Capítulo 2:
-Onde ele está agora? – e olhou ao redor, procurando ao redor por Aya. Mas ele havia sumido. Quando entrou em casa novamente, Yohji também já não estava mais ali. Estava tudo tão silencioso e frio que até mesmo o mais leve pisar de Omi contra aquele chão criava um estalo audível. Aquilo lhe dava um frio na espinha, mas no momento se sentia era magoado por ninguém estar ali. As pessoas só chegavam perto dele para trocar algumas palavras, saber o que era de seu interesse, e acabou. Nunca pareciam ter algum carinho e cuidado especial pelo loirinho. Mas... Por que ainda se importava com isso? Já fazia anos desde que vivia assim, para não dizer que essa situação durara sua vida inteira. Ouka-san era a única que ainda parecia se importar. Mas por quanto tempo isso duraria? Seria tão vantajoso amá-la, poderia então ter uma companhia para a vida inteira! Mas, logo em relação a ela, havia um bloqueio, algo que se recusava a deixar as coisas irem adiante. A única vez que Omi sentira que alguém o amava e que amava essa pessoa fora... fora a muito tempo atrás. Aquilo já estava quase esquecido, quase superado. A marca da cicatriz já era quase imperceptível. E... Não havia motivo nenhum para revolver a terra assentada, mesmo que tal procedimento pudesse torná-la novamente fértil. Passado era passado, não havia volta. Seus pés o haviam conduzido até seu quarto, e quase sem perceber já estava quase pronto para seu encontro com Ouka. E isso era bom, pois já estava quase em cima da hora. Checou as roupas uma última vez. Não muito elegantes, nem muito informais. Perfeito.
-Ken, ainda está aí?
O moreno olhou para aquela fresta quase imperceptível aberta na porta de seu quarto. Estava deitado até o momento em seu confortável futon, de bruços: os cotovelos embaixo, as mãos em cima e apoiando o rosto enquanto lia um interessante livro. E ali, a alguns metros, no corredor, Yohji.
-Sim, estou... Eu estou lendo, Yohji.
-Ora, você vai ficar muito inteligente assim! – e sorriu - Já ultrapassou sua cota diária, vamos ver um filme!
-Como?
O loiro entrou no quarto sem cerimônias, carregando um cobertor xadrez no braço e um sorriso no rosto.
-Vai passar um filme legal na TV, acho que você vai gostar. Vamos assistir.
-Mas eu estou lendo! – o jogador ainda fez um muxoxo.
-Ora! – o playboy agora parecia zangado – Está me evitando agora? Que blasfêmia! – e agora agia como uma bicha ofendida – Vamos, sim senhor!
E puxou o moreno pela orelha, falando mais e mais coisas, persuadindo-o pouco a pouco até que conseguiu arrancá-lo de sua clausura e levá-lo ao educativo eletrodoméstico, uma grande e moderna TV. Sentaram-se lado a lado, embaixo do mesmo cobertor. Ainda faltavam cinco minutos para o filme começar, então Yohji ainda providenciou uma pipoca com manteiga para os dois. Ken sentia-se incomodado... E se Yohji tentasse algo ousado com ele?
-Que tal? – e o playboy apontou para a tigela em suas mãos, e Ken imediatamente teve suas narinas invadidas por aquele agradável cheiro de comida
-Me rendo. – murmurou.
E assim passaram o filme todo pacificamente, e o jogador logo se arrependeu por ter duvidado da boa índole de seu melhor amigo. Seja lá o que fosse, nada quebraria o doce e pacífico vínculo entre os dois.
Definitivamente estava frio. É claro, pensou, estou ao ar livre, de noite, sentado em uma pedra esperando não sei o quê. Precisava ser realista, nenhuma corte fúnebre chegaria ali àquela hora, com sua irmã ressequida e inchada dentro de um pesado e negro caixão. Ainda assim, esperava. Já havia checado todas as lápides, e não encontrara o nome Aya Fujimiya em nenhuma delas. É claro que havia outros cemitérios na cidade, mas achava que aquele local era o mais adequado para tais coisas tristes. As tumbas eram de pedra áspera e acinzentada, e o descuido que ali se apresentava, com musgo crescendo sobre cada canto úmido. As poucas flores eram oferecidas em raras capelas, e já estavam ressequidas. Tocar em alguma delas certamente as despedaçaria. O chão era de terra batida, com lodo por toda parte, e não havia muitas casas ao redor. Um perfeito descampado. Do lado de fora do muro, imensos ciprestes, cujos galhos e folhas invadiam o pátio interno, apontando para as covas como um sinal de mau agouro. O vento sul soprava agitado e cortante, fazendo as folhas mortas no chão rodopiarem. Aya-chan... Você não está aqui, está? Eu não deixei você morrer, deixei?-Deixou, e eu estou aqui.
