Nota1: Weiss Kreuz não pertece a mim, quem dera!
Nota2: Esta história contém yaoi. Nada explícito, mas ainda yaoi. Se isso não lhe agrada, use o botão "voltar" e seja feliz! Se isso lhe agrada, leia, e seja muito feliz!!!
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Capítulo 7:
-K'so! Pela décima vez!
Yohji tirou irritado do forno uma forma cujo conteúdo era irreconhecível. Com um sopro, as cinzas se espalharam, e ele começou a limpar e a jogar tudo no lixo. Desse modo meu bolo nunca vai ficar pronto! Admitia: era um péssimo cozinheiro, e estava desperdiçando muita comida. Quando Aya visse aquilo ia ficar fulo com ele, mas fazer o quê. Ele já estava cansado de requentar sopas insossas, ou de pôr no forno de microondas comida congelada. Queria fazer algo ele mesmo, como um mimo especial para Ken. O jogador estava se recuperando mais rápido do que imaginava, e logo seu paladar estaria apurado o suficiente para perceber que Yohji só lhe oferecia coisas horríveis. Estava mais do que na hora de ao menos um bolo fazer direito!
Já estava tudo limpo –novamente. Yohji suspirou e foi até o armário. Iria fazer tudo novamente.
-Que... Que cheiro é esse?
-Ken!?
Yohji largou tudo desastradamente e foi amparar seu amigo. O que é que ele estava fazendo ali?
-Por que você não está em sua cama, descansando?
-O cheiro chegou lá em cima... – e sorriu sarcástico, logo completando quando viu a expressão lívida do playboy – Brincadeira... Só estava preocupado com sua demora...
-Bobo...! Não devia ter vindo até aqui!
-Sinceramente, já estava cansado de ficar mofando na sua cama, resolvi dar um passeio pela casa, mexer os músculos... Sempre é saudável, não?
-É, mas olhe o estado em que está agora!
E era verdade. Ken estava completamente solto nos braços do amigo, sem forças. Yohji servia agora de muleta, segurando em um abraço apertado Ken, que estava lânguido, cansado. Como fora bobo de ter vindo vê-lo! Mas de certo modo, sentia-se lisonjeado por esse esforço, por aquele ato. E o corpo de Ken, quente, mesmo fazendo peso sobre ele ainda assim era agradável, confortável. Ken havia tomado banho a pouco, sua pele inteira exalava um agradável cheiro fresco de shampoo. Queria ficar mais tempo assim, mas...
-É melhor eu levá-lo de volta ao quarto... Precisa descansar...
Ken piscou seus olhos verdes, como se tivesse ouvido um absurdo. Ergueu-se, reunindo todas suas forças. Na época da Weiss eu ficava em pé em situações muito piores. Enfim, o ex-jogador puxou uma cadeira, e se sentou ao lado de Yohji, para que este, em pé, tentasse novamente fazer o bolo. Enquanto isso, o moreno dizia uma ou outra coisa que ajudaria a receita a dar certo.
-Aya-chan...
O ruivo preparava um delicado buquê de lírios brancos. Arrumava-os com esmero, cuidado e carinho. Sempre dava o seu melhor pelas clientes, mas agora o fazia por sua irmã. Iria novamente ao cemitério, agora que era dia claro. Iria ao mesmo lugar onde sentira aqueles calafrios, onde ouvira pela primeira vez sua irmã chamá-lo. Quem sabe encontrasse uma chave para seu sofrimento dissipasse? Entendo seu ponto, mas não seria melhor ir ao hospital vê-la de verdade?Aquela frase lhe correu a cabeça como num flashback, mas sabia que nunca havia sido pronunciada. Era a voz de Omi, num tempo passado, quando sua voz era doce e suave para com ele, os olhar era terno, o abraço tenro e acolhedor. Omi sempre tinha ótimas soluções práticas, sempre tinha a opinião mais racional para resolver os problemas irracionais. Como é que aquilo tinha acabado? Sem querer, anteriormente havia recapitulado muitos pontos dolorosos de sua trama pessoal, mas o desfecho ainda não tinha vindo. Concentrou-se mais no arranjo, o fim de tudo não precisava ser dissecado tão cruelmente até o fim. Merecia um descanso mental!
Ouviu risadas vindo de longe. Reconheceu as vozes de Yohji e Ken, e sentiu uma pontada de inveja. Aqueles dois se davam tão bem! Desejava isso para si em seu íntimo, e então se repreendia. Lembrava que não merecia mais semelhante amizade, que destruira tudo por um pequeno capricho pessoal. O ruído na cozinha diminuiu, e logo depois passos se fizeram até a floricultura. Yohji abriu a porta e apenas pôs a cabeça para fora, espiando.
