Nota1: Weiss Kreuz não pertece a mim, quem dera!
Nota2: Esta história contém yaoi. Nada explícito, mas ainda yaoi. Se isso não lhe agrada, use o botão "voltar" e seja feliz! Se isso lhe agrada, leia, e seja muito feliz!!!
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Capítulo 11:
Está cada vez mais escuro. E se antes estava perdido, agora estou mais ainda. Agora minha mente está cansando, estou ficando fatigado de seguir sempre em frente sem nada achar. A bateria da lanterna está ficando fraca, depois de tanto tempo acesa... Mas como esta casa parece grande por dentro... Interminável... Olhando de fora parecia pequena, tão pequena que parecia menor até do que casas normais. Será que estou em um porão, ou algo assim? Ou então fui movido para outra casa e nem notei? Mas o estilo das paredes e das esquadrias é o mesmo, assim como o piso e o teto. O que será que está havendo? Definitivamente não deveria ter vindo aqui. Ou então... Sim! Era isso o que Ken queria desde o início. Era essa a coisa terrível que ele estava pressentindo. Algo em relação a esta casa. Argh! Desgraçado! Enviou-me direto para o perigo! Para uma armadilha, assim se livraria de mim para ficar para sempre com o Omi! Não, não... Ainda assim sou seu amigo, ele não faria isso. Tenho que parar de xingar Ken... Ele na verdade me considerou o suficiente corajoso e hábil, e por isso me designou para esta missão!!! Agora só me resta...
Tec tec... Distante. Serpenteando pelo chão, se aproximando. Ainda longe, mas nem tanto. Yohji deu um passo para trás. Moveu o facho de luz em direção ao som misterioso, mas não achou nada ainda assim. E aquilo se aproximando, se aproximando, se aproximando... Vamos, lanterna. Não me deixe na mão agora! Som de faísca se misturou com o som da aproximação. Um, dois, três segundos. Estava se aproximando. Se aquilo dobrasse mais um ou dois corredores e atravessasse as portas certas como estava fazendo até o momento, logo a luz poderia mostrar o que era. Eu não quero que esse troço chegue... Eu estou... Com medo...? Mais uma vez o som de faísca. Estava próximo. A maçaneta da porta em frente ao playboy começou a girar, até o ferrolho estalar indicando que estava aberto. O rangido da porta se abrindo. Faísca. A lanterna apagou.
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-Por favor, Aya Fujimiya?
-Oh você! Faz muito tempo que tentávamos entrar em contato, mas o senhor simplesmente sumiu! ...Ora, não fique irritado, senhor! Ela foi transferida, sim. Para a ala dos pacientes estáveis, de onde nunca pensei que ela sairia um dia. Por que ela havia saído antes? Ora, é que durante um pequeno período, logo que você parou de visitá-la, ela teve uma terrível piora em seu estado de saúde. Acho que se ela um dia sair desse coma, vai ter seqüelas. É o que os médicos dizem ao menos. ...Quê? Sou uma mera enfermeira, senhor. Não se lembra de mim? Acompanhei sua irmã por bastante tempo. Ela melhorou um pouco, mas não é mais a mesma de antes.
Preciso acabar com isso. Decidir-me. Aya, passou tanto tempo... Você continua sendo minha irmãzinha. Minha garotinha. Como eu poderia lhe prejudicar?
-Aí está.
Um quarto privado, como a Kritiker sempre garantira. Aya-chan deitada na cama, os braços estendidos ao longo do corpo, os cabelos delicadamente espalhados por cima do ombro. A pele muito mais que branca, estava amarelada. O rosto já nem apresentava mais serenidade. Não tinha expressão. O ex-espadachim ficou um longo tempo parado na porta, sob os olhos da enfermeira, observando a irmã.
-Posso ficar a sós com ela?
-Ah...? Sim, sim! Fique à vontade, senhor.
