Capítulo 4: Uma visita inesperada
Com os primeiros raios do sol, Harry já estava de pé e pronto para o café da manhã. Havia sido uma noite agitada, com outro sonho estranho que lhe parecera uma lembrança ha muito esquecida, mas por quê teria sonhado aquilo? Qual o motivo que o levava ao passado em seus sonhos, quando ainda era um bebê e não tinha consciência do que acontecia? Pensou por um momento que deveria ser algum plano de Voldemort, para trazer à tona aquelas lembranças e destruí-lo em seguida, mas logo a idéia lhe pareceu absurda e ele acreditou que seu sonho havia sido uma lembrança despertada pelas histórias de sua mãe, afinal isso vinha acontecendo nas últimas noites, desde que começara a ler o antigo diário.
O dia já estava no fim quando Harry finalmente teve um momento de descanso, para fazer aquilo que lhe era de vontade. Entrou em seu quarto e levantou a tábua solta do soalho, onde havia escondido o diário de sua mãe. Quando estava acomodado e pronto para começar a ler, uma bolinha de penas muito rápida e desajeitada entrou voando pela janela aberta. Logo reconhecendo ser Pichi, a corujinha de Rony, Harry deixou de lado o livro para ver a carta de seu amigo:
Olá Harry!
Como vai? Tem sobrevivido aos trouxas? Esperamos que esteja bem. As coisas estão meio confusas por aqui, com mamãe brigando o tempo todo com os gêmeos por causa da loja e Percy ainda sem aceitar que estava errado o tempo todo. Gui está conosco e Carlinhos vem no próximo mês. Meu pai disse que estão preparando tudo para receber-nos (você sabe onde) e que em breve mandarão te buscar aí, como no ano passado. Não se meta em encrencas, espere mais algumas semanas para que possamos fazer isso juntos.
Um abraço, Rony.
Harry sorriu. Sempre passava pelo menos uma semana das férias com os Weasley, e sempre ansiava por isso, já que com eles se sentia parte da enorme família. No entanto, não queria sair tão cedo da casa dos tios, uma vez que conhecera sua madrinha e que tinha em suas mãos o diário de sua mãe. Ele parou por um momento, lembrando-se de como estava terrivelmente solitário e mal há apenas alguns dias, ainda sofrendo constantemente pela perda do único que podia chamar de familiar, não que o sentimento havia sumido, mas agora estava amenizado. Harry não se sentia tão culpado pelo que acontecera e não tinha pesadelos terríveis toda noite: agora seus sonhos o remetiam ao passado, apesar de serem na maioria das vezes coisas que ele nunca poderia lembrar, uma vez que era apenas um bebê quando aconteceram e se é que realmente aconteceram.
O garoto percebeu que quando lia as lembranças de sua mãe tinha-as vívidas em sua frente, como se estivesse presenciando a uma cena na penseira de Dumbledore. Sua imaginação era fértil, mas até o próprio Harry desconfiava se seria capaz de imaginar algo com tantos detalhes, inclusive coisas que nunca ouvira sequer falar antes, como o quarto de sua mãe, a coleção de bonecas de porcelana que ela tinha sobre sua cama ou sua tia Petúnia vestindo uma calça boca-de-sino laranja psicodélica... Aquilo parecia algum tipo de magia. Devia ser algum tipo de magia. Ele precisava descobrir se sua mãe tinha posto algum tipo de feitiço no diário, que remetesse o leitor às cenas no momento em que estas ocorreram. Ele devia escrever para Maggie, já que não vira movimento algum em sua casa.
Cara Maggie,
Olá, aqui é o Harry. Como vai? Eu estou bem, e estou até que me divertindo muito com os seus presentes. Mas têm acontecido coisas que eu não sei explicar, e que gostaria muito de conversar com você a respeito. Por favor, entre em contato assim que puder.
Obrigado, Harry.
Naquela noite, Harry esperou o silêncio tomar conta da Rua dos Alfeneiros e soltou Edwiges para que esta levasse sua carta a Maggie. Como ele não sabia onde ela estava, a carta poderia levar dias até ser entregue, e sabia também que não podia esperar tanto para ler o diário de Lílian, mesmo tendo consciência que, se o diário tivesse algum tipo de feitiço que o levasse para dentro das memórias de quem o escreveu, poderia ser muito perigoso e até mesmo difícil voltar a realidade.
"2 de setembro.
Eu realmente odeio aquele menino! Como, eu me pergunto, como é que alguém pode ser tão insuportável? E mesmo sendo tão insuportável, como eu consigo ficar tão nervosa mesmo com ele longe? Aquele Potter me irrita profundamente. E sabe por quê? Não, ninguém sabe, nem mesmo eu!
