Nota1: Weiss Kreuz não pertece a mim, quem dera!

Nota2: Esta história contém yaoi. Nada explícito, mas ainda yaoi. Se isso não lhe agrada, use o botão "voltar" e seja feliz! Se isso lhe agrada, leia, e seja muito feliz!!!

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Capítulo 4:

Está tudo errado. Sinto isso há muito tempo, mas até agora não havia admitido. Passei toda minha vida tomando as decisões erradas, seguido pelos caminhos estreitos e escuros e me aprofundando cada vez mais nesse escorregadio pântano. Quem sabe se em algum momento eu tivesse desviado, minha vida pudesse estar melhor agora? Mas não, segui meu coração, como os mocinhos do cinema recomendam. Que ironia, isso apenas piorou. Apenas piorou.

-Pensando sozinho, Omi?

Duas mãos frias tocaram suavemente o ombro do loirinho, e ele imediatamente reconheceu o dono. Já fazia algum tempo que não sentia aquele toque, mas ainda assim estava vívido em sua memória, como o primeiro doce beijo que receberia.

-É o que parece, não?

-Sim, eu sei. Ultimamente você tem pensado muito, não? – e deu um tapinha suave no topo da cabeça do menor.

-Mesmo se tivesse, não pensei que isso o incomodaria.

-Ora, não exatamente.

O chibi se levantou violentamente da cadeira, esta fazendo um barulho aguda ao se arrastar contra o assoalho. Bateu com as mãos na mesa, e deu um passo pra trás, se desviando de Aya.

-Você não pode dizer isso!

-...?

-Você fala tão pouco comigo, como se eu nem existisse! E quando vem, é apenas pra interrogar, cobrar, pressionar!

-Omi, eu nunca fiz...!

-Fez sim! Está fazendo agora! A única coisa que você pode fazer nessa sua vida miserável é me perseguir, porque nenhum de seus outros objetivos se concluiu! ...Só eu sobrei, ne? Mas você só notou isso agora, e não quer mais me perder! Mas eu não quero mais isso, se não me percebeu antes, não quero que perceba mais! Você perdeu tudo, Aya! Não que não tivesse havido um tempo em que as coisas fossem mais belas, tivessem alguma esperança, e fomos tão amigos e eu era tão feliz! Mas você resolveu se dedicar ao seu trabalho, à sua irmã, e simplesmente me deixou no canto, como se eu fosse esperar tal qual um cãozinho obediente! Nãooo! Não assim, eu não quero me humilhar, não mais. ...O que você ganhou com isso, Aya? O quê? Nada. O trabalho acabou, temos o respeito da Weiss. Mas você não mais poderá descarregar sua raiva do mundo nos inimigos, entende? E sua irmã... Você nem quer vê-la mais, está fugindo. O hospital já ligou tantas vezes, e eu nem chamo mais você porque sei que não vai querer atender, mas me pergunto porque você foge disso. Sua irmã pode estar apodrecendo, Aya, e você não vai sequer vê-la uma última vez, para sentir por um último instante o calor de sua pele. Você é cruel, Aya. Você...

-PARE, OMI!

O tabefe doeu, como doeu. O ruivo nem esperou o chibi respirar, apenas sentia que não queria mais ouvir aquilo, que queria silêncio, vazio, paz. Não precisava saber o que outro pensava, não precisava saber da verdade, tudo o que Aya queria era calar aquela estúpida boca, fazê-la engolir as palavras, varrê-las para longe enxaguando-as com sangue. Cerrou os punhos, com tanta força que os nós dos dedos saltaram e embranqueceram. Pôde sentir toda aquela libidinosa adrenalina percorrer seu braço como uma potente descarga elétrica, sentia-se potente, nada aplacaria sua ira. Os músculos se retesaram, num esforço supremo de concentrar forças para um embate final. Seu destino estava lívido, surpreso, tão surpreso que era possível notar em seus olhos o modo como não havia ainda entendido muito bem o que aconteceria. Uma veia saltou num relevo azulado pelo antebraço do ruivo, a pele se esticando, os tendões trabalhando a mil. Enfim, um soco foi desferido contra o puro rosto do chibi, cujo corpo amoleceu e foi lançado para longe do outro, e caiu no chão.

-...

