Trapped in
purgatory
A lifeless object, alive
Awaiting reprisal
Death
will be their acquisition
The sky is turning red
Return to
power draws near
Fall into me, the sky's crimson tears
Abolish
the rules made of stone
Pierced from below, souls of my
treacherous past
Betrayed by many, now ornaments dripping
above
Awaiting the hour of reprisal
Your time slips
away
Raining blood
From a lacerated sky
Bleeding its
horror
Creating my structure
Now I shall reign in blood
I – Rainning Blood
13 de abril de 1950.
Ela sempre se orgulhou de ter nascido no mesmo dia de seu mestre e, mais ainda, de ser uma das poucas privilegiadas a saber disso. Trinta anos antes, num mesmo 13 de abril nascia seu Mestre, e ela cuidava de estar na companhia dele nesses dias porque sabia que ele diria "Que dia é hoje Bellatrix?" com aquele tom de voz poderoso e que apenas ela sabia ser amistoso, na verdade, era quase brincalhão Só ela podia entender. "É treze de abril meu mestre, treze de abril" , ela dizia em agitação quase febril, eufórica, de uma jovenzinha que se encontra com seu cantor favorito. Era sempre assim. Ano após ano. E ele quase lhe sorria por trás daquele rosto desfigurado e lhe dava a ordem qualquer que fosse necessária naquele dia.
Ela o amava.
Uma vez, quando contava uns 16 anos, até pesquisou nos arquivos do Ministério da Magia – e o emprego de seu pai lhe facilitava muito isso - para saber que tempo fazia no dia de nascimento de seu mestre e ficou ainda mais vaidosa ao saber que tinha sido uma madrugada muito quente. E que ela também nascera, como sua mãe lhe contava insistentemente quando ela era criança, na madrugada mais quente dos últimos 10 anos. Eram coincidências que iam além das coincidências ou, ao menos, era assim que Bellatrix sempre pensava quando esse assunto lhe ocorria. Ele e ela estavam ligados desde sempre. Ele estava na cidade quando ela nasceu. No mesmo dia, possivelmente na mesma hora (não havia registros do horário de nascimento de Tom Marvollo Riddle), nas mesmas condições climáticas ele nascia algumas décadas antes. Estavam destinados a se encontrarem. Ela estava destinada a ser sua serva. Sim! A melhor, a mais amada, a mais eficiente... Ela, Bellatrix Black, e não nenhum daqueles outros tolos! Ela! E não havia dúvidas de que ela era a favorita. Porque não seria? Era a melhor, a única que amava a Nobre Causa tanto quanto o mestre. Em alguns dias, no começo, até amava os Comensais. Mas isso não acontecia muito... Eles eram massa de manobra. Não eram inteligentes como ela ou seu mestre. Sendo assim, como não seria ela, a favorita?
Muitas vezes ela achava que só não tinha deixado toda sua sanidade em Azkaban porque marcava os dias nas pedras da parede e podia sorrir todo o dia 13 de abril. Não contava seus anos, nem os dias na prisão: contava os anos do seu Lord das Trevas. Tinha certeza da sua sobrevivência e esperava sua recuperação e seu resgate de uma forma que, em Azkaban e seu contexto macabro, podia ser chamado de calma .
Azkaban. Ela não gostava de lembrar.
Quando ela era uma jovem seguidora do Lord das Trevas nunca poderia imaginar o que seria aquela prisão. Jamais parara pra pensar na possibilidade de ser presa ou dos Comensais serem derrotados. Seu Lord derrotado era inimaginável. Nunca! Aquela era uma organização fadada ao sucesso. Eles iam vencer porque tinham a doutrina que salvaria a raça dos bruxos de uma miscigenação destruidora e voraz. Iam vencer porque iam purificar o mundo do sangue ruim e das mentes pequenas. Iam vencer porque tinham o bruxo mais poderoso do mundo ao seu lado. Iam vencer porque iam. Porque tinha que ser.
Ela tinha só 14 anos...
