Capítulo 5: O primeiro encontro
Quando Harry acordou completamente, sentiu que alguma coisa estava errada, muito errada. Ele não viu o teto branco e gélido de seu quarto, não viu sua cama, não viu suas coisas... Olhou ao seu redor e tudo que enxergou foi uma névoa prateada, que se movia cada vez mais rapidamente, até que subitamente parou, e começou a se dissipar. O garoto sentou-se na cama e esticou o braço para pegar seus óculos, que havia deixado na mesinha e cabeceira, e qual não foi sua surpresa ao não encontrar a mesa ou qualquer coisa conhecida?O pior é que sabia que não estava sonhando, uma vez que tinha plena consciência de tudo a sua volta. Algo realmente estranho acontecia...
Estava em um quarto com paredes de pedra: "Hogwarts!" Pensou Harry "Eu devo estar em Hogwarts... Mas como, se eu estava na Rua dos Alfeneiros até um segundo atrás? Além disso, eu não me lembro de estar num quarto assim antes..." Cinco camas idênticas às de seu quarto em Hogwarts estavam espalhadas pelo amplo cômodo, mas eram arrumadas e haviam colchas coloridas, de retalhos e com pinturas, que certamente Harry nunca vira antes. Havia um grande espelho em uma das paredes, e nele estavam colados bilhetes e desenhos alegres; "Seja onde quer que eu esteja, não me parece um quarto masculino..." e Harry se aproximou do espelho, mas não pode ver seu reflexo.
Sua respiração aumentou e ele começou a ficar desesperado. Olhou para suas mãos e notou que estava translúcido, meio fantasmagórico, assim como estivera ao adentrar o diário de Tom Riddle. Estava quase em pânico: teria ele entrado no diário de sua mãe? E se tudo fosse uma grande armação de Voldemort e Maggie não fosse sua madrinha, mas alguém que queria vê-lo morto e lhe dera um diário falso e assassino para tira-lo do caminho...
Um grupo de garotas entrou no quarto naquele instante. Usavam vestes de Hogwarts com o símbolo da Grifinória bordado, e algumas tinham alguns acessórios "hippies". Primeiro uma garota alta e loira, muito parecida com Lilá Brown, que usava brincos de argolas enormes e coloridos aproximou-se de Harry, mas não parecia vê-lo. Foi ajeitar seu cabelo, estilo anos 70, no enorme espelho, seguida por uma garota negra usando trancinhas rastafari e um brilhante batom rosa-choque. Harry tentou desviar, mas percebeu que as atravessava e que ninguém notava sua presença ali. Foi recuando até que uma voz vinda da porta o surpreendeu: uma garota ruiva de olhos verdes muito vivos e expressivos gritava para fora do quarto.
-E pare de me provocar, idiota!
-Nossa Lily, você e o Tiago estão ficando tão amigos... – disse a garota loira num tom satírico.
-Amigos? Ah claro... Eu o detesto profundamente!!! – A garota ruiva franziu a testa e respondeu com ar de desprezo, logo se unindo às outras à frente do espelho – Ah, meu cabelo está tão estranho hoje...
-Está bom, Lily. E Tiago também o elogiou... – Uma garota até então quieta aproximou-se delas. Usava uma faixa colorida na cabeça e tinha um ar que lembrava muito o amigo de Harry, Neville Longbottom.
-Como se eu ligasse para o que aquele bobo diz...
-Eu acho que você deveria dar uma chance e sair com ele no próximo fim de semana em Hogsmeade.
-Há! Até parece... Eu sair com aquele bobo imaturo do Tiago Potter...
-Ai, Lilly, ele não é tão mau assim. Quando fomos ao baile juntos ano passado ele foi muito atencioso comigo. –A garota loira ajeitava alguma coisa em seus olhos, piscando freneticamente - Essas lentes de contato fazem meus olhos arderem... Vou ver se Madame Pomfrey tem algum feitiço para deixa-las melhor. Vamos Adelaide.
E a menina loira saiu correndo do quarto, acompanhada pela outra de trancinhas rastafari, que gritava para ela ir mais devagar ou cairia nas escadas.
Lílian suspirou demoradamente e largou-se na cama ao lado de onde Harry estava. Este não sabia o que fazer, afinal estava ao lado de sua mãe aos quinze anos de idade, numa época e dimensão onde ela nem imaginava que se casaria com Tiago Potter e teria um bebê, por quem daria sua vida... Lílian virou-se para o lado de Harry e por um momento este achou que ela o estava encarando, mas logo percebeu que não: ela olhava para a porta, como se esperasse alguém entrar. Então se dirigiu à outra garota, que estava sentada numa cama folheando um livro grosso de herbologia:
-Alice, você poderia me trazer um copo de água? Não estou me sentindo muito bem...
