Nota1: Weiss Kreuz não pertece a mim, quem dera!

Nota2: Esta história contém yaoi. Nada explícito, mas ainda yaoi. Se isso não lhe agrada, use o botão "voltar" e seja feliz! Se isso lhe agrada, leia, e seja muito feliz!!!

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Capítulo 12:

Há algo de errado por aqui... Mas Kaori sorria gentilmente, abrindo mais a porta para que houvesse espaço para Ken entrar. Algo lhe dizia para entrar, mas outra coisa dizia exatamente o oposto. Mas... Não havia opção, e qualquer adulto aceitaria o convite, não? Tudo bem que estava sentido um certo perigo. Seu corpo tencionava-se de medo, sentia a adrenalina arder em suas artérias, mas não podia fazer nada contra isso. Já enfrentara coisas – aparentemente – piores quando estivera na Weiss. Não seria meia dúzia de pesadelos e alguns mistérios mal resolvidos que lhe fariam fugir da situação sem sequer avaliá-la direito. Firmou os joelhos e deu um passo a frente, e ainda sorriu simpaticamente para a garota. Hoje ela parecia sentir mais frio que o normal, já que mesmo em dias chuvosos sempre vestia roupas leves de verão, com tecidos vaporosos e suaves. Mas, desta vez, estava com um sobretudo (ainda por cima preto!) e coturnos. Não sabia o que havia por baixo, pois o casaco estava fechado e as pernas totalmente descobertas. De qualquer modo, não pôde evitar um sinistro arrepio que subiu involuntariamente sua espinha quando ouviu o clique da porta fechando-se atrás de si. Mas Kaori continuava apenas sorrindo, sem fazer nada de estranho.

-Você... quer chá?

-Não, obrigado...

-...Café?

-Não, realmente.

-Bolo? Eu... Eu fiz um delicioso hoje de manhã! Acordei com o pressentimento de que viria!

-Não quero nada, Kaori. Sério.

-Está com alguma coisa? Doente?

Ken balançou a cabeça negativamente, o cabelo grudado na testa suada. Estivera nervoso, sim. Parecia que algo muito mais forte que ele estivera tentando persuadi-lo a não ir até a casa. Agora que chegara lá, pouca coisa parecia estranha. Kaori parecia tão agradável quanto sempre.

-Está frio hoje, não?

-É... Finalmente está chegando o inverno. Já vai ser Natal...

-Na... Natal?

-O outono foi bem longo, então fico feliz que esteja ficando frio de verdade. Quem sabe o inverno não seja curto e então logo esteja quente?

-Acho que gosto do frio.

-É verdade... É a primeira vez que a vejo agasalhada... Pensei que gostasse de usar roupas de verão.

-Gostar eu gosto, mas não sempre. Se Ken gosta de frio, então eu...

E aquietou-se bruscamente, as pestanas tentando tapar o olhar. Ela foi até um miúdo e velho fogão e começou a aquecer um pouco de água em uma chaleira de cobre.

-Acho que quero chá, de qualquer maneira. Tem certeza de que não quer nada?

-Nada não, Kaori...

-Então está bem. Sente-se, por favor.

-Não... Acho que nem isso quero.

O homem de 28 anos ficou por alguns instantes parado, controlando os movimentos de borboleta da menina. Tinha consciência de que ela estava se abalando com sua frieza, mas não era ele próprio que anteriormente tivera medo do que ela pudesse vir a fazer? Estava sendo rude ao recusar tudo, mas não queria se pôr numa posição vulnerável para ela. Se aceitasse uma única coisa, logo ela viria com mais e mais gentilezas, e ele ficaria sufocado e anestesiado pela atmosfera amorosa que ela criaria. Ele adorava aquela atmosfera, era muito familiar, e não era obtida com êxito na Koneko, onde todos remoíam antigas tristezas. E era exatamente por isso que devia evitar essa possibilidade. Tinha que se forçar a ver as coisas com um lado racional, a segurança de Yohji dependia disso. Ficaria de pé, não comeria nem beberia nada, porque precisava estar atento como um gato, não podia se distrair com esforços sociais.

-Por acaso algum amigo meu veio aqui?

-Oh, não!

