O filho que eu quero ter
É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter
Dorme meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem
As folhas amareladas caíam das árvores, tornando o jardim um tapete macio. Um vento frio denunciava o início do outono. Através da janela de seu quarto, a paisagem nunca parecera tão bela a Lílian.
A ruiva virou-se na cama, encontrando um pequenino ser que dormia tranquilamente. Os cabelos, embora fossem poucos, já denunciavam a futura semelhança com o pai. A porta do quarto se abriu e, com um sorriso, a ruiva levantou a cabeça.
Lá estava Tiago, com seus olhos brilhantes, cheios de entusiasmo. Ele sentou-se na cama e o pequeno acordou, os pequeninos olhos incrivelmente verdes brilhando, exatamente como os da mãe.
- E então, como vai a família mais linda do mundo? - ele perguntou, roubando um beijo da ruiva.
- Muito bem. Só falta o papai deixar de ser teimoso e deixar a mamãe voltar a trabalhar. - Lílian respondeu com um olhar brincalhão.
- Lily... Eu já disse que é mais seguro que fiquem aqui.
- E você pode se arriscar à vontade. Realmente...
- Não vamos discutir isso de novo agora, certo? - o moreno deu um beijo na fronte do filho e segurou firme a mão dela - Eu te amo, Lily. Não quero que nada aconteça a você.
Ela sorriu tristemente.
- Eu sei. Porque é exatamente assim que eu me sinto em relação a você... - ela voltou a beijá-lo, e as cenas se perderam num torvelinho de cores.
De repente eu vejo se transformar num menino igual à mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a me perguntar um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem
- Lílian! - a voz de Tiago soou da sala.
A ruiva se levantou com um sorriso, embora tudo ainda rodasse. Ela caminhou até o umbral da porta, onde encontrou o rapaz correndo pelas escadas, olhando-a preocupado.
- A Camille me avisou, eu vim correndo, deixei até o Sirius falando sozinho... O que você tem? Está doente? Com febre? É grave? - ele perguntou ansioso.
- Tiago... eu acho melhor você se sentar.
Ele ajeitou os óculos que tinham escorregado para a ponta do nariz em sua afobação e obedeceu à esposa. Ela estava sorrindo. Então não estava doente. Mas Camille dissera que ela passara mal e que era melhor ele ir procurá-la...
- Você sabe que eu não costumo enrolar, Tiago, então vou ser bem direta. Eu sei que vai ser um choque, que você...
- Lily, querida, você não disse que ia ser direta?
Ela respirou fundo, assentindo com a cabeça.
- Então... Certo. Tiago, você vai ser papai.
- Ok, eu vou ser... - ele piscou os olhos, levantando-se de súbito - PAPAI?! Você está querendo dizer que eu vou ser... papai? Hum, você comprou algum bichinho para ser nosso filhote? Um cachorro talvez?
Ela meneou a cabeça. Tiago estava em choque, como ela previra. Ela também se chocara. Como ter um filho no meio de uma guerra? Mas agora já estava feito, não havia para onde correr. O rapaz começou a andar de um lado para o outro e Lílian não conseguiu reprimir um sorriso. A face de Tiago estava contorcida, como se ele estivesse fazendo força para pensar.
- Você tem certeza disso, Lily?
- Passei no St. Mungus para confirmar. Ele já está com três meses.
- Ele? Você já sabe...
- Lembra do nosso sonho? - ela perguntou sorrindo.
Tiago suspirou e passou a mão de leve sobre a barriga da esposa.
- Harry, primeiro jogador do "Potter's king". Meu primogênito vai ser o apanhador. Ele vai herdar o talento do pai.
- Espero que não herde a modéstia do pai também... - ela sorriu e Tiago a abraçou com carinho.
- Acho que minha mãe vai gostar de saber da notícia.
Lílian riu.
- É... E provavelmente ela vai estar se mudando de mala e cuia amanhã mesmo, para poder cuidar de mim, o que significa que ela vai tentar me prender na cama o dia inteiro. Como se gravidez fosse doença...
- Mas você vai precisar se cuidar mais, Lily. - o rapaz observou com uma pontada de preocupação - Voldemort ainda não desistiu de você. Ele a quer como aliada.
- Ele é um idiota. Como diz o Sirius, é uma velha amargurada porque criou uma verruga no nariz.
Tiago riu.
- Espero que mantenha esse humor...
- Ah, senhor Potter, comece a se preparar. Nunca ouviu falar que uma mulher grávida é um vulcão de hormônios? É um coquetel de instintos assassinos, com tensão sexual e feminismo desregrado?
- Isso significa que eu vou ter que aguentar mudanças de humor a toda hora? - ele perguntou, segurando-a no colo - Está tentando fazer com que eu pague meus pecados, Lily?
- Por aí... - ela respondeu, eoubando um beijo dele enquanto ele a deitava na cama com cuidado - A propósito, eu estou com fome.
- A fase dos desejos... - Tiago suspirou - O que quer? Chapéus ao molho?
- Chapéus ao molho? - Lílian riu - De onde você tirou essa?
- Meu pai me dizia sempre que quando mamãe estava grávida de mim, manifestou o desejo de comer chapéus ao molho de tomate.
- E ela comeu?
- Eu não nasci com cara de chapéu, né?
A ruiva riu.
- Na verdade, eu queria uma macarronada ensopada com queijo e...
Tiago levantou-se.
- Isso me lembra que eu também não almocei. Muito bem, eu vou no restaurante da esquina fazer seu pedido e trago o almoço pra cá. Vamos fazer uma pequena festa para comemorar a notícia.
Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba a me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado com o filho que ele quer ter...
- Ela quer vê-lo, meu filho. - Míriam sussurrou para Tiago.
O moreno se levantou lentamente, ajeitando os óculos sobre o nariz e fechando atrás de si a porta que o separara de Lílian. A sala estava numa penumbra confortável. Os dois únicos pontos de luz vinham das mesas ao lado da cama em que a ruiva estava recostada, tendo em seus braços uma pequena trouxinha. Ela ergueu a cabeça quando o pressentiu.
- Ei, Harry, olha o papai. - a voz dela saiu suave, quase como uma canção de ninar.
Tiago se aproximou de mansinho, notando olhos intensamente verdes a observarem-no. Mas não eram os olhos da esposa. Eram os olhos do seu filho. Harry ergueu as mãozinhas rechonchudas, um sorriso nos lábios pequenos. Lílian estendeu o bebê para Tiago, que o pegou com um certo medo. Harry tentou tocar seus óculos, deixando nas lentes as pequenas marcas de suas digitais.
- Bem vindo ao mundo, Harry, meu filho. - o moreno disse com a voz embargada, sorrindo para o pequeno em seus braços e para mulher que contemplava a cena muda, os olhos brilhantes de lágrimas - Bem vindo.
Naqueles breves momentos em que teve o filho nos braços, Tiago jurou para si mesmo que o pequeno Harry viveria para ver dias de paz. Se necessário fosse, ele daria a própria vida para manter a do filho. Harry seria feliz. Assim como ele fora.
Pessoal, para quem não conhece essa música, ela é uma parceria de Vinícius de Morais e Toquinho e se chama "o filho que eu quero ter". Há tempos que eu queria colocar um fragmento com essa música, e quando acabei de escrever "maternidade", eu tive que fazer essa song. Espero que tenham gostado. Agradeço a todos que vêm comentando, tanto aqui quanto em Hades.
Beijos,
Silverghost.