Assim que a porta se fechou atrás de si, Aya continuou parado na porta, olhando para aquele vegetal em cima da cama. Após uns dez minutos, se aproximou e sentou-se numa cadeira ao lado da menina. O quarto era muito limpo, de paredes tão brancas que arderiam nos olhos em um dia ensolarado. Mas não estava assim. O céu estivera nublado o dia inteiro, sem brilhar nem chover, tal qual Aya-chan. Continuou em silêncio. Tudo bem que ela não o ouviria de qualquer modo, sua mente deveria estar muito longe, num sonho mais bonito que aquele elegante mas frio quarto de hospital, mas ainda assim, sentia-se envergonhado por ter passado tanto tempo sem visitá-la. Estava constrangido, como se a qualquer momento ela pudesse abrir os olhos para criticá-lo. Pegou as mãos mornas da garota e acomodou entre elas um ramalhete de lírios brancos.
-Eu amo você... ...Sabe, Aya... Nem sei como posso chamar você assim, eu que roubei seu nome e o usei durante tanto tempo. Ninguém me chamará de Ran, nunca mais, se você morrer. Por isso... Se isso acontecer, não direi a ninguém que meu nome um dia foi Ran. Para que você, apenas você, tenha me chamado assim numa última vez. Será um pedaço meu que pertencerá apenas a você. Estou com saudades de você maninha, acho que é apenas meu amor por você que a prende aqui, não? Fiquei tanto tempo longe, covarde que sou, sem encarar a realidade. Meu amor só está prejudicando você. Seu corpo está mais e mais fraco, apesar dos esforços dos médicos. Como eu não permiti que seu corpo se fosse, você mesma está cuidando disso, não? Fui muito egoísta. Sua alma deve estar livre há muito tempo, você nem se interessou mais em voltar. E eu aqui, sem cortar o cordão umbilical que liga você à vida, sem lhe dar a liberdade da morte. Onde você poderá viver num lugar feliz, onde não há dores nem tristezas. E quem sabe um dia, em outra vida, em outro lugar, nós nos reencontremos? Daí você poderá me perdoar pelo meu engano. Pelo meu medo de mudar as coisas. Por não aceitar que você já estava livre há muito tempo, e só não foi por... por minha culpa! ...Não... Não quero causar mais sofrimento para as pessoas que amo... Dez anos se passaram, Aya. Eu envelheci, ganhei até esboços de algumas rugas. Depois que seu espírito fugiu de seu corpo, entrei numa organização que luta contra o mal. Você não acreditaria, mana...! Parece até história de ficção, mas não é. E por não ser é que sofri tanto. Cada vez que matei alguém do mal, me sentia enjoado só de sentir a viscosidade daquele sangue humano em minha espada. E aqueles rostos... De pessoas com tantos sentimentos. Podiam ter uma noção errada de justiça, mas também tinham medos, emoções. Tinham alguém a quem amavam, e eu destruí todas elas! Todas! Quantos pais têm que visitar túmulos, quantas crianças ficaram órfãs? Muitos, e por única e exclusiva culpa minha. E enquanto eu perdia minha fé no mundo e amaldiçoava a tudo e a todos, queria apenas poder lhe ver acordada. Mas você não se acordou, por mais que eu viesse e lhe implorasse às lágrimas. Você quis que eu aprendesse a viver, e eu apenas morri. Perdi tudo. Tentei me matar, mas quando já sentia o fio da espada nos meus pulsos, fraquejava. Pensava que então, num dia em que você acordasse, eu não estaria no mundo para lhe receber, e todo esforço anterior seria em vão. Por isso sobrevivi. Ganhei então um conforto inesperado, e até essa pessoa fiz sofrer, irmã! Eu... Eu me apaixonei tão perdidamente por ele – sim, era um rapaz – que o machuquei. Não entendi que ele tinha medo. Estava assustado com o sentimento que eu tinha por ele. Mas ele me amava! E eu destruí tudo. Fugi, para depois voltar e descobrir que era tarde demais. E todo esse tempo acusei para mim mesmo uma outra pessoa, como se ela fosse pivô de nossa separação. Mas não era. E só agora consegui ter coragem de chegar até ele, chorar, me humilhar. E então ele me disse o que eu já sabia mas não entendia: fui amado! Irmã, como queria – quero - que você estivesse viva para com sua sensibilidade me guiar. Mas agora notei que desde o princípio as rédeas estavam nas minhas mãos, eu que não soube guiar os cavalos. Agora Omi – este é o nome do meu amado, mana querida – sumiu. Não tenho nem você nem ele, então me sinto mais só que nunca. Mas descobri uma ou duas verdades enquanto vinha para cá. A primeira é que não posso por o peso de minha vida em seus ombros, nem o de sua vida nos meus. Tenho que lhe dar liberdade para morrer e me deixar, pois só então terei liberdade para viver e pensar em você com a consciência limpa. A segunda coisa é que, se estou vivo, ainda posso consertar os meus erros, e viver com o máximo de dignidade que conseguir ter. Para que você, onde quer que esteja agora ou futuramente, se orgulhe de mim, pois só lhe dei desgostos até agora. Omi desapareceu, mas vou encontrá-lo, prometo. Assumi seu nome, não? Agora assumirei sua felicidade. Vou viver definitivamente sua vida aqui na Terra, e deixarei que você se junte aos nossos pais e outros antepassados. Chamarei o médico, ele lhe libertará.