14 anos e os cabelos negros mais bonitos de Hogwarts. Ok, talvez não. Sirius tinha cabelos tão bonitos quanto os dela. Na verdade, eles mais pareciam irmãos do que primos. Os dois com os pares olhos negros profundos e completamente insondáveis. Só o Mestre sabia o que Bellatrix pensava, ele sempre sabia. Bellatrix não sabia nada do que Sirius pensava, mas o Mestre saberia. Se ele não fosse tão arredio, tão tolo... Se ele não andasse em tão má companhia... Se ele parasse de se debater contra seu destino, ele seria grande! Sirius seria bom para o Mestre. Seria bom para os Comensais. Bellatrix sabia. Ela era muito boa em achar novos talentos. Tinha só 14 anos quando conheceu o Mestre. 14 anos quando recebeu sua honra. 14 anos e uma Marca Negra no antebraço. E Sirius podia ser um membro ainda mais novo se não fosse tão... grifinório! Mas não tinha tanta importância. Muitos grifinórios eram bons Comensais. Alguns eram da elite! Claro que outros eram lixo, mas isso não importava, Sirius não seria medíocre. Os Black não foram talhados para a mediocridade. Sirius e ela. Tão parecidos quanto irmãos. A mesma altura. Os mesmos olhos. O mesmo formato do nariz e cor de cabelos.
E só.
Não eram parecidos por dentro. Entranhas e filosofias. Ela achava que ele era só rebelde, que acabaria vindo. Todos acabariam concordando. E aqueles que não compreendessem a necessidade da doutrina do Lord das Trevas seriam simplesmente eliminados juntos com os trouxas e mestiços. Mas não Sirius... Ele era tão inteligente! Imagine, acordou para o Dom com apenas 3 anos! Como ela... Como o Mestre... Ele tinha potencial! Claro que ele largaria sua rebeldia ou, ao menos, a canalizaria para o caminho certo. Ele viria, ela tinha certeza com 14, 15 ou 16 anos... Ele viria.
Foi um erro doloroso.
Ele nunca veio.
Ela tinha 17 anos e estava casada. Rudolphus Lestrange era um homem apropriado. Era membro dos Comensais, era vinte anos mais velho, era muito rico e pedira pessoalmente ao Lord a mão da jovem. Era perfeito. Não era bonito mas não deixava a desejar. Era forte e saudável, tinha bons ossos e pulmões, e era tido pelo Lord em alta conta. Tanto que lhe concedeu a mão da moça mais cobiçada dos Comensais. A única com cérebro, como Bellatrix mesma poderia afirmar. Lestrange era um homem apropriado. Tinha bons genes e bons modos. Eles conceberiam e educariam bons filhos para o Lord, se Bellatrix não tivesse pedido ao mestre que a esterilizasse.
Aborto e esterilização. Sirius nunca soube.
Que diferença fazia? Estava morto agora. Teria sido um aborto de qualquer forma. Poupou-se e ao mundo de um incestozinho de olhos negros. Poupou-se. E perdoou-se. Livre para prosseguir. Graças ao Mestre. O Mestre foi bom pra Bella... Bella vai ser boa pro Mestre... Bella vai ser boa pro Rudolphus...
Lestrange casou-se com ela sabendo de sua condição. Rudolphus casou com ela pela sua condição. Talvez, ela pensou um dia entre as grades de Azkaban, ele a amasse. A amava certamente. Um homem que abdica de seu nome. Que abdica de sua honra... Ele a amava. E era um bom Comensal. Um homem forte, um sobrevivente como ela, como o mestre e como Sirius. Ela achou que podia amá-lo. Mas não podia. Amou o Mestre e amou seu crime. Ela tinha só 17 anos. E aquilo era tudo.