-Corte novo? – Aya não conteve seu sarcasmo... ...agora que lembrava dos escândalos que o playboy fazia por um fio de cabelo fora do lugar.
-Engraçadinho... Ken gostou!
-Ah sim... Ken...
-É!
Parecia que o loiro não teria nenhuma conversa produtiva, então o ex-espadachim resignou-se ao seu arranjo de flores... Estava ficando bonito, seu ikebana melhorava muito em seus dias tristes. Yohji suspirou fundo, observando. Enfim quebrou o silêncio:
-Omi está aí?
-Não está não.
-Sabe onde está?
-Não falo com ele desde ontem.
-Ah bom.
Já ia se retirando. Se Aya dizia que não sabia, nada mais poderia ser arrancado dele.
-...Por quê?
-Ahn?
-Você não viu Omi?
-É, não vi ele até agora. Na verdade, imagino que deve ter saído agora de manhã para passear, mas talvez não... Mas Ken estava tão preocupado, quase abatido...!
-Ah é, Ken... Sempre cuidando de Omi. – e silenciou-se, soltando o ar desanimadamente.
Antes deveria cuidar mais de si mesmo, Yohji pensou, mordendo o lábio para conter a pontinha de ciúmes que sentira do amigo. Não imaginava que Aya sentia algo semelhante, mas pelo chibi.
Onde está Omi até agora? Aya estava preocupado, e sentia um crescente desconforto, uma persistente inquietação. Agora seu arranjo não mais o acalmava, aliás, o desconcentrava, lhe dava ânsias de atirá-lo contra a parede para aliviar seus pensamentos, constantemente voltados para Omi. Até parecia de propósito, que quando se distraísse, o loirinho sempre arranjava algum modo de, indiretamente, chamar-lhe a atenção, tomar sua concentração, seu foco. Precisava achá-lo!
Saiu descuidadamente de casa, entrou em seu belo Porshe. Olhou pela vidraça para as ruas calmas pela qual passava. A chuva havia cessado, o céu estava limpo e radiante, e as crianças pequenas brincavam calmamente pelos jardins, sob a supervisão de seus pais e avós, que se sentavam à varanda para tomarem chá e conversarem sobre assuntos felizes e suaves. Seguiu quieto e lentamente por diversos bairros, mesmo os menos movimentados, com os olhos atentos, procurando. Sabia que Omi havia saído, e estava óbvio que não havia voltado até então. Sem perceber, tinha chegado ao cemitério ao qual planejava visitar a princípio. Não sabia ao certo, mas notou que sem querer havia trazido seu arranjo junto. Pois estacionou, e entrou pela grade semi-aberta, que guinchou ao ser um pouco mais inclinada para abrir passagem. Tudo parecia diferente sob a luz cálida da manhã, e, embora o sol já estivesse quase a pino, uma suave brisa mantinha o frescor do ar, arrastando languidamente o tapete farfalhante de folhas e galhos. E o inverno passava, como sempre. Andou por entre as lápides, lendo os nomes muito antigos dos que já se foram. Estava tudo tão calmo como se o tempo ali estivesse parado. Alguns pássaros ainda piavam. Viu os distantes muros lodosos, notou os desenhos sinistros que se formavam por entre as formas indefinidas de musgo. Não era a toa que sentira medo ali quando era noite. Mas agora, quando tudo estava luminoso, o lugar lhe transmitia calma, e de certo modo, uma devoção, como se ali pudesse respirar o ar de seus antepassados.
Notou então, ao longe, uma menina. Estava parada em frente a um túmulo, a cabeça respeitosamente baixa, os braços estendidos, as mãos castamente cruzadas por sobre seu colo. Seu pesar devia ser antigo, pois não estava de negro, e sim de um belo vestidinho rodado branco. Os cabelos cacheados transpareciam sua pouca idade, mas os traços angelicais enganavam: era possível notar, por baixo de sua roupa, traços suaves de seios e quadris. O ruivo corou levemente, lembrando-se de não dissecar a quase criança. Para se redimir, chegou ao pé dela, ainda segurando as flores. Era pequena e muito magra, a pele tão alva quanto a sua, os olhos secos e sem cor. Isso a princípio o assustou, mas logo foi acalmado por um sorriso. Aya perguntou:
-Veio visitar alguma pessoa querida?
-Não... Estava apenas passeando.
