Cedo demais
É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de voc
Que acabou indo embora
Cedo demais.
Sete horas no pequeno despertador ao lado de sua cama. O sol ainda não mostrava toda a sua força. Sentado na cama quase desconjuntada, um rapaz de olhar cansado refletia. As fundas olheiras embaixo dos olhos claros atestavam que ele não dormira.
"- Eles estão mortos, Remo. Eu sinto muito."
O rapaz se levantou, tentando tirar da mente o semblante triste de Dumbledore a repetir aquela frase. Mas não conseguiria. Nunca seria capaz de esquecer. Aquelas palavras o assombrariam por anos, décadas de sofrimento mudo. Tirando a capa de cima da mesa, ele acabou de se vestir. O enterro dos Potter seria dali a uma hora.
Quando eu lhe dizia:
"-Me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada."
Você sorriu e disse:
"- Eu gosto de você também."
Só que você foi embora cedo demais
Tonks observou o céu se fechar. Uma gota caiu sobre o nariz pequeno e ela suspirou enquanto começava a correr para a Academia de Aurores, onde começara seu primeiro período. Antes, no entanto, que chegasse a segurança do teto da academia, ela derrapou numa poça de lama, caindo sentada no chão e arranhando a perna.
- Droga! - ela resmungou baixinho.
A chuva começou a cair sem piedade enquanto a jovem via o sangue brotar do arranhão na sua perna, misturando-se à lama. Estava ardendo. Novamente, ela ergueu os olhos para o céu.
- Você está bem? - perguntou uma voz masculina atrás dela.
Tonks sentiu um sobressalto. Mas não era ele. Ela deu um meio sorriso torto enquanto o outro rapaz se aproximava, ajudando-a a se levantar. A morena pensou por um momento porque aquele desconhecido não podia ser ele... Porque ele sempre tinha que estar tão distante? Se ao menos soubesse o que o afastava...
Eu continuo aqui,
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Um dia de chuva, um dia de sol
E o que sinto não sei dizer.
A chuva caía forte, escapando das calhas acima da janela e apresentando aos seus olhos cansados um espetáculo parecido com o dilúvio. Remo observou os papéis em cima da mesa, mas não conseguia se concentrar no que eles diziam.
A chuva o lembrava de tardes passadas sob as árvores da floresta proibida. Tardes em que os outros três marotos tentavam descobrir os segredos da animagia. Tardes de singela beleza, de planos mirabolantes e vinganças macabras.
Vai com os anjos! vai em paz.
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade
Até a próxima vez.
Mas aquelas tardes nunca se repetiriam. Nunca se repetiriam porque dois dos seus amigos estavam mortos. E o outro... o outro era um traidor. Um maldito traidor. Mas, apesar de ter consciência disso, Remo não conseguia odiar Sirius.
Porque eles ainda eram amigos. Apesar de tudo, eles era sobreviventes. Havia um elo entre eles. E, por mais que desejasse, nunca conseguiria quebrá-lo.
É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de voc
E de tanta gente que se foi
Cedo demais
Tonks fechou os olhos enquanto ouvia a cantilena de Moody. O velho auror agora falava sobre aqueles que tinham tombado por causa da guerra. Daqueles que haviam morrido como heróis. A garota sabia que aqueles nomes eram de membros da Ordem. E, apesar de ser extremamente distraída, ela percebia a dor que havia na voz do auror ao falar naqueles que haviam sido seus companheiros.
Marlene McKinnon. Os Bones. Dorcas Meadowes. Dearborn, Fenwick, os Prewett, Timms, os Potter, Pettigrew... Todos eles tinham sido companheiros e amigos de Remo Lupin. Por um instante, Tonks se perguntou o que sentiria se o nome do rapaz estivesse naquela lista que Moody repetia incansavelmente como modelos para os jovens aurores.
E cedo demais
Eu aprendi a ter tudo o que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto não sei dizer.
O último dos marotos... Remo quase riu. Logo ele, o mais certinho, fora o único a sobreviver. Chegava a ser irônico que o único maroto sobrevivente fosse o menos maroto do grupo. Tudo o que tinham passado juntos parecia ter acontecido há tanto tempo...
Todas aquelas aventuras pareciam distantes agora. Ele quase se ressentia por não ter aproveitado melhor aqueles momentos. Se soubesse que tudo acabaria tão rápido... Se soubesse... Agora era tarde. Porque tudo acabara cedo demais.
Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mais eu sei
Que você esta bem agora
Só que este ano
O verão acabou
Cedo demais.
Esse capítulo foi baseado na música Love in the afternoon do Legião Urbana. Eu o dedico à Nina, que me mandou a letra e pediu para que eu escrevesse um fragmento com o Remo baseada nessa música; ao pessoal de Brasília que pediu que eu usasse uma música do Legião e à Natália, que pediu um fragmento com Remo e Tonks.
Bem, espero que tenham gostado. Agradeço a todos que comentaram aqui ou em Hades. Se quiserem mandar sugestões como o pessoal a quem dediquei esse fragmento, sintam-se livres. Eu farei o possível para atendê-los. Inclusive eu tenho alguns pedidos feitos em Hades que tenho que rever para poder escrever...
Beijos a todos!
Silverghost.