Sempre foi uma boa dançaria e sempre ficou muito bem de vermelho. Casou de vermelho como as sacerdotisas antigas. Achou-se muito bonita, embora achasse que Narcissa, aquele jeito abobado, aquele vestido justo estivessem lhe roubando a cena. Que seja! Narcissa era uma idiotinha e sempre seria. Como Andrômeda. Nenhuma delas entendia. Nenhuma delas era. Nenhuma delas tinha condições para ser do círculo íntimo de Mestre, de falar com ele, de ser ensinada por ele. Rudolphus disse que ela era a mulher mais bonita do mundo. De vermelho. Lembrou-se disse quando esteve em Azkaban. Nada é vermelho naquele lugar. É tudo verde musgo e cinza, úmido e feio. Bellatrix estava linda em seu casamento. Dançou até raiar o dia na sua festa de enlace. Adorava dançar! O Mestre felicitou-a e ela quase achou que era muito feliz.
Os dias passam depressa quando se é jovem os dias de Bellatrix correram. Explosões assassinatos, torturas, gente que some, gente que fica sem pedaços, gente que sofre, gente que precisa confessar o que sabe. Os dias da juventude de Bellatrix. Vermelho sangue. Suas irmãs tinham outros dias. Namorados e cor-de-rosa. Ela não. Tinha suor, sangue e poções que fediam. Aprendia tudo com seu mestre. Era a melhor. Ofuscava a todos os outros. Malfoy certamente a odiava. Todos eles a odiavam. Invejavam. Mas formavam um bom time. Nunca ninguém cortou a língua de alguém tão bem quanto Julius Crabbe! Divertiam-se. Ninguém jamais soube enlouquecer uma pessoa como Bellatrix Lestrange. Ela lhes tirava tudo, nome, endereço, melhores amigos, cores favoritas, fantasias sexuais... Tudo. E os enlouquecia no final. Suas mentes ficavam vazias. Tolos. Divertia-se e eles gostavam de assistir. Malfoy era um maníaco, completamente maluco e pervertido. Ele gostava de ver quando Ted Goyle espancava as pessoas. Ele sorria, ele estalava os dedos e batia os pés de satisfação. Mas nunca tocava em nada, nunca sujava suas belas capas de veludo. Maldito maníaco era aquele Lucius Malfoy... Bellatrix ria-se, divertia-se. Gostava de pisar no sangue ainda quente, pisar nos seus rostos com botas de salto agulha. Gostava.
Os Longbotton foram os mais divertidos. Eram tão estúpidos, tão adoráveis! Sabiam muita coisa. Disseram tudo. Pastas, arquivos, senhas, endereços. Tudo. Não seria justo dizer que foi um trabalho fácil. Não sobrou nada dentro deles. Seu bebê roliço e saudável. O que é que uma mãe não diz para não ver seu bebê morrer? A gente incrimina qualquer um, a gente dá qualquer nome. Seres humanos sempre querem se salvar. Sempre querem salvar a espécie. Longbotton tinha um medo doentio de ratos. E como aquela cela era cheia deles! Eles disseram tudo. Durou três meses. Mas eles contaram tudo que o Mestre queria saber. Aquela criancinha gorducha. Tinha vontade de morder-lhe a bochecha. O casal Longbotton tinha bochechas muito redondas. O que é que um marido não diz na iminência de ver a mulher ser violada por um animal feito Crabbe? Lucius divertiu-se muito naquela noite. Bellatrix trabalhava. O que pode ser melhor do que um trabalho divertido? Uma pena Severus não estar mais aqui... Ela pensou preguiçosa. Poderia aproveitar tudo como Malfoy ou Smithers ao invés de ficar com toda a responsabilidade. Mas não podia pensar assim. Não podia ter preguiça de fazer seus deveres. Severo estava morto. Era um traidor maldito. Morreria logo. Mas bem que podiam arrumar alguém que soubesse vasculhar a mente deles sem isso. Odiava esses ratos correndo para todos os lados e mordendo as laterais das suas botas e a barra da sua capa.
E – que diabo! – no fim das contas o bebê Longbotton era o bebê errado!
Ao menos houve um pouco de diversão.
