que esperando um motivo para esbofeteá-lo.

-Não tenho completa certeza. Você causa esse tipo de coisa. – disse Draco, passando a mão pelo cabelo despenteado.

-Você quer que eu o agradeça pelo que fez. Por isso está se desculpando. Sinto muito, Malfoy, posso até chegar a perdoá-lo, porque, de certa forma, admito que foi por uma causa maior. Mas nunca irei lhe agradecer pelo que fez. Nunca. – Ginny entrou no banheiro e bateu a porta.

Draco ficou agradecido por ela não ter esperado uma resposta. O fato era que ele dizia a verdade: não sabia o porquê do seu pedido de desculpas. A acusação de Ginny havia sido uma surpresa para ele, que passou a imaginar se, no final de tudo, essa era a sua real motivação. Contudo, rapidamente esse pensamento deu lugar a outro, mais assustador que o primeiro: ele tinha certeza de que só queria o perdão dela. Não a gratidão, ou qualquer outra coisa. Apenas que ela o olhasse nos olhos sem ódio. Mas ele jamais diria isso a ela.

Quando Ginny deixou o banheiro, o fez sem encará-lo e seguiu para cozinha. Draco a seguiu após lavar o rosto e encontrou-a já na mesa, comendo algumas bolachas com um copo de leite. Ela parecia nunca ter visto comida na vida.

-Se divertiu na Etiópia? – perguntou ele, sarcástico.

-Vamos botar dessa forma: se eu tivesse minha varinha, transfiguraria você em um boi e o comeria vivo.

-Se você tivesse sua varinha, nenhum de nós estaria respirando nesse momento. – assim que as palavras saíram de sua boca, ele se arrependeu de as ter pronunciado. E seu arrependimento foi justificado pelo olhar fulminante que ele recebeu de Ginny.

-Você com certeza entende do assunto. – alfinetou ela.

-Já disse uma vez e volto a repetir: você não tem idéia. – disse Draco sentando-se frente a ela.

-Diga, além do meu irmão, quem mais está na sua lista? – perguntou ela fingindo estar descontraída.

-Você não quer ouvir a resposta. – ele falou simplesmente, pegando uma bolacha.

-Não diga o que eu quero ou não fazer. Responda. – Ginny mantinha a voz calma, apesar da apreensão que corria dentro dela.

-Entre outros, meu pai. – falou Draco, comendo o resto da bolacha como se não tivesse falado nada fora do comum.

-Você matou seu próprio pai? – perguntou ela horrorizada.

-Era ele ou eu. – respondeu ele com naturalidade. – Foi legítima defesa. Se bem que não posso dizer que não foi merecido.

-Você tem uma desculpa para todos os seus assassinatos? – perguntou a ruiva, uma vez que esse era o segundo sobre qual ela ouvia que tinha uma "justificativa".

-Não. Mas você só me pergunta sobre os que eu tenho. – disse o outro sorrindo ironicamente.

-Você não é normal. – falou Ginny, balançando a cabeça.

-Não? O que você faria no meu lugar? – Draco tirou a camisa fazendo a moça corar levemente. Contudo, seu sangue pareceu fugir das faces ao ver as marcas que ele tinha. – Está vendo isso? – perguntou ele, se levantando e dando uma volta para que ela visse todas as finas cicatrizes. – Tortura do papai. E não estou falando de Cruciatus aqui. Ele considerava isso muito pouco. Queria que eu tivesse as marcas. Quando ele descobriu o que eu fazia, seu orgulho o impediu de contar a outras pessoas, principalmente ao Lord das Trevas. Mancharia seu nome. Imagine! Seu próprio filho, um Malfoy, um traidor? Ele, então, decidiu dar a minha punição sozinho. Num certo ponto, fiquei inconsciente. Enquanto ele esperava que eu acordasse, se distraiu e eu consegui pegar sua varinha. Poucos dias depois, Potinho acabou com tudo, por isso não tive grandes problemas. – Draco contava tudo de forma teatral e debochada.

Ginny se levantou, aproximou-se dele e tocou em uma das cicatrizes em seu peito, percorrendo-a com o dedo, tentando se certificar que ela era real e que ele falava a verdade. Draco segurou a mão dela levando-a aos lábios e beijando seus dedos um por um.

