Nota1: Weiss Kreuz não pertece a mim, quem dera!
Nota2: Esta história contém yaoi. Nada explícito, mas ainda yaoi. Se isso não lhe agrada, use o botão "voltar" e seja feliz! Se isso lhe agrada, leia, e seja muito feliz!!!
Nota3: Comentar esta fic é uma gentileza! Autores precisam de comentários para sentirem-se encorajados a continuar com o trabalho árduo de escrever. Então comente! É fácil, prático, e você ainda gasta algumas calorias escrevendo. Basta escolher "Submit Review" naquela caixa lááá embaixo e clicar no Go! A opinião é muito importante, principalmente críticas construtivas, e encorajamentos para continuar também! Agradeço de todo o coração!
Capítulo 6:
-Tsu...Tsu......
Não é comigo? Como pode ser possível não ser comigo? Tinha... tinha certeza que era o hospital... Já ouvia inclusive o que me diriam... A ficha caiu. Não era nada relacionado com o ruivo. Sentiu-se tão aliviado que não pôde conter um grande e belo sorriso de satisfação, como raramente dava, e como ultimamente sentia-se ainda menos disposto a dar.
-Espere um momento, vou ver onde ele está.
-...
Ainda sorridente, começou a vagar aceleradamente pela casa, olhando pelos cantos, até chegar ao quarto de Omi. A porta estava fechada, mas não trancada, e entrou sem bater. Vazio... Aya aguçou os ouvidos e logo notou que Omi ainda estava no chuveiro. Primeiro pensou que deveria retornar ao telefone e pedir para que ligassem mais tarde. Mas... De certo modo, o espadachim aposentado se sentia orgulhoso de ter atendido ao telefone, e queria testemunhas. Em especial, seria bom que fosse Omi, que era quem mais sofria por Aya não querer sequer tocar no aparelho. Enfim, cuidadosamente se aproximou da porta, e bateu. Logo o barulho do chuveiro cessou, e Omi apareceu por uma fresta da porta. Primeiro calmo, mas quando viu o ruivo, a expressão do chibi mudou para surpresa, e novamente para calma.
-Aya...? O que foi?
Por um momento o ruivo sentiu que nem lembrava o que iria falar. Havia se distraído com a imagem do loirinho, e ainda mais com sua reação ao vê-lo. Bem, há algum tempo atrás isso era bem normal. Mas agora... O que havia de errado? Já havia passado, não? Tudo bem: Omi ainda estava magoado, mas ao menos já não era mais como antigamente, quando longos e melancólicos dias se passavam. A coisa já havia sido superada. Só uma coisa ainda o incomodava... No início, quando Aya havia perdido o rumo de sua vida, fora Omi quem tentara lhe ajudar. E durante algum tempo, essa amizade havia sido o suficiente. Aliás, mais do que suficiente. Era um vício, uma necessidade. No meio de tanta preocupação, tanta angústia, o loirinho era o único que sempre lhe estendia a mão. Aya retribuía, claro. Podia perceber os olhos turvos de seu amigo, a aflição que este sempre tentava esconder com tanto esforço. Não podia adivinhar o que era, e talvez nem quisesse, pois isso poderia lhe desviar a atenção do conforto que aqueles pequenos braços lhe ofereciam gratuitamente. E o tempo passava, e Aya cada vez mais se desligava dos problemas procurando aquele abraço. E mais, e mais. A cada momento de tensão, era em Omi que pensava.
Foi então que os problemas começaram. As pessoas começaram a estranhar, a maliciar aquela relação. E então pareceu que algo havia despertado em si. Todos os boatos que inventavam, mesmo que discretamente, lhe deixavam um sabor amargo na boca, como o desejo insaciado, a saudade do findo. Poderia ser que o que diziam era, no final das contas, verdade? Procurou Omi. Novamente havia sido recepcionado calorosamente, mas ainda assim notava a inquietação do outro. Isso estava tão claro em sua mente como se fosse ontem, era como um filme imaginado. E foi então que...
-Aya?
Omi o olhava intrigado, e incomodado.
