Macross: The Untold Story

Escrito por Verythrax Draconis - verythrax@myrealbox.com

Script ver. 1.1 - 31/12/2001

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Disclaimer:

Eu não possuo quaisquer direitos sobre a série Macross, ou alguma de suas continuações. "Super Dimensional Fortress Macross" pertence ao Studio Nue, Artland, Tatsunoko Productions e Big West.

Todos os personagens desta história foram criados por mim, salvo óbvias citações a personagens das séries originais, quando existirem.

Este é um fanfic sobre MACROSS, não ROBOTECH. Os eventos e nomes aqui narrados seguem, sempre que possível os nomes oficiais, ou de comum acordo entre os fãs da série japonesa.

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LIVRO 0 - Um prefácio e um prólogo

Capítulo 3 - Murata e Nekias

Terra, 12 de Dezembro de 2056.

Eram três horas da tarde daquele domingo chuvoso. Sebastopoulos Nekias já estava quase desistindo de esperar por Haruhiko, que havia marcado de visitá-lo por volta do meio-dia para almoçarem juntos. "Tal pai, tal filho", pensou Nekias, lembrando-se dos tempos em que serviu na UN Spacy junto com Kazuya Murata, o pai de Haruhiko. Definitivamente, pontualidade nunca fora o forte daquela família. Desde quando Nekias e Murata eram cadetes, poucos anos antes da Primeira Guerra Espacial, ele havia passado por vários apuros devido aos problemas de horário de seu amigo. Após os conturbados anos em que os dois serviram na guarda do Grande Canhão do Alasca, Kazuya aponsentou-se do serviço militar para tratar de um já avançado câncer de pulmão que contraíra - Kazuya fumava demais - enquanto Sebastopoulos - ou Seb, como Kazuya costumava chamá-lo - seguiu para uma carreira não muito tranquila na recém criada seção de Assuntos Internos da UN Spacy.

Agora já haviam se passado dez anos desde a morte de Kazuya, vítima do câncer que havia conseguido controlar, mas não vencer completamente. Naquela época, Haruhiko já servia na UN Spacy como piloto de VF-19 no 14o. esquadrão, os "Black Sheeps", à bordo do UNS Etrakis, nas bordas do sistema solar. Haruhiko não havia podido comparecer às homenagens ao seu pai por causa disso.

Um ano depois, devido a um acidente durante um treino de rotina, Haruhiko sofreu uma lesão nos tendões da perna esquerda, e perdeu parte da visão do olho esquerdo, impossibilitando-o de continuar pilotando. Devido ao seu ótimo currículo, ao invés de ser dispensado do serviço militar, ele foi reposicionado nos escritórios administrativos da UN Spacy, em Macross City. Com isso, Haruhiko e Nekias, que já se conheciam, começaram a trabalhar bastante próximos um do outro. Suas salas de trabalho estavam separadas por apenas dois andares.

Assim Nekias teve a oportunidade de conhecer melhor o filho de seu melhor amigo. Haruhiko lhe exercia um estranho fascínio. Ele era uma pessoa impressionante, uma incrível mistura das qualidades - e defeitos - de seu pai, com algo a mais, único a ele.

Apesar dos traços de seu rosto remeterem claramente à família de sua mãe, Haruhiko tinha a mesma estrutura física de seu pai - alto, pouco corpulento, mas uma postura altiva - assim como o seu olhar, aparentemente vago e indiferente à primeira vista, mas estremamente atento, ligado a tudo que acontecia à sua volta, medindo tudo e todos, mas sem demonstrar nada do que se passava dentro de seu coração. Kazuya era um homem que sabia ler nas entrelinhas. Nekias estremeceu na primeira vez que percebeu aquele olhar em Haruhiko, aquele olhar tão familiar de seu amigo já falecido. Kazuya era uma pessoa extrovertida, que costumava usar bastante desta sua perpicácia para os seus relacionamentos mais diretos - conquistar garotas, jogos de cartas, pregar peças em seus colegas e impressionar os amigos. Ele se divertia em posar como sendo possuidor de um 'sexto sentido', impressionando as pessoas à sua volta. Nekias sabia reconhecer muito bem quando Kazuya se prestava à estes devaneios, mas achava divertido. Nekias nunca fora uma pessoa deste tipo, e se contentava em apenas ser seu parceiro, rindo juntos das proezas de Kazuya, enquanto tomavam uma cerveja.