Ela deu um pulo para responder, como se surpresa e ressabiada com tal indagação. Curvou as costas como se fosse se apoiar com os cotovelos numa mesa imaginária, e novamente seus cabelos podiam esconder as faces. Ken pressentia que ela falaria algo, mas a chaleira apitou repentinamente, e ela foi desligar o fogo alegremente.

-Tem certeza de que Yohji não veio aqui?

-Ah, Yohji? Nossa, que insistência! Por que seu amigo viria aqui? Falou para ele vir como eu estava? Por acaso você não foi homem de vir checar por conta própria???

O rosto de Kaori enrubesceu de raiva e ciúmes, o lábio superior tremendo.

-Eu andava doente ultimamente. Ele cuidou de mim...

-Ah! – e levantou os ombros fingindo surpresa e dó. Os olhos se reviraram em ironia, como se dissessem "mais uma desculpa esfarrapada..."

-...E me fez o favor de vir até aqui para me dizer como você andava.

-Sei... Que amável de sua parte! – parecia fazer um esforço supremo para parecer grata pelo cuidado, mas o que mais transparecia era aquele sentimento de "mas não foi você quem veio! Eu queria você! Apenas você! Não queria que mais ninguém viesse aqui!" – Bem, ele veio sim, se é o que você quer saber.

-Ah, veio, então? – os medos de Ken dissolveram-se e escorreram de seu âmago para o chão, apenas para subir novamente com um arrepio.

-E cadê ele? O que houve? Eu o enviei já faz tempo, e ele não voltou até agora para casa!

Foi então que uma mão ossuda e gelada ao toque agarrou seu pescoço e puxou-o para trás. Ken pôde sentir o cheiro da morte infestando suas narinas, o próprio sangue hesitar dentro das artérias sobre que caminho seguir, ou se deveria parar. Os pelinhos da nuca e a penugem das costas arrepiaram-se todos e o pulmão parecia não conseguir puxar ar o suficiente para gritar. Mas a adrenalina que inundou acidamente seu corpo agiu mais rápido, e num reflexo Ken girou-se sobre os calcanhares sentindo os tendões sobrecarregando-se perto de se rasgarem numa dor aguda. ...E o que os olhos captaram não foi nenhum monstro ou esqueleto, mas apenas e simplesmente Yohji.

-Assustado? – o playboy sorriu, divertido.

Ken deu um pulo para trás, arfante, as faces pálidas e os lábios brancos sendo substituídos por um violento rubor, que o fez sentir muito calor no rosto, quase a ponto de sua testa suar. Queria se afastar um pouco, se recuperar da breve sensação repugnante que sofrera, e permitir que suas vistas confirmassem a personificação do alívio: Yohji. O loiro observou a vermelhidão do amigo e arqueou as sobrancelhas interrogativamente.

-Você está ficando fraco do coração, meu amigo... Olhe para você!

-Seu bobo! – e o ex-jogador de futebol deu um salto para frente, abrindo os braços numa linha reta e envolveu o amigo, enquanto ainda recuperava a respiração e esperava o calor intenso no rosto passar – Eu estava preocupado com você! Por que não apareceu em casa? – e o próprio Ken não tomava a consciência de o quanto estava feliz em rever o amigo. É claro, ele não está morto nem nada, como imaginei que ele poderia estar! Isso é o mais importante! Podemos voltar para nosso lar tranqüilos agora. Yu... Kaori não era nada perigosa, no fim das contas! E... Bem, o único "aliás" é que isso nos leva de volta à estaca zero das investigações de onde está Omi, mas... Ao menos Yohji está a salvo, e dou graças a todos os deuses por me permitirem essa alegria! Se eu tivesse perdido ele, eu... eu teria ficado louco, perdido a sanidade! Teria perdido tudo o que me é mais caro! Tudo o que me importa agora é abraçar Yohji e sentir ele, ter certeza de que isto não é uma miragem, de que não estou tocando o vazio. Por favor, Yohji, não me solte desse abraço nunca!

-Calma, Ken, está tudo bem agora. – e o playboy moveu uma mão das costas do amigo para afagar os cabelos de sua nuca.

-Não, não est nada bem!

-...Kaori...?

-Podem ir se largando agora...! – os olhos da garota brilhavam de ciúmes e fúria. Sua mão segurava uma xícara de chá, mas tremia tanto que várias gotas escaldantes derramavam perigosamente pelas bordas.