-Por que está parada, então?
-Estava observando as flores daqui... O coveiro sempre trás novos arranjos, mas já faz tanto tempo que não vejo algum parente! É muito triste abandonar os falecidos a uma mera lembrança. Eles podem ter ido ao céu, mas volta e meia voltam para ver os amigos que retornam para perto de seu corpo enegrecido.
-Como fala com essa certeza? É sua religião?
-Não... Apenas sei.
Ela falava tão calmamente como se estivesse dissertando sobre como um gatinho poderia ser fofo. Mas não, falava dos mortos, e ainda por cima dizia que queriam a presença dos parentes! Até parecia que ela podia enxergar por dentro de sua alma, e saber o quanto se sentia culpado por não pesquisar o paradeiro de sua irmã, checar sua saúde.
-Tão jovem...!
-Assustado?
-Não exatamente. Mas me pareceu que dizia verdades ásperas...
-Você é mais sensível do que procura mostrar, eu vejo...
-Qual sua idade?
-Ah, é dezessete... Mas não tarda e farei dezoito!
-Parece ter menos.
Ela enrubesceu, e tirou um pequeno lenço bordado do bolso, começou a se abanar.
-Me tem um cheiro familiar...
Agora Aya que ficava envergonhado, até parecia que ela reparava em sua intimidade. Estava sendo inconseqüente, como as crianças, que parecem ter sido feitas especialmente para desconcertar os adultos. Ela arrumou brevemente o vestido branco, tão fresco e transparente. Agitou um pouco a saia babada, cheia de tule por baixo. Uma roupa bem infantil, para sua idade, exceto pela malícia transmitida pela saia tão curta que deixava as coxas todas a mostra. Apenas dos joelhos para baixo não se enxergava a perna, pois vestia uma meia alta e bastante rendada, e calçava sapatinhos baixos. Os braços estavam parcialmente descobertos, envolvidos por uma macia manga de fru-fru, e os cabelos negros, sob um chapéu também branco, lhe caíam sobre os ombros, emoldurando a face lívida de galactite.
A garota fez menção de se retirar, já que Aya se manteve calado, mas ele a conteve pela mão, e então se arrepiou com a sensação gélida que ela transmitia. Ela o observou, séria, enquanto lhe era estendido o arranjo de lírios. Cheirou-os bastante, sorriu. E então pulou no colo do homem, envolvendo sua cintura com as pernas, assustando-o. Era leve, mas ele estava mole o suficiente para ceder sob o suave peso, e cair no chão, com ela o enlaçando e enchendo de beijos pelo rosto e pelos cabelos. Ele tentou afastar a pequena aliciadora, mas não conseguia. Ela o prendia firme, forçava os beijos mais profundamente, conduzia as mãos do espadachim por toda a extensão de seu corpo, puxava-as para suas pernas, enquanto pressionava os seios intumescidos contra o seu peito. Aquele episódio de breve sedução era surpreendente, e ao mesmo tempo, apavorante. Pois toda pele que suas mãos tocavam era mais fria que gelo, parecia que se agarrava com uma morta! A inconsciência vinha lentamente, com um calor nos olhos e uma dormência no corpo. Foi então que sentiu ela sair de cima dele, ficar de pé, se afastando em piedade enquanto murmurava com voz doce e simpática:
-Lembranças à sua irmã!
Sorriu com aquela simpatia, gentileza! Mas... Eu não mencionei Aya-chan...!
-E então...?
-Nem sinal de Omi...
-É, Yohji me disse que você tinha saído para procurá-lo... Mas estranho não ter achado, o que houve...?
-Não sei...
Um pensamento invadiu-lhe a mente: Ouka! Pediu licença e foi até o telefone. Procurou no caderno de endereços pelo telefone, até que conseguiu achar o número, escrito com a caligrafia caprichada de Omi. Não tinha problemas em telefonar, apenas de atender ao telefone, e de qualquer modo, queria se distrair da lembrança mórbida de algumas horas atrás.
-Mochi-mochi?
-Posso falar com Ouka-san?
-É ela... Quem deseja...?
-Fujimiya...
-Aya-san! Tudo bem?
-É... Você não tem aparecido na floricultura ultimamente, até estranhei...
-Depois de tantos anos, melhor economizar um pouco. Além do mais, que tempestade! Não sou boba!
-Enfim, Omi está aí?
Silêncio do outro lado da linha.
-Que mudança rápida... de assunto...
-Gomen... Já imaginava que isso a magoaria, mas é que ele simplesmente desapareceu desde ontem, e eu então pensei em você!