Algumas horas depois já estava tudo pronto para a despedida de Aya-chan. O ruivo trouxe ainda mais flores, e pôs todas ao redor da irmã inexpressiva. Com tanta beleza ao redor ela até parecia calma, mas Aya sabia que isso era apenas uma reação de seus próprios olhos aos próprios desejos. As palavras do doutor soavam vazias aos seus ouvidos. Burocracias e despesas era o que menos lhe preocupava. Podia apenas sentir o perfume das flores como uma memória . Pegara a mão da garota, e a segurava firmemente. Queria sentir sua pele uma última vez. Prendê-la um último instante. O médico já preparava tudo para desligar os aparelhos.
Eu nunca faria nada que magoasse Aya-chan. Tomara que ela parta sem nenhum problema. Vou parar de chamar sua alma de volta. Ela tem o direito de ir embora quando quiser. Eu nunca quis machucá-la, juro, mana. Desculpe por lhe causar tanto sofrimento... Adeus...
O médico desligou o último aparelho vital. Aya sentiu como se sua mão fosse segurada um pouquinho no momento exato, mas não tinha certeza. Era apenas um corpo se despedindo agora. Adeus, Aya. Chorou, mas se sentia mais leve. O ruivo abraçou o corpo da irmã, sentindo toda aquela massa mole e sem vida. Definitivamente não era mais sua irmã há muito tempo, mas não perderia a tradição sentimentalista. Começou uma chuva suave, que acompanhava com frescor o ritmo das lágrimas do ex-espadachim. Apesar da água caindo, um pássaro cruzou os céus, subindo, como uma alma procurando o céu.
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Socorro... O som entrou pela sala. Envolveu Yohji, passou ao redor, provocando, ameaçando, deixando as marcas de sua presença. Estava muito escuro, então só mesmo olhos brilhantes poderiam ser vistos, mas não foi o que ocorreu. Não havia nada além de som e movimento de ar para garantir que havia realmente algo ali. Havia muitas explicações plausíveis para aquilo, passando por imaginação, excesso de medo e adrenalina, um sonho ruim, crise nervosa causada por stress. Ou vento, se houvesse alguma fresta por perto, o que aparentemente não havia. O loiro podia sentir um arrepio subindo pela base de sua panturrilha, lambendo-lhe por trás dos joelhos, passando pelo cóccix até a nuca. Num dado momento, a coisa desistiu de assombrar e começou a se afastar ainda mais rápido que se aproximou. Sem opção além de esquecer o medo e ter o espírito prático de achar uma saída, ou seja lá que desfecho mais fosse possível, seguiu o som. Corria a passos largos, mas estava cada vez mais perdendo distância, sem contar que, como não podia enxergar nada já que a lanterna apagara, tinha que achar por conta e risco próprio as portas e outras passagens. Alguns buracos (que nem enxergara antes, com a lanterna) exigiam que arrastasse no chão, algumas fendas profundas simulavam corredores, que de tão estreitos, exigiam que Yohji andasse de lado e com a barriga encolhida. Com o passar do tempo, o som que deveria seguir ficou tão distante que não passava de uma ilusão auditiva causada pelo silêncio. Sentia-se mais cansado que nunca pela prolongada corrida. Emocional e psicologicamente, igualmente exaurido. Não adiantava, por mais que se esforçasse em ficar em silêncio, não ouvia mais nada. Acabou se conformando com a própria respiração ofegante. Deitou-se no piso frio. Não adiantava mais. Não teria forças se não dormisse. Seu único medo é que quando acordasse teria outra fraqueza, e essa seria dificilmente curada: fome e sede.