-Ora, calma calma! – Yohji soltou os braços do amigo e sentou-se largamente no apertado sofá.

Ken sentiu-se frio novamente, como se num clique tivesse entrado em estado de transe e agora voltasse ao normal. Olhou para o loiro sentado sem modos, a expressão relaxada e sem grande vivacidade. Parecia até um pouco cansado, quem sabe sonolento...? Será que ele se demorou aqui porque encontrou uma mulher e pôde satisfazer seus desejos com ela? Novamente suas maçãs do rosto rosaram.

-Ken, sente-se. Eu ouvi Kaori lhe ser gentil inúmeras vezes, e você está sendo um grosso recusando tudo, assim, do nada. Não é assim que se trata uma dama!

O velho Yohji... Parece tão confortável quanto... quanto o quê?

-Olhe, estou bem.

-Oh, sim. Você sempre está. Um galã e tanto. Só não roube minhas garotas.

Indubitavelmente confortável. Tanto quanto...

-Agora sente-se. Vamos tomar chá e comer bolo de cereja, juntos. Tenho certeza de que será bom para você. Parece-me um pouco abalado.

Em poucos minutos estavam os três comendo e bebendo juntos, contando piadas e rindo, distraídos. Ken já nem se preocupava mais com os propósitos que o tinham levado até àquela casa. Com o passar do tempo, conforme as fatias iam se tornando migalhas, Ken já ia avaliando a quanto tempo estavam ali, e o quanto faltava para irem embora. Poderiam ir para casa, recomeçar uma vida. Aquele desaparecimento havia sido muito esclarecedor aos seus sentimentos, e quem sabe pudessem relaxar um pouco a busca por Omi... Então...

A tarde já estava no fim, e agora que chegava o inverno a noite engolia o céu muito cedo. Já era possível ver a lua por uma pequena janela circular que havia na cozinha. O firmamento já despontava com tons avermelhados um tanto pálidos, como se houvesse poeira ou cerração na frente. Às vezes Yohji soltava algumas cantadas desajustadas para Kaori, mas nada muito grave na opinião de Ken. Parecia apenas o velho amigo de sempre.

-Já vai ser noite. Melhor vocês irem embora, não? Não quero ver ninguém perdido pelo caminho!!!

Os dois amigos deram uma risada amigável e levantaram-se, vestindo os casacos. Yohji curvou-se e deu um aceno de despedida para sua nova amiga, Ken até ousou dar-lhe um curto abraço.

-Até mais, Yuki.

A garota arregalou os olhos de surpresa, mas o próprio Ken não notou isso. Já estavam na metade da porta, e Kaori ria de um modo que até parecia que estava feliz em livrar-se deles. Foi então que Ken, que ia atrás, notou como o cabelo de Yohji estava desarrumado. Tudo em que estava bastante curto, então não estava embaraçado, como poderia estar antigamente, mas...

-Yohji, cuidado! Seu cabelo está todo bagunçado!

Ele apenas olhou para trás distraidamente e deu de ombros.

Ken estranhou. Mesmo em sua "fase nova", o playboy não seria assim tão descuidado. Além do mais, ele passou muito tempo fora. Tudo o que o loiro evitava ultimamente era estar longe de Ken. Fora aquele abraço inicial, que na verdade só fôra dado porque o jogador tivera a iniciativa, e assim que Kaori reagira, imediatamente Yohji o desenlaçara. Ele também fora muito mais gentil com a garota do que com ele. Podia se lembrar de ouvir sussurros que chegavam aos seus ouvidos no meio do sono... "Nunca vou deixar você sozinho...", "Vou estar sempre ao seu lado...", "Se há alguma certeza em mim ultimamente, é de que você deu rumo a minha vida, e eu te amo e sou grato a você por isso.", "Quero viver para você e apenas por você.", "Eu te amo!"... Envolvido pelo manto da sonolência, o moreno costumava apenas deixar passar essas declarações, mas em algum ponto parecia que elas haviam sido armazenadas. Talvez em seu coração. Hoje Yohji agiu como se toda a nossa história recente não tivesse existido... Parece apenas com aquele estereotipo de playboy que eu conheci, e... mesmo assim faltava algo.

-Você é Yohji mesmo?

-Como assim?

-Eu quero saber se você é Yohji.

-Claro...! Por quê?