Regulus chorou. Tolo. Ela sempre soube que ele não era como Sirius, ela disse ao Mestre, ela sempre disse. Ele chorou como uma criança para que eles parassem de machucar aquelas pessoas. Podia com qualquer coisa mas não podia ver um bebê sendo ferido. Idiota! Era novo demais, idiota demais! Nunca suportaria a vida que ela levava. Nunca seria bom o bastante para sustentar a causa que defendiam. Era um fraco. Devia ter se escondido em baixo das barbas de Dumbledore. Regulus Black. Priminho."Mate-o Bellatrix" .
Um idiota a menos no mundo.
Regulus Black morreu antes de saber que tinha ganho a aposta. Os Comensais apostaram em quem seria o bebê da profecia (nenhum deles acreditava em tal bobagem de profecia), e Regulus teria faturado 40 galeões, sozinho.
Apostou em Potter.
O bebê certo era uma coisinha mirrada e mestiça. Que horror! Que profecia mais ridícula! Como um mesticinho ia arruinar o mestre? Mas o Lord das Trevas acreditava nas profecias, não se podia discutir o assunto. Bellatrix tentou. E nunca sentiu tanta dor na vida. Será que tinha sido assim com os Longbotton? Provavelmente, porque ela se lembrava bem de ter visto a mesma expressão sádica nos olhos de Malfoy. A dor passou, sempre passa. Ela pediu perdão e recebeu o que merecia. Mais dor. Mas a dor passa e ela nunca mais contradisse o Mestre. A dor sempre passa. Foram buscar a criatura. Escondida, lacrada, fugida. Malditos Potters! Lembrava-se deles da época do colégio. Gente metida e insossa. Amigos de Sirius. Ah! Mereciam mais do que ter seu filho tomado. Mereciam morrer. Dor! Mereciam muita dor! Estavam atrasando o Mestre e a dominação mundial. Estavam atrasando todos aqueles planos sagrados! Tudo para esconder um bebê que nem tinha todos os dentes. Bebês morrem o tempo todo! Mas aquele era resistente. Que horror... Sete meses como ela. Terrível! Tudo por uma profecia furada que só lhe causava dor. Cruciatus. Pelo cão de Hades, como aquilo doida! E o Mestre lhe fazia na frente dos rapazes, para humilhá-la mais. Tudo bem, ela merecia, ela duvidava do Mestre, ela merecia. Queria trucidar aquela criança. Como queria!
Pedro
era uma criatura deprimente. Rechonchudo e estúpido como um
leitão. Lembrava-lhe dos Longbotton. Mas não pode
feri-lo. O Lord gostava dele. O trava-o bem, o Mestre o trouxe para o
lado certo. Ele sabia do bebê. Ele enrolava, dava condições
e o Mestre jurava atender todas. Poder, uma boa casa, prestígio,
um bom cargo no novo governo. Claro, claro..., o Mestre mentia.
Aquele era um grifinório especialmente estúpido. Pobre
rapaz, não sabia que ia morrer depois de dar a senha? Sabia...
Rapaz esperto. Era a chave do feitiço. Ia levar o Mestre até
lá. Tolo! Achava que isso lhe garantiria a vida. Não
ia. Tolo! E os Comensais achando que a chave do enigma seria
Sirius... Não, os Potter queriam morrer, tanto que entregavam
seu destino a pessoa mais tola que conheciam! Bellatrix não
confiava nele. Pediu, chorou e agüentou a dor das maldições
para implorar poder ir com seu Mestre. Não confiava naquele
rato. Queria Snape de volta para vasculhar aquela cabecinha achatada.
Nunca sentiu tanta dor antes, mas a sensação sempre era
essa. Desejara a volta de um traidor e duvidara do Mestre. Estava se
tornando uma serva ruim. O Mestre podia querer livrar-se dela só
para provar que ela não era necessária. Mas era! Podia
ter toda dor que ele pudesse causar, ela era mais do que útil,
era necessária. Como uma varinha é para um bruxo. Era o
melhor instrumento do Lord e tinha um pressentimento terrível
quanto aquele noite. "Não crê nas
profecias mas crê nos pressentimentos? É uma boa serva,
Bellatrix, mas é mulher e isso te trás as limitações
do seu gênero".
