Mais de seis meses se passaram sem que Draco e Ginny se encontrassem ou se comunicassem de qualquer forma. Como ambos já haviam previsto, tudo que ocorreu ficou ali, na Borgin & Burkes. Tudo, menos as lembranças. Essas seguiam cada um deles a todo lugar e não os deixavam por um único segundo sequer.

No dia seguinte à partida de Ginny, Draco foi demitido. O Sr Borgin não tomou a destruição de sua casa de bom grado. E apesar da insistência de Draco que toda aquela situação tinha sido um acidente, o chefe o ignorava e dizia acreditar que tudo havia sido um plano do rapaz. Na verdade, apesar da história de Draco não parecer muito verídica, o que o Sr Borgin queria era um motivo para se livrar do empregado. Encontrá-lo em sua casa com uma mulher e sua cozinha alagada pareceu uma boa desculpa.

Draco conseguiu sobreviver por um tempo com algumas economias e alguns "trabalhinhos" aqui e ali. Mas com o passar dos meses, as coisas começaram a se complicar. Até que certo dia, ouviu a campainha de seu apartamento.

Seu coração chegou a parar por um momento, e ele se repreendeu por isso. Rapidamente recuperou a compostura. Abriu a porta e surpreendeu-se com o que viu.

-O que diabos você está fazendo aqui? – perguntou rudemente.

-Não vai deixar sua mãe entrar? – Narcissa tinha o mesmo tom de sarcasmo do filho. Ela não esperou uma resposta e entrou, fazendo com que Draco batesse a porta com força.

A casa, especialmente agora, não tinha muito luxo. Era um pequeno loft não muito arrumado e com mais coisas do que deveria, tornando-o extremamente atravancado. Narcissa pulou por cima de uma pilha de livros e sentou-se no sofá.

-Fiquei sabendo do ocorrido. – disse ela, calmamente pegando sua varinha e enrolando algumas meias que estavam em cima da cama.

-Está me espionando agora? – perguntou ele, usando a varinha para desmanchar o que ela havia feito com as meias.

-Ora, querido, você me subestima. Fui eu quem arranjou aquele empreguinho para você. Sabia que você jamais conseguiria se virar sozinho. Não com a criação que seu pai lhe deu. – disse ela, fazendo Draco tossir ao se lembrar do que tinha feito ao pai. Narcissa não sabia da história. E nunca perguntou ao filho porque o Ministério não o repreendeu por ele ser um Comensal. Não sentia que isso fosse necessário. – Quando você foi demitido, recebi uma carta desagradável do Sr Borgin. Espero que ele goste de verrugas, pois certamente deve ter desenvolvido alguma após ler minha resposta. – ela sorriu ironicamente, outra característica a qual Draco havia herdado.

-Isso aconteceu há algum tempo. Por que você resolveu animar meu dia só agora?

-Não seja sarcástico com a sua mãe. – ordenou Narcissa, fazendo com que Draco espumasse de raiva, mas ficasse quieto. – Conheço-o melhor do que você imagina. Você não se arruinaria imediatamente. Pode ser filho do seu pai, mas também é um Black. Agora, preciso fazer algumas perguntas.

-Um interrogatório? Por que deveria responder qualquer coisa? – a postura de Draco era a de uma criança mimada. Ele tinha os braços cruzados, havia sentado numa cadeira oposta ao sofá onde sua mãe se encontrava, e batia o pé impacientemente no chão.

-Há o jeito fácil, o jeito difícil e o jeito desagradável. Você pode me contar o que eu quero ouvir, esperar que eu lance uma maldição Imperio em você, ou, no caso de você finalmente ter aprendido a resistir a isso, eu posso imobilizá-lo e administrar algumas gotas de uma poção chamada Veritaserum. Pode escolher.

-O que você quer saber? – perguntou Draco a contra gosto. Ele sabia que sua mãe não devia ser desafiada.

-Bem, não vou nem entrar no assunto "como você conseguiu ficar trancado?", pois não me interessa ouvir uma história estúpida e que provavelmente só irá me chatear. Nem sequer quis imaginar o que você ficou fazendo lá. Apesar de você não acreditar, eu me importo com que acontece com você e essa história não me faria bem. De qualquer forma, li algo que me intrigou: na carta que aquele inútil do seu chefe me mandou, ele mencionou algo sobre uma ruiva.

-Não. – disse ele, autoritário. – Isso não. – "A Ginny é minha. Não vou dividir isso com você." pensou.

-Por favor diga que não é uma Weasley! – Narcissa ignorou o protesto do filho.

