Amigo é coisa para se guardar


Amigo é coisa para se guardar

Debaixo de sete chaves dentro do coração

Assim falava a canção que na América ouvi

E quem cantava chorou ao ver seu amigo partir

Snape cruzou os braços e Pedro se encolheu no chão.

- O que foi, ratinho? Está com medo de mim? Você é um inútil mesmo. A grifinória não devia ser conhecida como a casa dos leões. Ou então, o conceito de coragem mudou de significado.

Antes que o sonserino pudesse dizer mais alguma coisa, ele foi violentamente jogado para trás por um soco de, ninguém mais, ninguém menos, que Sirius Black. Pedro levantou minimamente a cabeça, encontrando o outro menino em pé diante dele.

- E você realmente foi para o lugar certo, não, Seboso Snape? O ninho das cobras deve ser muito agradável para você já ter se distanciado deles e vim brincar aqui.

- Sirius Black. Sua prima me alertou para o quão... gentil você poderia ser. - Snape se levantou, cuspindo um pouco de sangue e tirando a varinha das vestes.

Antes, no entanto, que ele pudesse tentar azarar Sirius, sentiu a ponta de outra varinha encostar em suas costas.

- Você já brincou o suficiente por aqui hoje, Snape. - Tiago Potter observou - Se não quiser arranjar problemas de verdade, vai pedir desculpas aos nossos amigos, em especial ao Pettigrew.

- E quem vai me obrigar a isso, Potter? Sua mãe?

- Tarantallegra!

As pernas do sonserino começaram a se mover, embora, pela face dele, ele claramente estivesse tentando lutar contra a azaração.

- Sabe, Potter... Acho que, depois dessa, eu vou perdoar a bomba de bosta. Mas voce esqueceu de uma coisa. - Sirius tirou a própria varinha do bolso - Riddikulus!

O uniforme de Snape transformou-se em um vestido cor de rosa que ia até as coxas muito brancas do garoto. Tiago caiu na gargalhada.

- Pois é, Black. Depois dessa, sou eu que vou perdoar o fato de você ser... um Black!

Os dois começaram a rir juntos.

- Vocês dois... vão... - Snape tentava a todo custo se conter o suficiente para alcançar sua varinha, que tinha caído no chão - Vocês vão se ver... comigo!

Eles assistiram o sonserino se distanciar e Tiago caminhou até Pedro, ajudando o menino a se levantar.

- Você está bem, Pettigrew?

- Pode me chamar de Pedro. Muito obrigado.

- O que aquele idiota queria com você? - Sirius perguntou - Porque ele te arrastou da aula para cá?

- Ele queria me obrigar a subir na vassoura e voltar para o campo. Mas eu não sei voar... - Pedro concluiu em um tom medroso.

- Ele se recusou a subir na vassoura durante a aula. - Tiago observou, pensativo - Black, você aceitaria aprontar com aquele idiota o mesmo que ele queria aprontar com nosso amigo aqui?

Sirius estendeu a mão, sorrindo.

- Com toda a certeza...

E quem ficou, no pensamento voou

Com seu canto que o outro lembrou

E quem voou, no pensamento ficou

Com a lembrança que o outro cantou

Remo mordeu os lábios para não gritar.

- Saiam daqui! Saiam logo, isso não vai dar certo!

Pedro deu um passo para trás, mas Tiago e Sirius mantiveram-se firmes.

- Não vamos deixar você sozinho, Remo. Nós dissemos que tínhamos uma surpresa para você hoje. - Sirius tirou a capa e enrolou as mangas da blusa, movimento seguido por Tiago - Aluado... Conheça Almofadinhas, Pontas e Rabicho.

Imediatamente os corpos dos três marotos mudaram de forma. No lugar em que estivera Sirius, agora estava um imenso cachorro negro. Ao seu lado, Tiago transformara-se em um elegante cervo. E Pedro quase sumiu no chão, um pequeno rato ao lado dos dois amigos.

Remo sorriu, embora sentisse a transformação cada vez mais próxima. Lá fora, as nuvens começaram a se dispersar, revelando a lua cheia.

Amigo é coisa para se guardar

No lado esquerdo do peito

Mesmo que o tempo e a distância digam não

Mesmo esquecendo a canção

E o que importa é ouvir a voz que vem do coração

- E ele vai, e marca... GOOOOOLLLLLLLLLLLLL! - Sirius ergueu o afilhado nos braços, enquanto a pequena bolinha que ele arremassara num aro enfeitiçado para correr atrás da bola, caía no chão - Esse é o meu grande artilheiro.

- Você foi batedor, Sirius. Porque quer que Harry seja artilheiro? - Lílian perguntou enquanto desamarrava o avental que usava na cozinha e entrava na sala.

- Acho que ele ainda não tem força nos braços para segurar um bastão. Mas esse pirralho não nega, vai ser jogador de quadribol, e dos bons.

- Lógico, Sirius, afinal, ele herdou o talento do pai. - Tiago, também escarrapachado no chão, sorriu, enquanto o filho saía dos braços de Sirius e andava cambaleante em sua direção - Vai ser o melhor apanhador de todos os tempos. E, como eu, vai ganhar todas as taças de quadribol enquanto estiver em Hogwarts.

- Pontas, alguém já lhe chamou a atenção para o fato de que você é TÃO modesto? - Remo perguntou, sorrindo.

- Mas eu não sou apenas modesto. Sou também bonito, inteligente, gostoso, engraçado, divertido, boa pinta.

-E gabola, chato, cínico... - Lílian interrompeu o marido.

- E além de tudo, tenho uma mulher que me adora, estão vendo? - ele perguntou, enquanto puxava a ruiva pelo braço, fazendo-a cair em seu colo, roubando um beijo dela.

- E que cozinha muito bem. - Pedro observou, aproximando-se, enquanto mastigava alguma coisa.

- Pedrinho, Pedrinho, você pensa em outra coisa que não seja comida e fofoca? - Sirius perguntou, tomando Harry novamente nos braços.

Pois seja o que vier, venha o que vier

Qualquer dia amigo, eu volto

A te encontrar.

Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar...

Sirius observou a cela com um suspiro. Empurrou o prato com a sopa mal cheirosa do jantar para o lado e deitou-se no chão. Não sentia a menor fome. Ha tempos que não sentia prazer algum em comer, e só se alimentava porque sabia que, ou o fazia, ou morria.

E ele ainda não podia morrer. Não enquanto não tivesse vingado seus amigos.

Ele tirou do bolso a pequena caixa esverdeada. O dourado da tampa já começava a desbotar. Mas aquilo não era importante. Sorrindo, o homem revirou alguns botões até encontrar uma gravação mais recente. Além das vozes das garotas, ele pode ouvir também Tiago e Remo.

Estavam combinando a surpresa que fariam para Lílian depois do casamento. As meninas ensaivam e eles três cochichavam. Tiago assobiou para as pernas de Susan e quase apanhou. Depois foi a vez de Sirius elogiar a boa forma de Lílian e levar um tabefe. Remo apenas ria, ameaçando contar para as duas a conversa dos amigos.

O rapaz fechou os olhos, desligando a caixinha. Um dia, ele estaria novamente livre. E todos eles voltariam a se reunir. E todos seriam felizes de novo.