-O que você tem, Lilly? Não me parece doente...
-Estou cansada, minha cabeça dói um pouco. Queria ficar sozinha por alguns minutos, pelo menos até a hora do almoço.
-Claro. Se quiser ficar sozinha eu desço. Precisava falar com Frank a respeito do relatório sobre os Barretes vermelhos mesmo, então já vou... Se precisar de alguma coisa grite que estarei no salão.
-Obrigada. Você e Frank deram certo mesmo, hein? Estão desde o baile de inverno juntos...
-Ah... Eu realmente gosto dele e vamos a Hogsmeade juntos na próxima semana... Espero, hum, que ele me diga o que sente por mim... Bem... Já vou. Até mais tarde!
-Boa sorte e até mais.
-Quando a garota deixou o quarto Harry começou a ouvir a voz de Lílian ecoando por toda parte, apesar desta nem ao menos mover seus lábios: "Deve ser algum efeito do diário... Estou ouvindo seus pensamentos que serão escritos..."
-Eu queria saber o por quê disto. Toda vez que aquele garoto idiota me irrita eu quero mata-lo, mas dois segundos depois eu lembro de seu olhar doce no trem e quero abraça-lo com toda a força... Não posso estar gostando dele. Não! De jeito nenhum! Tenho que perguntar a Maggie como ela sabe que gosta do Sirius... Não, nem pensar. Se eu estiver, por algum louco motivo do acaso gostando de Tiago Potter, eu quero mais é que este sentimento acabe e logo! – Ela levantou-se da cama, deu uma ajeitada no cabelo, respirou fundo e saiu do quarto, seguida de perto por Harry que, na dúvida do que aconteceria se permanecesse ali, resolveu seguir sua mãe e descobrir ao menos mais algumas coisas sobre seu passado.
Estavam agora no tão conhecido salão comunal da Grifinória, cercados por jovens conversando, jogando xadrez ou tentando ler alguma coisa. Nas poltronas preferidas de Harry, Rony e Hermione estavam "esparramados" os quatro marotos. Tiago levantou-se de um salto ao ver Lílian passar. Em um segundo desajeitou os cabelos ainda mais e correu para falar com a garota de olhar nervoso e passo apressado.
Harry não pode deixar de notar a semelhança entre ele e seu pai: a mesma altura, os mesmos cabelos, o jeito e até os óculos eram parecidos. Era tão estranho tudo aquilo, ver seus pais diante de si, tão jovens e imaturos, e sem saber ao menos o motivo que o levou até aquelas lembranças, àqueles dias em que nem ao menos sua existência era uma possibilidade, mas Harry não queria sair. Não queria se separar de seus pais, mesmo sabendo que estes eram apenas ecos de um passado, lembranças vívidas, muito vívidas.
-Então Lílian, pensou na possibilidade de passarmos a visita a Hogsmeade juntos?
-Pensei. E a resposta é nunca, seu chato egocêntrico!
-Mas Lilly...
-Não me chame de Lilly! E pode esquecer o trabalho de DCAT em dupla, já fiz sozinha.
-Mas pelo menos isso eu devia ajudar, e seria um bom tempo para você aprender a gostar de mim...
-Isso levaria toda a eternidade, e nunca chegaria a me convencer! Passar meu tempo precioso com você é algo que você pode esperar sentado, pois vai demorar, ah se vai... – E Lílian saiu pelo buraco do retrato da mulher gorda, deixando Tiago para trás. Harry não queria deixar seu pai, mas correu atrás de sua mãe.
Seguiram pelo caminho que Harry sempre fazia para chegar ao salão principal, sempre ao som dos pensamentos eufóricos, confusos e embaralhados de Lílian, que caminhava cada vez mais rápido. Quando entraram no amplo salão, a garota se dirigiu automaticamente para a mesa da Lufa-Lufa.
Sentada bem no meio do salão, onde o sol brilhava intensamente no teto que reproduzia o céu do exterior da escola, uma garota loira se concentrava em um antigo livro de capa azul. O reflexo do sol em seus cabelos os deixava dourados, e Harry teve a impressão de que a conhecia, antes mesmo dela levantar a cabeça em sua direção, quando Lílian sentou ao seu lado e suspirou, e mostrar seus enormes olhos escuros e brilhantes.
-Lílian! Achei que você fosse terminar o trabalho com Tiago antes de vir almoçar...
-Ah Maggie... Eu não consigo passar tempo algum com aquele menino. Ele... É tão... Ele me deixa tão... Ah, eu o odeio!
-Calma Lilly. Eu ajudo você com o trabalho, se quiser. Eu e Helena já terminamos o nosso ontem, depois do jantar.