-Não sei de onde você tirou isso – mentiu Draco, seu sangue congelado nas veias. - , mas mesmo que fosse, quem é você para me julgar? Você casou com um sangue-ruim!

-É, mas ele é rico. Não deixei um único galeão para você para tentar fazê-lo perder um pouco desse orgulho dos Malfoy. O dinheiro de seu pai não me faria falta se tivesse escolhido deixá-lo.

-Ele tem dinheiro, ela tem sangue-puro. Diria que estamos quites. – falou, seco e sem medir as consequências de suas palavras.

-Era uma Weasley! – exclamou, dividida entre horror e satisfação por ter feito Draco falar o suficiente para ela chegar a essa conclusão.

-Você realmente acha que iria descer a tal nível? – questionou, fingindo nojo.

-Draco, não sou burra. Se você detestasse tanto uma Weasley assim, não a defenderia. Nem mesmo para me atacar. – concluiu, triunfante.

-Ache o que quiser. Há muito desisti de convencê-la sobre qualquer coisa. Passei a ignorá-la. É bem mais efetivo. – seu tom revelava ódio.

-Tudo bem, querido. Vou fingir acreditar nisso se esse for o seu desejo. – disse ela, sorrindo.

-Veio aqui só para ter certeza de que não eu estava andando em má companhia? Ou há algo mais que você queira? – perguntou Draco, tentando mudar de assunto e, se possível, fazer sua mãe ir embora.

-Na verdade, o verdadeiro motivo da minha visita foi fazer pessoalmente o que tantas vezes já fiz pelas cartas que você, sendo muito ocupado, não pôde ler: quero que venha morar comigo.

-Você deve estar brincando! O clima quente certamente não está fazendo bem a você, mãe. O que a faz pensar que, mesmo por um segundo, consideraria a sua proposta?

-Deixe de ser orgulhoso. Você não tem um galeão nem para enfeitar o seu bolso! – Draco fez menção de responder, mas Narcissa o cortou: - Venha sábado na hora do jantar. Aqui: – ela arremessou um pequeno saco de veludo em cima da mesa - é dinheiro. Reconhece? Compre vinho e um presente para sua mãe. – dito isso, desaparatou, deixando para trás seu filho, boquiaberto, mudo e perdido.


Na noite em que deixou Draco para trás na escura e deserta rua da Travessa do Tranco, Ginny caminhou até ter certeza de estar fora do campo de visão do rapaz antes de aparatar para cozinha d'A Toca. Ali, encontrou seus pais, os gêmeos, Charlie e Harry sentados à mesa, todos com os olhares perdidos. Foi o moreno que a viu primeiro. Soltou uma exclamação e correu para abraçá-la, para ter certeza de que era realmente ela. Todos os presentes fizeram o mesmo e a Sra. Weasley chorava como uma criança. Ginny foi bombardeada com perguntas de todos os lados, incapaz de entender qualquer uma por completo.

-Calem-se todos! – gritou Molly por cima da voz de todos os outros. – Ginny, querida sente-se. – Ela se certificou que a filha estava confortável e então, enxugando as lágrimas, esbravejou: - ONDE É QUE VOCÊ ESTAVA?! VOCÊ FAZ IDÉIA DE COMO EU FIQUEI PREOCUPADA?! VOCÊ VAI PARA A TRAVESSA DO TRANCO E NÃO MANDA NOTÍCIAS POR UMA SEMANA?!

-Molly, querida, acalme-se. – pediu Arthur, colocando a mão sobre o ombro da esposa. – Deixe a menina falar.

A mulher obedeceu, e demonstrando um controle sobrenatural de seus nervos, calou-se.

-Eu fiquei incomunicável. – começou a caçula com cautela. Ela queria ganhar tempo para poder pensar em algo para contar. Não queira mentir para sua família, mas jamais poderia relatar a real versão dos acontecimentos. – Ocorreu uma espécie de batida do Ministério por lá e eu acabei ficando trancada em uma loja. O dono só retornou hoje.

-Como você ficou trancada?! – perguntou Fred, achando a história impossível.

-Não sei direito. Algo a ver com um feitiço de segurança. Eu só queria sair dali, então não pedi muitas explicações quando o dono apareceu. – Seu estômago estava embrulhado. Apesar de estar apenas omitindo o fato de não estar sozinha na loja, isso não a fazia sentir-se melhor.

-Minha filha! – exclamou a Sra Weasley antes de pegar Ginny nos braços quase a enforcando em um abraço.

-Está tudo bem. Estou bem. Sério! – disse ela, lutando por ar.

-Mãe, ela está começando a ficar roxa. – George ressaltou.

