Serenata do Adeus


Ai, a lua que no céu surgiu

Não é a mesma que te viu

Nascer dos braços meus

Cai a noite sobre o nosso amor

E agora só restou do amor Uma palavra: adeus

Com um suave estampido ele desaparatou na casa de Susan. Ela virou-se para ele, com um grande sorriso no rosto, que morreu logo ao ver o semblante do rapaz.

- Sirius... O que... O que aconteceu?

Ele a encarou, transtornado, uma raiva surda no peito. Os olhos azuis estavam brilhantes de ódio. Ela se aproximou dele, mas antes que pudesse tocá-lo, ele se deixou cair no sofá, repelindo o abraço dela.

- Sirius, o que...

- Meu irmão está MORTO! - ele praticamente gritou - Ele era um comensal, mas quis desistir. E agora, eles o mataram. Eu perdi meu irmão porque ele era um covarde!

Susan sentou-se no sofá, ao lado dele, sem saber exatamente o que fazer. Ele, por sua vez, escondeu a face entre as mãos, murmurando contra a mãe, o irmão, as primas e todas as gerações de malditos Black que o tinham precedido. Delicadamente, Susan começou a acariciar os cabelos negros do rapaz, que acabou por se encostar ao peito dela.

- Eu sinto muito, Sirius.

- Voldemort está atrás dos Potter, Régulo está morto... Camille está morta.

Sirius percebeu vagamente que acabara de falar de Camille para Susan e isso não era muito agradável para ela. Mas, naquele momento, isso pouco estava importando para ele. Só o que queria era extravasar toda a raiva que o possuía diante de sua impotência contra tudo o que estava acontecendo.

- Sirius, você tem... Você tem que se acalmar. Nem tudo está perdido ainda e.

Ele ergueu a cabeça lançando a ela um olhar raivoso.

- Calma? Como eu vou ter calma com tudo o que está acontecendo? Como eu vou ter calma sabendo que tenho um amigo que está me traindo.

- Remo não está te traindo, Sirius, pelo amor de Merlin, abra os olhos! Ele é seu amigo! Nunca Remo os trairia!

- Remo É UM TRAIDOR! Você não pode estar defendendo ele!

Ela se levantou, tremendo.

- Você está cego, Sirius! Está deixando de confiar em alguém que esteve ao seu lado mesmo nas maiores burradas... Lamenta a covardia do seu irmão pelos motivos errados, como se Régulo devesse ter ficado ao lado dos comensais até o fim para provar sua coragem... E chora por uma mulher que nunca, NUNCA te amou! Você está criando problemas atrás de problemas, e na maior parte, são apenas problemas imaginários. Pare de agir como uma criança!

Foi a vez de Sirius se levantar. Ele era bem mais alto do que ela, mas mesmo assim, Susan não desviou o olhar por um instante sequer. Sem que mais nenhuma palavra fosse dita, ele abriu a porta do apartamento, batendo-a com força ao sair, sem se importar com outra coisa que não fosse sua própria dor.

Ai, vontade de ficar

Mas tendo de ir embora

Ai, que amar é se ir morrendo

Pela vida afora

É refletir na lágrima

Um momento breve

De uma estrela pura cuja luz morreu

Sirius acordou suado, descobrindo-se no sofá de sua casa. Ele respirou fundo antes de se levantar e encarar o grande relógio sobre a lareira. Dez para as onze. Porque adormecera no sofá?

Ia subindo as escadas para seu quarto quando seu olhar cruzou com os olhos negros de uma certa italianinha, numa foto sobre o console da lareira. Aquela foto fora tirada no dia da formatura deles.

Ele se aproximou da foto, com um meio sorriso. Sentia falta de estar com Susan. Ela tivera razão quando dissera tudo aquilo depois da morte de Régulo. O rapaz respirou fundo. Talvez fosse hora de pedir desculpas e quem sabe... Sirius sorriu, conjurando um casaco enquanto saía para a rua. Será que havia alguma joalheria aberta àquela hora?

Ah, mulher, estrela a refulgir

Parte, mas antes de partir

Rasga o meu coração

Crava as garras nesse peito em dor

E esvai em sangue todo o amor

Toda a desilusão

- Lily, não há ninguém aqui. Se Susan realmente esteve nesse lugar... Não há mais nada que possamos fazer.