-Você é um amor Maggie, mas eu já fiz o trabalho. O que está lendo? – Lílian encostou sua cabeça no ombro de Maggie, espiando o livro. Harry aproximou-se e pode reconhecer perfeitamente sua madrinha, apesar de mais magra, menor e mais jovem.
-Um livro que eu encontrei por aí... Nada de mais...
-"Poções de amor e encantamentos de duração rápida"? Não me parece o tipo de livro que fica jogado por aí...
-Está bem, está bem... Eu peguei emprestado. Queria ver se tem alguma coisa que pode me ajudar, hum, a fazer Sirius olhar para mim, nem que por um segundo...
-Você realmente gosta dele, não é? Como você soube disso?
-Ah, eu não sei... Aquele olhar se tornou doce por um segundo e acabou me deixando abobalhada por ele... Mas posso saber o motivo do interesse, dona Lilly?
-Hum, nenhum... Eu só queria saber como se sente quando se está apaixonada, é só isso... O que? Não me olhe assim, Maggie! Não estou gostando de ninguém, eu juro!
-Claro –Maggie sorriu e voltou-se para a leitura, mas logo desviou sua atenção quando um grupinho barulhento entrou no salão. Harry pôde ver seus olhos brilharem ainda mais intensamente quando Sirius passou arrumando os cabelos e Lílian dobrou-se sobre o livro ao ver que Tiago entrava no salão.
-Maggie, finja que eu sou invisível. Não quero aquele idiota do Tiago vindo falar comigo.
-Ah claro, Lílian... Como se eu não fosse perceber o que está acontecendo...
-Como assim o que está acontecendo? Não está acontecendo nada...
-Claro que está! Desde aquele dia no expresso você anda toda suspirando por aí, a cada segundo arruma uma desculpa para falar do Tiago e ainda me perguntou como é estar apaixonada...
-E o que isso tem de mais, Maggie?
-Você ainda não percebeu? Está caída por ele!
Harry pode ver os olhos de sua mãe se arregalarem enquanto ela empalidecia e começava a murmurar alguma coisa discordando do que a amiga acabava de dizer, mas as palavras não conseguiam sair inteiras de sua boca. Então ela se calou e debruçou sobre a mesa, ainda com os olhos muito abertos e assustados, lançando olhares repentinos a Maggie, que sacudia a cabeça negativamente e dizia para Lílian se acalmar.
Ao ver que as duas não sairiam daquela mesa por algum tempo, e os pensamentos confusos de Lílian atropelavam-se uns aos outros, Harry decidiu dar uma olhada no que seu pai e os marotos estavam fazendo, se dirigindo à mesa da Grifinória, de onde se podia ouvir uma série de risadas.
-Minha vez, Almofadinhas – Tiago, que estava sentado ao lado de Sirius e Remo, tomou das mãos do amigo um saco de balinhas coloridas, que Harry já tinha visto para ser vendido na Dedos de Mel. O pai do garoto pegou uma balinha amarela e comeu, e logo tentou falar, mas o que podia se ouvir era um cacarejar de galinha. A mesa explodiu em risos, e logo Sirius pegou o saquinho novamente e dele retirou uma balinha laranja, que o fez miar como um gatinho.
-Vamos Aluado, você ainda não testou esses novos caramelos animais – Disse Tiago ao parar de cacarejar.
-Não, obrigada. Tenho que terminar este trabalho de DCAT e não tenho tempo para fazer besteiras... Essa é a função de vocês, meus amigos.
-Que é isso, Remo! O trabalho é só para amanhã, e além do mais é em dupla! – Disse Sirius antes de começar a coaxar que nem um sapo.
-Acontece que hoje tem reunião da monitoria da escola e não terei tempo de me juntar com Violet para termina-lo.
-Reunião? Lílian estará lá?
-Provavelmente, Pontas. Vocês já fizeram seu trabalho?
-Ela disse que fez sozinha, que não agüentaria fazer o trabalho comigo...
-Eu me livrei do trabalho. – Sirius sorriu malvadamente - Disse que tinha muitas lições, fiz um olhar piedoso e Sofia disse que faria o trabalho todo.
-Quem é mesmo Sofia? – Perguntou Tiago com um olhar pensativo – A garota ruiva da Lufa-Lufa, a loira da Corvinal, a morena da Sonserina...
-Nenhuma dessas. Aquela ruivinha da Corvinal, que senta na nossa frente nas aulas de DCAT, sabe?
-Você não presta mesmo – Lupin parou de escrever em seu pergaminho por um segundo- Cada semana está com uma garota diferente, aposto que nem tem tempo de conhece-las direito.