-Desculpe, querida. – disse ela, soltando-a do abraço, mas ainda segurando sua mão. – Você precisa de alguma coisa? Quer descansar? Venha. Tome um banho bem quente e deite-se.

Ginny ficou agradecida pelas perguntas pararem, pelo menos por ora. Sem protestar, seguiu os conselhos da mãe e após um banho demorado, seguiu para o seu quarto e jogou-se na cama. Manteve seus olhos fechados por cinco minutos até que ouviu uma batida na porta. Pediu para que entrasse e após acender a luz com um movimento rápido de sua varinha, viu Harry parado ao lado de sua cama. Sentou-se e pediu que ele fizesse o mesmo.

-Você realmente está bem? – perguntou o moreno, claramente preocupado.

-Sim, já disse que sim. – respondeu ela, sorrindo.

-Em qual loja você ficou trancada? – questionou, com cautela.

-Borgin & Burkes. – Ginny estava incerta se deveria liberar essa informação, contudo, não havia como evitar uma pergunta direta.

-Conheço. – comentou Harry, lembrando-se do acontecimento resultante de sua primeira viagem por pó de flú. – E você ficou lá sozinha?

-O dono só voltou hoje. – disse, sem responder a pergunta, mas esperando que ele se desse por satisfeito. – A casa fica sobre a loja. Sobrevivi lá.

-Não havia como pedir ajuda? – após o aceno negativo da ruiva, continuou: - Sinto não ter podido ajudá-la. Você não deveria ir lá sozinha, mesmo em tempos como esses.

-Eu sei me virar muito bem, Harry. – retrucou Ginny, irritada com o fato que ele ainda a julgava indefesa.

Harry pegou a mão cortada de Ginny. A moça havia se esquecido completamente do ferimento. Ele murmurou algumas palavras e com um toque de sua varinha, o ferimento se fechou sem nem deixar marcas.

-Claro que sabe. – disse ele, soltando a mão dela e saindo do quarto.

Depois desse dia, houve ainda mais algumas perguntas sobre o acontecimento (nenhuma delas vinda de Harry), mas Ginny conseguia omitir a presença de Draco junto a ela, em todas as respostas. Sua vida, aos poucos, foi voltando ao normal. Todas as vezes em que ia para a Gemialidades Weasley, pensava em seguir para a Travessa do Tranco, mas nunca conseguia completar o caminho. Aos poucos foi contentando-se em ter Draco apenas em seus pensamentos.


Draco acordou no sábado com um mau humor extremo. Rolou da cama e forçou-se a pegar o dinheiro que Narcissa havia deixado e fazer o que ela havia mandado. Vestiu-se e aparatou no Beco Diagonal.

O lugar estava praticamente impossível de se caminhar. O ano letivo começaria em uma semana e havia alunos e pais por todos os lados a procura do material necessário para a escola. Draco caminhava xingando a todos e a si mesmo mentalmente, procurando terminar sua "tarefa" o mais rápido possível. O vinho foi facilmente encontrado, mas sua mãe também pedira um presente, e o loiro tinha certeza de que ela não estava brincando. Pensou em comprar algo para a casa, e caminhava em direção a uma loja qualquer quando, de relance, viu uma cabeleira vermelha do outro lado da rua.

Como se sentisse estar sendo observada, Ginny Weasley se virou e seu olhar pousou imediatamente no de Draco. Eles se demoraram, perdidos um no outro, com medo de piscar e descobrir que havia sido apenas uma miragem. Foi Draco quem caminhou em direção a ela, apenas meio consciente de que seus pés se mexiam. Ao alcançá-la, lutou contra o desejo de beijá-la e, reunindo todas as suas forças, conseguiu pronunciar seu nome, Ginevra, quase como um sussurro.

Um calafrio percorreu a espinha da ruiva ao ouvir seu verdadeiro nome pela primeira vez em tanto tempo. Ela sorriu e chamou-o de Estrelinha.

Mais uma vez eles ficaram em transe, perdidos nos olhos um do outro. Foram trazidos de volta por um choro de criança vindo de um carrinho ao lado de Ginny.

-Parthenope, não chore! – a ruiva pegou a menina no colo. Ela vestia um macacão cor-de-rosa, tinha grandes olhos castanhos e cabelo bem ruivo. Não podia ter mais de um mês. Ao ser ninada, se acalmou.

-Ginevra – chamou o rapaz, sério - , quem é... – ele não conseguiu terminar a frase.

-Como?- perguntou ela, desviando os olhos do bebê e olhando para ele – Oh! Não a reconhece, Draco?