O Mestre era um tolo.
A dor de ter ousado aquele pensamento durou mais de 26 horas.
Foi pior do que uma eternidade em Azkaban.
Azkaban. Foi o que veio depois. Ela se lembrava de gritar e se debater, de rir deles por não conhecerem os feitiços mais eficientes de imobilização. Ah! Os Comensais estavam há anos luz em desenvolvimentos de feitiços! Riu deles por seus olhos assustados diante dela. Uma mulher! Nunca teriam imaginado. Frágil e delicada. Mas tinha bons pulmões e berrou para quem quisesse ouvir que não ia trair seu mestre. Nem seus companheiros, embora soubesse que eles alegremente diriam seu nome quantas vezes fosse preciso. Ela disse a verdade. Eu fiz. Eu fui. Eu acredito. Rudolphus também. Ficou feliz de estar casada com um homem que não a envergonharia diante do Mestre. Quando ele voltasse daria a todos a recompensa que mereciam, castigaria os traidores. Como aquele maldito Malfoy. Ficou sabendo que ele tinha contado uma história sobre ter sido enfeitiçado. E os tolos do Ministério engoliram isso. Ou quiseram engolir, afinal de contas, nesse mundo não há nada que algum dinheiro não resolva. Malfoy, Crabbe, Goyle... Estavam todos livres. Eram inocentes. Negaram o Lord das Trevas e pagariam por isso. Ela não o abandonaria. Azkaban. Os piores 15 anos da sua vida.
Passaram devagar como o inferno...
Paredes cinzentas, umidade, chuva entrando pelas pedras, gritos durante a noite. Sirius. Ele estava lá. Ela o ouviu berrar. Ela ouvia sempre. Deviam estar próximos ou ele urrava muito alto. Tinha recebido a culpa do rato e o rato fugira. Podia ouvir os gritos dele. Era inocente. Isso a fazia rir, ela ria, ria, ria... Riu mais em Azkaban do que tinha rido em toda sua vida anterior. Ria! Aqueles monstros sem olhos! Depois do terceiro ano ela notou como eles eram engraçados. Ela ria. E Sirius gritava. Ela ria. Ria. Ria. Estavam todos juntos agora. Rudolphus não dava um pio. Nunca. Era um homem forte. Ela ria, ria, ria. Aqueles monstros sem olhos querendo esvaziá-la. Naquele dia 13 de abril, o sétimo, ela colou o rosto na grade, o Dementador estava lá. Seus rostos quase se tocaram, se por ventura se pudesse chamar aquela massa cega de 'rosto'.
Ela sorriu. E riu. Gargalhou.
"Está tentando me esvaziar? Está tentando? Quer me deixar oca?", ela tocou o rosto da criatura e gargalhou mais alto do que já se ouvira antes naquele lugar, "Eu já estou vazia. Sempre estive. Você não vai tirar nada de mim, porque não há nada em mim pra você roubar" . A criatura foi embora e ela soube que ganhara. Sempre ganhava, não?
Sirius deixou de gritar pouco tempo antes de a criatura sem rosto vir libertá-la. Sorriu. Eram do mesmo lado agora. Todos se voltando, renascendo. O Mestre sempre esteve vivo. Viera libertá-la. Seu amado, adorado, perfeito, seu Senhor. Ela sabia que ele viria. Ela foi ao seu encontro. A primeira a chegar, a Marca doía como a muito tempo não fazia. Era a sensação mais intensa dos últimos 15 anos. Aquela dor no antebraço, e seu Lord vivo novamente. Olhou com desprezo para os traidores, mas compreendeu que eles eram necessários. Tinham credibilidade no mundo de Dumbledore. Morreriam depois, ela sabia. Ela não. Ela ia ficar. Ia ser Ministra da Magia quando o Lord das Trevas fosse Imperador do Mundo Mágico. Soube da loucura permanente dos Longbotton e decepcionou-se. Achou que os tivesse matado. Que seja.. O rato estava de volta. Um braço metálico, forte... Sentiu uma furiosa inveja. "Mestre eu teria lhe servido melhor! Eu teria lhe dado uma parte de mim! Eu esperava por isso! Eu faria isso!" . Não confiava no rato, tinha medo de seus pressentimentos porque eles já tinham se confirmado uma vez. O Mestre não a feriu. Não sentiu mais dor. Ele lhe deu roupas vermelhas e pretas e pediu que ela esperasse. Iam recomeçar de onde tinham parado."E para isso eu preciso de você inteira, Bellatrix" . Sorriu. O Mestre disse que gostava quando ela ria. Azkaban tinha lhe dado um belo sorriso, dizia o Lord das Trevas. Ela sorria mais. Ela ria. Fazia-se ouvir.
