Capítulo 1:
-Aya parece tão sério ultimamente...
O menino encarou o companheiro com seus intensos olhos azuis, enquanto ajeitava com suas habilidosas mãozinhas rosadas um belo arranjo de orquídeas brancas. O cabelo lhe caía sutilmente desarrumado sobre as faces, e sua expressão pensativa lhe conferia uma aparência serena e bela. Enquanto isso, o espadachim continuava a regar um canteiro de lírios com sua expressão fechada, sem olhar para os lados nem conversar com suas clientes/fãs. Omi terminou de arrumar seu arranjo e o entregou para uma felizarda freguesa. Depois que guardara o dinheiro no caixa, Omi se aproximou lentamente de Aya, silenciosamente. Admirou por alguns instantes a maneira compenetrada em que o amigo trabalhava com suas flores, nas mechas avermelhadas que lhe pendiam na frente das maçãs do rosto como lágrimas de sangue, na pele alva e perfeita, nos olhos de ametista.
-O que você está olhando?
-Nada, Aya... Só estava observando você trabalhar...
-Tem bastante trabalho para voc fazer aqui... Não gaste seu tempo me apreciando.
O chibi apenas lhe entregou um olhar zangado, que foi ignorado friamente.
-Aya está realmente fechado, ne? Omi?
O menino apenas desviou dos olhos de Ouka, que lhe encarava persistentemente, fazendo-o corar. Ela esbanjava sorrisos, e insistia em puxar assunto, ou então simplesmente sacava sua carteira e comprava mais um arranjo de flores, por mais caro que fosse, e o entregava ao próprio floricultor.
-Ouka!!! Não precisa!
Ela lhe sorria gentilmente, enquanto tocava discretamente os dedos de seu amado quando lhe passava mais um dos muitos vasos de flores que já lhe dera. Ele era tão mimoso quando sua pele ficava escarlate de vergonha por receber presentes tão amorosos! Mas ainda assim uma sombra cobria os olhos de seu amado, e ela sabia que sua timidez não era sinônimo de sentimento correspondido. Se indagava se algum dia ainda teria uma chance com ele, se o comprar com seus luxos teria algum efeito, se algum dia... Mas enquanto ficava nesses devaneios, não tirava os olhos do lindo Omi, de sua pele branca e perfeita, de seus olhos azuis vítreos, da boca rosada de pêssego, dos fios d'ouro que emolduravam sua face e lhe cobriam a nuca, das mãos perfeitas, delicadas e ágeis, de tudo que compunha aquele pequeno ser tão adorável. Mas aquelas safiras não retribuíam um olhar sequer, estavam distraídas em seu trabalho, em seus amigos e em suas obrigações, e, por que não, em si mesmo? Quando nos preocupamos muito com os outros talvez seja apenas egoísmo... Afinal, se acontecesse algo de ruim para os que amamos, estaríamos sofrendo também, e como não queremos sofrer, nada melhor do que garantir a alegria de todos.
-Quantas garotas hoje! Estou no paraíso!
-Yohji-kun, não dá para deixá-las em paz ao menos uma vez?
-Ken, não seja tão monótono. Elas querem que seja assim, então satisfarei os desejos dessas meigas donzelas...
-Você me dá nojo...
-Não seja tão ciumento, Kenken!!!
-...