-Deveria? – agora ele suava frio. Sua cabeça estava uma bagunça e ele tentava desesperadamente encontrar alguma explicação para aquilo.

-É minha sobrinha. Acalme-se, Draco, você está ficando branco. Não sabe fazer contas? Seria impossível! Ela é filha de Ron e Hermione.

-Granger está procriando?! – ironizou, sentindo-se aliviado. – Onde a humanidade irá parar?

-Ei! É da minha sobrinha que você está falando! – retrucou ela, ofendida.

-Onde estão os pais dela? – perguntou ele, querendo ter certeza de que não iria encontrá-los. Não importando se eles sabiam ou não dos acontecimentos na Borgin & Burkes, seria uma situação desagradável.

-Ron está comprando um presente de aniversário para Hermione. A loja estava lotada, então decidi esperá-lo aqui fora. Ele não deve demorar muito. – Ginny acrescentou essa última parte visualizando a cena de um encontro entre Ron e Draco enquanto este último conversava normalmente com a irmã caçula do primeiro.

-Eu tenho que ir de qualquer forma. – disse ele, sem graça.

-É. – concordou ela, desapontada.

Ele se virou, mas antes que pudesse dar um passo em direção a rua, ela o chamou

-Draco! – ele se virou, "é agora ou nunca" pensou Ginny. – Quero vê-lo de novo.

O loiro olhou para ela como se tentasse ver além de suas palavras. Deu um pequeno sorriso irônico e perguntou:

-É mesmo?

-Eu sei que já faz seis meses, mas a gente podia... conversar, sei lá...

-Hoje. – disse ele bruscamente, imaginando se teria outra oportunidade de vê-la. – Se livre da pirralha e me encontre na Ponte da Torre em uma hora. Lado norte. – dito isso, ele se virou e foi andando antes que pudesse mudar de idéia, ou que ela negasse a sua proposta.


Assim que Ron saiu da loja onde estava, Ginny disse que tinha algo urgente para resolver e, sem dar nenhum detalhe, colocou Parthenope nos braços do irmão e desaparatou. A ruiva não foi direto para o lugar onde haviam marcado, até porque ainda tinha quarenta e cinco minutos. Passou em casa antes, onde soltou os cabelos que antes estavam presos e já começava a se maquiar, quando soltou um exclamação. Aquela definitivamente não era a Ginny Weasley que ela conhecia. Rapidamente tirou o pouco de maquiagem que já havia colocado, mas manteve os cabelos soltos. Dando uma olhada em seu relógio desaparatou novamente, dessa vez indo para a ponte.

Era quase meio dia e muitas pessoas transitavam pelo local. A maioria, Ginny avaliava, era trouxa. Talvez por esse motivo Draco houvesse sugerido o local: não seriam reconhecidos com facilidade. Ela se apoiou no parapeito em um ponto antes da entrada efetiva da ponte, e ficou a observar a belíssima arquitetura. Não queria pensar no que iria dizer ou fazer em poucos minutos, até porque nada coerente lhe vinha à mente. Ao invés disso, esperou. E Draco não vinha.

Ginny olhou no relógio: ele estava meia hora atrasado. A partir daí, ela começou a prometer a si mesma ir embora em cinco minutos, fazendo isso pelos vinte que se seguiram. Finalmente iria cumprir sua promessa e começara a andar quando sentiu um braço enlaçando-a pela cintura e uma voz sussurrando em seu ouvido:

-Indo a algum lugar? – Ginny não precisava vê-lo para saber que era Draco. Por isso, não hesitou em acertar-lhe uma cotovelada nas costelas, fazendo-o soltá-la, curvando-se sobre o próprio corpo, buscando ar. – O que diabos...?! – exclamou ele, agora se apoiando no parapeito com parte de seu cabelo caindo-lhe pelos olhos.

-Isso foi por ter me deixado plantada aqui por uma hora! E agradeça por estarmos em um local trouxa ou te transformaria numa lagartixa manca! – Ginny estava ficando vermelha de raiva.

-Acalme-se! Eu tive pequenos imprevistos. – defendeu-se Draco. Ele estava se referindo ao conflito que o afligiu logo que deixou a ruiva para trás no Beco Diagonal. Ele entrou na primeira loja que encontrou e comprou um vaso para sua mãe. Sabia que ela iria detestá-lo, mas isso ocorreria não importando qual presente ele comprasse. Assim que terminou de pagar, Draco desaparatou para casa e largando as compras num canto cruzou com seu reflexo no espelho. Havia atingido o fundo do poço. Iria morar com sua mãe e seu novo marido sangue-ruim porque não tinha um mísero galeão, e estava indo encontrar uma Weasley cheia de sardas que não tinha saído de sua cabeça nos últimos seis meses. O primeiro problema era inevitável, mas o segundo certamente tinha solução: ele poderia simplesmente não ir. Mas a questão era: seria ele capaz disso? Obviamente, não o fora, pois estava agora olhando nos olhos castanhos de Ginny. – Mas estou aqui agora, não estou? – ele havia tirado o cabelo dos olhos e sorria para ela.

