Quem de nós dois
Lílian mexeu na lareira, fazendo as labaredas ficarem mais altas, e sentou-se confortavelmente na poltrona, enrolando-se num cobertor enquanto olhava a pilha de livros que já lera. E, até agora, nada... A ruiva fechou os olhos devagar e começou a assoviar uma canção, como semprer fazia quando tentava se acalmar.
Eu e você,
Não é assim tão complicado
Não é difícil perceber
Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível
O amor acontecer?
Se eu disser que já nem sinto nada
Que a estrada sem você é mais segura
Eu sei, você vai rir da minha cara
Eu já conheço o teu sorriso
Leio o teu olhar
Teu sorriso é só disfarce
E eu já nem preciso...
Tiago... Por mais que procurasse se concentrar em suas buscas, sempre acabava voltando a ele. Quanto mais tentava esquecê-lo, mais a imagem dele se fazia prsente, como um fantasma a assombrá-la a cada pensamento.
Não poderia dizer a verdade a ele. Não podia condená-lo a ficar ao lado dela quando jamais poderia corresponder ao carinho que ele lhe devotava. E, por mais defeitos que ela tivesse enxergado nele na época da escola, ela sempre soubera o quanto ele era leal. Não, ele não a deixaria. Então não podia contar a verdade.
Tampouco poderia mentir. Tiago a conhecia bem demais para se deixar enganar, e ele não seria idiota de acreditar que ela deixara de amá-lo de um dia para o outro. Ao final das contas, ela voltava a pergunta que a atormentava desde que Dumbledore dissera que não podia ajudá-la: como poderia afastar Tiago se tudo o que queria era tê-lo por perto?
Sinto dizer
Que amo mesmo
Tá ruim pra disfarçar
Entre nós dois
Não cabe mais nehum segredo
Além do que já combinamos
No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos
E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contramão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada
Mas ainda existia a possibilidade de reverter a maldição. Se ela conseguisse se livrar da Thanatus, o que faria depois, quando já tivesse magoado Tiago a ponto de fazê-lo desistir dela? Correria atrás dele como ele correra por tantos anos?
Por esse lado, o melhor a fazer era contar toda a verdade e enfrentar tudo com a ajuda dele. O grande problema é que ambos, mas em especial Tiago, agiam sem pensar. O que aconteceria se, num arroubo de paixão eles se tocassem? Ela não suportaria a dor...
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nehum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida
- Chega! - ela gritou, levantando-se da poltrona e começando a andar de um lado para o outro - Eu não posso construir uma vida em cima apenas de possibilidades. Não há outra saída, eu preciso afastá-lo, eu preciso... Ah, Senhor...
Eu procurei qualquer desculpa pra não te encarar
Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa
Falar só por falar
Que eu já não tô nem aí pra essa conversa
Que a história de nós dois não me interessa
Se eu tento esconder meias verdades
Você conhece o meu sorriso
Leu no meu olhar
Meu sorriso é só disfarce
O que eu já nem preciso...
- Você está mentindo. Você me ama! - o rapaz gritou, fazendo um enorme esforço tentando se livrar da magia dela.
- Eu não te amo. - ela disse com a voz calculadamente fria, os olhos abaixados - Se algum dia eu te amei, isso não existe mais.
- Você está mentindo... - ele disse quase num sussurro, os olhos avermelhados.
- Você não tem orgulho, seu idiota? Eu te traí e ainda assim você corre atrás de mim? Eu não menti, Potter. - ela disse com a voz carregada de desprezo, tentado por tudo segurar-se para não chorar - Eu não te amo mais. Agora vá embora.
- Lily...
- VÁ EMBORA!
Ele a observou atentamente com os olhos repletos de mágoa. Finalmente a magia dela cessou. Ele estava livre. Ele deu às costas a Lílian, abrindo a porta, por onde um vento frio entrou.
- Até algum dia, Lílian. - ele disse em voz baixa.
- Adeus, Potter.
Ele saiu do chalé, aparatando depois de se distanciar da construção. Lá dentro, Lílian escorregou até o chão, finalmente deixando as lágrimas terem livre curso. Estava tudo acabado agora.
Pessoal, eu estou com vontade de chorar. De todos os capítulos de Hades que escrevi, "A decisão de Lílian", no qual esse fragmento é inserido, foi, com certeza, o mais difícil. Se alguém quiser me matar, por favor, me dê um tempo para que eu possa resolver essa confusão. Eu só poderei morrer em paz quando voltar a juntar esses dois. Alguém percebeu que eles vivem empacando mais que jumento? (quebrou todo o clima esse último comentário, mas eu realmente precisava fazer isso ou teria um troço aqui...)
Beijos,
Silverghost.