-Por que você me chamou se só vai ficar aí parado me olhando? Não estou em exposição, sabe? Principalmente nesses "trajes".
E apontou para o próprio corpo, coberto apenas da cintura para baixo por uma grande toalha preta felpuda. Aya suspirou, acordando de seu breve flashback.
-Bem, é um telefone para você.
Por um momento Omi ia apenas reclamar por ter que sair do banho por apenas um telefonema. Afinal, por que raios essa interrupção? Aya deveria apenas ter dito para...
-... Aya?
-Telefone... Está esperando...
Não precisava se lembrar do resto. Todas as suas memórias estavam vívidas, em sua mente, a sua frente. Aquele corpo quente, os braços macios o envolvendo, as maçãs do rosto tocando as suas. Omi deliberadamente o abraçara, como se todos os anos interiores fossem apenas cinzas jogadas no fundo do mar. Para nunca serem lembradas. O momento parecia infinito, mas sabia que pouquíssimos segundos haviam se passado quando o chibi se afastara bruscamente, com os mesmos olhos tristes, apesar do sorriso no rosto, que tentava desesperadamente ser sincero.
-Aya... Que bom que você finalmente fez isso... Eu estava... Preocupado. Mesmo.
O ruivo sorriu. A recíproca era verdadeira.
-Bem, Aya... Peça para que liguem depois, ok? Estou no banho, como você já deve ter percebido.
Aya ficou quieto. Aliás, deixou Omi falando sozinho, pois se virou para voltar logo à sala e atender novamente o telefone. Sinceramente, não queria ter que encarar aqueles olhos novamente. Não queria sentir saudades daquele calor, pois era daquilo que fugia há tanto tempo, e volta e meia não conseguia resistir. Tinha que ser mais forte, mais frio. Como poderia fazer para esconder de si mesmo aquelas lembranças?
-Alô...
-Tsukyono-san?
-Não... Fujimiya... Tsukiyono não pode atender no momento, o senhor poderia ligar mais tarde?
-...
Aya apenas ouviu o som de ocupado. Mal educado... Desligou na minha cara... Bem, não importa. Pensaria em coisas mais importantes então. Distrairia-se. Mas... Não conseguia mais. Foi até a cozinha, queria se ocupar, fazer um chá. Achou apenas um envelope no fundo do armário da despensa, na certa Yohji havia preparado todos os outros para Ken, caso esse tivesse acordado. Leu na embalagem o sabor, era exatamente o que não gostava. Vai assim mesmo... Eu empurro goela abaixo então. Pôs água para esquentar na chaleira metálica. Não demorou e um denso vapor começou a escapar pelo bico. Vapor... O mesmo do banho de Omi... E a noite em que pediria desculpas...
-Omi...?
O loirinho abriu timidamente a princípio, mas logo alargou um sorriso, e abraçou o amigo, enquanto escancarava a porta de seu quarto.
-Aya! Fazia tempo que você não vinha falar comigo! – e se afastou, o rosto zangado – O que houve?
-Omi...
O jovem de 17 anos não prestou atenção, tratou logo de terminar de arrumar seu quarto e desligar o computador. Depois se voltou novamente ao espadachim, sorrindo.
-Já terminei de pesquisar o paradeiro dos criminosos. Todos os fins de semana eles vão para uma determinada mansão... Mas é recém quarta feira, no momento estamos de mãos vazias.
Aya acariciou por um momento a cabeça de Omi. O rapaz arregalou os olhos, surpreso por estar recebendo carinho, mas logo se acalmou. Sinceramente, agora parecia até insensível à atenção recebida. Tirou a mão do espadachim dos próprios cabelos, e a segurou entre as suas.
-Não precisa se preocupar por enquanto então. Tem quase uma semana inteira, ou o que sobrou dela, para descansar. Vá passear, relaxe. Quem sabe com a cabeça mais fresca você até não visite sua irmã?
-...Aya-chan?
-Já faz algum tempo que você parou de falar dela. Tudo bem que queira superar tudo, seguir em frente com sua vida, mas não deve se esquecer dos problemas.
-Omi...