Aya olhou sobressaltado por trás de seu ombro, certo de que sentira o rosto macio mas gelado de sua irmã fazendo-lhe cócegas no pescoço enquanto proferia uma frase cheia de mágoa. Mas não havia nada além do vazio, da terra, do musgo e dos ciprestes, das lápides e da grossa camada de plantas mortas que recobria todo o lugar. Sua espinha estava arrepiada, e podia sentir o corpo inteiro gelado. Levantou-se apressadamente, tentando se afastar o mais rápido possível daquele local, enquanto suas pernas ainda permitiam. Se esperasse mais, com certeza elas tremeriam tanto que ele cairia duro no chão. Enquanto ainda fechava o enferrujado, mas não trancado, portão de ferro do cemitério, ousou olhar uma última vez para a lápide onde estivera sentado. Constatou, com um arrepio, que o vento carregando poeira (e talvez cinzas?) parecia formar um corpo disforme e quase imperceptível sentado naquele local.
-Omi-kun, a comida não está boa...?
Ouka já estava na metade de seu prato, mas Omi mal comera alguns pedaços. Ele não respondeu, como não havia lhe respondido a nenhuma das perguntas. No máximo se prestara a resmungar alguns monossílabos, nada mais que isso. Ele foi tão gentil comigo hoje ao telefone... Se ele não queria me ver, por que combinou algo comigo então? E eu estava tão ansiosa... Já se passaram anos desde que me apaixonei por ele, mas mesmo assim nada mudou. Continuo sendo ignorada. Seu coração de mulher adulta estava ferido. Ainda assim, não sabia o que fazer ante tal situação. Desistir? Ainda não podia. Não enquanto ainda amasse aquela doce criatura.
-Omi-kun... Você poderia me responder?
-Eu estou respondendo.
-Sim sim. Eu posso perceber. Então poderia ao menos olhar para mim?
Ele desviou languidamente os olhos do ponto perdido onde se fixavam e os repousou em Ouka.
-...está melhor assim?
Ela se levantou bruscamente, lívida. Isso fez a toalha escorregar um tanto e se Omi não segurasse a outra ponta rapidamente, quase que tudo se ia ao chão. Agora sim parecia ter despertado. Olhou com os olhos arregalados para a amiga.
-Ouka-san! O que houve? Você está se sentindo bem?
-...
-Ouka-san?
Ela mordeu o lábio inferior, e sentiu o sabor suave do batom sendo arrancado de seus lábios. Quem sabe se mordesse mais um pouco saborearia sangue também? Apenas virou as costas para o belo homem, e já pretendia sair do restaurante. Na certa, Omi ficaria ali, pasmo e sem reação nenhuma. Alguma horas mais tarde, ela receberia um polido telefonema pedindo sinceras desculpas. Aceitaria, e tudo voltaria a ser como era antes. Sempre. Omi jamais mudaria. E estava seriamente desconfiada que ela também não.
-Ouka-san, não saia daqui dessa maneira!
Ela se virou para fitar a voz delicada que a pedia tal coisa, e para ver se era de verdade a pressão que sentia segurar seu pulso direito. Era verdade, Omi havia feito algo diferente. Mas ainda assim...
-Você está me ignorando, Omi.
-Eu o quê?
-Não se faça de desentendido... Eu...
-Termine, onegai.
-Eu sei que você só sai comigo por pena. Você jamais se interessou por mim de verdade, ne?
Falara. Ouka não imaginava que algum dia seria capaz de perguntar isso a Omi. Afinal, sendo assim ele responderia, e a resposta poderia, e tinha grandes chances de, ser negativa. Preferia o conforto da incerteza. Mas ele a impelira àquela situação. Ele tomara atitude de contê-la. Estava na hora de saber. Observou que Omi ficara quieto ante aquela indagação, encolhido como uma criança ao levar uma bronca.
-O que você está tentando dizer, Ouka-san?