Ken não podia acreditar, mas precisava ter certeza... Aquele não era o Yohji que lhe amava, era outro. Será que aquele breve afastamento havia varrido de seu coração todos os sentimentos? E assim, de repente, do nada, ele voltara a se interessar por mulheres? Então era tudo mentira? Essa hipótese é que parecia mentira, e Ken não estava disposta a aceitá-la. O playboy se virara para ele, perplexo com a pergunta, e antes mesmo de fazer mais algum comentário, o moreno se jogara sobre seus ombros, equilibrando-se sobre as pontas dos pés, as pálpebras relaxadas e cerradas, e selou o lábio do amigo com o seu.

Um calafrio nervoso subira por sua espinha. Nunca havia tomado esse tipo de iniciativa antes. Já havia pensado nela, apesar de na ocasião isso estar relacionado a Omi e não a Yohji, mas agora a idéia parecia muito mais concretizável, e durante um segundo sentiu-se com medo, muito medo, e nervoso, ao mesmo tempo orgulhoso de si mesmo pela coragem. Enfim, sempre que se dá o primeiro beijo em uma pessoa, por mais que já se tenha beijado na vida, o beijo em alguém novo sempre é uma enxurrada de sentimentos confusos, e a cabeça leva algum tempo para registrar "estamos nos beijando". Mas essa sensação só durou esse um segundo, e foi trocada pela surpresa e rejeição. Yohji sequer se esforçara em corresponder àquele beijo. Ficara inerte, o rosto apático, e quando pareceu recobrar a consciência, foi para afastar Ken com uma expressão de "você está louco? Somos homens, afaste-se de mim!" Yohji nunca perderia a oportunidade de me agarrar... Ele parecia mais sério que nunca... E fez por mim coisas que não fez por ninguém...

-Vamos para casa, então. – Yohji lançou-lhe um olhar sereno, alheio do que acontecera há poucos segundos. Mas Ken segurou-lhe os ombros como quem segura um cavalo selvagem, e o forçou a girar novamente de frente para si. O moreno olhou-lhe seriamente, convicto. Na verdade, agora poderia até rir da situação. Estava prestes a dizer algo totalmente surreal e improvável, e mesmo assim o faria. A história inteira estava estranha, começaria a apelar. Afinal, já lidara com pessoas que previam o futuro, possuíam telecinese... Querer achar que agora não existia mais essas coisas de manipulação de mente e outras loucuras seria tolice. Até que era provável algo paranormal estar acontecendo novamente. Só podia ter certeza de que, caso fosse paranormalidade, não se referia mais à Schwartz, e sim a algo novo. Mas não riu, pois se suas suspeitas se confirmassem, tinha mais do que motivos para se preocupar, e então a segurança de Omi, e talvez até de Yohji, estariam comprometidas.

-Não precisa mais afirmar que você é Yohji. Já tive provas o suficiente de que fui enganado. Ele nunca agiria do modo como você está agindo. Boa tentativa. Mas agora quero a verdade, por favor.

O loiro o fitou com olhos de espelho, e então começou a se desmanchar. Não de modo nojento nem como se fosse mágica, mas da mesma maneira que aquela névoa colorida some quando quase desmaiamos mas recobramos as forças antes de cair. Ken o segurava, mas apenas seu tato foi tomando menor consciência da pressão, como se Yohji estivesse se diluindo no ar. Parece loucura que a esse ponto de minha vida uma loucura dessas ocorra, mas agora o tempo urge. Escancarou a porta da casa de Kaori e a encontrou chorando, deitada no chão como se tivesse tombado. Ele se apressou até ela, e a segurou pelos braços, a erguendo como uma criança malcriada até a altura de seus olhos, perto dele. Ela se deixou ser erguida, flácida e sem energia para discutir, os olhos vítreos e lacrimosos lhe piscando pedindo por piedade.

-O que você está fazendo? Conte a verdade e quem sabe eu possa te perdoar!

-...

-Vamos! Confesse! Ou quer batalhar comigo? Ou vai me por numa armadilha assim como fez com Omi e com Yohji?

Ela continuava silenciosa, apenas aumentando a expectativa e apreensão do jogador. Baixou a cabeça, e finalmente começou a choramingar, a voz trêmula.

-Irmão querido, por que está me xingando...?

-Eu não sou seu irmão...