-Você é louca. – disse o rapaz, passando a mão dela em seu próprio rosto.

-Sou excêntrica, há uma diferença. – ela disse com um sorriso tão verdadeiro nos lábios que o fez sorrir também.

-Uma Weasley não pode amar um Malfoy.

-Eu não disse que te amava. – Ginny se aproximou ainda mais dele, colocando sua mão livre em suas costas.

-Que bom, seria extremamente meloso. – disse Draco, segurando-a pela nuca.

-E um Malfoy? Pode amar uma Weasley? – perguntou ela, seus lábios tocando levemente os dele por um segundo.

-Malfoys não amam. – ele tentou beijá-la, mas ela virou o rosto.

-Não podemos fazer isso. – disse Ginny, sem encará-lo.

-Acho que é seguro dizer que nenhum de nós segue regras. – Draco nem ao menos precisava dizer isso para convencê-la, ele mal havia terminado a frase quando ela pressionou seus lábios contra os dele.

Ginny começou a beijá-lo lentamente, quase o levando à loucura até que Draco finalmente tomou o controle e, sentando-a na mesa, beijou-a com paixão. Ambos sentiam que o mundo havia parado de girar para que eles tivessem aquele momento. Mas a crua realidade os trouxe de volta com um estrondo ensurdecedor: um feitiço havia atingido a janela pelo lado de fora. Draco xingou alto, irritado com a interrupção.

-O que foi isso? –perguntou Ginny, suas mãos ainda na nuca do rapaz. – Por que estão atacando a casa?

-Já expliquei que o Ministério está tentando mostrar serviço. – respondeu Draco com impaciência.

-Serviço numa janela nos fundos do segundo andar de uma loja supostamente vazia? – perguntou ela, descendo da mesa e tentando, sem sucesso, enxergar o que havia no outro lado da janela. – Tem algum lugar em que a gente possa ver o que está acontecendo?

-Ele deixa as janelas que dão para os fundos assim por um motivo. Não gosta de observadores. Maluco psicótico. De qualquer forma, eles podem estar procurando por você.

-Por mim? – ela estava ligeiramente surpresa com a sugestão de Draco.

-Quantas pessoas mais você está vendo aqui? – perguntou ele indo para o lado dela e abraçando-a pela cintura. – Seus irmãos te mandaram pra cá, e você não aparece há... – ele parou para ter certeza do número – cinco dias. Até onde me lembro, sua família se preocupa com você. Um pouquinho até demais, se você quiser saber a minha opinião.

-E como eles vão saber que eu estou aqui especificamente?

-Não os elogie, Ginevra. Eles não fazem a mínima idéia de onde você está e, considerando que nada mais foi lançado, devem estar fazendo a mesma coisa na loja vizinha nesse exato momento. Talvez se você estivesse sem o capuz naquele dia, alguém iria lhe ver entrando aqui. Convenhamos que seu cabelo não é exatamente discreto, mas isso não ocorreu. – "E provavelmente eu não te arrastaria para dentro" acrescentou ele mentalmente, sem arrependimento.

-Não faria diferença nenhuma. Só o Sr. Borgin sabe como abrir... Certo? – perguntou ela virando-se completamente para ele e colocando novamente os braços ao redor do seu pescoço.

-Você está aprendendo... – disse ele a beijando mais uma vez. Ginny contudo, não respondeu completamente. – O que foi? – perguntou o rapaz, neutro.

-Estou preocupada com eles. – "Eles não aguentarão achar que perderam mais um." disse ela mentalmente, querendo evitar uma nova briga sobre esse assunto. A moça se desvencilhou dos braços dele e voltou a sentar-se à mesa e pegou uma xícara de café, sem perceber quem havia feito.

Draco, desapontado, suspirou pesadamente e também voltou à mesa, tomando o cuidado de não tomar o café que ele sabia estar horrível.

-Falando em família – começou a moça, cautelosa –, você nunca me contou o que aconteceu com a sua mãe.

-Usaria termos impróprios para você. – respondeu, colocando uma bolacha inteira na boca.