-Me dê um motivo para não ir embora. – desafiou a ruiva, sem ceder ao sorriso dele.

Draco a encarou, ponderando sobre qual seria sua resposta. Puxou Ginny pela cintura e a beijou. No começo ela retribuiu o beijo, mas logo se afastou, sem ser brusca.

-Caminhe comigo, Malfoy. – disse ela, em tom de ordem, mas sorrindo. Eles seguiram para ponte e começaram a atravessá-la lentamente e em silêncio, até que a ruiva resolveu quebrá-lo. – O que você estava fazendo no Beco Diagonal hoje?

-Certamente não estava apreciando a paisagem. O lugar estava um caos! – exclamou, com horror. – Estava fazendo compras, o que mais? – respondeu por fim, impaciente e detestando o rumo que aquela conversa estava tomando.

-O que o Sr Borgin poderia querer de lá? – como sempre sua curiosidade ganhava. Ginny não sabia da demissão de Draco e presumiu que ele estaria em horário de trabalho.

-O que aquele velho porco teria a ver com isso? – perguntou Draco, já acostumado à idéia de não trabalhar mais na Borgin & Burkes e esquecendo-se que isso era novidade para ruiva.

-Ele é o seu chefe. E você trabalha aos sábados, não? – ela agora estava confusa.

-Não trabalho mais. – ele finalmente havia entendido. – O Sr Borgin levou a destruição de sua casa para o lado pessoal...

-Você foi demitido? – perguntou, surpresa e horrorizada com a perspectiva.

-Odeio esse termo, mas sim. Fui. – Draco não parecia abalado com aquilo. Já fazia muito tempo e já era capaz de lidar com a situação com naturalidade. Contudo, admitir para ela havia ferido seu orgulho.

-Eu não sei o que dizer... – Ginny se sentia culpada e seu desconcerto elevava o espírito de Draco.

-Essa é a prova que a existência de uma consciência só serve para causar peso... Se o fato de você ter parte na história me deixasse irritado, Ginevra, você saberia. – ele não mentia. Ginny tinha culpa em sua demissão, mas ele, incrivelmente, não queria vingança.

-O que você está fazendo agora? – questionou, incerta.

-Estou andando com você. – respondeu ele, irônico. Não queria falar sobre o que estaria fazendo naquela noite, mas sob o olhar de desaprovação da moça com sua resposta, ele acrescentou, sério: - Não vamos tocar nesse assunto. Não é importante. Ou interessante.

Ginny, com muito esforço, se deu por vencida, pelo menos por ora. E mais uma vez o silêncio caiu sobre eles. Ao tentar desviar de um transeunte significativamente rápido e bruto, a ruiva acabou por ter que se jogar no rapaz que a amparou por reflexo. Quando já era seguro para Ginny caminhar normalmente, ela sentiu Draco segurar sua mão. Ela mordeu o lábio inferior antes de confessar:

-Eu senti sua falta. – ela olhava para o chão, tímida e, como todos em sua família quando se encontravam em uma situação semelhante, tinha as orelhas vermelhas. – De uma maneira estranha, assustadora e deturpada. – acrescentou, brincando.

-Esqueceu o "socialmente incorreta". – ele também sentira falta dela, e essa era a sua forma de dizer isso. Ela, por sua vez, demonstrou ter entendido ao segurar mais firme na mão dele.

-Isso é ridículo! – exclamou Ginny parando subitamente, ocasionando reclamações dos que andavam logo atrás dela. Com o olhar espantado e inquisitivo do loiro, Ginny tentou ao máximo parar de atrapalhar a passagem e, tirando-o do meio do caminho, explicou: - Nós. Brigamos por sete dias, tivemos uma... bem, dormimos juntos, nos separamos e agora estamos aqui, seis meses depois, em uma situação ininteligível para ambos, confessando coisas que não deveríamos. E no final da tarde eu vou voltar para' Toca e evitar qualquer pergunta, e minha mãe fará muitas, que possa entregar o que eu estive fazendo hoje.