Mas Haruhiko não era alguém assim. Não havia nele esta disposição para brincadeiras. Não que Haruhiko fosse alguém antipático. Ele fazia lá suas piadas e brincadeiras, mas nunca desperdiçava este seu "dom" nisso. Quando ele brincava com os outros, ele geralmente utilizava de piadas mórbidas ou comentários de duplo sentido. Ele nunca estava totalmente descontraído, parecia estar sempre sério, como se estivesse sempre a planejar alguma coisa. Aquilo assustava Nekias de alguma forma. Parecia à ele que a parte alegre de Kazuya tinha sido enterrada junto com ele, mas aquele olhar assustador ainda vagava por aí, vindo a reencarnar num corpo mais jovem.

Nekias não sabia direito o que tornava de Haruhiko uma pessoa assim. Talvez fosse um aspecto herdado de sua mãe, mas ele não saberia dizer ao certo. Nunca conhecera direito a mulher de Kazuya. As poucas vezes que a viu foram ainda quando ela e Kazuya ainda estavam namorando. Ela preferia não interferir nas amizades e relacionamentos de Kazuya, sempre mantendo uma distância segura. Assim, quando seu amigo morreu, Nekias perdeu praticamente todo o contato com ela e seu filho.

Agora, como Seb já estava aposentado há dois anos, ele e Haruhiko mal se falavam. Ainda mais agora, com todo esse rebuliço do Thunderchild tornando-o um dos homens mais ocupados do planeta.

Seb olhou pela janela, na esperança vã de ver o carro de Murata se aproximando. Do lado de fora, via apenas a chuva cair, com a monotonia da paisagem sendo apenas quebrada por um ou outro carro que passava. Fechando a cortina, Nekias andou até a mesa de jantar e pôs-se a guardar os talheres que havia deixado para Haruhiko. Ele já tinha almoçado, e seu prato já estava na pia, e a comida guardada dentro do forno. Terminado o serviço, Nekias soltou-se em uma poltrona de sua sala, com um suspiro. Dezenas de palavrões passavam por sua cabeça, enquanto amaldiçoava toda aquela espera. Seb sentia-se nervoso e agitado, não necessariamente pelo atraso de Haruhiko, com que ele já contava, de certa forma. Nekias estava ansioso à espera das respostas que ele queria ouvir de Murata.

"O que diabos havia naquela caixa?" Esta era a pergunta que martelava a sua cabeça. Por que Murata queria que ele a guardasse por todo esse tempo? Seb tamborilava com os dedos no braço da poltrona, impaciente. Tudo havia começado em maio daquele ano, quando Haruhiko havia lhe telefonado, avisando-o que lhe enviaria uma encomenda. Nekias estranhou um pouco aquilo, ainda mais que Haruhiko o havia telefonado de um terminal público. Haruhiko disse que estava com pressa, e que ele entenderia tudo quando a encomenda chegasse. Um pouco mais tranquilizado, Seb aceitou aquilo sem mais objeções.

A caixa chegou no dia seguinte, embalada numa caixa de papelão de uma companhia de transportes da cidade. Abrindo a embalagem, Nekias encontrou uma pequena caixa quadrada, feita de metal, com cerca de um palmo e meio de lado, com pouco menos de meio palmo de altura. Era uma caixa blindada, lacrada à vácuo. Junto com a caixa, havia um pequeno envelope.

