N/A: E meses depois aqui estou eu. Que vergonha. Desculpem-me pela demora. Sinto muito, muito mesmo. Boa leitura.
Primeiro Pecado II - A Redenção
Por Hime
-Capítulo 6-
"Ferindo mais do que palavras poderiam tentar dizer
Mais uma vez minhas lágrimas caem
Algum dia, completamente, eu sei que tudo o que sinto será explicado...
Este é o porque, uma melodia sem fim
Abraçando meu coração, eu ainda sobreviverei amanh
Mesmo se eu não puder mais te encontrar"
(LongingTogireta Melody – X-Japan)
Kiyohide esfregou as mãos, sentando-se no sofá. Nunca tivera uma conversa tão difícil com Touya antes. Sabia que o irmão era superprotetor sim, mas a preocupação que demonstrou o deixou surpreso. Neste momento ele já deveria estar no hospital, para onde também se encaminharia dentro em breve. Juntou as mãos próximas à testa. Sentia-se tão impotente, tão incapaz, tão solitário... Sua amada companheira estava entre a vida e a morte num leito de hospital. Esse não poderia ser seu fim...
Secando os olhos umedecidos e vermelhos, subiu até o quarto e tomou um banho rápido. Trocou-se e abriu as gavetas da esposa para pegar algumas roupas. Não sabia quanto tempo ela ficaria lá, mas desejava que fosse pouquíssimo, e que de lá viesse já recuperada para casa. Acariciou um roupão bege que encontrou, e aproximando-o do rosto, inspirou a fragrância tão amada. Havia o perfume de Sakura ali, inundando seus sentidos e o deixando cheio de uma tristeza indesejável. Por fim, guardou alguns pertences da esposa numa bolsa e dirigiu-se para a saída da casa.
Ainda no volante, lembrou-se de seu desespero. No momento em que Syaoran ligou, perdera a noção, não sabia bem o que fazer, o desespero era tão grande! Naquele instante esqueceu de todos os seus princípios, de todas as suas vontades e do mundo. Se fosse obrigado a discar para a sua própria casa, acreditava não saberia o número. Aliás, não sabia nem como havia chegado ao hospital – ainda mais são e salvo. Obra dos deuses provavelmente. Não sabia o que estava fazendo, mas agora tinha plena consciência das coisas. Entrou no estacionamento do conceituado hospital. Seu amor maior estava entre a vida e a morte.
Como um furacão pelo corredor, Touya foi ao encontro de Kiyohide, o balançando pelos ombros:
- Cadê a Sakura, o que aconteceu?
Disfarçadamente tirou as mãos de Touya que esmagavam seu ombro, enquanto falava:
- Ainda não falou com o médico?
- Claro que não, cheguei agora.
- Então vamos. – Distanciava-se, sendo seguido de perto pelo cunhado. – Vou agora mesmo falar com ele.
Touya estava sentado numa cadeira, o cotovelo direito apoiado na perna, os olhos castanhos fixos em Sakura, deitada diante de si.
Nunca imaginara que um dia sua irmã viveria esta situação tão terrível. Mas, segundo o médico, os piores momentos já haviam passado. Princípios de convulsões, eclampsias e mais alguns outros nomes complicados zuniam em sua cabeça, lhe provocando um grande mal-estar, que só lhe era aliviado pela informação de que, se tudo continuasse normalizado, Sakura teria alta no máximo em dois dias. Sorriu ao ver o cunhado acariciando suavemente a esposa. Só o pensamento de que podia ter perdido tanto a irmã quanto o sobrinho... Não. Fechou os olhos, balançando discreta e lentamente a cabeça. Não podia se deixar entregue a tantos pensamentos ruins. No momento, tinha que dar força a Kiyohide, a Sakura, e por que não, também ao seu sobrinho? Levantou-se forçando um sorriso, postando-se ao lado do homem de cabelos negríssimos:
- Kiyohide, eu preciso ir agora. Tenho um cliente importantíssimo me esperando, mas assim que possível eu voltarei para cá.
- Tudo bem, eu ficarei aqui com ela.
- Não se preocupe tanto. Tudo dará certo.- Deu-lhe alguns tapinhas nas costas. – Até mais.- Fitou brevemente a irmã com carinho e logo depois saiu sem pestanejar.
Se ficasse mais, se remoendo, pensando, lacrimejando, de nada adiantaria estar lá, não daria força alguma mostrando sua preocupação. Era melhor sair, espairecer, ir para casa e tomar uma chuveirada. Depois voltaria.