Ela arrancou o pulso das mãos firmes de Omi, e lhe deu as costas novamente, saindo apressadamente do restaurante. Estava mais frio do que de tarde, a ponto de sua respiração liberar vapor visível. Andou mais alguns passos apressados até que ouviu um estalido produzido por passos muito familiares. Virou-se calmamente para Omi.
-Você sabe que eu amo você. Mas cansei de esperar, só isso.
-Ouka-san... você...
-Eu sei o que você vai dizer... Que me vê apenas como amiga. Não precisa se dar ao trabalho de me dizer isso, eu já estou consciente desse fato. – e sorriu amargamente, enquanto uma gota miúda de chuva caía sobre seu ombro – Eu... apenas estava me enganando, mas sei como deve ser difícil para você lidar comigo em tal situação.
-Ouka-san...
-Isso é um "adeus", não é? Inclinou-se suavemente para frente, enxergando o chão salpicado de minúsculas gotas de chuva. Ergueu-se novamente e engoliu em seco. Depois de tanto tempo investindo em Omi, tudo fora em vão. Ele não correspondia aos seus sentimentos. Aquilo lhe doía terrivelmente. Era uma sensação de vazio, quando nosso maior e mais forte sonho se apaga como a chama d'uma vela em dia de tempestade. Poderia durar bravamente por muito tempo, como que num milagre, para subitamente se apagar. E doía ainda mais dar as costas ao seu amado e saber que dessa vez ele não a seguiria, pois então sabia que aquilo tudo era uma grande ilusão. E estava sozinha, não havia como escapar. Havia esperado praticamente uma década por um homem só, se privando de tantos pretendentes excelentes. Tudo por Omi. Tinha que ser Omi, era a ele que ela amava, se não fosse ela não tinha sentido amar. Olhou para trás, e sabia que a distância entre aqueles dois corações solitários só aumentaria. De fato, não avistou o loiro em parte alguma. Então, apenas lhe restou voltar melancolicamente para sua casa, e passar mais uma noite solitária e intocada. Tirou os sapatos desconfortáveis. Usava aquele salto tão alto apenas para agradar ao olhar de Omi, mas ele era indiferente a tanto capricho. Precisava fazer alguma coisa, ficar assim sozinha em sua casa escura não lhe ajudava em nada. Serviu-se de leite quente, assistiu TV... Ainda assim não podia tirar Omi da cabeça. Enfim, quase que automaticamente tirou o telefone do gancho e discou o número do Koneko. Seus dedos deslizaram automaticamente sobre as teclas acrílicas, mas quando estavam prestes a discar o último número, num impulso repentino bateu a parte móvel contra seu apoio. Preciso me controlar... Continuar a correr atrás só vai me machucar ainda mais... Enfim adormeceu encolhida no sofá, solitária e gelada, um braço apoiando a cabeça por baixo enquanto a outra mão repousava sobre o seio. Já estava ficando tão velha... E intocada...
K'so... Estraguei de vez minha relação com Ouka-san! Agora nem ela mais vai olhar pra minha cara. Eu tinha que ignorá-la no restaurante? Onde estava com minha cabeça? Baka baka Omi no baka!!! Mas sabia o que havia acontecido. Não conseguido deixar de pensar naquela pessoa. Estava fora de seu controle, a imagem daqueles olhos gentis sempre lhe voltavam a tona nos momentos mais inapropriados, lhe arrebatavam, tiravam o fôlego, distraiam a mente. E depois se esvaiam rapidamente e sem deixar nenhum vestígio. Mas era grave, muito grave. Pois se continuasse sendo violentamente imerso em suas memórias, alguém acabaria percebendo. E então, tudo estaria acabado.
Aya entrou pé ante pé dentro da sala de entrada, não queria acordar ninguém e já estava muito tarde. A lua já descia do outro lado do céu, e as estrelas descansavam naquele manto negro-azulado com um brilho pálido e preguiçoso. Encontrou a sala piscando naquelas luzes fracas e difusas que apenas uma televisão era capaz de produzir. Espiou por cima do encosto do sofá e não sabia que reação ter ante o que viu. Atirado sobre o braço do móvel estava Yohji, adormecido profundamente e roncando. Sua posição com certeza lhe daria uma boa dor nas costas quando acordasse. Já em seu colo, e o corpo estendido sobre o restante do fofo material, Ken cochilava com a serenidade de uma criança. Agora, o que eles andaram fazendo o ruivo não saberia explicar. Todo o caso...