-Irmão, eu apenas queria que você viesse só para mim... Para cuidar de mim, me alimentar...

-Eu já disse...

-Por favor! Fique aqui comigo para sempre e eu os liberto! Deixo que vivam suas vidas!

-Mas isso não é possível...

-Eles são tristes... Foi por causa desses pensamentos tristes que me mantive viva até agora... Para que eu pudesse chegar até você, irmão!

-Eu nunca tive irmã...

Kaori baixou mais as faces, escondendo-as de encontro ao peito do rapaz. Ele pôde sentir sua roupa umedecer com lágrimas. Ela se agarrou as suas costas.

-Não diga isso! Você parece tanto com irmão... Irmão me deixou porque não me queria. Você também não me quer... Não é? Não quero perder irmão novamente... Fique comigo, serei sua companheira eternamente. Vamos viver mais de mil verões e invernos juntos. Nunca lhe deixarei sem amor! Viva comigo, irmão!

-Kaori, isso é loucura...

-Meu irmão me mandou as flores... Porque você me mandou as flores! Vamos! Eu salvarei seu amado Omi em troca de sua companhia!

-Salvar... Omi...?

O coração de Ken bateu um pouco mais rápido ao ouvir o nome de quem julgou ter sempre amado. Ela poderia salvar seus amigos, em troca de um pequeno preço, sua companhia.

-E poderei vê-los?

-Não, não poderia... Ao se juntar a mim, você será apenas meu... Mas vale a pena, não? Várias vezes você quase cedeu. Confesse, ou não, pois já li seus pensamentos... Você sente-se confortável aqui, não? Sempre lhe acolhi, como uma família faz...

A idéia de nunca mais ver a face cintilante do chibi, ou o sorriso sacana de seu melhor amigo, parecia a pior coisa do mundo. E, mesmo apesar das brigas, também sentiria a falta de Aya. Lembrou-se de cada um dos momentos preciosos que vivera com cada um deles. Não queria se separar dos amigos tão cedo. Passaram-se muitos anos, mas não os conhecia o suficiente. Em algum lugar profundo dentro de si, parecia que apenas os anos seguintes teriam real significado. Kaori estava lhe oferecendo uma eternidade, ou seja, o preço que pagaria pela vida dos amigos seria sua própria vida. Teria de viver de acordo com os desejos da garota, não poderia fugir dela. Um acordo era um acordo, e ela aparentava ter poder o suficiente para lhe obrigar a cumprir custe o que custasse. Não haveria outro meio, menos doloroso, de resolver as coisas? Visitas esporádicas? Parecia a primeira vista que não, e a segunda também. Mas, de certa forma, não veria seus amigos de qualquer maneira, pois eles estavam desaparecidos. E, bem... Os amava, não? Se queria honrar seus sentimentos, deveria se submeter pelo bem estar deles, por sua segurança.

-Posso vê-los ao menos uma última vez?

A noite já havia caído, e os grilos cricrilavam do lado de fora da casa. A lareira estava acesa, bruxuleando uma tênue luz que era toda a luminosidade obtida no momento. Não era possível distinguir claramente as feições da garota, nem sua expressão. Ela resguardou um silêncio, enquanto se encolhia num "sinto muito".

-Se você vê-los, eles estariam soltos e lúcidos. Estariam já são e salvos como você deseja. E então você escaparia de mim para eles, e não cumpriria o trato. Quero que você aceite ficar comigo para sempre, e guarde consigo suas memórias felizes e tristes. Mas não quero que você se apegue a memórias de adeus, pois é no adeus que se decide voltar atrás.

-Mas e seu irmão de verdade? Você não tem esperanças de que ele volte para você algum dia?

-Ele voltou... através de você! Quando ele me deixou, disse que ia à cidade para arrumar emprego. Só depois soube que ele havia se suicidado, pois havia sido recusado em todos os trabalhos. Estávamos famintos, e ele não queria ver meu olhar triste novamente. Por minha culpa ele me deixou. Ele já não agüentava mais minhas súplicas, já não gostava mais de mim, eu estava sendo um fardo para ele! Achou mais fácil morrer a me ver novamente.

-.Que triste história... ...E como você sobreviveu?

-...

-Desculpe por perguntar.

-Tudo bem... Então... Tomou sua decisão?