-É claro, imagino...
-Mas então?
-Ele veio aqui ontem, mas já foi...
-Por que não o reteve?
-Ah, você queria? Sinto muito, mas não costumo hospedar visitas inoportunas.
-...Seu amor por Omi acabou, então...
-O tempo passou largo, ne? Ainda sinto saudades, ontem ele me fez uma oferta tentadora, mas... Sentia que não era de coração, parecia que ele apenas estava raciocinando, inclusive o citou.
-Eu? Por quê?
-Parece que está meio que bravo com você, mas sei que ele é uma boa pessoa, o perdoará assim que souber como está preocupado.
-Mas ele desapareceu!
-Omi não é criança, não é, Aya? Deve estar na casa de algum amigo, coisa assim...
Mas nós somos os amigos dele... Não há outros...
-Obrigado, Ouka. Até mais.
-Até.
Onde ele está? O que aconteceu com Omi? Será que fugiu por minha causa?
-Ken, relaxe...
-Não consigo! Você sabe!
-Não fique aflito por Omi, ele sabe se cuidar!
-MENTIROSO! – e bateu na travessa de bombons, fazendo-a espatifar-se no chão. Olhou para os cacos, via a si mesmo. Encarou Yohji cheio de culpa, e se encolheu, segurando as lágrimas num único e úmido soluço.
-Vamos para o quarto, Ken, vamos... Assim você acalma um pouco, hoje já foi um dia tão agitado, não?
-Não. Quero ir procurar Omi. Com minha moto, será mais fácil.
E se levantou bruscamente. Cambaleou uns três passou para a esquerda, e já caia quando Yohji lhe prendeu pelo quadril e o ergueu nos braços.
-Para o quarto, eu disse. Imagina se o deixo sair desvairado de moto por aí! Aha, seu safado, não deixaria! Já me preocupou o bastante não? Até me fez cortar os cabelos!
-Peraí... Isso você fez porque quis...
-Não interessa! Mesmo assim vale como desculpa! Vamos descansar!
Chegou ao quarto e deitou Ken na cama cuidadosamente. Sentou-se ao lado, os olhos baixos.
-Por favor, procure Omi... Com o mesmo amor com que o fez por mim...
Amor... Que palavra mais conveniente... O coração palpitou dolorosamente, fustigado. Que deixasse as outras pessoas de lado por um momento e lhe dessa atenção, ao seu salvador. Como agradecimento pelos cuidados, ao menos consideração pelos sentimentos que tomavam posse! Deixou cair-se sobre Ken, o abraçou fortemente até o outro arquejar, tentando respirar sob o peso do amigo.
-Ken... Não fale de Omi agora. Sou eu que estou aqui...-murmurou com voz quase inaudível, triste e ao mesmo tempo sedutora.
O moreninho fez cara de dúvida, não entendeu o propósito de Yohji.
-Se cuido de você é porque gosto de você acima de tudo, então corresponda ao menos um pouquinho, porque parece que esse cuidado que tenho por você, você tem por Omi, não por mim.
-Yohji...
E então o loiro inclinou-se suavemente para mais perto do amigo, lhe deitando nas faces um lento e carinhoso beijo. Comprimiu os lábios, sentindo aquela pele virilmente quente em contato com a sua, e o suave perfume emanado do amigo, que suspirava, provavelmente indeciso em atitude, esperando algum gesto mais preciso de Yohji para então reagir. E isso de fato aconteceu, pois o playboy sentia uma chama adormecida se acender, e seu desejo aumentar, como não ocorria desde os tempos remotos de Asuka. Moveu o beijo, agora mais sugado, até chegar aos lábios úmidos do convalescente. Ken, por sua vez, sentia-se surpreso, o corpo mole não respondia aos comandos, não fazia nada, correspondia assim como tentava afastar, mas não definia o que sentia, e apenas via alguns fios loiros a sua frente. Omi... Tinha mais com o que se preocupar do que com as galinhagens de Yohji, que, enfim, agarrava qualquer pessoa que lhe aparecesse pela frente. Além do mais, eram ambos homens, não? Homem por homem, não queria ser dominado assim, tentava se desgarrar, enquanto aquela pressão contra si só aumentava.
-Yohji, pára!
-Hm...
-Eu não estou a fim!
-Ahannnn...
Parecia que o amigo estava dominado, lhe passando pretensiosamente as mãos por seu corpo. Tinha algo ali, e era estranho, dentro da conversa. Enfim, lembrou-se dos devaneios que tivera semanas atrás, e se isso era um pretexto, o usaria.