-Ora Aluado! E desde quando você fica todo furioso assim por eu estar saindo com outra garota? Nunca ligou antes...
-Não estou furioso, só não acho certo você se aproveitar delas para fazerem seus trabalhos.
-Eu acho que ele está com ciúmes de você, Sirius –Pedro, que até então estava quieto e admirando os outros, resolveu se pronunciar.
-Por que diabos eu estaria com ciúmes, Rabicho? – Remo, nervoso, largou o pergaminho e a pena e deu um soco na mesa.
-Você nunca teve uma namorada. Foi ao baile com Lílian ano passado, mas vocês mal se divertiram porque ela é a garota do Pontas, e depois disso não saiu com nenhuma garota... – Pedro continuou, enquanto Sirius e Tiago pararam de comer as balinhas para ouvir o que estava se passando ali, e por que Remo começava a ficar vermelho de raiva.
-Nunca tive ciúmes de ninguém, a não ser pelo fato de não ser vocês-sabem-o–quê, e se o seu problema é nunca ter me visto com uma garota o motivo é que eu sou discreto, e não como vocês que fazem o maior carnaval quando elas lhe dizem um simples "oi" – Remo começava a voltar ao seu estado normal, e logo retomou a pena e o pergaminho e voltou a escrever.
-Isso é verdade, Aluado? – Sirius perguntava com um sorriso maroto na face – Com quem você já saiu então?
-Se você parasse para conversar e ouvisse mais as garotas, não ia ser preciso que eu lhe dissesse.
-Quem é? Vamos Aluado, diga! Estou curioso agora... – Tiago começava a sorrir também, a impaciência aumentando a cada segundo.
-Sofia. – Disse Remo olhando para Sirius.
-So-Sofia? – O sorriso desapareceu do rosto de Sirius, e um certo desespero começou a se mostrar – Diga que não é a Sofia que eu estou pensando que é...
-Mas é esta mesma. Se você parasse para ouvi-la, saberia.
-Há! Sirius está saindo com a namorada de Remo! – Tiago e Pedro riam cada vez mais.
-Para sua informação, ela não é mais minha namorada. E eu não vejo nenhum problema em você estar saindo com ela, Sirius, só acho que deveria conhecer melhor as garotas com quem sai.
-Mas eu não posso fazer isso! Ela, ela é sua garota... Por que você não disse, igual o Tiago me avisou de Lílian? – A expressão no rosto de Sirius variava de um típico ar de choro e um pouco de raiva desesperada.
-Porque eu não vejo necessidade nisso. – Ao contrário de Sirius, Remo estava naturalmente calmo e voltava à sua palidez costumeira - Nós não estamos mais juntos, não há motivos para você se desesperar.
-Mas é a garota do meu amigo! Eu não posso fazer isso! – E impulsivamente, Sirius se levantou e se dirigiu à mesa da Corvinal, conversando com Sofia rapidamente e saindo ainda meio abalado para a mesa da Grifinória novamente.
-Pronto, amigo. Vamos terminar o trabalho juntos mais tarde e eu termino com ela. Desculpe-me!
-Não há necessidade, Sirius! Vê se volta ao seu normal!
-Não, não, Remo. Você tem razão. Eu devo conhecer melhor as garotas com quem eu saio. E a partir de hoje a primeira coisa que vou perguntar é se elas já saíram com algum de vocês.
Após a normalização da situação na mesa, os marotos voltaram a rir e a brincar com os caramelos e Harry, que assistia tudo de perto, sentia cada vez mais falta de seu padrinho e de seu pai. Mas afinal, não havia o que fazer para traze-los de volta, somente podia contar com sua presença enquanto estivesse preso naquelas memórias de sua mãe... Sua mãe! Harry tinha se esquecido dela. Rapidamente atravessou o salão para encontrar ela e Maggie discutindo na mesa da Lufa-Lufa:
-Eu não estou gostando dele, Maggie!
-Lilly, pare de enganar a si mesma! Lembra quando eu dizia que não estava gostando de Sirius e você dizia que estava estampado na minha cara que eu gostava? Estou vendo a mesma coisa em você!
-Mas não pode ser! Ele é tudo que eu não gosto e um pouco mais, e ao mesmo tempo...
-Ao mesmo tempo você não consegue passar um segundo sem pensar nele. Eu sei como é, Lilly. Não esquente com isso.
-Mas... Eu não sei o que fazer!
-Ao menos você tem a atenção dele, o que já é uma grande ajuda! Ele não a convidou para ir a Hogsmeade com ele semana que vem?
-Sim, mas eu não vou! Não posso ceder aos caprichos do senhor–todo-perfeito–e–arrogante-Potter!