Duas batidas à porta foram ouvidas. Estranhou.
- Entre.- Virou-se para trás, para verificar quem era. Leve surpresa. - Syaoran.
- Boa noite. Vim ver como estão as coisas.- Evitara mencionar diretamente Sakura, receoso de parecer íntimo demais.
- Melhores. Tudo correndo bem, dentro de dois dias, no máximo, sairemos daqui. – Incluiu-se à desconfortável situação. Também sentia dor, também sofria.
- Que bom.- Disse por último.
Um silêncio incômodo para Li se instalou, o deixando terrivelmente desconfortável. Sentiu-se ainda mais deslocado ao ver o amigo levar as mãos às têmporas. Não agüentaria ver seu amigo chorar por uma mulher por quem também nutria algum tipo de sentimento. Colocou uma mão no ombro de Kiyohide.
- Calma. Talvez ainda amanhã tudo voltará ao normal, você vai ver.
- Tomara...
- Sakura é forte. Superará tudo isso, acredite.
- Sim, Syaoran, eu acredito.- Sua voz assemelhava-se a um fio.- Mas me dói tanto... – Baixou a cabeça.
Disse com alguma dificuldade, depois de alguns segundos de silêncio.
- Kiyo... Você a ama muito, não é mesmo?
O jovem virou-se para Syaoran, e o sorriso que lhe deu não era forçado, porém triste:
- Muito mais do que você pode imaginar. Ela é tudo o que tenho, Syaoran.- Fez uma pequena pausa, como para buscar as palavras que descreviam os sentimentos que neste momento estavam embargados no seu coração.- Pode me considerar um tolo apaixonado, não nego, mas... Meu chão, meu ar... Tudo o que considero elementar à vida é menos necessário para mim do que tê-la. Pode ser um egoísmo meu, mas é isso o que sinto. Sinto necessidade de amá-la, de ter junto a mim esse sentimento tão...- Não achava palavras.
- Nobre?
- Também.- Sorriu novamente.
Syaoran, ainda de pé atrás de Kiyohide, observava Sakura, lembrando-se do passado. Será que ele também sentiu esse sentimento quando mais jovem? Será que o seu 'amor' – sentimento que julgava ser amor - era assim, tão puro como o do seu amigo? Não sabia, não queria agora passar horas em pé, refletindo sobre seu passado. Isso poderia fazer depois. Mas no momento... Fitou melhor o rosto tão sereno da bela mulher. Sentia o mesmo que o amigo? Com certeza não, poderia responder com firmeza. Sakura, agora, não era o ar que respirava, não era o solo no qual obtinha apoio, não era seu mundo, mas algo ainda o atraía... E esperava algum dia ainda descobrir o que era.
Sentindo-se desconfortável por estar pensando tanto na esposa do amigo, mexeu-se um pouco, quebrando o silêncio cortante.
- E a empresa, como ficou?
- Para isso também existem os vice-presidentes e diretores. A empresa agora é o que menos me importa.
- A sim...- Interrompeu-se ao ver Sakura se mexendo. Provavelmente ela iria acordar, e preferia sinceramente não estar por perto quando isso acontecesse.- Só vim ver como tudo estava, Kiyo, preciso ir.
O homem de cabelos negros levantou-se, dando um abraço no amigo para despedir-se.
- Obrigado novamente por tudo.
- Imagina, fiz o que qualquer um teria feito. Até mais.- Saiu.
Sakura movimentou-se vagarosamente. Sentia-se cansada. Ao abrir os olhos, ouviu seu nome baixinho e sentiu uma mão passar pelo seu rosto.
- Meu anjo....
- Kiyo...- Não precisou de muito para saber quem era. Não eram muitas pessoas neste mundo que tinham prometido estar com ela sempre que precisasse.- Há quanto tempo estou aqui?- Fitou o azul límpido dos seus olhos.
- Umas seis horas.
- Nunca senti tanto frio na minha vida como naquela hora...- Fitou-o. Suas mãos se entrelaçavam com a do marido.- Foi Syaoran quem me trouxe?
- Sim. Se lembra de tudo?
- Até o momento em que desmaiei.
- Seu irmão já esteve aqui, mas teve que sair. Tomoyo deve chegar daqui a pouco.
- Não quero que se preocupem tanto...- Fechou os olhos devagar, para depois abri-los novamente, exibindo seu precioso verde.
- Sakura...- Soltou as mãos delicadas de sua carícia e passou a mãos por todo o seu rosto.- Você me parece quente...- Ela suspirou, cansada.- Vou chamar um médico, já volto.- Disse resoluto, com uma expressão preocupada no rosto.