-Não de novo!
-Quê?
Ponto! Yohji devia estar achando tudo non-sense, mas ao menos funcionara para desviar sua atenção para o que queria falar.
-Yohji, olhe o que você está fazendo agora!
-Quê? Algo de errado?
-Isso é estranho! Não esperava esse tipo de atitude!
-Ora, sou sempre imprevisível... – disse com um sorriso sacana. Definitivamente, seu lado irracional tomara controle.
-Já pensou que posso não querer isso?
-Ora, Ken! Somos duas pessoas tão próximas, que se gostam tanto...! E estamos sozinhos, qual o problema de nos juntarmos?
-Já pensou no fato de não haver sentimento?
-Sentimento há, somos muito unidos! Quanto ao contexto amoroso, que forma mais apropriada para demonstrar minhas intenções?
-Ah, sei... Sexo casual...
-Não! Eu amo você, Ken!
-Ahn?
As palavras, apesar de serem aparentemente agradáveis, doeram como um tapa. Ora, não estava interessado e nunca tinha pensado profundamente a respeito, mas seu coração batia com força o suficiente para afirmar, gritar que não queria aquele sentimento de Yohji.
-Yo-tan... Está falando sério?
-É... – e então o playboy acalmou-se. Percebera o rosto pesaroso de Ken, a coisa desandara pro caminho errado.
-Desculpa, mas...
-Eu sei o que você vai dizer! Mas não pode considerar?
-Não dá...!
-Mas pense em como íamos dar certo!
-Não é assim!
-Não me diga que isso é porque sou homem... Preconceito bobo o seu.
-Nem é isso, Yohji... Mas... Não sinto que é isso que eu quero. Poderia ser interessante uma aventura, mas não seria honesto. Nem com os seus sentimentos, nem com os meus.
-K'so...!
-E eu... eu não sinto nada desse tipo por você, nada além de amizade. Você é alguém que estimo, que quero sempre comigo... Mas não alguém que quero beijar, agarrar!
-Não sou atraente o suficiente para você...?
-Ora! – e sorriu um pouco – Você é muito atraente, mas todo esse charme não me afeta...
Yohji aquietou-se. Percebeu que Ken estava tentando fugir, já estava até pondo um pouco de humor na conversa! Isso logo seria um desvio de assunto, e pelo jeito, não adiantava insistir! Levantou-se.
-Ok, vou procurar Omi, como você pediu.
-...
-...
-Yohji...
-Sim?
-Desculpa... Até poderia tentar, mas não consigo...!
-Que desculpa que nada... – e suspirou umas duas vezes, ganhando tempo para formular melhor o que diria, o que pensaria - Não posso exigir de você um sentimento que não surgiu espontaneamente, como o meu... Só ia ferir, a mim e a você. Deixe isso de lado, esqueça.
-Está bem... Yo-tan...
Enquanto o playboy saía, Ken espiou pela janela entreaberta do quarto do amigo. Um ou dois passarinhos passaram por ali, emporcalhando o parapeito. Respirou fundo. Aquela conversa com Yohji lhe fora mais cansativa do que o passeio até a cozinha. Beliscou as últimas migalhas de bolo que estavam no pratinho descansando no canto da mesa de cabeceira. Afinal... Por que não voltara para seu próprio quarto até agora? E aqueles dois ou três momentos os quais se sentira verdadeiramente atraído por Yohji? Não sabia responder, agora tudo era embaçado como um vidro de carro em dia de chuva. Chuva... O dia em que o playboy o resgatara inconsciente, o dia em que Kaori quase o seduzira... Seduzira mesmo? Não conseguia lembrar exatamente o que havia feito ou desfeito com ela, mas lembrou que devia ir vê-la em algum momento. Ela era tão triste e solitária! Mas... Também não sentia por ela nada em especial. Talvez fosse apenas carência que o movesse em direção da menina e do amigo. Porque já fazia muito tempo que não estava com alguém, que não compartilhava um amor, uma cama. Mas fora isso, e o desejo físico, não sobrava nada pelos dois, nada além do que já havia antes de eles mostrarem estar interessados.
Todo o caso, Ken não iria gastar seu tempo pensando em bobagens sentimentalistas... Tinha muito com o que se preocupar, e a prioridade era Omi. Estava sumido, era um homem um tanto imaturo, muito sensível, e... Os dois mantinham uma amizade meio que às escondidas. Principalmente há alguns anos atrás, ambos eram ombro para o outro. Agora, nada mais o importava além de... Omi.
Agosto/2003