-ACORDEM, SEUS INÚTEIS! – e chutou o sofá com força, o que fez Ken pular e Yohji piscar os olhos, bocejando.
-O que foi... Aya...?
-Olhem só que cena deplorável! Dois adultos dormindo agarrados no sofá de madrugada.
-Como assim?
Argh... Bakas...
-Vão já para suas camas que já está muito tarde para ficarem aqui.
-E você, Aya? Também está aqui acordado, e a julgar por suas roupas, andou perambulando pela rua de madrugada, fazendo sabe-se lá o que com sabe-se lá quem... – Yohji resmungou.
O ex-espadachim apenas lançou um olhar fuzilador para o ainda playboy, e então lhes deu as costas, louco para mergulhar em suas cobertas macias. Mas antes, passou pela frente da porta do quarto de Omi, e constatou incomodado que havia uma tênue luz passando pelo vão da porta. Desencostou-a rispidamente.
-Omi, eu já disse para não ficar no computador até essa hor...!
O quarto estava vazio, a cama arrumada, o computador desligado. A única coisa que provava que alguém residia ali era o abajur aceso no canto. Entrou no quarto então, impelido por algum sentimento desconfortável que não sabia descrever. Foi até a luminária para desligá-la, e só então percebeu que nem tudo estava em seu devido lugar. Havia um frasco de colônia masculina cheio até a metade com a tampa aberta largado sobra a cômoda, e ao seu lado jazia um pente em cujos dentes estavam enroscados alguns fios dourados. É claro... Ele saiu com Ouka-san... Mas então...! Estão juntos até agora? Fechou o frasco e guardou o pente na gaveta, tentando não se preocupar. Seus companheiros de casa pareciam muito estranhos ultimamente. Yohji e Ken tinham reações estranhas um em relação ao outro, e Omi parecia finalmente se entender com Ouka definitivamente. Não podia especificar o que, mas algo naquela história toda lhe desagradava.
-Aya?
O ruivo quase pulou de susto, ainda sobressaltado com os acontecimentos no cemitério. Mas era Omi. O jovem tinha as feições lívidas e tensas, os ombros encolhidos como as pétalas duma flor murcha. Seus olhos azuis tão comumente brilhantes estavam sombrios e sem vida. Apesar de ter encarado o ruivo brevemente e dito seu nome, parecia ter se arrependido disso, e apenas se jogou de forma pesada na cama.Aya observou a maneira delicada como o chibi fechou os olhos e se aninhou no colchão, ignorando-o.
-Omi... Você...
O loiro não fez nenhum gesto, não deu nenhum sinal de notar Aya. O ruivo se aproximou um pouco mais, suas narinas sendo envolvidas pelo cheiro cítrico da colônia que exalava do rapaz, a mesma que havia no frasco. Aquele perfume era tão forte e envolvente que por um instante o deixou tonto, e foi necessário se apoiar na parede para não cair no chão. Quando pôde recobrar o fôlego, notou que aquele aroma era muito mais suave do que sentira no inicio, embora ainda fosse marcante.
-...Estava com Ouka?
-Não é de sua conta – murmurou.
Aya ficou surpreso com aquela resposta tão fria, mas calou-se ante a isso. Não forçaria Omi a dizer nada, sentia que isso era inadequado.
-Ahhhhhhh, que lindo dia! – Yohji espreguiçou-se longamente enquanto saía da cama. O céu estava nublado, com vastas e pesadas nuvens negras escurecendo o céu, aqui e ali relampejando como num filme de terror. Mas isso não importava, o playboy havia tido sonhos muito agradáveis. Esgueirou- se pelo corredor, espiando para ver se alguém já havia acordado. Ao menos naquela peça da casa estava tudo vazio e silencioso, e não pôde deixar de pensar que talvez ainda fosse muito cedo. Chegou à cozinha ainda de pijama, e encontrou Ken sentado de forma relaxada a mesa, os cabelos desgrenhados, um jornal aberto na frente e uma caneca de café fumegante na boca. Sorriram um para o outro, e Yohji serviu-se do bule onde havia a bebida preparada pelo moreno. Sentou ao seu lado, e, enquanto lia desinteressado por cima do ombro de Ken as últimas noticias, sorveu um gole. Cuspiu.
-YO-TAN!!! O que está fazendo???
Aquele café estava muito amargo. Com certeza havia muito pó para pouquíssima água, aquilo estava terrivelmente amargo, e como se não bastasse, muito quente.