-Então arrume um jeito de encontra-lo por lá, e quem sabe assim você descobre se é isso que você quer.
-Não é, Maggie! Eu não quero passar o resto da minha vida com um idiota de cabelos bagunçados que só se importa com quadribol.
-Mas ninguém está dizendo que ele é o amor da sua vida, Lilly! Dê uma chance ao garoto. Se ele passar no teste, você começa a fazer seus planos para o resto da vida, senão, não se preocupe!
-Você não está tão errada, mas eu não vou encontra-lo tão cedo sozinha. Ah Maggie! Meu coração não podia ter escolhido outra pessoa no lugar dele? – Lilly começava a ter os olhos inundados por lágrimas.
-Não fique assim, amiga. Não vale a pena chorar por isso. Venha aqui. – Maggie a abraçou com toda a calma e paciência, mesmo após aquela discussão, e Harry pode ver porque sua mãe a escolheu como madrinha: nem mesmo com a Sra. Weasley ele teria a chance de ser amado como um filho daquele jeito paciente e carinhoso de Maggie.
Afinal, onde ele estava com a cabeça quando achou que ela teria feito um plano maligno com Voldemort para aprisiona-lo num diário falso, se nem mesmo brava com a amiga ela foi capaz de fazer qualquer tipo de maldade a ela? E Harry estava ainda imerso em seus próprios pensamentos quando a névoa prateada voltou a rodar em torno dele. Rodou, rodou e de repente parou, mas o garoto não havia voltado para casa.
Estava nos jardins de Hogwarts, perto do lago, e o sol brilhava fortemente. Um grupo de garotos passou correndo por ele na direção dos portões principais do castelo, e Harry percebeu que deveria ainda estar no diário, mas em outra situação. Sua certeza foi confirmada ao ver Lílian e Maggie indo à direção dos outros grupos, e ele tratou-se de se aproximar delas.
-Então, está pronta para encontrar Tiago, Lilly? – Maggie sorria e Lílian a encarava com um olhar sério e sombrio.
-Nunca estarei. Mas devo fazer isso para provar a mim mesmo que eu não amo aquele garoto antipático, nunca amei e você estava enganada todo esse tempo!
-Depois de um belo chá na Madame Paddifoot você me diz se eu estava enganada – Maggie lançou uma olhar provocativo a Lilly, que simplesmente aumentou a velocidade do passo e respondeu bruscamente:
-Ah, claro! Como se eu fosse até lá com... Com aquilo! Vamos ao Três vassouras, e não passaremos mais de uma hora juntos.
-Diga isso a ele então.
Lílian olhou para trás e viu o grupinho dos marotos se aproximando rápida e perigosamente. Tiago carregava um lírio em uma das mãos e um pedaço de papel amassado na outra, e levava alguns tapinhas ansiosos de seus amigos, que o seguiam gargalhando.
-Lílian... – O garoto se aproximou e tocou-a levemente no ombro, para chamar sua atenção.
-O que foi? – Lílian olhou pelo canto dos olhos para Tiago e continuou acelerando o passo.
-Erm... Pronta para, hum, o nosso encontro?
-Não considero isso um encontro. Apenas um teste para mostrar a alguém que ela está errada, não é Maggie?
-Não me coloque na história, Lilly... – Maggie arregalou os olhos para Lilly e foi diminuindo cada vez mais a velocidade, assim como os outros garotos, a fim de deixar os dois conversarem em particular.
-Então, hum, isso... É para você... – Tiago estendeu a mão com o lírio na direção da garota, que demorou algum tempo para pegá-lo e não tinha certeza do que fazer naquela situação, sentindo-se encabulada.
-Erm... Obrigada. – Lílian sorriu timidamente – Eu não tenho nada para você...
-Não precisava me trazer nada mesmo. Eu só lhe trouxe a flor porque, hum, eu a vi e ela me fez lembrar você. – A cor da face de Tiago mudava rapidamente para um vermelho incandescente, não muito diferente da de Lílian.
-Já estão se entendendo, viram só? – Maggie cochichava para os garotos, que ouviam atentamente a conversa que se passava em sua frente.
-É... Logo estarão juntos pelos corredores da escola aos beijos – Pedro Pettigrew e Remo Lupin riam, enquanto Sirius e Maggie prestavam atenção no que os dois estavam tentando falar.
-Shhhh vocês dois! Não consigo ouvir a conversa – Sirius deu um tapa na nuca do pequeno amigo, que com cara de choro ficou resmungando para si.
-Então... Aonde nós vamos? – Perguntou Tiago tentando arrumar assunto para conversar.
-No Três Vassouras, tomar alguma coisa.
-E depois? – Lílian voltou um olhar frio para Tiago ao ouvir aquelas palavras insistentes.