Ken fingiu não ouvir. Não gostava daqueles comentários, não importava o que significassem ou não. Yohji era seu melhor amigo, mas sempre falava como se os dois tivessem algo mais. Seriam aquilo insinuações ou meras e inocentes brincadeiras de amigo? Não poderia dizer, e isso lhe atormentava. Então, quando ouvia qualquer coisa do gênero preferia ficar calado a ter de responder e talvez descobrir as respostas. É claro que essas poderiam ser boas, e poderiam acalmar seu estado de espírito. Mas, e se tudo o que o loiro lhe dirigia fosse mesmo malícia? A amizade dos dois seria arruinada, anos de confiança se esvairiam como a água da mão das crianças. Se concentrou então em organizar os vários vasos de flores e bouquets na traseira de sua moto, pegar a lista de pedidos, e mãos a obra! Havia muito serviço a fazer naqueles dias de primavera, e o vento suave lhe fazia cócegas enquanto brincava com seus cabelos. Yohji estava a poucos metros de distância, compenetrado em atender às garotas maiores de idade, mas mesmo assim Ken sentia como se estivesse sendo permanentemente observado. Bobagem minha. Estou ficando maníaco, isso sim! Mas esse pensamento foi interrompido por um caloroso abraço, que lhe envolveu o peito, enquanto o tronco muito bem torneado de alguém se comprimia contra suas costas e um rosto se afundava contra a dobra do pescoço com o ombro, o que causou arrepios no jogador.
-Eu e Ken somos muito amigos...
-YAAAYYYY!!!
Claro... Está se exibindo para as mulheres... Tão natural... Esse pensamento apaziguador deveria lhe acalmar, mas não conseguia desviar seu tato que sentia todo o calor de Yohji o envolvendo, o coração batendo intensamente, a respiração lhe afagando a pele, o queixo se esfregando contra sua nuca. Aquilo era doentio. E era um abuso. Ken não queria aquilo, não queria ser tratado como um artifício para que seu amigo conquistasse ainda mais amantes. Os dois eram amigos, companheiros, até confidentes, mas isso não incluía intimidades físicas, e embora a primeira vista as diabruras do playboy fossem aparentemente inocentes a até engraçadas, não deixavam de ser algo explicitamente desnecessário e constrangedor. Virou-se então, enquanto se desvencilhava dos braços que o agarravam, para olhar no rosto de Yohji e lhe repreender.
-Yohji, eu...
Ninguém. Não havia ninguém ali perto, ou melhor, tinha, mas estavam nas calçadas, passando rapidamente por ele, e estavam em outros carros, em meio ao trânsito. Ken estava em cima de sua moto, que deslizava em alta velocidade pelas ruas e estradas asfaltadas que emanavam para o ar um calor insuportável. Ele por um instante ficou confuso, e quase derrapou para fora da estrada, quase tombando contra um grande mas frágil cercado que o separava de um íngreme desfiladeiro enquanto ouvia buzinas indignadas lhe xingarem. Estivera delirando? Ficara inconsciente? Não podia dizer, mas quando chegou na casa da mocinha que receberia as flores, ficou muito satisfeito por ser convidado para entrar, se sentar e tomar alguma coisa. Ela fez tudo com rapidez e eficiência, dentro de um vestidinho solto e branco de aspecto fresco e suave, cujas tiras expunham-lhe os ombros bronzeados e rodeados de longas madeixas negras ondulantes, que contrastavam com os olhos verdes quase azuis.
-Obrigado pelo suco... Está uma delícia.
Ela apenas sorriu com gentileza, com um suave rubor nas faces.
-As flores que entreguei... são de seu namorado?
-Não, Hidaka-san. Li o cartão. São de meu irmão.
Ela disse isso com a voz apagada, enquanto enrolava a barra da roupa nos dedos insistentemente. E completou.
-Ele mora longe, mas toda semana me manda presentes.
A menina assumiu um rosto triste, e embora Ken devesse ficar quieto, acabou por falar, ante ao persistente silêncio de sua anfitriã.
-Não preferiria que ele estivesse ao seu lado?
-Sim... Mas não posso desejar isso... Ele está tão bem e feliz onde mora, e com quem mora... Não poderia desejar sua presença, pois comigo estaria infeliz.
Um momento pesado de silêncio meditativo procedeu-se, e logo interrompido foi por quem o iniciou.
-Oh, desculpe! Fiquei aqui lhe importunando com meus problemas enquanto você deveria estar ocupado com seu trabalho! Com certeza há outras entregas, vi sua moto atolada de flores!