Aya segurou as lágrimas, como sempre fazia. Não ia mostrar fraqueza, ia apenas aceitar o que seu amigo lhe oferecia. Calor, carinho... Isso não o tornaria uma pessoa diferente. Lágrimas sim. Abraçou com força aquele tenro corpo, tão pequeno e fácil de envolver nos braços. Sentia a pele macia por baixo das roupas. O som de seu coração batendo. Será que os boatos eram verdade? É, poderiam ser. Aya poderia estar realmente apaixonado por Omi. E... Já que era isso o que diziam, porque não fazer daquelas fofocas baratas a verdade? Sentiu duas mãos o afastarem firmemente.
-...Aya... Você me parece estranho hoje.
-...
-Foi porque o lembrei de sua irmã? – a baixou os olhos, envergonhado – Sinto muito...
O ruivo levantou novamente a cabeça do loirinho, enquanto lhe acariciava a face.
-Não foi nada disso, Omi. Estava apenas feliz por ter você comigo.
O chibi não mudara sua cabeça de lugar, até porque Aya a segurava. Mas seus olhos fugiram ainda mais insistentemente dos do outro.
-...
-Omi?
-Não faça de mim uma droga para esquecer seus problemas.
-Co... Como assim?
-Você está me usando para esquecer de suas responsabilidades. Tudo bem com isso, pois quero confortá-lo, mas, por favor, não se esqueça que é apenas isso! Estou ao seu lado para ajudar você, não para desviá-lo de seus objetivos!
-Omi! Não é nada disso! Pare de falar essas bobagens! Se eu estou com você, é por livre e espontânea vontade, e não apenas para escapar do resto!!!
Aya nem reparou que estava gritando. Mas Omi sim. E então se afastou bruscamente. Continuava sorrindo calmamente, mas estava cada vez mais visível sua mágoa.
-Tudo bem, Aya... Você está certo. Bobagem minha pensar que você estava... me usando...
-Não, Omi, olha... Me escuta... Desculpa por ser ríspido com você... É só que me alterei um pouco. Por que o que você disse me feriu.
-Como assim, Aya?
-Não estou com você para receber conforto, nem para fugir das minhas preocupações. Você também tem as suas, eu sei. Você está sempre com um olhar triste. Mas Omi...
-Não estou triste.
-Você não deve... Ou melhor, eu não gostaria que você não me deixasse retribuir tudo o que faz por mim. Não me será ruim. É um deleite...
-Mas não há nada...!
-Shhh, não diga nada. Omi, eu... Eu gosto de você. Então me deixe confortá-lo.
-Aya? Como assim?
-Eu disse, eu gosto de você.
Omi se afastou ainda mais de Aya. Foi até o computador, ligou-o de novo. Precisava mexer em algo.
-Aya... Eu gosto de você também...
O ruivo sorriu timidamente. Não esperava uma resposta positiva tão rapidamente. Então não era a toa que diziam todas aquelas insanidades a respeito deles, pois eram todas verdades preditas! Agora teria Omi para sempre em seus braços, poderia eternamente receber seu amor puro, e quem sabe, um dia, poder retribuir toda aquela atenção? O chibi voltou para perto de Aya, sorrindo do modo mais cândido possível, e se ajoelhou de frente para o companheiro, que estava sentado em sua cama.
-Aya... Você tem sido um bom amigo. É natural que eu goste de você, assim como você gosta de mim. Afinal, somos uma família, não?
Família...
-Omi, não é disso que estou falando... – murmurou, meio impaciente.
O loirinho piscou duas vezes, agora estava surpreso. Não esperava aquele tipo de reação. Aya continuou:
-Você me considera um irmão para você, certo?
-Claro! Confio em você, gosto de sua presença! Por quê? Não acredita?
-Sim... Acredito... Mas... Não era isso que eu esperava de você.
-Aya... Não estou entendendo o que você está querendo me dizer!
O espadachim se levantou. Agora estava irritado, e seu orgulho, ferido. Se Omi não estava entendendo aquilo, era porque em sua cabeça aquela possibilidade sequer passava por perto. Tudo aquilo que fazia por ele era apenas necessidade de companhia, de um irmãozinho com quem pudesse partilhar seus momentos. Não era mais assim que Aya pensava.