-Depois? O que tem depois? É uma bebida e pronto! Ou você acha que eu vou desperdiçar minha visita a Hogsmeade andando com você por toda parte?
-Ah Lilly, nós podemos passear juntos... E com eles nos seguindo não estaremos sozinhos mesmo, então pensei...
-Pensou errado, para variar...
-Tiago olhou para trás, esperando alguma ajuda e os outros o mandaram continuar que eles arrumariam uma desculpa para mantê-los juntos durante todo o dia.
-Quando chegaram à cidadezinha, o grupo todo se reuniu para decidir o que aconteceria a partir dali.
-Então vocês dêem uma volta enquanto nós vamos ao três vassouras, ok? – Tiago, nervoso, amassava o pedaço de papel cada vez mais – Nos encontramos lá daqui a uma hora.
-Certo. Boa sorte para vocês, e divirtam-se! – Maggie abraçou Lílian e sorriu, enquanto a outra a encarava com um olhar desesperado – Nos encontramos em uma hora.
-Isso mesmo. Aproveitem bem o tempo e, se quiserem mais um pouquinho depois, nós podemos pensar no assunto – Sirius encarava Tiago, que começava a tremer um pouco.
Enquanto os dois se afastavam relutantes, o grupinho ria nervosamente, curiosos para saber o que aconteceria uma vez que os dois estivessem sozinhos.
-Então... Encontro vocês mais tarde – Maggie dizia de maneira triste, enquanto observava fixamente os olhos de Sirius, que estavam pela primeira vez pousados em sua direção.
-Aonde você vai? – Sirius perguntou docemente, tombando a cabeça sobre o ombro esquerdo graciosamente.
-Ah... Eu...Eu... – Maggie encabulada e perdida naquele olhar respondeu enquanto corava – Vou dar uma volta. Comprar alguns doces, tinta colorida... Esperar a Lílian...
-Por que não vem conosco? – Remo apoiou-se no ombro direito de Sirius – Nós vamos dar uma volta também... Provavelmente parar nas mesmas lojas...
-Haha Remo, você ficou maluco? – Sirius encarava nervosamente o amigo – Nós vamos aprontar por aí, ir a Zonko's, procurar garotas... Não é coisa para uma garota fazer... E, além disso...
-Ora que besteira, Sirius! – Remo empurrou o amigo – Vamos Maggie, venha conosco! Nós não faremos nada de mal, Sirius está com frescura...
-Eu? Frescura? – Sirius empurrou Remo e o observava intrigado.
-Posso mesmo ir?
-Claro! Será uma honra! – Remo sorriu – E se der certo o casalzinho, você vai ter que se acostumar com a gente mesmo...
Harry não tinha muita certeza do que fazer. Queria saber como foi o primeiro encontro de seus pais, mas não queria deixar de ver seus padrinhos juntos. Acabou optando por seguir seus pais, afinal ele estava preso nas memórias de sua mãe, talvez nem existisse o que os outros fizeram naquela dimensão.
O Três Vassouras estava estranhamente vazio. Uma senhora atendendo no bar, outras três pessoas no balcão e Lílian e Tiago sentados em uma mesa. Harry aproximou-se e sentou-se ao lado de sua mãe, que bebia uma cerveja amanteigada:
-Hum, isso é muito bom!
-É, eu sei... Só não imaginava que você, a perfeita Lílian, tomasse alguma coisa que não fosse suco de abóboras...
-Não pense que sabe tudo sobre mim, Potter! Eu posso ser bem imprevisível quando quero.
-Percebi isso quando você aceitou meu milésimo convite para ir a Hogsmeade...
-É...
-...
-...
-Hum, você assistiu o jogo da semana passada?
-Claro, nós jogamos... E muito bem por sinal.
-Gostou da minha apanhada especial?
-Especial? Foi como qualquer outra, Tiago. Você voou e pegou, nada de anormal.
-Nada de anormal? Você não viu meu super-rodopio triplo e o deslizar sobre a vassoura!? – Tiago arregalava seus olhos, inconformado com o que a garota acabara de dizer.
-Vi, mas o que isso tem de mais?
-Ah – Tiago debruçou sobre a mesa e apoiou a cabeça nos braços – Você não gosta de quadribol, não é?
-Um pouco – Lílian sorriu – Prefiro gastar meu tempo com coisas mais úteis do que correr atrás de uma bolinha prateada.
-É dourada! – Tiago encarou-a pasmo - Você não sabe que o Pomo de Ouro é dourado?
-Dourado, prateado, de longe não dá para saber mesmo!