-Uh, realmente. Peço desculpas por minha vez, lhe dei trabalho em me servir suco e me acomodar aqui, mesmo que tenha sido por apenas cinco minutos.
Ela sorriu enquanto abria a porta, ainda com o rubor em suas faces.
-Venha mais vezes... Moro sozinha...
-Nani???
-Não! Não me interprete por esse lado! – e corou violentamente - É que me sinto só assim, e é bom receber visitas. Ajuda a me distrair...
-Mas com certeza a senhorita deve ter outras coisas com o que se ocupar, como trabalho e estudos...?
-Bem, eu... Com certeza você tem! Olhe quanto tempo passou!!!
E apontou divertida para o relógio. Ken saiu daquela casa tão pequena e modesta com um sorriso, e sem pensar em mais nenhum problema, exceto do fato de não ter perguntado à beldade qual seu nome.
Chegando na Koneko no Sumo Ie, notou que estava tudo vazio, exceto por Omi que trancava as portas e varria o chão. Ficou observando em silêncio o menino, que ao terminar o trabalho se supunha que viesse até a porta onde Ken estava para sair, mas não: ficou parado no lugar olhando para o vazio enquanto uma gotícula de suor lhe escorria pela testa naquele dia tão quente e após tanto trabalho. Omi então sentou-se no chão, abraçando os joelhos e deitando a cabeça nesses. Fechou os olhos e ficou a mexer os lábios, murmurando palavras sem sentido. Parecia triste e solitário, as costas curvadas sobre as pernas, a sua base encostada contra a parede do balcão. Será que era sempre assim? Um menino solitário e sem amigos com quem conversar, tendo como companhia o computador, os estudos e as flores? A visão daquele anjo era pura e etérea, como uma poesia que não trata sobre nenhum assunto exceto a melancolia das coisas belas. O jogador continuou parado em pé, enquanto observava o menino chorar baixinho. Ken não sabia se chegava perto do chibi e lhe falava algo de consolo por sua tristeza ou se continuava a observá-lo em sua carente solidão. Por fim, nem um, nem outro. Simplesmente:
-Onde... Onde está Aya?
Omi imediatamente se recompôs, pulando do chão enquanto ajeitava o cabelo e limpava as lágrimas, sorridente.
-Tudo bem, Ken?
Sua voz era tão animada e cheia de energia. Omi nem parecia o mesmo menino de poucos segundos atrás. Como era capaz de fingir tão bem que estava tudo certo com ele, sempre escondendo o que sentia?
-Sim... Mas onde está Aya? Não vi seu carro na garagem.
-Ele foi visitar a irmã no hospital. Mas por que não perguntou sobe Yohji? Seu carro também não está na garagem!
-Mas ele eu sei onde está! – Provavelmente na casa de uma mulher... - Ora, vamos jantar. Você parece cansado, deixa que eu faço algo para nós dois!
Que Yohji com certeza já tem companhia para a janta...
-Está triste, Ken?
-Não! Por que pergunta isso, Omi?
-Por um momento parecia que você estava sofrendo muito...
-Não... Só estava concentrado em pensar no que cozinharei.
-Se é assim, deixe que eu cozinhe porque será mais fácil! Já tinha algo em mente!
-Nem vem, Omi! Você sempre está trabalhando com tanto afinco, muito esforço e se oferecendo para fazer o que os outros estão com preguiça de fazer! Deixa que eu farei isso por você!!!
Omi por alguns instantes piscou algumas vezes, perplexo, mas depois simplesmente sorriu puramente, e Ken lhe sorriu de volta.
-E então, doutor?
-Bem, sei que você pode discordar do que digo, mas já faz muito tempo que sua irmã está em estado vegetativo...
Não ouvirei isso...
-...Você já está adulto o suficiente para entender isso, já tem quase trinta anos...
Trinta? Nunca me preocupei em contar minha idade... Já faz tanto tempo que ela está assim? Não senti o tempo passar.