-Garanto que a sua mãe vai ser melhor que a minha. – o comentário saiu espontaneamente, e Draco se xingou por tê-lo feito em voz alta.

-Como? Mas você não... Pensei que não falasse com a sua mãe. – Ginny estava confusa e sua curiosidade voltava a dominá-la.

-Não falo. Mas vou morar com ela. – Draco deu um sorriso lateral e sarcástico. Por dentro, queria se bater com força até se deixar inconsciente e assim manter sua boca fechada, mas não poderia ter uma crise nervosa em público. Tinha que manter a compostura. E de qualquer forma, se ele não falasse por vontade própria, Ginny o infernizaria até que ele lhe contasse cada detalhe. Dessa forma ele poderia ao menos controlar a informação a ser liberada.

-O quê?! Mas... como? Você... E a... – a ruiva estava sendo invadida por várias perguntas ao mesmo tempo, tornando-se incapaz de verbalizá-las por inteiro.

-E lá vamos nós de novo. – disse Draco revirando os olhos. – De todas as suas manias irritantes, essa de deixar frases incompletas é a pior.

-Você não pode soltar esse tipo de informação e esperar que eu aja de forma coerente. Explique-se! – ordenou ela, com a voz extremamente fina.

–O assunto com a minha mãe é bem simples. Ela tem dinheiro sobrando e eu estou cansado de Londres. Eu fico com ela até poder me mudar para Cancun e depois vou embora.

-Só isso? E quem teve essa brilhante idéia? – perguntou, duvidando devido à superficialidade da história.

-Minha mãe caridosamente me ofereceu abrigo. – disse ele, em um tom de desprezo.

-Então ela vai te alimentar e depois te despachar para uma ilha tropical? Amor de mãe é realmente incondicional...

-Foi tudo uma jogada dela para juntar "uma grande família feliz". – falou, com nojo. – Bem, Narcissa Black Malfoy terá o que quer, mas só até eu conseguir o que EU quero.

-Ah, meu Deus! – exclamou Ginny escandalizada e inconscientemente se afastando do rapaz. – Você está se escutando? Sua mãe se propõe a ajudá-lo e você a trata dessa forma? Há alguma coisa nesse mundo que você não manipule para seu benefício? Isso é doentio!

-Ginevra, eu não quero brigar com você por causa da minha mãe. Eu só quero relaxar antes de ir mais perto do inferno hoje à noite. – Draco se aproximou dela e tentou segurar sua mão, mas Ginny não permitiu.

-É essa a minha utilidade? Tirar sua mente de seus assuntos "desagradáveis"? Sinto muito, Draco Malfoy. Escolheu a garota errada. – furiosa, Ginny deu as costas a Draco e começou a sair, mas ele a seguiu.

-Nunca disse isso! Por que isso te incomoda tanto? Pára de besteira! – ele também estava irritado, julgando-a infantil e mimada.

-Por quê? Por quê? – repetiu ela, virando-se para encará-lo. – Porque eu passei os últimos seis meses fantasiando sobre como seria vê-lo novamente; criando na minha cabeça uma imagem de um homem perfeito. E você acabou de me dar provas de algo que eu sempre soube, mas venho optado por ignorar: pessoas não mudam e você nasceu como o pior tipo que já andou sobre a Terra. – Ginny seguiu na direção oposta o mais rápido que pôde, refazendo o caminho inverso ao que tinha feito com Draco e, assim que encontrou um beco deserto, desaparatou.


Draco seguiu logo para casa. Seu apartamento se mantinha na desorganização habitual. Iria levar suas coisas para a casa de sua mãe ao longo da semana. Naquela noite, carregaria apenas uma pequena mala com o essencial. Mas no momento, nada daquilo passava por sua mente. O rapaz apenas se jogou no sofá, tirou os sapatos e arremessou-os longe. Estava frustrado e insultado com o que tinha acontecido. Para ele, as acusações de Ginny eram sem fundamento. Além disso, a semana que eles passaram juntos tinha mostrado a ela perfeitamente quem ele era. Não tinha necessidade da ruiva ter feito aquela cena. O problema era que ela queria se meter em assuntos que não lhe diziam respeito. Típico! Contudo, nada disso importava. Pois a certeza de que Draco tinha era a de que nunca mais a veria novamente.