-Eu... Eu acho que preciso de um tempo para pensar.

-Não faria isso se fosse você. – e dessa vez Ken teve certeza de que ela lhe enviara um olhar sinistro e ameaçador, mesmo estando sob a penumbra – Pense, eles podem estar em perigo. Ou isolados. Podem estar sofrendo, estar com fome, ou perdendo sangue... Será que eles podem mesmo esperar? Pense há quanto tempo eles estão desaparecidos... Quanto mais poderão suportar?

-Então Omi estaria morto a essa altura...

-Eu poderia prever que ele sofreria mais tempo... Talvez ele tenha sido lentamente torturado e esteja agora implorando para que sua alma se liberte do corpo que o faz sofrer.

No caso de Omi, sua alma sempre sofrerá mais...

-Como posso ter certeza de que você os libertará? Nem os vi! Você nem pode provar que eles são realmente seus prisioneiros!

-"Oh, como ele é esperto...!" Então pode dar meia volta, vá para sua casa... Voc sabe que eu estou falando a verdade, que eles estão comigo... Ou vai arriscar e perder a oportunidade?

-Você sabe de tudo mesmo, não?

-E você duvidou em algum momento? Pense no nosso falso Yohji... Não lhe persuadiu o suficiente? Se quiser, posso criá-los todos para você... Seremos cinco aqui... Uma família feliz...

-Não... Eu não quero ver meus amigos se forem de mentira...

-Só estou tentando lhe fazer a idéia parecer mais confortável... Se você quiser vê-los, poderá tê-los aqui... Serão como animais de estimação, serão todos conforme suas lembranças...

-Por que você não vem morar conosco, então? Terei meus amigos de verdade e você terá a mim sempre!

Ela o abraçou novamente, esfregando as faces em seu peito.

-Não... Eu lhe quero só para mim... Meu irmão não esteve só para mim, quis ir ao mundo, conhecer outras pessoas, trabalhar, e olhe como a história se concluiu! Quero você longe desses humanos de verdade...

-Kaori, isto é insanidade... Não posso...

Conforme Ken ia resistindo, a garota ia assumindo mais e mais uma aparência abatida. Na verdade, durante todo o dia parecera frágil, embora conforme a tarde avançasse ela parecesse apresentar melhoras. Agora, porém, parecia pálida, nem aparentava a pouca idade que tinha.

-Sim! Você pode!

-Não, eu...

-Por seus amigos!

-Não, eu...

-Por Omi!

-Mas...

-Por minha felicidade!

-Não quero...! Não posso não vê-los nunca mais! Vou sofrer!

-Não permitirei que os veja de qualquer modo, mas posso fazê-los não sofrer mais!

-Mesmo assim...

-Por Yohji! Pela felicidade de Yohji!

-...

-Por... Por Yohji... Por favor... Não quero maltratá-los mais... Mas não quero perder você para eles... Por... Yohji...

-...Kaori...

-Sim? – e seus olhos iluminaram-se em esperança.

-Tomei uma decisão...

Ergueu-a novamente e a tomou em seus braços, esquentando os lábios gélidos da garota com um suave e tépido beijo.

-Qual é sua decisão...?

-Ficarei aqui... para sempre.

Março/2004

Continua...

Comentários da Autora:

pessoal: eu amo esse capítulo, em especial o final, espero que vocês também gostem. a kaori yuki é minha personagem secundária que mais odeio!!!

curiosidade: o kouji de "sensibilidade", pelo o contrário, era o meu amor. mas essa fic não está aqui (ainda) pois eu estou no momento fazendo uma versão "remasterizada" dela, ajeitando uma e outra falha, erros de postuguês e cenas lemon que ficaram idiotas ¬¬ além dos personagens meio galinhões no início, aqueles "oh, que sentimento é esse?" que além de clichê é forçado, e umas atitudes muito nada a ver com a trama. enfim, será uma versão melhorada, apesar da trama manter-se inalterada (daí só me faltava encontrar um furo no meio e ter que mudar a trama, daí me esgano!!!).

importante! : isso era só prá avisar que assim que eu postar os próximos 2 capítulos disso aqui, vou postar sensibilidade, que está completa no fim das contas, e retomar a escrita desta fic aqui, que anda meio parada. isso, é claro, desde que tenha alguém lendo, e para eu saber, só comentando!