-...Gostaria que você desse uma opinião a respeito.
-...
-Eu sei que é muito difícil admitir isso, mas não há mais esperan...
Cale a boca! Não quero ouvir!
-Doutor, já disse: faça o que for melhor.
-A janta está ótima, Ken!
-Que bom que você gostou, Omi. Posso fazer mais vezes então.
-Como?
-Eu disse: posso fazer mais vezes. Se a comida está boa, nada mais natural que eu deva cozinhar mais então! Assim pouparia você um pouco do trabalho, afinal, você é muito ocupado, e ainda tem que estudar para a faculdade!
-Não tem problemas quanto a isso... – e sorriu gentilmente – Passei tanto tempo trabalhando dessa maneira que já estou acostumado, e ficar no ócio é que me seria estranho.
-Não, Omi. Você ainda é jovem, deveria aproveitar a vida. Pense, a Weiss já acabou ao menos, mas a Koneko nos foi dada de presente para administrarmos. Mas você não pode viver apenas disso! Você deveria ter mais amigos, arranjar uma namorada...
-Eu... – EU NÃO PRECISO NADA DISSO – Eu acho que você não precisa se preocupar, Ken. Eu sou muito feliz assim.
-Tem certeza? – e assumiu um ar grave, que Omi imediatamente reconheceu como o olhar de quem sabe do que está falando – Mesmo?
O chibi encolheu-se em seu lugar, o rosto triste. Mas ainda assim havia uma chance de não demonstrar, então sorriu.
-Ken... Eu já disse que sou feliz dessa maneira, que nada me falta. Namorada, não faço questão. Amigos, eu tenho a você, a Yohji e a Aya. Talvez não sejam sempre calorosos, mas são os mais fiéis que tenho, e já passamos por coisas o suficiente para saber que são a melhor coisa que eu poderia ter.
-Não acha que está acomodado?
-Como assim? – o loiro mordeu o lábio inferior, mas logo o soltou, disfarçando.
-Você simplesmente se conformou com o destino, com as coisas que vieram por vir, seja lá o que fosse... Já parou para pensar que o mundo lá fora é grande?
-Ken... Essa conversa não está me agradando. – e se levantou, recolhendo rapidamente parte da louça. Mas subitamente sua mão foi segura com firmeza pela do jogador.
-Omi... Você por acaso tem medo?
Ele ficou quieto, sem olhar nos olhos sinceros do amigo. Não precisava responder àquela pergunta, nem pretendia. Desvencilhou-se.
-Está ficando igual ao Aya...
-...
Já era tarde. A lua já estava em seu ápice, e o brilho das estrelas fulguravam naquele céu túrgido. As luzes das casas já estavam apagadas, e a população dormia serenamente, de forma que na rua não se ouvia um som sequer além do constante cricrilar dos grilos. Foi quando aquela harmoniosa calmaria acabou, em frente ao Koneko, quando um grande carro chegou e estacionou. De dentro deste saiu um desfigurado e abatido Aya. Os olhos vermelhos demonstravam claramente que até a pouco chorava, e o motivo não é segredo. Mas então, após esperar alguns momentos recostado contra a porta de sua casa, esperando reunir forçar para encarar aquele cenário tão rotineiro, quase despencou para frente.
-Aya!
-Omi... O que você está fazendo acordado até essa hora?
O belo rapaz encarou o ruivo por alguns instantes, embaraçado, e enquanto tentava em vão desviar o olhar, Aya notou que seu rosto demonstrava muito cansaço.
-Tudo bem com você, Omi?
-Eu... Não conseguia dormir, então vim para cá... Só ouvi o som de um carro, quando isso aconteceu... Fiquei preocupado... Vim ver o que era...
-Ora, Omi. Não foi nada. Vá dormir.