Silêncio.... Finalmente. Por alguns instantes Aya gozou desse vitorioso alívio, quando todas as cobranças saíram de seus ombros. Só havia um problema: Omi. O loirinho olhava assustado para ele, enquanto lentamente se distinguia um hematoma se pigmentando na pele antes branca do rosto. Um filete de sangue escorria úmido e viscoso por sua boca, percorrendo o queixinho até a ponta, oscilando no início do pescoço e enfim pingando na gola da blusa. Os olhos encontravam-se arregalados, ainda assim surpresos. Por alguns segundos ficaram úmidos, mas enfim secaram, e Omi se levantou quase que triunfalmente do chão, ajeitando as roupas com as mãos.

-Tsc, vou ter que lavar agora, olhe o que você fez!

-Omi, eu...

Mas os pés ágeis do chibi tiveram uma reação antes, e ele se precipitou para o corredor, saindo daquela cozinha. Aya ainda tentou prendê-lo, mas não conseguiu.

-O.... Omittchi, espere!

Omi imediatamente parou, estacado, tão subitamente que a inércia parecia querer derrubá-lo para frente. Olhou friamente para Aya, e sorriu calmamente.

-Eu não esperava que você me chamasse assim novamente.

-Eu... sinto muito.

-Não, você não sente. Eu sei que não. Está apenas tentando me enganar, não ter que receber as conseqüências por me machucar, aliás, não é a primeira vez. Aya, eu conheço você muito melhor do que imagina, então não brinque comigo, por favor. Você não quer me magoar de novo, agora que já esqueci, não?

E saiu dali de perto. O ex-espadachim nem teve coragem de tentar reter novamente Omi, sabia que era verdade. Sorriu, achando muito engraçada sua própria desgraça. K'so, só eu mesmo pra ficar assim. Logo Omi esquece.

-Afinal, ainda somos amigos, não? – perguntou para o vazio a sua frente.

Um breve vento cruzou pela janela atrás, como que se respondendo.

-Afinal... Eu não perdi as pessoas que amo, não?

Mãos geladas e finas envolveram seu rosto carinhosamente, embora as unhas lhe arranhassem as maçãs dolorosamente. Um sussurro malicioso e quente chegou aos seus ouvidos.

-Está perdendo... Aya... Por que me deixou?

As mãos desviaram, enquanto Aya estava paralisado. Talvez aquilo fosse apenas alguma ilusão criada pelo vento. Mas quando olhou para baixo, viu braços finos e assustadoramente pálidos deslizando por seu corpo, acariciando seu abdômen, entrando por debaixo de suas roupas. Congelou. Achou melhor fechar os olhos e respirar fundo, tentando ao máximo desviar a atenção daquela sensação angustiante. Enfim, parecia que os braços estavam largando seu corpo, aliviando a pressão. Quando finalmente descerrou as pálpebras, não havia nada de errado por ali. E as janelas estavam fechadas. Aya-chan... Você não deveria me assustar assim. Por favor, não faça mais isso. E o ruivo então resolveu se acolher em seu quarto. Precisava no mínimo de um cochilo. Fechou os olhos, permitiu que seu corpo relaxasse. Quando já estava quase na barreira do subconsciente, ainda teve a impressão de ouvir, através das venezianas fechadas, o murmúrio do vento através das frestas:

-Espere...

Mais um dia amanheceu. Desta vez, a tempestade estava muito forte, o céu apresentava um denso e assustador negrume, substituindo as doces plumas de algodão celeste por palha de aço. O vento soprava com energia, arrastando grandes massas de poeira e outonais folhas secas pela rua, e por mais que Omi pudesse desejar limpar o gramado depois, teria de desistir. Já era impossível. Nem parecia haver alvorecer, a aurora fora tapada antes, por um horizonte plúmbeo e enevoado. Só quando o sol já havia se levantado um pouco, cansado e escondido no céu, é que os ex Weiss resolveram acordar da cama e trabalhar um pouco. Com certeza não haveria clientes: elas podiam fazer qualquer coisa para vê-los, mas não eram tão loucas a ponto de se aventurarem numa tempestade. A Koneko ficaria obviamente fechada, mas ainda assim precisavam regar, podar, adubar... Enfim, manter as flores belas e saudáveis até que o tempo ficasse bom o suficiente para que alguém se dignasse a comprá-las. A julgar pelo céu, que derramava lágrimas infinitas, isso não seria muito cedo, mas ainda assim... não poderiam deixar as flores abandonadas, se elas morressem haveria um grande prejuízo, havia inclusive exemplares raros nas estufas.