-Tente controlar sua língua – disse ela, ruborizando – Por que esse assunto lhe incomoda tanto?

-Digamos que a parte que chegou a mídia era a versão leve da história. Por incrível que pareça, não conseguiram desenterrar os "podres".

-Que "podres"? – pergunto Ginny, seus olhos brilhando de curiosidade.

-Pelo menos tente se conter, Ginevra. – disse Draco, recostando-se na cadeira. – Vamos lá. Até onde você sabe?

-Que ela foi para algum lugar nos trópicos junto a alguém, levando a herança dos Malfoy. – Ginny falava com cuidado, com medo da reação dele.

Draco sorriu, mas não de felicidade. Era um sorriso frio e louco, mas tinha um lampejo de dor.

-Como eu disse, você não sabe nem a metade.

A situação delicada, unida à expressão e ao tom de voz de Draco, fazia com que a curiosidade da ruiva desse lugar ao desconforto. Ela hesitou antes de perguntar:

-O que aconteceu?

-Vamos começar pelo "alguém". Prefiro o termo "ninguém". É um sangue-ruim qualquer. – ao som do termo, Ginny fez uma careta que o rapaz pareceu não perceber. – Sinceramente, não sei o que se passa pela cabeça dela. Acredito que a essa altura ela já esteja casada com ele. Acho que uma das últimas cartas que ela me mandou se parecia com um convite. Pode ser que não, mas de qualquer forma, ela acidentalmente saiu voando pela janela antes que eu pudesse dar mais atenção.

-Mas ela é sua mãe! – exclamou Ginny, horrorizada com a frieza dele.

-Não. Ela é mãe do... Como é mesmo o nome dele... Deneb.

-Deneb? – perguntou ela sem entender.

-Meu... meio-irmão, - finalizou ele com desgosto – Ela já estava grávida de uns três meses da última vez que a vi, antes de ela ir embora.

-Mas então seu pai... – começou ela, fazendo as contas mentalmente.

-Estava vivo ainda. Se o cara que ela arranjou não fosse sangue-ruim, aplaudiria a atitude dela. Talvez até fosse com ela.

-Ela te chamou? E você se recusou? – perguntou ela incrédula.

-Oh, sim – disse ele, irônico -, ela me chamou. Quando eu disse não, ela se irritou. Disse que eu era igual ao meu pai e que ela devia ter me cortado as asas há um bom tempo. Acho que acabou se arrependendo disso depois e me manda cartas com frequência, mas aquela corrente de ar da minha casa acaba levando todas embora.

-Você é inacreditável! – exclamou Ginny abismada com o que ouvia.

-Inacreditável é a audácia dela! – esbravejou Draco com raiva, quase quebrando sua xícara ao colocá-la na pia. – A culpa disso tudo é ela!

-Er... Não é, não. A culpa é do seu preconceito e do seu orgulho sem precedentes. – explicou ela calmamente.

-"timo! Era tudo o que eu precisava! Um sermão! Me poupe da lição de moral, Weasley. – Ele largou tudo o que estava fazendo e desceu as escadas, bufando. Ginny, deixada para trás, estava boquiaberta.

A moça não o viu durante o resto do dia e, sinceramente, não tinha nenhuma motivação para procurá-lo, tendo consciência de que Draco não estaria de bom humor e ainda sem ter processado tudo o que havia sido dito. Ao invés disso, ela se ocupou (se arrependendo depois de um tempo) com alguns livros nada "agradáveis" que ela havia encontrado no armário do quarto.

Quando a noite caiu, Ginny começou a ficar ligeiramente preocupada. Já passava das oito e Draco não aparecia para comer ou fazer qualquer outra coisa desde a hora do café. Ela, então, desceu para procurá-lo. Não viu nenhum sinal dele, mas de repente, achou ter ouvido seu nome.

-Draco? – perguntou ela, incerta. Porém, poucos segundos depois, ela o ouviu novamente e seu coração pulou uma batida. Ela seguiu para a direção do som. – Draco!



N/A2: Deneb é o nome de uma estrela da constelação Cygnus. Quanto ao pai dele, não é ninguém em especial que tenha aparecido na série.