Em abril de 87 Malfoy achava que Bellatrix estava completamente louca. E Snape era mesmo um traidor, dos grandes. Vivo. Que importava? Todos morreriam. Já eram mortos. Mortos que andavam e falavam, mas eram mortos.
Bellatrix estava viva.
E seu Mestre.
E Sirius.
E havia ainda o pequeno Potter, mas este tinha que morrer.
Sirius já estava morto. Agora era só pegar o menino. Pobrezinho. Lembrou-se do bebê gordinho e adorável dos Longbotton, lembrou-se de outras coisas esquecidas. As criaturas sem olhos de Azkaban lhe faziam lembrar. Sirius estava morto. Ou não. Além do véu. Ela sabia o que tinha lá. Algum torturado tinha contado. O Mestre haveria de precisar daquilo que havia por trás do véu. E Sirius estava lá. Menos mal que tivesse acertado o feitiço. Alguém que caísse vivo por de trás do véu poderia ser um empecilho para os planos futuros do Lord. Mas Sirius estava morto. E logo seu afilhado assustado também estaria. Estava desprotegido agora.
Não eram mais um casal, Rudolphus e Bellatrix. Nunca tinham sido, mas haviam se enganado bem e a todos melhor ainda. Agora eram só células dos Comensais. Eram agentes, servos, membros e instrumentos de Lord das Trevas. Sirius estava morto e ela não sentia mais nada. Malfoy e Narcisa estavam vivos. Casados. Tinham aquele filho bonito. Estúpido, mas bonito. Ela era a varinha nas mãos do Mestre. 32 pessoas morreram no primeiro ano de Bellatrix fora de Azkaban. Era uma boa serva. Agora eles morriam depressa naqueles dias, ninguém mais perdia tempo enlouquecendo pessoas, e isso tirava muito da diversão... O Mestre tinha pressa e agora era tudo só trabalho. Logo o mundo seria nosso... dele! Dele. O mundo seria Dele . E eles poderiam se divertir o quanto quisessem com os trouxas. Mas agora era trabalhar. Matar, caçar, descobrir, pegar. Harry Potter era escorregadio, mas ia ter que ceder. Era só um menino e eles eram fortes, espertos. O menino ia ter que ceder. Mas ela tinha pressa! Queria seu cargo e queria o já! Queria belas roupas de cetim e seda, queria seu nome numa estátua. Céus, ela tinha nojo de si mesma as vezes, nessas vezes em que falava como Malfoy. Mas que seja! Todos eles eram como Malfoy quando tinham tanta pressa.
O Mestre achou que era o momento e Bellatrix não temeu nem teve pressentimentos ruins. Venceriam. Ele entraria por de trás do véu. O passado. O véu do passado, o único portal que restara para o passado. O passado que antes o arruinara agora iria lhe servir. Quando ele voltasse daquele portal o mundo seria outro, a guerra estaria ganha antes mesmo de começar. O portal! O prédio do Ministério fora construído ao redor dele. Aliás, Londres, fora construída ao redor daquele portal... Agora o Mestre tinha forças, tinha o feitiço exato para entrar e poder voltar.
A despedida foi curta e a espera não foi longa.