Nekias já ia impulsivamente abrir a caixa, quando se deu conta da estranheza da situação. Haruhiko Murata, um dos nomes mas proeminentes na UN Spacy atualmente, totalmente envolvido numa das maiores operações militares do momento lhe telefona de um terminal público pedindo a ele que recebesse uma encomenda. Por que ele não telefonou de seu escritório, ou de seu telefone pessoal? Uma caixa blindada, fechada à vácuo... não deveria ser uma coisa qualquer que estivesse lá dentro. Pensando nisso, Seb pegou o envelope e o abriu, tirando uma pequena folha branca de seu interior. Tanto a folha quanto o envelope eram de papel simples, dos encontrados em papelarias. Nenhum deles era em papel timbrado da UN Spacy.

Desdobrando o papel, Nekias encontrou um pequeno texto escrito à caneta:

"Desculpe incomodá-lo com isso. Gostaria que você guardasse esta caixa até que a operação termine. Por favor, não abra a caixa. Ela possui um lacre de segurança, e uma vez rompido, ela não pode ser lacrada novamente. Quando a operação terminar, tudo será explicado.

P.S.: você sabe o que fazer com este envelope.

Obrigado."

Nekias estremeceu ao ler a mensagem. Obviamente ela havia sido escrita por Murata, apesar dela não estar assinada. E haviam sido tomadas uma série de precauções na sua escrita. Ele havia omitido totamente o remetente e o destinatário da carta, ou qualquer referência a quem ela deveria ser endereçada. Com o lacre de segurança, Murata teria certeza que ele não o teria desobedecido e, caso fossem descobertos, Nekias poderia afirmar que não conhecia o conteúdo da mesma. Como Murata o avisou através de um terminal público, não havia risco da mensagem ter sido interceptada. E o "P.S." da carta lhe era bem claro. A carta devia ser destruída.

Nekias correu até a cozinha, tomado por um sentimento de urgência, como se agentes da UN Spacy - do seu antigo departamento, o Assuntos Internos - estivessem à sua porta, e todas as provas deveriam ser destruídas antes que eles entrassem na casa. Ele abriu a torneira da pia e molhou a carta, para borrar o texto. Despejou vinagre e vários condimentos que encontrou por ali, até tornar o texto impossível de ler. Depois disso, rasgou a carta em pequenos pedaços, jogando-a no triturador de alimentos, abaixo da pia. Correu novamente para a sala e observou a caixa de entregas. Nela não haviam os nomes nem remetente ou do seu destinatário. Nekias respirou fundo, muito mais traquilizado. Guardou aquela chamativa caixa prateada de volta na embalagem de papelão e levou-a até o sótão, para escondê-la da melhor forma possível.

Agora já haviam se passado sete meses desde o ocorrido, e Nekias havia resistido bravamente à tentação de abrir a caixa ou ligar para Murata. Várias vezes ele se achava imaginando o conteúdo daquela caixa, ou em que espécie de loucura Haruhiko estaria envolvido. Quando estas dúvidas invadiam sua mente, ele logo procurava voltar sua atenção para outra coisa, com medo de acabar fazendo alguma besteira. Mas agora a paciência de Nekias estava chegando ao fim. A Operação Filho Pródigo havia sido encerrada oficialmente já fazia um mês e a data de revelação do Thunderchild já havia sido divulgada: dia 24 de dezembro. E até agora ele não havia recebido nenhum sinal de Murata; nehuma informação sobre o conteúdo daquela caixa, sobre o que fazer com ela ou pedindo ela de volta. Nada. Nessas horas Seb amaldiçoava Haruhiko por ser tão parecido com o seu pai.

Depois de perder noites de sono, ele não resistiu, e decidiu entrar em contato com Murata. Azar se com aquilo ele iria se expor, ou mesmo se iria comprometer seu amigo. Aquela espera era desumana!

Seb ligou para Haruhiko, que atendeu-o normalmente. Não havia nehum tom de preocupação em sua voz, ao contrário do que Seb esperava, por estar contrariando as regras daquela maldita carta. Quando Seb disse que queria conversar com ele, Murata logo o dispensou, dizendo que ligaria depois, o que lhe deixou bastante indignado. Quando ele já ia insistir para continuarem a conversa, Haruhiko desligou na sua cara. Seb ficou tão nervoso que por pouco não jogou o telefone contra a parede. Que filho da puta! Conhecendo seu pai, Nekias sabia que que ele não retornaria a ligação. Ele começou a digitar o número de Haruhiko novamente, mas conteve-se. Talvez Murata não o estivesse evitando, mas estivesse apenas numa situação em que não poderiam conversar - uma reunião, ou algo do gênero. Ele respirou fundo e sentou-se em sua poltrona. Ele tentaria ligar novamente, dentro de uma hora. Ele não iria para cama enquanto não falasse com Murata.