Aya foi o primeiro a despertar. Já não dormia bem há noites, estando ele cada vez mais preocupado sobre o real estado de sua irmã. E, em seu íntimo, um tanto assustado também. Qualquer ruído agora era o suficiente para despertá-lo de seu sono leve, qualquer variação de luz o perturbava. Não podia descansar em paz, repor suas energias, que ao pouco iam se esgotando. Freqüentemente o ruivo se sobressaltava durante o trabalho percebendo que estivera dormindo acordado. O corpo, embora lentamente fosse encolhendo, emagrecendo, definhando, parecia cada vez mais pesado, mais dolorido. Não que isso fosse preocupante no momento, afinal todos os humanos passam por uma fase de insônia, não? Mas a longo prazo isso poderia trazer conseqüências, ah se poderia!

Antes de mais nada, lavou o rosto com água gelada, tentando afastar o torpor mental e o calor úmido de sono que lhe envolvia as órbitas cujos vasos estavam aparentes. Olhou-se brevemente no espelho. Discretas olheiras lhe delineavam nas pálpebras inferiores, maculando a pele pálida e bela. Não pareceu o suficiente. Abriu o chuveiro, primeiro com água tão quente que lhe ardia a pele. Isso o relaxava, e aquela dor era agradável, deixando o rosto corado e todo o corpo avermelhado como se tivesse sido espancado, ou estivesse ardendo em febre. Logo todo o box e o banheiro estavam imersos em uma densa nevoa branca. Agora o corpo se acostumava ao calor, e já não doía mais. Mas aquele calor apenas intensificava a sensação de cansaço e peso de Aya, agora que todos os músculos rijos e tensos havia passado por aquele pequeno processo de relaxamento intensivo. Quando já havia terminado de se enxaguar, girou completamente a torneira de água quente, até que esta cessasse, e a substituiu por uma rajada gélida e límpida. O corpo estremeceu violentamente, o primeiro impulso foi tentar se afastar daquele agressivo choque térmico. Aya mordeu os lábios até eles ficarem roxos e aquela frágil seda ameaçar se romper. Fechou os olhos, tentando mentalizar outra coisa, qualquer coisa. A primeira imagem que lhe veio foi um flash negro de sua irmã sorrindo malignamente, as órbitas dos olhos vazias. Um novo e mais assustador arrepio invadiu seu corpo. A água gelada agora até parecia agradável em comparação! Deixou aquela chuva banhar-lhe, por mais que isso doesse num dia já frio após um banho escaldante. Todos os pêlos do corpo se eriçaram, protestando, tentando defender a pele. Quando aquela pequena tortura parecera o suficiente, Aya desligou aquela torneira, e secou-se rapidamente, logo se agasalhando adequadamente, com dois blusões de lã. O outono avançava, logo seria inverno, lembrou-se. Ainda antes de sair do banheiro, quis se olhar uma última vez no espelho, querendo certificar de que o rosto já se apresentava em melhor estado. Mas ali estava a prova de o quão quente o banho fora, o espelho estava totalmente embaçado, e o vapor remanescente sempre cobria o fino vidro logo era limpo. Enfim desistiu, e foi verificar se havia café da manhã pronto, e só então chegaria a alguma conclusão sobre o paradeiro dos companheiros.