Chegamos ontem aqui em Hogwarts. Encontrei Maggie na estação e ela veio me contando tudo sobre sua viagem – por mais incrível que pareça ela ainda não me contou tudo, mesmo com todas aquelas cartas – até entrarmos no expresso. Foi difícil encontrar uma cabine vazia, mas após algumas horas conseguimos e nos acomodamos, uma sentada de frente para a outra. Ela estava contando sobre seu novo amigo, como ele era maravilhoso e tudo, quando invade nossa cabine aquele... aquele... aquele idiota do Tiago Potter seguido de seus comparsas. Bem, para contar tudo na maior exatidão dos fatos eu fiz um pequeno feitiço da memória, então vou escrever exatamente o que aconteceu (essa explicação era necessária, já que daqui a alguns meses eu posso ler isto e me perguntar como eu lembrava de cada frase que aquele infeliz disse, então aqui está a explicação, Lily querida).
-A cabine está ocupada. – Me dirigi a Tiago com toda a ira possível.
-Oh! Não me diga Lílian... Olá. – Ele zombou de mim, cumprimentou Maggie e sentou-se ao meu lado.
-Oi Tiago. Olá Sirius... – Maggie respondeu e lançou um daqueles olhares apaixonados para o Sirius, que ela pensa que ninguém percebe, mas é tão óbvio que ela gosta dele...
-Oi. – Sirius respondeu e sentou-se ao lado de Tiago, seguido por Pedro, e Remo entrou correndo na cabine logo atrás.
-Ah não! Vamos Tiago, Lílian não quer nossa companhia. – Remo foi tentar retirar os amigos da cabine, mas Sirius o empurrou para o banco da frente e sorriu malvadamente:
-Vamos, Aluado, nosso amigo Pontas precisa de uma ajudinha com a namorada...
-EU NÃO SOU SUA NAMORADA! – Eu gritei com todo o ódio que encontrei dentro de mim, empurrando o Potter para cima de Sirius e virando a cara para o lado.
-Vamos, Lily, você não gosta de mim, nem um pouquinho? – Que raiva! Nessa hora Tiago pôs o braço sobre meu ombro, numa tentativa de abraço. Como resposta eu torci o braço dele, fazendo ele gritar e bater a cabeça ao ir para trás.
-Lílian, você não sabe o que está perdendo... se eu fosse uma garota, o Tiagão aqui seria o único para quem eu teria olhos. – Sirius ria do amigo que esfregava o braço, mas tentava ser solidário.
-Então você tem sérios problemas de visão Sirius, pois para ter olhos para isto... É melhor ser cego. – Lancei um olhar frio para Sirius, sempre com suas brincadeirinhas estúpidas, e dirigi-o também para Tiago, mas isso me apertou o coração. Ele estava com o olhar mais triste que eu já vi na vida, me deu até pena dele, e levantou-se e dirigiu-se até a porta:
-Vamos, caras. Já fizemos nosso trabalho por hoje, irritando a senhorita mal-humor.
Senti-me muito mal ao mesmo tempo em que estava super feliz deles terem se retirado da cabine. Maggie disse alguma coisa sobre Sirius, mas eu não prestei atenção (e o feitiço só funciona para onde estava voltada a minha atenção na hora). Eu tinha sido tão cruel com o pobrezinho... É claro que eu estava exagerando, ele nem é tão feio assim... Ta, não chega a ser um Sirius, mas não é nenhum Pettigrew. Então aconteceu algo que nem eu acreditava que era capaz de acontecer: levantei-me, pedi para Maggie esperar-me, que eu estava com fome e ia procurar a velha do carrinho de doces e saí correndo pelo trem, não sabia direito aonde ia, até que parei em frente a uma cabine.
Fui até a janela e vi quem estava lá dentro: os quatro marotos (Tiago com a cara de desconsolado mais triste que já vi) e mais dois garotos da nossa casa. Encostei-me rapidamente na porta, para que ninguém me visse, e pude ouvir Remo dizendo que precisava ir para o vagão dos monitores. Assim que ele saiu puxei-o pelo braço para o lado:
-Remo... Eu preciso que você me faça um favor... Chame o Tiago, mas não diga que eu estou aqui e... nem conte isso para ninguém, por favor...
-Lílian... Eu não quero ser chato, mas ele está acabado desde que você disse aquilo para ele, e eu não quero ver meu amigo sofre mais e...
-Por favor! É por isso que eu preciso falar com ele... Eu prometo que não vou deixa-lo pior... –Não acredito que fiz aquilo, mas não havia outra escolha.
-Ok, mas se eu souber que ele está pior por sua causa, terei de contar aos outros que você veio procura-lo.
-Sim. Chame-o, ande logo! – Pude ouvir Remo dizendo que esqueceu algo, e espiando pela fresta da porta vi-o dizer algo no ouvido de Tiago, que o seguiu para fora da cabine. Tiago ao ver-me arregalou os olhos e deixou a boca abrir-se para dizer algo, mas eu peguei-o pelo braço e saí arrastando-o pelo trem.
Eu não sabia o que estava fazendo e ele muito menos o que estava acontecendo, mas quando chegamos longe o suficiente para que ninguém conhecido ouvisse nossa conversa, parei e voltei-me para ele:
-Desculpe-me. Eu não devia ter dito aquilo, ok? Não se sinta mal, saiu sem pensar...