Kiyohide levantou-se apressado da cadeira onde estava, quase a derrubando. Abriu a porta e por sorte encontrou o médico passando no momento. O senhor de branco entrou e constatou: febre.
- Ela acordou agora?- Examinava-a superficialmente.
- Sim.
- Você não percebeu nada de anormal?
- Não, por que? Algum problema?
- Não, nenhum.- Chamou uma enfermeira.- O senhor poderia nos dar licença, por favor?- Foi empurrando-o disfarçadamente para fora do quarto.- Obrigado.- Fechou a porta.
Kiyohide olhou resignado para o quarto, fechado. Dirigiu-se para a sala de espera, apenas o que poderia fazer agora era esperar.
- Vamos logo, Eriol, por favor.- Disse, vendo o homem à sua frente arrumar os punhos da camisa.
- Calma Tomoyo, já estou indo. Ou vai me dizer que se eu demorar mais um pouco vai me deixar aqui?- Sorriu, brincalhão.
Tomoyo pegou a chave do carro de suas mãos e abriu a porta de casa.
- Você vai ou fica?- Disse nervosa, causando riso no marido.
- Tomoyo... Touya disse que já está tudo bem com a Sakura.
- Ela é minha amiga, Eriol! Não consigo ficar parada sem saber se está tudo bem com ela no momento.
- Certo, certo...- Sentiu lhe puxarem a perna da calça e abaixou-se para amarrar o tênis do filho.- Mas quem ficará com as crianças? Elas não podem fazer visitas no hospital.
- Ai....- Tomoyo fez uma expressão preocupada.- Não tinha pensado nisso.
- Vamos logo.- Pegou Mihoshi no colo.- Eu te levo até lá e fico no carro com as crianças ou vamos tomar sorvete.
- Sorvete!!- Ouviu a decisão da opinião infantil.
Tomoyo não pôde deixar de sorrir. Era inegável, amava sua família com todo seu coração.
- Tudo bem, vamos então.
- Tomoyo...- Levantou-se ao ver a amiga se aproximar.
- Como está a Sakura?- Cumprimentou-o.
- Acordou agora a pouco, me parecia um pouco cansada.
- Posso vê-la?
- Agora o médico a está examinando. Ela tinha um pouco de febre.
- Hm... Ah! O Eriol virá depois, ele está com as crianças agora.
- Tudo bem.- Sorriu.- Diga a ele que não precisa se preocupar com isso.
- Senhor Ogawa.- Ouviu lhe chamarem.
Virou-se. Era o médico.
- Sua esposa não poderá ter alta amanhã.
- Não?
- Não. Foi medicada, mas enquanto tiver febre não poderá sair do hospital em hipótese alguma.- Tinha a voz séria.- Com licença.- Finalizou, dando-lhes as costas e caminhando em outra direção.
- A alta estava prevista para amanhã?- Sentaram-se.
- Talvez, se tudo corresse bem.- Esfregou as mãos no rosto.- Mas agora... Ela ainda está em risco... Ela e o nosso filho...
- Calma Kiyo... Vai dar tudo certo...- Falou com um olhar entristecido.
- Acredite, é o que eu mais quero Tomoyo... O que mais quero...-Fechou os olhos tão azuis.
Seu coração se dilacerava por dentro. Não podia acreditar que isto realmente estava acontecendo em sua vida. A possibilidade de perder toda a sua família lhe era terrivelmente assustadora, mas ao mesmo tempo tão real... Quase podia sentir o sopro da morte lhe arrancando dos braços tudo o que lhe era mais precioso. Aquele cheiro que dominava o ambiente do hospital lhe dava a sensação de estar mergulhado num oceano de tristeza, de incertezas, onde na transição dos segundos podia ter tudo novamente para si, ou experimentar o gosto de não se ter nada.
Cinco dias depois...
Abriu a porta vagarosamente, dando passagem para Sakura passar, fechando-a logo em seguida. Aproximou-se da esposa:
- Seja bem vinda...- Lhe sussurrou próximo ao ouvido, com um sorriso nos lábios.
Sakura sorriu, feliz. Estar em casa novamente nunca tinha sido tão bom em toda a sua vida.
Kiyohide pegou a pequena mala e os vários ramalhetes de flores que os alunos haviam mandado para Sakura nos braços, mas largou tudo novamente no chão ao ver a esposa se aproximar da escada que levava aos quartos, indo ao seu encontro.
- Onde a senhora pensa que vai?- Colocou-se à sua frente, a impedindo de continuar.