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A casa dos ex-Weiss estava mais que escura. Estava um deserto. E ali, sozinho, durante um dia inteiro, Ken. Ele bem que tentara dormir ao longo do dia, mas logo despertava suado e ofegante, vítima de mais um pesadelo. Estava cada vez pior. Sonhava coisas horríveis, ligadas a ele e aos seus amigos, e a Omi, que além de amigo tinha seu amor. O sonho que tivera e que lhe fizera pedir que Yohji verificasse o paradeiro de Kaori fora na casa dela. Lá dentro estava aprisionado Omi, e Kaori lhe abraçava, mas suas mãos não faziam carinhos, mas sim arranhavam e faziam verter sangue no piso limpo. Ela já não era mais a doce e misteriosa garota que por um instante tentara seu coração: era uma alma traiçoeira que forçara passagem para dentro de sua vida. Não era à toa que todas as encomendas de flores para sua casa nunca haviam sido bem explanadas. Agora podia juntar todos aqueles lapsos de tempo e coincidência, e perceber que muitos detalhes que ignorara eram exatamente os fundamentais. E isso só elucidava o perigo que sentia. Quanto mais tempo aquela garota passasse com o indivíduo, mais poderia tirar dele, mais energia, mais sentimentos, mais pensamentos. Era uma sanguessuga do corpo e da alma. Todos os sonhos seguintes tinham um preocupante ar de premonição. Via mortes horríveis, corpos empilhados, sorrisos macabros. As pessoas que mais adorava morreriam. E agora, mais um dia chegava ao fim. Aya não chegara em casa. Devia ter mantido sua busca por Omi. E Yohji... Não sabia ao certo. Talvez estivesse em mais uma busca fictícia pelo chibi. Mas sabia que nisso não deveria confiar. Por mais irônico que fosse, era logo no homem que desprezava mas invejava que despejava suas esperanças mais íntimas de reencontrar novamente aquele par de safiras brilhantes e melancólicas, aquele sorriso de confiança pura e sincera nos outros, aquela expressão de solidão carente mas auto-suficiente, não por orgulho mas, pelo contrário, por medo de ocupar os outros com algo tão "insignificante". Onde estaria Yohji então? As horas passavam, estava ficando preocupado. Adormeceu.
A manhã começou e manchou o céu negro com tons pálido-amarelados no horizonte. Talvez fosse por essa luz desanimada, ou pelo mais recente pesadelo, ou porque Aya estava dormindo ao seu lado por algum motivo obscuro, ou por causa de tudo isso, Ken despertara de modo imediato e surpreso, sem se espreguiçar ou suspirar de preguiça e relaxamento.
Sua primeira providência foi tomar banho e comer alguma coisa. Precisava pensar um pouco. Quanto àquele Aya adormecido, ainda estava meio atordoado para reagir. O ruivo estava lhe surpreendendo de modo assustador. De homem frio e insensível durante anos, se tornara a criatura mais sentimental e imprevisível em dois dias. O que são dois dias numa vida inteira? Algo de muito grave estava acontecendo, devia estar louco pela ausência de Omi. Ao menos comprova que seu amor é verdadeiro mesmo. Unf. Mas havia coisas mais importantes para se preocupar que Aya. Deixou o ruivo dormindo – Está feito pedra mesmo... – e tratou de procurar Yohji pela casa. Tudo vazio e silencioso. Onde poderia estar? Noitada? Orgias múltiplas? Começou a vasculhar o quarto do playboy, mas não havia nada que o incriminasse. Não que se preocupasse com quem estava o loiro ou o que fazia com esta pessoa, mas sim o fato de ter ficado tanto tempo longe sem dar notícias. Não estava curioso ou ciumento, mas aflito! Ligou para o celular do amigo, mesmo com medo de o pôr em maus lençóis, mas todas as ligações caíam na caixa postal. Lembrou dos pesadelos. Da casa onde Kaori morava. Onde tentava as pessoas que Ken conhecia. Yohji poderia ter... ...ido a sua casa! E se não tinha voltado até o momento, isso significava que algo de muito grave havia acontecido! O pesadelo tinha se tornado realidade. Como fora ingênuo em mandar o loiro averiguar a casa! Se tinha algo de tão perigoso lá, como poderia mandar seu melhor amigo sozinho para lá? Entregá-lo de frente para o perigo, para a morte? Pensara só em descobrir o perigo ao qual Omi seria vítima, mas nem pensou que, dependendo do inimigo, mesmo Yohji estaria em maus – péssimos – lençóis. Vestiu-se o mais rápido possível. Nem se importou se estava com peças combinando, ou com meias do mesmo par: apenas pegou a melhor qualidade de armas e proteções possíveis. Em situações de extremo risco, era o que mais importava. Montou na moto e saiu em disparada.