Assim, ele aparatou em frente à casa da sua mãe. A grande distância e os devaneios da mente de Draco que, sem autorização, ficava a repetir as últimas palavras que Ginny havia dito a ele, haviam feito com que ele quase se dividisse ao meio no processo. Por sorte, tanto o tronco quanto as pernas do loiro tinham chegado ao seu destino e se encontravam agora em frente a uma mansão de um único andar. Draco observou que haviam poucas e dispersas casas por ali. Era menos do que uma cidade pequena. A noite que caía dificultava ainda mais a visão do perímetro, e o rapaz sentia como se estivesse literalmente no meio do nada. Estava quente, e ele tirou o casaco. Agora, olhando para a fachada branca da casa que seria seu lar, Draco queria, mais do que nunca, se afogar no lago que havia a poucos passos de distância. E a voz de Ginny não o abandonava nem por um segundo sequer.

Havia uma cadeira de madeira ali e Draco, torcendo que a escuridão que agora vinha cada vez mais rápido o escondesse dos moradores enquanto ele tentava se impelir para a porta, sentou-se. Era inútil negar que as palavras da ruiva haviam causado algum impacto. Mas não faziam com que ele se arrependesse dos motivos que o levaram àquele lugar. Ele jogava segundo as regras de sua mãe. Odiava o que estava prestes a fazer não por peso na consciência, mas por ter sido obrigado a aceitar a situação e obedecer as "ordens" de Narcissa se quisesse sobreviver. A questão que o levara a fraquejar era a estranha sensação de que viver em qualquer casa se tornara pior desde que ele se encontrou sem ela. Aqueles sete dias tinham o acostumado mal. E, agora ele admitia, não havia uma única manhã nesses seis meses em que ele não acordasse tateando à procura de Ginny.

"Havia uma época na qual, quando Draco Malfoy queria uma coisa, ele a pegava para si." lembrou uma voz na cabeça do rapaz.

-E as pessoas não mudam. – disse ele, sussurrando para si mesmo. Havia tomado uma decisão. Seguiu para porta, deixou ali o presente e o vinho os quais sua mãe fizera tanta questão, tocou a campainha, e desaparatou.


Draco se lembrava de algo que Ginny tinha falado naquela tarde (além do sermão). Algo sobre ir para a tocaia... claro que não... a toca! Era isso! Que diabo de nome era esse, fugia da alçada do loiro, mas era para lá que ele tinha que ir. Ou tentar.

Ele abriu os olhos certo de que tinha ido parar no lugar errado. Se encontrava no meio do campo. Mas ao se virar, Draco deu de cara com a estrutura mais estranha e repugnante que ele já vira na sua vida: Era como uma larga torre de pedra que se erguia torta por vários andares. E em frente a ela erguia-se uma placa onde se lia: "A TOCA".

O dilema que se seguiu foi quanto a qual quarto Ginny estaria ocupando. Porque ele não poderia simplesmente bater na porta. Draco puxou o capuz de sua capa e se esgueirou para a "casa". Aquilo era ridículo ao extremo, mas ele não ousava voltar. Por uma ironia do destino, ao passar pelo muro da esquerda, o rapaz viu, caminhando em sua direção, o motivo de ele ter se dado àquele trabalho.

Ginny caminhava alheia a tudo. Tivera suas fantasias destruídas brutalmente naquela tarde. Não conseguindo reunir o ânimo para jantar com seus familiares, ela se retirou para o quarto, mas acabou mudando a direção e optando por uma caminhada pelo jardim. Para evitar tropeçar no terreno irregular, havia acendido a ponta de sua varinha e foi esse feixe de luz que aterrizou numa forma escura a poucos passos de distância. Pelo porte, Ginny deduziu que estava em frente a um homem. Por reflexo, ia imobilizar quem quer que fosse. Nos anos de Guerra, tinha aprendido a perguntar depois. Mas o alvo percebeu o que estava prestes a acontecer e a desarmou, enviando sua varinha a metros de distância. O homem se aproximou, convocou a varinha ainda acesa, e a devolveu. Foi então que Ginny viu por baixo do capuz um lampejo de olhos azuis acinzentados, e o reconhecimento a atingiu.

-O que você está fazendo aqui? – sibilou ela.

-Você se tornou um grande problema. – respondeu calmamente, retirando o capuz.

-Então vire as costas e saia daqui! – retrucou Ginny. A presença dele a inquietava.

-É aí que está. Não posso fazer isso. – falou, simplesmente.

-Se quiser, eu posso te estuporar e te arrastar... – ela gesticulava com a varinha, única fonte de luz além do fraco luar.

-Pode tentar, mas eu vou voltar porque sair daqui seria contra os meus princípios. Não sair também seria, mas sair é pior. – concluiu ele. Matinha seu tom de voz no limite da calma, não se alterando pelas ameaças dela.

-Você não está fazendo sentido. Tem uma Ala no St Mungos para pessoas como você.