-Bem, só queria conversar um pouco com você. Disse que não preciso fazer nada até o fim da semana, mas sempre há serviço na floricultura, correto? Vou para lá.
-Mas... Hoje é feriado...
A chaleira já apitava histericamente quando Aya desligou o fogão. Terminou então de preparar seu chá. No fim das contas não se distraíra tanto assim, afinal, perdera a noção do tempo no momento ocioso de espera pela água ferver. O telefone tocava novamente. Omi... Encorajado por esse pensamento, e tentando esconder sua apreensão, foi atender ao telefone. Já estava quase na cômoda quando ouviu os passos apressados do chibi na mesma direção. Ouviu um ligeiro "pode deixar que é para mim" e então se retirou, apenas parando para notar que Omi recém havia se vestido, e seus cabelos pingavam no assoalho.
-Mochi-mochi?
-Tsukiyono?
-Aham... Por acaso é... você?
-Sim... Já faz tempo, ne? Mas este não pára, e novamente queremos seus serviços.
-Entendo...
-Mesmo depois que os Weiss se aposentaram você continuou trabalhando, ajudando a hackear sistemas, e tudo mais, a serviço da Kriticker... Só não lutou mais em campo.
-É... Não é necessário lembrar. Pode ser direto. Qual é o pedido dessa vez?
-Acredito que... A Weiss terá de voltar à ativa.
-...Quê?
Aya tomou seu chá. Não havia ninguém por perto, então nem tratou de esconder como estava ansioso. Tamborilava os dedos na mesa, impaciente, querendo saber quem é que havia ligado para Omi. Já havia tomado várias xícaras. Olhou no relógio. Já haviam passado cinco minutos. Logo passou o chibi apressado pela cozinha, pegando uma capa de chuva e galochas azuis.
-O que foi... Omi?
O loirinho apenas o olhou, como se quisesse que aquele olhar dissesse tudo o que tinha de dizer. Que ia visitar Ouka, que tinham todos uma missão pela frente, que por enquanto os outros Weiss não deveriam saber de nada, que estava muito preocupado, que não se sentia mais apto a lutar, porque boa parte de seu treino fora deixada para anos passados, que precisava se ligar a alguém, porque temia morrer sem deixar vestígios na memória de qualquer pessoa. Porém, nada disse. Tirou os olhos dos de Aya, e continuou o que estava fazendo. O ruivo ficou perplexo. Antigamente, eu que o ignorava... E era verdade... Muitas coisas haviam mudado entre os dois, e Aya sabia que isso fora sua culpa.
-Aya... Por que você está voltando tão tarde ultimamente? Estão todos preocupados com você!
-Omi... Eu estou fazendo como você me recomendou: estou indo visitar Aya-chan. Aliás, todos os dias. Sabe – e riu sarcasticamente – é tão bom ficar ao lado de alguém que você ama, vendo que ela, em alguma parte de sua subconsciência, está sofrendo muito, e você não pode fazer nada por ela.
-Aya!
-Mas isso tem sido muito útil. Ganhei tempo para pensar muito na minha vida, e em que eu tenho errado ultimamente. Pude tomar decisões...
O chibi sorriu. Seu amigo parecia que finalmente, depois de tantas semanas, ia voltar a se abrir. Não diria, mas sentia muita saudade daquela expressão fria cujo olhar não só pedia, mas exigia, implorava, carinho.
-E...?
O ruivo passou reto pelo loirinho, caminhando em direção ao seu quarto. O outro o seguiu, correndo para alcançar o seu passo apressado. Aya ignorou.
-O que houve?
-...
-Aya, por que você está me ignorando há semanas?
-...
-Você sempre estava ao meu lado, era meu companheiro... Como Ken e Yohji! Por que você mudou tão de repente?
-Não é nada. Só ando ocupado.