-Você está me pedindo desculpas? Lílian Evans, a garota que nunca erra, admite que errou?
-Não errei, mas não sei por que não consigo ver você sofrendo assim. – Eu abaixei os olhos, não queria enfrentar o olhar de Tiago ou começaria a gritar com ele novamente. Nesse instante ele pegou minha mão e disse muito gentilmente, de uma maneira que nunca imaginei que o ouviria falar:
-Isso significa muito para mim, você se importar com como eu me sinto... – Levantei o olhar e o vi da maneira mais doce e inimaginável, sorrindo amigavelmente e com uma alegria estampada no olhar. Fiquei estática, contemplando aqueles olhos castanhos e sem saber o que dizer ou fazer. Ouvimos algumas vozes de pessoas se aproximando pelo corredor e no mesmo instante soltamos nossas mãos e ele disse:
-Se me permite ir, tenho trabalho a fazer... Acabo de ouvir o podre Snivellus dizer algo, e preciso atormenta-lo... Te vejo na escola Lily – Saiu correndo e pulando, todo feliz...
Voltei para a cabine desconcertada. Sabia que o que tinha feito era o certo, mas tinha uma sensação terrível de que o pobre Snape pagaria pela felicidade de Tiago. E isso não me parecia tão terrível. Aquele idiota tinha perturbado a minha mente com aquele jeito encantador e o olhar doce... Eu o odeio profundamente!!!".
-Há! – exclamou Harry ao terminar de ler aquela memória de sua mãe e esconder o diário sob o soalho. – Foi assim que ela começou a gostar dele! Estranho...
Harry achou completamente absurda aquela situação, sua mãe começou a se interessar por seu pai sem mais nem menos, por causa de um olhar. Pensando melhor, não havia sido muito diferente entre ele e Cho: ele a viu e não pode mais controlar seu coração, até que começaram a sair juntos e ele descobriu como ela era emotiva e ciumenta, mesmo sem razões. Então aquela chama em seu peito, aquele desespero cada vez que a via, foi diminuindo, até que se apagou.
Deitou-se já pronto para dormir e percebeu que ler aquelas histórias sobre seus pais o fazia sentir-se sozinho, uma vez que aquilo que ele achava que era o amor acabou tão de repente. Como seria encontrar alguém com quem pudesse estar sempre e que não se cansasse? Como seria o amor verdadeiro e como ele saberia se era realmente verdadeiro, se agarraria a isso ou perderia sua chance e lamentaria para sempre?
Maggie fez isso com Sirius, e mesmo sem dizer que este fora seu verdadeiro amor, cada vez que Harry mencionava o padrinho podia ver os olhos dela brilharem e se apagarem em seguida, com um grande sofrimento. Ela lhe disse que ele era novo e ainda teria muitas chances de encontrar o amor, mas e se o amor viesse a ele enquanto novo e ele o perdesse, como ela fizera? Aquele sentimento o preocupava, mas se ele fosse encontrar seu amor ainda na escola, quem poderia ser?
"Hum, Lilá e Parvati não, muito diferentes de mim. Hermione nem pensar! Ela é como uma irmã para mim, além disso eu acho que Rony gosta dela... Gina é outra que é como uma irmã, se bem que ela gostava de mim... Mas agora ela tem um namorado e está feliz com ele. Sonserinas não! A maioria delas é antipática e me odeia, além de não serem nada agradáveis de se ver. Na Lufa-Lufa... Não são ruins, mas a maioria já tem alguém. Da Corvinal tem a Cho, mas ela ou suas amigas nem pensar! Tem a Luna... Não, não... Ela é mais maluca que eu..." E foi pensando nisso que ele adormeceu.
-Harry, querido? – O garoto ouviu uma voz doce o chamando, uma voz que somente se lembrava em seus sonhos.
-Mamãe? – Ele abriu o olho meio confuso, ainda mais por conseguir ouvir sua voz normal e não barulhos de um bebê. Curiosamente ele percebeu que estava em seu quarto na casa dos Dursley, assim como quando adormecera, mas sua mãe estava ao seu lado, sentada na cama. – Co-como é possível?Mãe...
-Shhh –Lílian tocou os lábios de Harry com a ponta do dedo indicador, para que este se calasse, e ele percebeu que ela não tinha uma forma material, uma vez que não pôde sentir seu toque. –Meu pequenino filho... Já está tão crescido e maduro... Precisava conhecer mais sobre mim, sobre seu pai... Vejo que você o conseguiu. Meu diário antigo. Você precisava de mim e eu vim até você, através de minhas memórias. Parte de mim está sempre com você, meu querido, e isso torna minhas lembranças mais fortes e vívidas cada vez que você as lê. Não se preocupe nem tenha medo, mamãe está aqui agora... – E ouvindo essas palavras Harry acordou vagarosamente, saindo do estágio de sonho aos poucos e tomando consciência da realidade. Lembrava-se de ter visto sua mãe, ela lhe disse algo... Não podia se lembrar, ainda estava dormindo...