Omi despertou relaxado e feliz. O sono sempre parecia aliviar sua tristeza, essas seriam lembradas apenas no decorrer do dia, mas no momento tudo estava em perfeito estado. Como sempre, sua primeira providência foi ligar o computador e acessar a internet. Olhou distraído para sua caixa de entrada, mal percebendo que havia uma nova mensagem piscando. Quando notou, ainda preguiçoso, já ia abri-la, mas nesse exato instante seu estômago reclamou de estar vazio a muito tempo, e ele não quis contrariá-lo. Ok, vamos comer, depois checamos tudo com calma. Passou pela frente da porta do quarto de Aya, e ouviu o barulho distante de chuveiro e notou um pouco de vapor que escapava pela fresta da porta. A que raio de temperatura está este chuveiro!? Desse modo o Aya vai estar mais torrado que os mistos-quentes do Yo-tan depois!!! Bateu duas vezes na porta, e não ouvindo resposta, abriu-a. Não foi muito difícil constatar que o banheiro não fora o suficiente para guardar tanta fumaça, e que esta havia deliberadamente tomado outros espaços para si. Será que ele está bem? Chegou até a porta do banheiro, que estava fechada. Pensou por um instante por que motivo alguém trancaria o banheiro do próprio quarto, mas esse pensamento era tão desnecessário que logo foi descartado. Bateu gentilmente umas três vezes na porta, mas novamente ninguém respondeu. Pessoas costumam se suicidar cortando os pulsos dentro de uma banheira quente... Novamente expulsou aqueles pensamentos desnecessários. Encostou a cabeça contra a porta, pondo um pouco de peso junto. O que fazer agora? Nem precisou pensar mais, pois logo a porta, que não devia estar bem fechada, se desencostou e afastou uns cinco centímetros da estrutura. Se Omi tivesse posto todo o corpo contra a porta, com certeza a porta se escancaria e o loirinho então cairia com estardalhaço e barulho pro lado de dentro, e Aya não ia gostar nem um pouco disso. Agradeceu a todos os deuses por a situação ter sido diferente, por ele só ter encostado a cabeça. Agora, até parecia um convite para que entrasse. E se eu entrasse silenciosamente? Poderia ver o que houve com Aya afinal. E se não houvesse nada, com certeza ele não me perceberia no meio dessa fumaça toda. Mas eu o veria antes, e... O chibi ficou escarlate nesse mesmo instante. Que diabos de pensamentos eram esses? Não não, Omi não tinha intenções nenhumas de ver logo o Aya no banho! Que esperasse então! Melhor preparar o café. Gasto meu tempo melhor.

Foi até a cozinha, esta vazia. Claro... Aqueles preguiçosos devem estar dormindo ainda... Riu por um momento em silêncio de seu próprio comentário. E é claro, lembrou-se que Aya poderia ser excluído então, pois estava (teoricamente) acordado. Então vestiu um avental por cima do pijama de pelúcia e tirou algumas coisas da geladeira, como leite, frios, mel, etc. Arrumou a mesa de forma cuidadosa, como sempre fazia, e preparou a torradeira para alguns pães. Até que sua vida poderia ser calma e tranqüila, se quisesse. Só não deveria se preocupar tanto. Ora, por que precisava ficar pensando [b] trinta [/b] horas por dia em seus problemas, em sua solidão, em seu passado? Principalmente no passado! Se pensasse tanto nele, muitos detalhes voltariam a tona, e não queria isso. Estava consciente que havia se esquecido de muitas passagens importantes se não decisivas em sua vida, mas sabia também que se havia as esquecido, era porque era melhor assim. Não sentiria falta, sentiria? Todo caso, nem deveria se indagar sobre isso, viveria normalmente, continuando a apagar de sua memória todas as coisas indesejáveis, até que morresse. Sua vida seria bem insignificante assim, sem lutar, sem saber... Mas quantas pessoas (a maioria) não estavam na mesma situação? Se se preocupasse muito, era capaz ainda por cima de os outros perceberem. Isso era ainda pior. Não queria que as pessoas tivessem o incômodo de fingir que se importavam com ele. Não o faziam, não precisavam nem deveriam. Omi não merecia. É, era isso. Tão insignificante quanto aquelas torradas.

-O que está fazendo... Omi?

-... – Então ele está vivo...

-Ah, sinto muito por ontem. Eu...

-Eu já lhe disse o que penso a respeito disso tudo, não? Não insista então!

-Omi, não quero ficar de rusga com algum amigo!

- "Amigo", você fala... Quando eu mais precisei de um amigo, você não estava lá. Você me deixou sozinho quando menos podia!

-Omi! Eu.... – não preciso passar por isso... Ele é apenas uma criança, por que não posso ficar simplesmente calado como sempre? Por que não ser frio e insensível como sempre? Daí não precisava passar por isso... – Você não estava sozinho, no fim das contas.

-...!?

-Ken cuidou de você, afinal.

Até demais.

-...

-...

-As torradas estão prontas. Sinta-se à vontade para pegar algumas.