Omi ficou em silêncio, e parou de seguí-lo. O espadachim agora não sabia se se sentia aliviado ou preocupado. Agia para que Omi o esquecesse. Assim, seria possível esquecê-lo também. Mas no fundo, ainda sabia que o que realmente queria era que seu amigo o seguisse, implorasse atenção, sentisse saudade até que por fim se apaixonasse. Quem sabe aquele afastamento os aproximasse ainda mais? Por isso, sentia-se satisfeito por ver que Omi agia como era previsível que agisse ante àquela situação. Mas também estava desapontado, pois suas mais íntimas esperanças não estavam se cumprindo. Chegou até seu quarto, e entrou. Porém, não deu um passo sequer além da porta. Pois ouvia, que atrás de si, Omi não havia se movido sequer um milímetro. Isso queria dizer que não havia acabado aquela conversa ainda, caso contrário, o chibi teria ido fazer qualquer outra coisa. Mas então... Por que aquele silêncio? Estaria chorando...?
-Foi por causa daquele dia, não é? Eu lhe disse algo de errado, não disse?
Exato. Disse que via Aya como um irmão.
-Foi porque o repreendi por não ir visitar sua irmã, não é?
Errado. Não era nada disso. Esse era apenas um pretexto. Ouviu um som baixinho vindo de onde Omi estava. Parecia que ele havia se abaixado no chão, e devia estar soluçando, mas tentando esconder.
-Mas... Se você estiver ouvindo, fique sabendo que não vou desistir até que você me perdoe, ouviu?
Aya enfim fechou a porta de seu quarto. Não era porque ouvir Omi chorando lhe cortava o coração. Isso era inevitável, agora que tinha ouvido, tapar o ruído não faria diferença alguma. O que queria evitar era que Omi o ouvisse chorando ainda mais que ele.
-Ken, você está melhor?
-Yohji... Aham... Obrigado por tudo. Acho que já posso até ir ao meu quarto.
-Não, não é necessário. Eu durmo lá por enquanto. Você não sai daí.
-Mas eu preciso...!
-...Exceto para ir ao banheiro, claro. – e riu - Mas ainda assim, cuidado. Não quero ter mais trabalho ainda.
-É... Eu sei que estou lhe dando um trabalho danado! Nem sei como você agüenta!
-Quem disse que agüento?
-Yohji... – Ken segurou a mão do amigo. Sentia-se culpado. Se não tivesse cometido a loucura de ir atrás de Kaori, não estaria preocupando tanto o playboy agora. Não merecia tanto. – Desculpa...
-Não agüento lhe ver assim doente, fraco. Por isso que você deve se culpar. Mas, quanto aos cuidados que tenho para com você, isso não é nada, viu? É apenas um modo meu de aliviar minha aflição, porque meu maior alívio será ver você de pé, são e salvo.
Ken ergueu o braço até encontrar o rosto do amigo, que estava sentado ao seu lado. Tentou não dar importância para a dor que o movimento produzia em todos os seus músculos cansados. Tocou aquele rosto, o rosto de seu salvador, do anjo que cuidava dum pobre ex-jogador de futebol. Contornou as linhas viris que tantas mulheres, de todas as idades, desejavam. Sentia novamente aquele agradável odor de perfume masculino. Que marca seria? Nunca havia pensado a respeito disso antes, mas agora se sentia sinceramente curioso. Gostaria de comprar um frasco para dar como presente de agradecimento a Yohji. Passou à nuca, subiu, queria acariciar ao menos brevemente aqueles cabelos macios e sempre bem tratados do amigo. Depois, ouviria pacientemente a bronca por desarrumá-los. Foi então que notou, pela primeira vez...
-Yohji... O que houve com seu cabelo?
Não sentia em seus dedos aquela vasta cabeleira de costume. Agora, estavam bem curtos. Como jamais imaginaria que seu amigo fosse capaz de cortar seus cabelos. Poderia parecer engraçado olhando de fora, mas para Ken, isso parecia de certo modo dramático.
-Cheguei à conclusão de que seria bom tomar uma atitude mais madura. Senti-me pela primeira vez adulto, responsável por alguém, enquanto cuidava de você. Foi algo assustador, e ao mesmo tempo, que me admirava. Enfim, alguém precisava de mim, e apenas de mim. Ninguém tinha tempo para lhe assistir enquanto você agonizava em febre nessa cama. Nem eu tinha, sinceramente. E quando abdiquei de tudo, de todo meu tempo disponível e também do não disponível, para cuidar de você... Senti-me vivo, necessário, querido. Como um pai.