-Então eu te mostro um. Venha aqui. – Tiago fez sinal para Lílian se aproximar, debruçando sobre a mesa também, e quando ela o fez ele tirou do bolso e mostrou-lhe entre as mãos uma pequena bolinha dourada, com duas asinhas enroladas sobre si.
-Você roubou!
-É claro que não! E fale mais baixo... É meu por direito, tenho que treinar, não é mesmo?
-Você roubou! Por isso não quer que ninguém saiba e que eu fale baixo...
-Não é isso! Você tem idéia de quanto um desses custa? Se soubessem que eu tenho um aqui mesmo, nesse tempo de crise, com certeza iriam me atacar e me roubar.
-Mesmo assim, nada muda o fato de que você roubou isso!
-Se você quiser, eu te dou de presente.
-E por que você acha que eu iria querer um pomo de ouro roubado? Para ser atacada, é?
-Pela última vez, não é roubado! E você podia ficar com ele para se lembrar de mim...
-Eu não preciso me lembrar de você, obrigada.
-Lilly... Achei que você gostasse de mim...
-Eu não sei. Digo, não sei se gosto de você. Às vezes você é bonzinho, me dá presentes, não me provoca... Mas outras vezes é o completo oposto disso, e não tem nada que eu odeie mais no mundo que você.
-Mas como você mesma disse, eu nem sempre sou assim... E posso tentar ser mais legal com você sempre.
-Estou com fome. – Lílian mudou de assunto depressa. Tinha um certo receio de revelar seus sentimentos, e tinha mais ainda que eles se revelassem.
-Ok, se não quer conversar sobre isso nós falamos de outra coisa – Tiago, encabulado, guardava o pomo novamente no bolso enquanto pensava em algo que interessasse Lilly.
-Não é isso! – Lílian, tentando consertar a situação – É que eu realmente estou com fome... Eles vendem comida por aqui?
-Ah... Não tenho certeza. Acho que nunca vi ninguém comendo algo que não fosse da Dedos de Mel por aqui...
-Quer vir comigo até lá? Estou com vontade de comer algum doce...
-Claro. – Os dois se levantaram e se dirigiram à porta do bar, seguidos de perto por Harry.
-Conforme iam caminhando o silêncio absoluto reinava e era visível o nervosismo que os dois apresentavam, Tiago amassando o pedaço de papel e Lílian girando o lírio. Até que o garoto começou subitamente a rir e pergunto a Lilly:
-Você estava brincando, não é?
-Sobre o quê?
-Não saber a cor do pomo de ouro... –O garoto encarou-a com um sorriso brincalhão na face.
-Não, não estava. – Lílian observava Tiago seria e friamente.
-Como? Você realmente não sabia que ele era dourado? Lilly, ouro é dourado... – O garoto ria cada vez mais, e parecia não poder se controlar.
-E eu tinha que saber que o nome se refere à cor? Francamente Tiago, existem coisas muito mais importantes para se pensar que numa bolinha voadora, como já lhe disse.
-Você é muito engraçada, Lilly...
-O que foi?
-Não saber a cor... E uma desculpa assim... – ele parou. Não conseguia andar e rir tanto ao mesmo tempo, porém Lílian não achava aquilo nada engraçado e apertou o passo para deixa-lo para trás, correndo para dentro da loja.
-Lílian espere! Você é rápida, hein? Pena que não pode jogar quadribol por causa de seu problema com cores... – O garoto segurava o riso e observava Lilly com um olhar sarcástico.
-Muito engraçado, Tiago, estou morrendo de rir. Estou me arrependendo de ter aceitado o seu convite, de ter pensado que você poderia ser alguém agradável e que eu sentisse qualquer coisa por você.
-Desculpe. – Da mesma maneira repentina que começou a rir, Tiago parou. – O que você estava dizendo sobre sentir algo por mim?
-Você se refere ao ódio ou à raiva? Porque é tudo que posso lhe oferecer! – Lílian, nervosa, mexia nas prateleiras em busca de algum doce específico.
-Vamos, Lilly, eu estava brincando! Você é ótima com cores e eu sei que tem muitas coisas a fazer e a pensar, principalmente cursando todas as matérias que você escolheu...
-Droga! Onde será que está? – A garota ignorava-o completamente agora – Eu tinha certeza que as chocobolas ficavam por aqui...
-Lilly me escute! – Tiago entrou em sua frente e agarrou seu braço – Me desculpe! Eu estou me comportando como um idiota, mas é tudo por causa do nervosismo que surge quando estou com você.
-Solte-me! – Lílian empurrou-o para longe – Você não está apenas se comportando como um idiota, você é um idiota! E considere isso o fim do nosso encontro! Ah, achei. – E ela seguiu ao caixa com um pacotinho de chocobolas, passando por cima de Tiago, que permaneceu imóvel, observando a garota sair da loja como se nada houvesse acontecido.