Sirius sentiu-se congelar. Susan estava ali? Era Susan que estavam procurando? Ele ouviu a voz de Lílian vir de muito longe.

- Ela não pode ter morrido... Por favor, me diga que isso é só mais um estúpido pesadelo.

Tiago não respondeu, mas a face dele era mais do que suficiente. Ele também estava cansado de perder aqueles que amava. Cansado... Cansado de toda aquela estupidez. Cansado de lutar e sempre acabar daquela mesma maneira... sem nada poder fazer. Sem outra alternativa, Lílian voltou a jogar-se nos braços dele. Não era um pesadelo. Aquela era a realidade. E ela não podia fazer nada, NADA, para mudar aquilo. Nada.

- Sirius... - ela balbuciou entre as lágrimas, levantando a cabeça.

O rapaz estava a poucos metros deles, tentando assimilar a perda de Susan. A caixa com a aliança que comprara parecia pesar terrivelmente em seu bolso. Ele se aproximou, transtornado pela dor.

- O que quer, Lily?

- Ela me fez prometer que não contaria... Mas você merece saber. Você tem que saber.

- Do que está falando, Lily? - Tiago perguntou.

- Susan, ela estava... Ela estava grávida, Sirius. Grávida... de você.

Sirius sentiu o mundo rodar sob seus pés e tudo escurecer. Aquilo não podia ser verdade, podia? Susan morta... Susan grávida... Um filho... Seu filho... Morto.

- Sirius? Sirius, por favor!

A voz de Tiago vinha de muito longe, assim como a de Lily. Ele sentiu o amigo segurá-lo, deitando-o no chão e colocando sua cabeça delicadamente sobre o colo de Lílian. Os olhos verdes da amiga estavam congestionados. E foram os olhos cheios de lágrimas da ruiva a última coisa que ele viu antes de perder a consciência.

Ai, vontade de ficar,

Mas tendo de ir embora

Ai, que amar é se ir morrendo

Pela vida afora

É refletir na lágrima

Um momento breve

De uma estrela pura, cuja luz morreu

Numa noite escura Triste como eu...

Sirius aparatou diante das ruínas da casa que fora de Selene. Não se salvara muita coisa do fogo. Ele andou pelos escombros, abaixando-se ocasionalmente para encontrar algum objeto mais ou menos reconhecível. Finalmente, seus pés bateram em uma pequena caixinha verde e dourada. O gravador de Selene.

- Você gosta dele.

- Não, não gosto.

- Gosta!

- Não gosto!

- Su, admita, você está apaixonada.

- E se eu estiver? Vocês duas não têm nada a ver com isso. - Eu avisei que ela ia responder isso, Emelina.

- Você não percebe, Su? Nós só queremos seu bem. Você vai se machucar se continuar apaixonada por Si.

- Não se manda no coração. Vocês duas já deviam saber disso.

O rapaz fechou a caixinha com força, enfiando-a num bolso da capa. Mais tarde prestaria atenção nela. Do mesmo bolso ele tirou uma outra caixinha, bem menor que o gravador. Silenciosamente, ele depositou a aliança no que restava de uma coluna de mármore que sustentara o vidro da mesa de jantar de Selene.

- Elas tinham razão, Su. Eu sinto muito.

Sem mais uma palavra, ele desaparatou para o apartamento que fora da italianinha. Tirou o casaco e a blusa, deitando-se na cama que fora de Susan. Ainda havia o cheiro dela ali. Tirou o pequeno gravador do bolso novamente. Perdera tempo demais no passado. Se tivesse prestado um pouco mais de atenção ao seu redor, teria descoberto Susan mais cedo. Se não achasse que o mundo gravitava ao seu redor, talvez... Talvez ela ainda estivesse ali, rindo. Rindo enquanto ele tentava arranjar um nome para o filho deles.

O gravador se abriu e logo as vozes das garotas soaram no quarto vazio. Sirius adormeceu ouvindo-as.


Pessoal, cá estou eu na faculdade, daqui a meia hora vou fazer prova de teoria da comunicação e em vez de estar fazendo uma última revisão, estou escrevendo fragmentos... Bem, é meio óbvio porque não poderei responder seus comentários por essa semana, visto que até sexta tenho provas. Mas não se preocupem, eu NÃO me esqueci de vocês!

Beijos,

Silverghost.