-Ken, como você consegue beber isso? Está horrível!!!
O moreninho tomou mais um gole de seu café e cuspiu igualmente.
-Nem havia reparado...
-Você anda muito... muito desligado, Ken! Precisa se cuidar, pois qualquer dia desses pode se descuidar em algo mais grave, como esquecer o gás do fogão aberto, coisas assim.
-Agradeço sua preocupação, Yo-tan, mas eu estou bem. – e sorriu gentilmente.
-Vou fazer alguma coisa para nós dois... Só café é impossível! Que tal umas torradas?
-Por mim...
Yohji não costumava fazer esse tipo de coisa, mas ao menos naquele dia em especial Ken não lhe inspirava confiança quanto aos assuntos culinários.
-Onde está Omi?
-Sei lá... É mesmo, ne, Kenken? Omi sempre acorda tão cedo...
-É mesmo... Mas não lembro de ele estar em casa quando Aya chegou...
-Você chegou a reparar nisso, é?
-...
-Bem, ele saiu com Ouka-chan, vai ver ele resolveu seguir meus conselhos e ir atrás dela.
-Voc o qu?
-Nada não... – e começou a assobiar uma música inventada, enquanto abria a torradeira para ver se o lado já estava pronto. Comeram o café preparado por Yohji com gosto, parecia que o playboy havia tido uma especial inspiração naquele dia.
-A floricultura abre hoje?
-Ken... Claro! Mas o movimento vai estar baixo, hoje está chuvoso... – e apontou para o céu fechado. – Acho que podemos fechar antes do fim da tarde, se o chato do Aya não nos obrigar a trabalhar feito escravos pelo resto do dia...
-Mas não duvido que Ouka compareça...
-...hn? Por que mencionou Ouka-chan?
-Nada não...
-Agora fala, Ken. Você parece incomodado.
-...
-O que houve?
-É só que... Não acho que Omi esteja realmente querendo algo com ela, então não seria agradável empurrar Ouka para ele se ele não ficar feliz.
-Mas ora, essa decisão se refere apenas a Omi!
-Então deixe-o quieto!
-Como você está estranho, Ken... Encucando com coisas que nem têm algo a ver com você...
-Eu apenas me preocupo com meus amigos.
-Eu, hein? Não quero essa preocupação para mim, parece até que você está com ciúmes do menino... Deixe-o viver um pouco, ele não precisa duma babá prá tomar conta dele e decidir o que é melhor.
-Ciúmes nada... Eu apenas me preocupo, só isso, nada mais.
-Ok, se você diz...
Já era meio-dia quando Aya resolveu parar de trabalhar e ir comer alguma coisa. Yohji e Ken não haviam feito nada ainda, mas já tinham aparecido pela floricultura para ao menos ver se estava tudo em ordem. Mas Omi... Ele não havia aparecido em lugar nenhum, e isso preocupava ao ruivo. O rapaz era sempre tão alegre e bem disposto, mas desde que chegara em casa de madrugada estava estranho. O que poderia ter acontecido? Não sabia se falava com ele, se ficava quieto...
TRIIIIMMMM
O telefone estava tocando. Aya olhou nervoso ao redor, procurando alguém para atendê-lo. Segunda chamada. Aquele barulho o irritava e perturbava. Terceira vez. Quarta. Quinta. Parou.
-Moshi-moshi? Sim, sim, eu vejo se ele está aqui... Houve um ruído abafado de acrílico contra madeira e alguns segundos depois a cabeça de Omi apareceu pela porta da cozinha.
-Aya, é pra você.
-...
-Aya...?
-Não quero atender.
-Mas é do seu interesse! É do hospital!!!
-...
-AYA, atenda!!!!!
-NÃO VOU!
O rapaz pareceu magoado com a maneira rude como fora tratado, mas obedeceu.
-Sinto muito... Ele não está no momento... ... ...está bem, deixarei recado. ...Certo.
-Obrigado, Omi.
O menino sorriu, mas não parecia melhor.
-O que houve, Aya? Não quer me contar?
-Não é de sua conta. Quanto a você...?
-Quanto a mim o quê?
-Ontem você voltou de madrugada, o que nunca aconteceu antes. E havia se encontrado com Ouka. E depois ficou agindo estranho.
-Digo o mesmo, Aya: não é de sua conta. Gomen.
-...
-...
-Eu só estava... preocupado com você... Mas Omi já tinha voltado para seu quarto.
Maio/2003