- Hm...- Encostou o dedo indicador no queixo.- Acho que pro meu quarto, se é que ele continua lá em cima.- Fingiu um olhar duvidoso.- Continua, não?
- Com toda a certeza, minha dama e senhora.- Sakura riu.- Mas sabe que não pode se esforçar, Sakura.- Sua voz tomou tom de seriedade, a fitando profundamente.
- Eu vou ter que subir e descer essa escada todos os dias, Kiyo.- Soltou um gritinho de surpresa ao se sentir sendo pega no colo.- Ei, não estará aqui o tempo inteiro para me "ajudar" a subir e descer todos os dias.- Passou os braços ao redor do seu pescoço, se acomodando.
- Realmente.- Tomava o máximo de cuidado com os degraus.- Mas você não precisará descer. Aliás, você não descerá mesmo.- Piscou.
- Como não? Lá embaixo fica a cozinha, a sala, e a única porta de saída que uso para ir trabalhar também fica lá embaixo!
- Ah, não se preocupe.- Disse com pouco caso.- Aqui em cima há uma sala que podemos, pelo menos temporariamente, transformar em sala de jantar, Emi cuidará disso. E quanto a trabalhar... Sinto muito, mas está proibida.
- Como proibida?- Kiyo parou e aproveitou para descer.- Quem me proibiu?- Abriu a porta do seu quarto e entrou levemente revoltada, sentando-se na cama.
- Hm... O médico...- Sentou-se ao seu lado.- Tomoyo... E tem mais uma pessoa...- Passou um braço pelos seus ombros.- Ah, acho que fui eu.
- Bobo...- Disse segurando o riso, o empurrando levemente.- Mas...- Fez cara de sofredora.- Precisa mesmo? Você e a Tomoyo sabem que meu trabalho na escola não exige esforço físico...
- Não senhora. O máximo que podemos fazer neste caso é trazer toda a sua papelada para cá. Que tal?
- Bom... Não é bem o que eu queria, mas pelo menos vai me impedir de sentir tanto tédio.- Revirou os olhos.
- Puxa.- Fez-se de ofendido.- Ficar comigo te traz tanto tédio? Se for assim, vou anular essa semana de folga que tirei...
- Jura?- Exclamou surpresa. Semana se folga... Isso era raro. Muito raro.
- Sim.- Sorriu seu melhor sorriso.
Sakura fitou o rosto tão querido. Ele sempre a surpreendia das mais maravilhosas formas. Talvez por isso o adorasse tanto... Contemplou as belas feições, e mais uma vez fascinada pelo seu olhar intenso, beijou-lhe carinhosamente nos lábios. Separaram-se.
- Já volto. Vou buscar as coisas que deixei lá embaixo.- Kiyohide disse antes de sair porta afora.
Sakura concordou fazendo um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto se ajeitava na cama, encostando-se na cabeceira desta. Sentia a cabeça latejar um pouco, e a indisposição começava a lhe incomodar levemente. Tinha passado mais duas noites com febre, por isso não fora liberada logo. Olhou para seus pés. Estavam inchados. Suspirou, enquanto fechava os olhos. Nunca tinha imaginado que sua gravidez seria assim, conturbada. Aliás, precisava agradecer a quem tinha lhe levado ao hospital a tempo e salvado tanto a sua vida quanto a do seu filho. Acariciou o ventre. Não queria, mas teria que ver Syaoran novamente. Era muito grata à sua atitude, e... Bem, quem sabe não lhe daria uma chance de falar o que ele tanto queria?
Continua...
N/A: Perdão de novo pela demora, mas não vou dar desculpas esfarrapadas para vocês. Demorou e pronto, o que posso fazer é providenciar o próximo o mais rápido possível. O capítulo ficou chatinho (e erradinho), todo dentro de um hospital, mas fazer o quê? Talvez esperar pelo próximo. .
Um suuuper obrigada à: MéRRy, Nina-Kinomoto Li, Miyazawa Yukino-Erika, Anna, Nakizinha, Rê chan, Miaka Hiiragizawa, Yoruki Mizunotsuki, DarkAngel, Jenny-Ci, Violet-Tomoyo, Madam Spooky, Dai, Cherry Hi, Arwen Liliana Demonangels e às garotas que perguntaram sobe a continuação. Isso me deu muita força pra voltar a escrever. E não esqueçam, a opinião de vocês é a coisa mais importante que posso receber.
Bjos,
Hime (fã do
Matthew, o bichinha mais alegre já visto)