Harry permaneceu onde seu pai estava e o viu desamassar o papelzinho que segurava até agora e ler em voz alta o que ele dizia:
-"E o mais importante: Não faça piadas sobre ela nem pareça idiota. Lilly odeia quem faz coisas para aparecer, e pode acabar tendo uma reação nada amigável." Eu devia tê-la ouvido, Maggie... Se tivesse lido melhor o papel, talvez não estivesse falando sozinho no meio deste lugar – Tiago retirou-se cabisbaixo; o papelzinho foi novamente amassado e agora lançado no bolso; e Harry o acompanhava de perto.
Pararam em frente a uma loja de artigos de papelaria, e pela janela puderam observar os outros três marotos e Maggie, e ao entrar, Lílian no fundo da loja, observando algumas tintas coloridas.
-Ei Tiago! Entre aqui um segundo! –Pedro o chamava para dentro da loja.
-Qual você acha mais bonita? – Maggie perguntava a todos, carregando duas coloridas penas. – Seja sincero!
-Eu... Não sei... Estou com a cabeça muito cheia para pensar em penas agora. – Tiago respondeu encostando-se em uma parede, fugindo do olhar de Lílian, mas mantendo-a a vista.
-Por favor! Preciso de um voto final... - Maggie parecia não ligar muito para a situação em que o garoto se encontrava – Tenho dois votos para cada...
-Tudo bem, a lilás.
-Então será esta. – A garota dirigiu-se ao fundo da loja e conversou alguma coisa com Lílian.
-E então, Pontas? – Sirius parou na frente de Tiago. - O encontro foi bom?
-Uma beleza, até que me meti a falar de quadribol... Sinto-me péssimo.
-Não é o único. Ela chegou chorando, puxou Maggie para um canto e conversaram alguma coisa, aí foi ver as tintas e Maggie começou a perguntar das penas, quando você chegou. Elas são totalmente loucas!
-Não são loucas. –Remo entrou na conversa - Elas pensam diferente. E se você tivesse parado de falar e escutado o que diziam, saberia que Maggie está escolhendo um presente para Lílian, pois ela ficou realmente mal com o que aconteceu hoje.
-Mas eu não fiz nada! –Tiago se pronunciou – Eu simplesmente tentei ser amigável e ela não colaborou... E ainda por cima disse que me odeia...
-Ela não odeia. Sei que não.
-Como, Sirius? Ela mesma disse!
-Ela gosta de você, só que ainda não tem consciência disso. É só você tentar se aproximar melhor e saberá, e vocês poderão ficar juntos.
-Como você sabe disso?
-Olhe para ela. Toda vez que ela o vê, só faltam os coraçõezinhos pularem de seus olhos. É o típico olhar de uma garota apaixonada... Que você, meu amigo Pontas, pode reconhecer olhando no espelho...
-Ei! Mais respeito, Almofadinhas! Eu não sou uma garota...
-Mas age como uma quando está apaixonado.
-Fique quieto Pedro. Estava me referindo ao olhar, não a ele.
-Ta, desculpe! – Pedro saiu resmungando pelos cantos da loja.
-Aí vêm elas. Repare os olhares...
Maggie e Lílian iam conversando e caminhando na direção da porta, até que Lílian viu Tiago e parou instantaneamente. Seus olhos brilhavam tristemente, e ela logo os abaixou e passou correndo entre os garotos, atravessando a rua e esperando que Maggie a acompanhasse.
-Tenho que ir agora... – Maggie se dirigiu aos garotos antes de sair – Foi muito bom passar algum tempo com vocês.
-Foi sim. – Remo respondeu, Pedro acenou e Sirius sorriu docemente, o que fez Maggie perceptivelmente tremer.
-Preciso ir, Lilly me espera... E depois eu falo com você – ela apontou para Tiago – Quero saber o que foi que você fez de errado... Tinham tantas dicas no papel que lhe entreguei! Bem, até mais.
-Viu? –Sirius disse depois que Maggie atravessou a rua. – Percebeu o olhar?
-Parecia susto, não romance...
-Ela está abalada... Mas logo volta ao normal. E só de olhar para ela saberá que está totalmente caída por você.
-Ainda não entendi como você consegue identificar uma garota apaixonada apenas pelo olhar...
-Com o tempo e a prática vem a perfeição, então você saberá, assim como eu sei, querido amigo...
Então a névoa prateada rodeou Harry novamente e, girando cada vez mais rápido, parecia levantá-lo de onde estava e carrega-lo através do tempo e das memórias de sua mãe, até que lentamente foi se dissipando e sumiu mais uma vez.