O loirinho de vinte e seis anos fez um muxoxo. Claro que ainda mantinha a mesma inocência de antes. Os anos passavam, os inimigos eram destruídos, eles tinham uma vida normal, sendo felizes e estando em paz, Omi finalmente tivera o tempo e dedicação necessários para entrar em uma boa faculdade, já que nas épocas em que lutava muito freqüentemente não conseguia se concentrar muito para a parte acadêmica. Olhou para Aya. Este parecia muito preocupado, mas o chibi achou que não convinha intervir.
-Aya, você não está cansado? Posso esquentar um leite para você.
O ex-espadachim olhou atentamente para aquele rosto tão convidativo e doce.
-Claro. – murmurou, como se falasse de um segredo muito constrangedor. Omi sorriu, ficando satisfeito por alguém ainda precisar de sua ajuda. Era bom se sentir útil. Quem sabe assim sua existência não fosse tão insignificante. Já estava no último ano de seus estudos, fazia Eletrônica, e não tinha muita idéia de qual seria seu rumo quando tudo estivesse acabado. Talvez apenas deva fica quieto e continuar na floricultura...
-Seu leite já está quente, Aya.
O ruivo apenas pegou a caneca, sem agradecer, e sorveu sem muita demora aquele líquido reconfortante. Omi apenas o observava, silenciosamente. Não havia problemas quanto a isso, Aya já estava acostumado. Outras coisas lhe eram mais importantes no momento. Dissera ao médico Faça o que for melhor, mas afinal, o que seria aquilo? Será que sua irmã seria desconectada dos aparelhos e poderia finalmente descansar em paz, ou será que então continuaria plugada por uma eternidade, até que em algum dia miserável mas glorioso acordasse para um mundo e uma sociedade muito diversa da qual estava acostumada? Não sabia responder qual seria o destino de seu ente mais querido, e isso o perturbava. Precisava saber o que seria de sua irmã, mas no momento, isso era o que menos queria. De tão abalado que estava ficara durante horas e horas vagando sem rumo dentro de seu Porshe, sem perceber que o tempo passava.
Um dia... Uma semana passou sem que se tocasse no assunto. É claro que Aya estava desconcentrado, e isso não ocorria a muito tempo. Ele costumava ser apático, frio e sombrio, principalmente quando a Weiss se tornou desnecessária e ele não tinha mais nada para ocupar a cabeça além da irmã. Mas agora a coisa toda parecia estar piorando.
Omi foi o primeiro a perceber. Era início de outono, e ele varria as folhas caídas na frente do Koneko, enquanto o ruivo lia o jornal. A expressão do espadachim estava séria, neutra, sem demonstrar qualquer sinal de desconforto com o frio crescente, com o barulho da vassoura arrastando aquela massa vegetal seca e com alguns mosquitos remanescentes do verão que caçavam sua pele alva. Enquanto isso, o loiro se preocupava em terminar logo seu serviço e ir logo tomar um banho, para depois pôr alguma roupa um pouco mais quente. Já não era verão. Já não era mais época para regatas. Também desejava fazer algum lanche, e adiantar a janta para si e para seus companheiros. Qual seria o cardápio? E então o telefone tocou. Omi olhou para Aya, que estava menos ocupado, e este então parecia mais pálido que o normal, seus olhos não focavam o jornal.
-Aya, você não pode atender ao telefone? Estou trabalhando aqui...
O ruivo lhe lançou um olhar pateticamente preocupado, e ao mesmo tempo tentava desviar, fingir que não ouviu.
-Aya!!!! Por favor! Eu estou bem mais longe de lá que você! – gritou.
E era verdade. Os dois estavam distantes de vários metros, mas mesmo assim, Aya apenas resmungou alguma coisa e disse friamente, mas com os olhos implorando, que Omi atendesse. Enfim, o chibi o fez, não agüentava mais aquele estridente e irritante barulho.
-Moshi-moshi? – enfim disse, ofegante, ao telefone.