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-O que houve...?
-Nada, só uma tonturazinha.
-Deixe-me cuidar de você então. Você já cuidou de mim por tempo o suficiente, já me sinto muito bem.
-Não não. Ainda estou melhor que você.
-Quanto tempo se passou...?
-Não importa. Não interessa. Esqueça do mundo lá fora. Aqui existe apenas eu e você. Estamos sozinhos. Estou protegendo nós dois. Ninguém irá nos interromper.
-...Mas... Por um momento você pareceu tão fraca...! Muito mais fraca que eu.
-Vou lhe contar um segredo: estou ligada ao mundo. Se acontecer algo lá fora que seja danoso a mim, sentirei imediatamente.
-E o que aconteceu...?
-...
-Yuki...? Responda... Por favor...
-Não houve nada, meu amor. Apenas descanse. Durma. Sonhe. Eu cuidarei de você. Você nunca mais ficará sozinho. Tem a mim agora. Nós temos um ao outro. Você vai me amar para sempre, não?
Mas... Aya...!
-Não pense nele agora. Ele lhe abandonou, não? Esteve com você quando mais precisou? Não! Mas eu estou, então ame a mim, e não a ele.
-Mas eu o amo...! Amei-o durante todo este tempo. Não quero deixá-lo...!
-Você não precisa mais dele. Já tem a mim.
-Mas...
-Shhh descanse agora. Está me deixando exausta com essa insistência. Eu te amo, então não me faça sofrer assim! Pare de falar dele! Pare de pensar nele!
-Ah é, você sempre sabe quando penso nele... O que... Você é de verdade?
-Estou ficando cansada, Omi. Essas suas bobagens são manias! Não há nada de estranho comigo. Algo está acontecendo lá fora agora. Se você ficar falando e pensando nesse Aya todo o tempo, não poderei me concentrar nas minhas outras partes. Já perdi uma das minhas fontes de energia, estou prestes a perder mais algumas, e se você não ficar quieto, perderei tudo. Durma.
-...
Mas Omi agora parecia mais desperto que nunca. Ergueu-se e ficou de pé, coisa que não fazia há dias.
-O... O que está fazendo, Omi? Se você se esforçar assim, nunca ficará bom de sua saúde! E nunca poderá sair daqui! E ficará sozinho!
-Era você quem eu estava procurando... não era? Era você que estava se esfregando debaixo de meu nariz e eu nem notei!
-Co... Como assim? Você está enganado! Por que estaria me procurando?
-Voc esteve me enfraquecendo todo esse tempo! Consumindo minha alma! Dizendo-me coisas horríveis! Era você quem eu tinha que destruir, e não fiz isso! Está contaminando a mim e a muitas outras pessoas, não é? Não foi a Kritiker que me pediu para pesquisar sobre você, não é? Você mesma fez isso para me atrair até seu ninho! Me diga: o que pretende?!
Enquanto Omi gritava para Yuki, ela parecia que ia se encolhendo e definhando. Definitivamente não parecia acostumada a pessoas lhe desafiando. Mas logo esse processo de enfraquecimento parou, e ela começou a sorrir, de modo muito mais traiçoeiro que Omi jamais poderia imaginar.