Como as ovelhas perdidas esperam o Messias, os Comensais esperavam o Lord das Trevas: temerosos e silenciosos. Esperavam com os olhos postos no relógio a alteração do passado.
Então... Eles!
Espalhafatosos como sempre, era possível prevê-los com segurança a qualquer hora do dia ou da noite. Aquele bando de criancinhas correndo e pulando pelo bunker como se aquilo fosse um jogo de recreio. Bellatrix achou muita graça da sua valentia, tinham aprendido bem nos últimos anos. Só usou feitiços de defesa (sendo que a maldição Cruciatus era considerada uma manobra defensiva) enquanto esperava que eles se desfizessem como açúcar na água. Eram tão doces... Esperava rindo e atacando que eles deixassem de existir. O Lord das Trevas logo terminaria o que fora fazer no passado e tudo estaria resolvido. Todas aquelas crianças achando que iam salvar o mundo eram divertidas, lembravam Sirius naquela derradeira noite. Achando que era importante. Pobrezinho...
Mas eles não estavam brincando. Lucius estava morto. E Navarro. E Rummerfeld. Estavam todos mortos. As crianças não estavam brincando. Algum bebê de cabelos de fogo estava morto. Outro de olhos muito azuis e cabelos enroladinhos. Uma menina berrava de dor. Bellatrix ria. Já passara da meia noite, era seu dia. Ria. Quem sabe fosse mesmo louca. Sentiu uma cócega dentro de si, entre o intestino e os rins. Percebeu que era dor. Um tipo ridículo de dor. Dor. Um rapaz de rosto muito vermelho, severo como um pai lhe esperava de varinha em punho. Adorável! Tinha lançado um Cruciatus nela... Lembrava bem dessas bochechas rosadas. A dor foi um pouco maior. Ela riu. Seu Mestre lhe ensinara a suportar a dor. Não havia ódio. Tolo! Ela matara seus pais e ele sequer podia odiá-la. i Fraco/i
Sentiu algo no ponto da dor. Escorria. Sangue! Ele não lançara um Cruciatus e sim um feitiço de perfuração. Rasgada meio como uma trouxa barata. Suja. Ela riu enquanto observava as cores do menino se apagarem. Todas as cores se apagavam lentamente. Ele lhe esfaqueara, como um maldito i trouxa /i faria. Ela sentiu suas forças se esvaindo e olhou para o véu que não se movia. Onde estava o Mestre? Ele viria... Ela seria Ministra da Magia... Doía um pouco mais. Mas o jovem Longbotton estremeceu de dor. Não por muito tempo, as forças dela iam pelo chão com o sangue arterial. "Temos idade pra ser mãe e filho. Você não tem mãe e eu não tenho um filho". Gargalhou sentindo a dor com alegria. O Mestre viria. Estava vencendo. Iam todos entrar pra história. Ele não falava. Tentou fazê-la sentir dor.
"Tolo...
Não há ódio... Não há dor..."
Não havia matado os Longbotton. Sorriu desafiadora para o menino. Esperou a morte pelas mãos daquele garotinho. Um jovem rapaz. Podia ter tirado-lhe a vida há muitos anos, mas ele vivera pra contar. Porque ela permitira. Viveu para tirar-lhe a vida. Ela quis gargalhar, mas não pode. O sangue corria vertiginosamente pelo chão. Apenas sorriu. Ele estava estático. Não havia matado os pais daquele menino e, justamente ele, haveria de ser seu assassino.
Sorriu enquanto leu em seus lábios a maldição da morte.
Não sofreu. A maldição funciona de qualquer forma, se pronunciada corretamente, mas só há dor quando há ódio. Aquele jovem não odiava nada. Mas matava. Ela sorriu sentindo a vida deixar seu corpo. Tinha vivido pra criar um assassino inocente. Seu Mestre haveria de lhe fazer uma estátua linda em mármore branco! Talvez em ouro, talvez em ouro...
Tinha vivido para fazer um assassino que não odiava. Podia ter sido seu filho…
14 de janeiro de 1997.
Your time slips away
Raining blood