-Ahn... Omi-kun? É você? – uma voz alegre e confiante saltou do telefone, assustando o loirinho. Era Ouka, claro. Por que Aya se preocupara tanto em não atender ao telefone?
-Ah sim! Ouka-san! Tudo bem?
-Hai hai!
-Que bom.
-...
-Mas então, por que você ligou? Sem querer ser mal educado...
-Ahn... Nem eu sei direito... Omi-kun...
-Ouka-san, você está bem? Mesmo?
-Sim, eu... Bem, eu poderia encomendar algumas flores e...
-Ouka-san! A Koneko está fechada hoje, você sabe disso melhor do que ninguém, ne?
-Hai... Eu... Gomen...
-Vamos... O que houve? O que você quer conversar comigo?
-...
-Você não me ligaria sem motivo, ligaria?
-Bem... Omi-kun, você não gostaria de passear comigo? Hoje?
-Ah, então era isso? – o loiro se acalmou. Seria apenas um programa de amigos - Onde nos encontramos?
-Omi-kun, seria legal se voc decidisse isso! Já nos conhecemos há tanto tempo, não acho que seja tão difícil saber meus gostos!
-Sim... Então... – e consultou mentalmente uma lista de opções – Que tal nos encontrarmos naquele restaurante novo que abriu semana passada... às 20 horas?
-... por mim está ótimo, Omi-kun! Então estarei esperando você lá.
-...Está bem. Tchau.
E desligou o telefone. Olhou para trás, e viu que Aya espiava furtivamente pela porta, como uma criança esperando os pais decidirem qual seria o castigo por ter quebrado o bibelô favorito da mamãe.
-Quem ligou, Omi?
O chibi olhou para o ruivo, e com uma expressão indiferente respondeu.
-Ouka-san. Por quê?
-Nada não.
-Está esperando algum telefonema importante?
-Não exatamente.
-Então está bem. – e já ia se retirar quando foi interrompido,
-Vai se encontrar com ela?
-Parece que sim. Ela me convidou.
-Vocês dois estão namorando?
Omi corou. Como poderia explicar a situação constrangedora em que estavam?
-Claro que não estão. Esse rapaz aqui já é um adulto, mas parece que não cresceu. Continua muito devagar para se declarar para Ouka-chan! Logo ela, que é uma mulher tão doce e...
-Yohji! Não fale assim! Fala como se já tivesse ido para a cama com ela também!
O playboy deu um sorriso sarcástico, e puxou Omi para junto de si.
-Se importa que eu tenha ido?
O mais jovem corou, mas tentou manter-se composto. Levou então um tapa suave atrás da cabeça pelo amigo.
-Você sabe muito bem que por mais que eu quisesse, ela jamais cederia. Está completamente apaixonada por você, basta você dar um passo e a teria aqui. – e apontou para a palma da mão - Você está envelhecendo... Bem, eu também, assim como todas as pessoas, mas não acha que já está na hora de se juntar a alguém?
-Essa conversa de novo... – resmungou.
-O que disse?
-Nada... Apenas me sinto bem sozinho. Não posso namorar nem me casar com ninguém, visto que nem terminei a faculdade ainda. Como poderia sustentar uma esposa, principalmente uma acostumada com tantos luxos como Ouka-san?
-Mentiroso.
-Quê?
-Você sabe que a Kritiker lhe paga muito bem, como funcionário "aposentado". Você sabe, qualquer dia eles podem nos chamar de novo. Para uma emergência. A Weiss sempre foi muito bem conceituada por lá, lá eles confiam em nós. Nos tornamos elite. Sempre haverá trabalho.
-Então vou deixar uma viúva...
-Não seja tolo!
-Yohji... Eu não amo a Ouka como ela espera... Para mim, ela é apenas uma amiga...
-...
-Agora vou terminar meus afazeres.
E se afastou dos braços do amigo, se dirigindo para a rua, onde ainda havia folhas para serem varridas. Mas agora estava tudo limpo. E Aya não estava mais lá.
Continua....