-Tudo bem. Você descobriu tudo. Andei me alimentando de você e de seus amigos por muito tempo... Nunca vi pessoas tão perturbadas. A começar por aquelezinho que você tanto menciona! Ele me atraiu. Tinha pensamentos morbidamente deliciosos. Muitas, muitas fraquezas. Nunca vi alguém passar tão mal ao matar outras pessoas. E aquela paixão por você então? Ele sofreu muito! Aqueles outros dois amigos também nutrem ótimos pensamentos. Ficam remoendo traumas, tristezas. Não confiam em ninguém, muito menos em si mesmos. Gostariam de estar em qualquer outra situação, exceto a que se encontram. Não conseguem nunca tirar um momento de felicidade, mesmo das coisas mais simples.
-Eu fui feliz...
-Ah é mesmo... Eheh, tinha me esquecido...Sua linda amizade colorida com Aya...É, perdi várias sobremesas por bastante tempo... Mas eu sabia que não ia ficar bom por muito tempo... As perspectivas de vocês dois eram muito diferentes. Enquanto você tinha medo do amor, queria desfrutar daquela amizade enquanto ela fosse sustentável, sem ter que pôr muito de si, sem se expor, apenas receber o amor, e ser carinhoso – como se só isso fosse o suficiente para retribuir -, Aya queria amor de verdade. Queria poder mostrar parar o mundo como te amava, assumir tudo, todos os riscos e preconceitos, desde que pudesse te ter de verdade. E queria que você se abrisse para ele, enquanto você sempre evitava isso. Essa disparidade arruinou vocês.
-Pare com isso...!
-Ah é, lhe lembrar dessas coisas dói, ne? Não consegue encarar de frente até hoje... Antes de querer que as pessoas te assumam, devia ter assumido elas! Ok... Graças a esse seu "momento rebelde" vou poder poupar muito esforço. Eu tinha que me dar ao trabalho de criar todo esse acampamento ao redor só para lhe convencer... Mas me parece muito mais simples lhe deixar trancado aí com seus pensamentos. Cuidei para que nenhum som passasse daí de dentro. Você está na beira de um penhasco, como pode ver através da janela, agora que tirei a ilusão. Agora lhe restam duas opções: morrer de fome, ou se mexer tanto que vai acabar caindo no penhasco lá embaixo, onde tem água, e morrer sufocado lentamente. As duas maneiras não serão agradáveis... Mas lhe darão mais que tempo o suficiente para ver todo o filmezinho de sua vida... Vai ser delicioso! E... bem, há também uma faca meio que sem fio aí... Caso queira tentar se matar...
-Você... Não faria isso...
-Adeus, Omi. Divirta-se... Tenho coisas melhores com o que me ocupar agora. Se quiser, pode ficar com esse espelho também... Caso queria enxergar seus "amigos".
O chibi ainda tentou segurar a garota, mas ela simplesmente virou pó e sumiu nos vãos do chão. Estava desesperado. Aquela situação era improvável, não conseguia acreditar nisso. Sem comida nem água logo morreria. E seus companheiros não haviam chegado até o momento, como poderiam chegar nas próximas horas? Também tinha aquelas coisas que Yuki dissera... Sabia desde o início que fora por sua própria covardia que perdera uma linda história de amor com Aya, que tinha tudo para dar certo, se dependesse do ruivo. Só mesmo ele, Omi, poderia fazer as coisas não darem certo, mas isso sequer aconteceu, porque ele sequer permitira que a coisa começasse. Iria morrer, com certeza. Estava trancado ali dentro. Andou até o canto da janela. Ficou nas pontas dos pés e espiou para baixo, enquanto se segurava na esquadria. É, realmente tinha mar lá embaixo. O trailer se inclinou, e escorregou alguns centímetros para a frente – o que fez com que Omi pulasse desesperado para trás. Estou condenado... O que ela disse era verdade... Como não notei? Mas esse tipo de pensamento só deixaria Yuki mais forte, então ele se decidiu a passar um pouco do tempo olhando Aya pelo espelho, e só então pensaria em algo prático. Sinto que para sair daqui vivo estou nas mãos deles...