Não foi preciso esperar tanto. Em menos de quinze minutos seu telefone tocou. Nekias olhou no visor, incrédulo - era Murata. Nekias atendeu a chamada, sem conseguir esconder o alívio em sua voz. Antes que ele pudesse pensar algo para falar, Murata tomou as rédeas da conversa, dizendo que passaria em sua casa no dia seguinte, para almoçarem juntos e 'colocar a conversa em dia'. Foram essas as palavras que ele usou. Seb imediatamente percebeu que Haruhiko estava medindo as palavras que usava na conversa, para não despertar suspeitas. "Ok, estarei te esperando." Foi só o que ele conseguiu responder.

Voltando ao presente, Nekias levantou-se num salto ao ouvir o barulho de um veículo parando em frente à sua casa. Ele correu até a janela e abriu a cortina com gesto brusco, a tempo de ver Murata descer do carro e correr rapidamente até a sua varanda, para fugir da chuva. Antes que ele pudesse tocar a campanhia, Seb já havia aberto a porta.

"Boa tarde, sr. Murata. Espero que o senhor já tenha almoçado." Disse ele, com uma expressão séria.

"Boa tarde, Seb." respondeu Murata, sem esconder um sorriso. Ele sabia o que Nekias queria dizer quando o chamava de 'sr. Murata'. A indignação de Nekias era óbvia. "Desculpe a demora. Fiquei preso terminando a revisão de alguns relatórios. Espero que você tenha guardado pelo menos um pouco de sobremesa para mim."

"Talvez. Isso vai depender do que você tem para me contar." respondeu Seb, enquanto Murata entrava na casa.

[Fim do Capítulo 3]

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Notas:

- O Grande Canhão do Alasca foi um dos cinco canhões criados pela UN Spacy antes da Primeira Guerra Espacial para defender a Terra de um possível ataque alienígena. Ao redor destes canhões foram encontrados muitos dos sobreviventes da Primeira Guerra, logo após a volta do SDF-1 Macross. Kazuya Murata e Sebastopoulos Nekias serviram como marines defendendo um este canhões dos ataques Zentradi, até a volta do SDF-1 Macross, em 2010.

Os cinco Grandes Canhões são:

I - Alasca;
II - Austrália;
III - África, Lago Vitória;
IV - Pólo Norte Lunar (Lua);
V - Brasil (por incrível que pareça ^_^).

- Haruhiko Murata servia como piloto no ano em que seu pai morreu, 2046. O caça padrão da UN Spacy daquela época era o VF-19 "Excalibur", que entrou em operação em 2041, substituindo o VF-11 "Thunderbolt".

- O UNS Etrakis não existe oficialmente na cronologia da série. Ele foi tirado do jogo de RPG "Galaxy Patrol 4", do site www.unspacy.com.

- O setor de Assuntos Internos é o órgão responsável pelo policiamento interno da UN Spacy, investigando casos de corrupção e fiscalizando cada ação da instituição, à procura de possíveis traidores ou movimentos contra os seus interesses. Este departamento tem acesso quase irrestrito às fichas dos oficiais e suas operações e por isso é usado frequentemente pelos altos escalões para investigar oficiais da UN Spacy que devem ser calados ou desmoralizados. É claro que isso não faz parte da lista de atribuições oficiais do departamento... - este departamento foi criado por mim, pois não encontrei informações sobre algum dispositivo similar dentro da UN Spacy. Considerando o tamanho e a importância desta instituição, acho muito improvável que ela não possua algum órgão desta natureza.

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Verythrax Draconis,
31/12/2001 - Brasil
verythrax.cjb.net