-Uma ala para o pior tipo de pessoa a andar sobre a Terra? – Draco sorriu ironicamente ao repetir as palavras da ruiva.

-Uma ala para pessoas com danos permanentes. Realmente aconselho que você saia se não quiser ter danos físicos além de mentais. – Ginny duvidava que fosse realmente machucá-lo. Estava na esperança de que ele a levasse a sério e não a testasse.

-Você não me ouviu dizer que não posso sair? – perguntou ele, revirando os olhos.

-Sei que vou me arrepender de ter perguntado, mas por que isso é contra seus princípios? – ela cruzou os braços e ficou a bater o pé no chão impacientemente. Seu plano não estava surtindo efeito.

-Porque eu não vou descansar até ter tudo o que quero. Então pode gritar, me bater, me azarar, mas no final das contas, eu vou conseguir. Além do mais, duvido que minha mãe me aceite de volta agora, de forma que, sendo você a culpada de tudo, deve arcar com as conseqüências.

-Você deve estar brincando! – exclamou, incrédula. – Como isso é minha culpa? Como assim eu vou ter que arcar com as conseqüências? O que você andou bebendo?!

-Se você não tivesse ficado no meu caminho há seis meses, nada disso teria acontecido. Agora eu vou precisar de um lugar pra ficar. Não vai demorar muito para eu ser despejado. – admitir isso foi extremamente constrangedor. Se Ginny mantivesse sua postura, ele iria que apagar sua memória.

-Draco, não... – pediu ela, reencostando-se no muro como se estivesse sem forças. – Algumas palavras bonitinhas não vão me fazer mudar de idéia. – ela dizia isso mais para si mesma do que para ele.

-Ações funcionariam? – Draco apoiou a mão no muro e a beijou. Ginny retribuiu o beijo colocando a mão em seu rosto, mas foi ela que interrompeu.

Eles trocaram olhares por um segundo, como na última vez. Mas dessa vez não houve troca de palavras. Ginny simplesmente saiu, deixando-o na escuridão.


-Se meus irmãos descobrirem, vão te matar. E não pense que eu vou te sustentar! Se você for despejado, vai dormir na rua. – Ginny tinha aparatado atrás de Draco, que tendo recolocado o capuz, caminhava pela estrada de terra, sem vontade de voltar para casa.

-Vai me visitar no abrigo para os sem-teto, Ginevra? – perguntou ele, se virando.

-Desde que eu não fique presa lá com você...

-Isso é o cúmulo da loucura. Vamos ser dilacerados. – o fato de que eles não seriam bem aceitos era bem conhecido dos dois. Muitas vezes, ele foi completamente ignorado, mas Draco precisava saber se ela tinha considerado-o novamente. Não que isso fizesse com que o loiro desistisse.

-Como se eu alguma vez tivesse parado de fazer alguma coisa só porque não era normal. Tenho uma deficiência de controle de impulsividade, e você tem uma deficiência de consciência. Se sobrevivemos ao recluso... – ela não terminou a frase. Não havia necessidade. Ao invés disso ela completou a distância que ainda os separavam, tirou o capuz de Draco, e levantou as sobrancelhas com um sorriso nos lábios. Ele a beijou e ambos sabiam que estavam perdidos.


N/A1: À Vivian Malfoy, Nandinha Shinomori, Pekena Malfoy, Ana Luthor, Mione G. Potter, miaka, Fran, Hyuri, Ellen-Potter, yne-chan, Vampire Fairy, Fabi - chan, Lua Lupin, Biba Evans, elecktra, BeBeL Malfoy, Bianca B. Malfoy , monique, Mki, Ginalii, slytherin's lion e a todos mais que mandaram reviews em outros capítulos (e que por isso eu não citei aqui) ou falaram comigo por outros meios, muito obrigada mesmo! Vocês não sabem o quanto isso significa para mim.

N/A2: Agradecimentos especiais a minha beta Julie que escutava meus devaneios mesmo quando eles ocorriam pra lá da meia-noite ou através de torpedos em horário escolar.

N/A3: Eu sei que esse epílogo demorou muito. Mas além dos problemas normais de final de ano, eu me encontrei num dilema. Simplesmente não sabia o que fazer com os dois, muito menos COMO fazer. Mudei de idéia milhares de vezes e mesmo hoje, enquanto me preparava para pôr o capítulo no ar, algumas modificações foram feitas. Espero que vocês tenham gostado. Sendo essa a minha primeira D/G "oficial", não consegui deixá-los separados. E confesso que estou tentada a fazer uma continuação. Não vou fazer promessas, mas quem sabe um dia?