Omi concentrou-se ao máximo para que pudesse visualizar Aya. Estava dormindo. O chibi sorriu ao poder admirar o ex-espadachim após tanto tempo. Nem reparei, mas faz semanas que não o vejo... Estou com saudade dele... Muita... Muita saudade. Aproximou mais o rosto, praticamente grudando o nariz no espelho. Que loucura... Um espelho mágico... Até parece história de mangá... Aya dormia tão serenamente. Os olhos estavam fechados, as pálpebras livres e relaxadas. O rosto levemente rosado pelo sono. Os lábios levemente entreabertos, convidativos. Os fios avermelhados se bagunçando sobre a face branca. Lindo... Onde estará? Como se respondendo a pergunta, o espelho afastou a imagem. Espera... Isso aqui não é o quarto de Aya, é? Não é o quarto do Ken? O que o Aya está fazendo aí? Omi pôs o espelho no chão e lhe deu um chute, de modo que ele deslizou pelo chão até perto da janela. Seria muito arriscado catar aquele vidrinho agora. Sentou-se no chão. Não adiantava disfarçar, estava cansado. O que Aya estava fazendo dormindo no quarto de Ken...? Não, deve ser só mais um truquezinho daquela garota para me fazer ter esse tipo de pensamento... Mas ela disse que não faria mais nada para mim. Será que é a realidade? Aya e Ken estão... O loiro tapou a boca com ambas as mãos, como se isso fosse negar o que ele pensava no momento, e não falava... Aya e Ken estão juntos? Será que eles esperaram apenas até eu ir embora e aproveitaram a brecha? Se dividiram a cama, será que eles fizeram... Será que eles transaram? Será que se amam de verdade? Mas Aya não me amava? Ken não me amava também? Por que só agora estou racionalizando coisas do gênero "fui amado por duas pessoas ao mesmo tempo"? O que está havendo? Será que todo esse tempo eles só disfarçaram que se odiavam quando na verdade se queriam? Espera... Isso é idiotice... É até mais provável que Ken tenha matado Aya e o deixado abandonado na cama... Espera... Por que estou pensando nessas coisas? Preciso parar senão ficarei louco! Pare, Omi. Pare. Pare. Pense em outra coisa. Pense naquele beijo que Aya lhe deu há anos atrás. Você gostou, não gostou? Sim, gostei... Mas eu recusei. Tive medo. Será que se eu sobreviver vou ter finalmente coragem de me declarar para o Aya? Será que ele ainda vai me querer? Não, vai me recusar, vai dizer que agora está com Ken. Droga, voltei para o ponto anterior. Por que logo agora que p.r.e.c.i.s.o não pensar em nada minha cabeça está cheia de bobagens? Se pudesse ao menos pensar em como sair daqui, mas... Estou nas mãos deles... E não vou durar muito. E o idiota do Aya dormindo em vez de me procurar. Se ela tirou a ilusão para mim, será que tirou para os outros também? Será que tinha alguma ilusão para os outros? Droga! Não vai adiantar nada pensar! Mas não tenho nada para fazer, e parece que pensar é meu único passatempo. Isso aqui está um tédio... E aposto que não se passou nem quinze minutos... Será que volto a pensar em Aya? Se eu pegar o espelho posso cair no lago. Aya. Vou cair do penhas... Aya. Droga, agora vou ficar pensando só em Aya? Aposto que ele nem me amava na verdade? Nunca me amou. Ninguém nunca me amou. Não, isso vai deixar Yuki forte. Pense em outra coisa. Mesmo que seja louco! Tic tac tic tac. Aya! É, parece que vai ser isso mesmo... Omi se encolheu, abraçando com força os joelhos de encontro ao corpo. Agarrou aos próprios cabelos, sentindo aos poucos algo como "sanidade" voltar junto com a dor. Ao menos isso é mais intenso que pensamentos...
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-Volte, volte...! Estou sonhando, não?
Mas tudo continuava igual. Tédio...