-Entendo...
-Então me olhei no espelho, e vi aquela velha imagem de playboy. Mas sinceramente, não tinha mais meus vinte e poucos anos. Já tinha em meu rosto até o início de algumas rugas, imagine! Aquela aparência, aqueles adornos, não mais pertenciam ao homem ao qual eu agora era, ao homem em que eu tinha me transformado. Então resolvi cortar. Não para assumir minha idade física – embora até que combine – mas para assumir a idade de meu coração.
-Yohji...
-Eu não tinha mudado nada nesses últimos anos... Até que foi bom, não? Já devia estar enjoativo eu com a mesma cara sempre!
-Eheh... É mesmo...!
-Ei! Não era para concordar!
-Ok... – e mexeu nos cabelos do amigo, para "reconhecer" o novo e desconhecido terreno.
-E não é para estragar meu cabelo mesmo assim! Não é porque eu o cortei que você já pode se sentir no direito de ir mexendo nele não, viu?
Os dois riram, aliviados. Ao menos Ken ia se recuperando aos poucos, e isso já era um progresso. Ao menos entre os dois o clima estava ameno naquela casa, já que entre Aya e Omi as coisas iam de mal a pior.
Droga... Aya está se metendo cada vez mais na minha vida! Será que ele não percebe que já é tarde demais? Que eu não quero mais nada com ele, que é para ele me deixar em paz? Quando eu mais precisava, ele não estava lá! Quando finalmente pensei que alguém gostava de mim, que eu tinha um amigo que se importava comigo... Droga, ele me disse que gostava de mim, e me fez acreditar! Pronto! Foi só eu me entregar que ele me deixou. No fim das contas, estava realmente me usando para esquecer sua irmã. Tanto que quando tomou coragem de voltar a vê-la da outra vez, logo esqueceu de mim. Se gostasse de mim de verdade, continuaria falando comigo, independente da irmã dele! E agora que ele, sabe-se lá por que, parou de ir visitar sua Aya-chan, resolveu vir atrás de mim novamente! Será que ele pensa que vou me deixar ser usado novamente para esquecer dela? Não! Droga, por que estou me preocupando com isso, afinal? Não deveria sequer estar gastando meu tempo com pensamentos assim... Pensar em Aya? Não! Vou pensar em outras coisas!
Omi olhou para as flores que carregava. Será que Ouka iria gostar delas? Estava decidido: iria reconquistá-la, ficaria com ela. Nem que fosse para deixar mais uma viúva nesse mundo. Era egoísta, mas repentinamente parecia uma necessidade. Entrou em uma charmosa rua de um bairro residencial. Havia muitas flores nela, e todas as casas eram grandes e bonitas. Era óbvio que todas as famílias dali eram muito abastadas. Algumas crianças brincavam agitadas pondo barquinhos de papel colorido para deslizarem pela água acumulada na sarjeta. Procurou o endereço de Ouka. Era mais adiante, com certeza. Passou por mais algumas crianças. Omi estava embarrado até as canelas por causa do chuvisqueiro. Algumas mães afastaram os filhos de perto dele. Chegou ao fim da rua. Era aquela a casa da garota. E era a maior de todas, só a aparência era faustosa, não se admiraria se ela fosse filha de algum daqueles mafiosos cheios de dinheiro que ele próprio combatia antigamente. Chegou até o muro, cercado por belas grades maciças e trabalhadas de algum metal pintado de branco. Tocou no porteiro eletrônico, e logo uma senhora, empregada da casa e toda uniformizada, saiu pela enorme porta e atravessou o jardim.
-Tsukiyono-san?
-...Hoe? Como sabe meu nome? É a primeira vez que venho aqui...
-Ah, Ouka-san sempre fala muito do senhor, e tem algumas fotos também. Então o reconheci da janela! Entre! Ela ficará muito feliz em vê-lo!
Omi entrou, ansioso por ver a pessoa que mais o amara novamente.
Julho/2003