Raios, você nunca se sentiu à vontade conosco, não?

-Uaaa bom dia!

-Bom dia, Ken.

-Bom dia, Ken!

Omi e Ken se entreolharam, enquanto Aya ignorava displicentemente a cena. Houve então um longo silêncio, enquanto todos comiam sem pronunciar uma única palavra. Havia um desconforto no ar, o mesmo que há entre estranhos sozinhos em uma sala sem nenhum assunto para conversar. Ao mesmo tempo em que se deseja socializar, ainda assim há um certo temor, timidez, e quem sabe, antipatia, que destrói qualquer chance de início? Os únicos ruídos presentes em tal cena eram os dos talheres, o da mastigação, da deglutição. As respirações eram suaves, os movimentos imperceptíveis e ignoráveis. Não tardou e Aya saiu da mesa. Ken continuou comendo lentamente, enquanto Omi se levantava e começava a lavar sua louça e a de Aya, e a guardar alguns alimentos, algumas geléias e afins que sabia que o moreno não comeria.

-Está melhor... Omi?

O loirinho nem moveu seus olhos em direção aos do amigo, ficou quieto e encolheu os ombros com um estremecimento.

-Estou... Você sabe que sempre estou.

-Não é assim, é?

O chibi encolheu-se ainda mais, e baixou a cabeça.

-E se não fosse, o que importa?

-...

-Ok...

-Eu me importo e sempre me importei, Omittchi. Estou tentando ajudar... Você sempre guarda tudo para si, quem sabe vire um câncer.

-Hum, parece o Yohji falando.

-Então aceite o humor negro. Nao é o que você anda usando? Você nem parece mais aquele garoto meigo e gentil de sempre.

-É... Quem sabe você deveria se lembrar que sou um homem? A vida traz a experiência, sei como as coisas são agora, não preciso mudar. Estou perfeitamente adaptado a essa realidade, meus sonhos não me machucarão.

-Não mesmo? Isso é triste, Omi. Você não cresceu para um humano mais maduro. Apenas ficou amargo. Para que viver se não ama mais sua vida?

-...

É... Para que vivo? Porque é pecado morrer? Há muito tempo isso não me faz me faz mais sentido, quem sabe eu devesse apenas sumir daqui e nunca mais aparecer. Ir para um novo plano.

-Omittchi...

Ken envolveu o loirinho entre seus braços carinhosamente, como que se isso pudesse defendê-lo dum destino cruel. Deixou a cabeça pender sobre o ombro do menor, que já nem era mais tão baixo em relação a si, e deixou uma ou duas lágrimas escaparem de seu rosto. Omi sentiu o pescoço umedecido, e tencionou-se.

-Você... Você sabe que só queria poder ver seu sorriso sincero novamente, não?

Omi virou-se dessa vez para Ken. Seu amigo estava pálido, o rosto cansado e abatido. Pendendo ao longo do escultural corpo pendiam duas mãos que tremiam, nervosas. Por que tinha de ser assim? Nada era mais cruel que ver um amigo sofrer, Omi não queria ser o responsável por isso. Ken não deveria se preocupar com ele! Deveria se entreter em sua própria vida, esquecer o loirinho, deixá-lo no mesmo lugar e situação em que sempre estivera: solidão. O chibi olhou no fundo das esmeraldas resplandecentes do amigo, inspirou profundamente e sorriu suavemente.

-Obrigado por se preocupar comigo, mas isso não só é desnecessário como indesejável. Me sinto mal assim.

-Eu sei, Omi. Mas ainda assim preciso agir assim. Quem sabe um dia seus olhos se virem pra realidade?

-Eu... estou satisfeito assim. – e sorriu docemente.

O menino largou os últimos talheres no escorredor e saiu para a estufa. Ken ficou ali parado, brincando com uns farelos da torrada já comida. O sol agora subia lentamente, tentando com esforço mortal tremeluzir através da espessa massa úmida. Alguns relâmpagos rasgavam o céu atrás da cidade, e de hora em hora uma violenta pancada de chuva caía. O jogador enfim foi até a loja, ver se havia algo para fazer por ali. Não encontrou Omi, mas havia pendurado na porta um bilhete com um pedido de entrega. Era um imenso ramalhete de margaridas, e o endereço era... Na casa daquela menina...!

Continua....