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Enfim, a casa de Kaori... Olhando de fora, era possível perceber que o tempo passara naquela casa. Não parecia mais sequer bonitinha, ou aconchegante. Como algo pode ficar assim em poucas semanas? Não adiantava. Era agora ou nunca. O portão estava preso ao muro por uma corrente. Não me lembro de ser assim... Deu um chute e o portão caiu com um barulho surdo na vegetação do quintal. Tudo sujo, imundo. Foi caminhando com cuidado, as canelas se arranhando nas coroas-de-cristo que se erguiam impetuosamente do chão. A porta. A porta estava num estado deplorável. Qualquer um teria nojo de encostar nela. A maçaneta parecia completamente enferrujada. Parece emperrada. Algo começou a mencionar em sua cabeça que Yohji jamais entraria num lugar asqueroso assim, por mais bem intencionado que estivesse. Só ele mesmo, Ken, para ter uma idéia boba assim. Se fosse inteligente, iria procurar Yohji em outro lugar, e pararia de perder tempo numa casa inútil como aquela. O pensamento se apoderou de sua cabeça com mais força, e era bem racional e plausível. Deu meia volta, e começou a andar pelo mesmo caminho da ida. Dessa vez, até que parecia bem fácil. Deve ser porque já amassei esse matagal... Agora, onde eu poderia procurar por Yohji...? Nada vinha a sua mente. Já estava no portão derrubado quando parou novamente. Eu mesmo queria descobrir o que havia nessa casa. Se estivesse tudo normal, conversaria com Kaori, tomaríamos chá, e depois não pensaria mais nessa casa... Mas há muita coisa errada aí. Se Yohji não estiver ali, tudo bem. Mas preciso fazer isso por mim também. Mais uma meia volta, tortuosa como a primeira ida. Sinistro... E novamente aquela porta pouco convidativa. E aquela maçaneta... Parecia que ela pedia para não ser tocada. Mas Ken o fez. Era necessário. Mas ela girou sozinha.
-Olá!!!
-Hein... Kaori...?
-Tudo bem? Fazia tempo que você não vinha! – e ela olhou para o moreno de cima a baixo – Vejo que não trouxe flores... Pensei que estivesse bravo comigo... Após a última vez que nos vimos... Naquele dia de chuva, lembra? Faz meses que não aparecia... Ao menos dessa vez é por livre e espontânea vontade, ne? – e sorriu.
Ken agora sentia-se muito calmo. Parecia que o rosto gentil da garota lhe apagava qualquer outro pensamento de sua cabeça. Não havia Yohji. Nem Omi, nem Aya. Tudo estava em paz. A casa não era mal-assombrada nem nada. Apesar da aparência estranha...
-...Notei que você está observando tudo aqui...
-É... Está meio sujo, não?
Ela se fez escarlate, e Ken ficou sem reação. Ela ainda gostava dele, então?
-Fiquei sem ânimo para nada desde que você se foi. Se soubesse que viria hoje, teria arrumado tudo de modo mais lindo que antes! Só para você...
-Ca... Calma, Yu...
Yu. Yuki? Por que eu pensei em Yuki, e não em Kaori?
-...Quê?
Ela fitava Ken de forma curiosa e solene.
-Eu... Não sei se estou preparado para isso, e...
-Do que está falando? Deixe de ser bobo!
E deu uma risadinha bem-humorada, esfregando os cabelos do jogador. Subitamente, seu rosto mudou de expressão, para surpresa e desculpa.
-Oh sim! Estou lhe deixando aqui do lado de fora! Que anfitriã que eu sou!...
Não faça isso, Ken. Você não quer.
-...Está tudo bagunçado, mas se você não se importa com isso...
Você não deve entrar, ne, Ken? Dê meia volta! Era o que você queria desde o início! Não sente o perigo?
-Mas se Yohji estiver lá...
-Hein? Ken, está falando sozinho?
-Oh, perdão! Continue...!
Não...! Não faça isso!
-Então por favor, entre!
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Janeiro/2003
Continua...
Comentários da Autora: Hmm acho que este capítulo consegui organizar melhor! Espero que esteja uma boa leitura!
...Me pergunto se os "500 momentos de suspense" ao longo de toda a fic renderam algum fruto até agora... Alguém sentiu medo? sorriso inocente de espectativa
...Me pergunto também se alguém lê esses meus comentários. Um monte de gente não lê que eu sei, apesar de muitas vezes esses comentários serem importantes até mesmo para a compreensão da história. Para exemplificar, li recentemente uma fic em que Harry Potter foi estuprado. Só alguns capítulos depois a autora, num espaço como este aqui, comentou que ela escrevia a fic para desabafar o que ela sentiu quando ela foi estuprada.
Por fim, mas não menos importante, comentem, ou eu esgano vocês!!! òó Eu tenho mais 2 ou 3 capítulos prontos prá postar, mas não o farei sem comentários!!! chantagista Até porque estou beeem preguiçosa então porque escrever se nem sei se tem alguém lendo???
COMENTEM!!!!
