Waiting for the phone to ring
Diamond necklace on my shoulder
Waiting for the
phone to ring
Lipstick on my naked shoulder
It seems to be my
fancy to make it with
Franky and Sue Ann
Over the bridge we
go
Looking for love
Over the bridge we go
Looking for
love
I'll come running to you, hey baby if you want me
I'll
come running to you, baby if you want me
Looking at my hands
today
Look to me that they're made of ivory
I had a funny call
today
Someone died and someone married
you know that it's my
fancy to make it with
Franky and Sue Ann
Over the bridge
they go
Looking for love
I'll come running to you, hey baby if
you want me
Something's got a hold on me
And I don't know
what
It's the beginning of a new age
It's the beginning of a
new age
It's new age
II – New Age
18 de julho de 1952.
A segunda espera de Erin Black terminava naquele dia, o Sol ainda não tinha nascido, a espera mais curta que ela teria. Sete meses. Agora só quem esperava – por leite e por respostas - era a criança mirrada que gritava avisando que estava viva.
Sempre foi de falar muito alto...
Sempre esteve à espera...
Ela sempre esteve à espera de uma nova Era. Uma Era cósmica de prosperidade e alegria, como estava escrito nas estrelas que haveria. Tinha lido isso em alguma revista – aprendeu a ler muito cedo. Era esperta. Ela sempre teve os olhos pregados nas estrelas, esperando por elas. Ela sempre foi uma estrela, pelo menos era o que seu primo preferido sempre dizia. Ele era uma estrela também. Sirius e Andrômeda. O destino das estrelas, ela leu em algum livro oriental, é iluminar os caminhos. O óbvio é sempre o mais tocante. Sirius era a melhor pessoa que ela conhecia.
A segunda menina dos Black, daquela Velha Era nasceu sobre as estrelas azuis de uma madrugada sufocantemente quente e úmida. Foi o parto mais difícil de sua mãe, o mais sofrido, o mais perigoso. Andrômeda tinha seu cordão umbilical enrolado no pescoço. Que absurdo! O Senhor Black tinha a superstição de que isso só acontecia com trouxas, mas claro que a ciência bruxa já cansara de alertar que era apenas mais comum entre o povo não-mágico e não exclusividade dele. Ela sobreviveu pra ganhar o nome da constelação que, anos mais tarde, uns artistas holandeses pintaram no teto de seu quarto. Pequenas luzinhas amareladas que giravam na pintura azul escura. Ela tinha os olhos azuis muito escuros, como a noite de verão e os céus das profecias.
Quando era criança queria ter visões, saber o futuro...
Andava pela casa com um turbante de lençóis e punha-se a fazer previsões malucas para uma inquieta Bellatrix e uma risonha e ainda desdentada Narcissa. Mas sua mãe lhe disse que a visão era um dom de sangue e nenhum Black jamais tinha tido alguma visão. Era uma pena... Ela viria a descobrir que há muito mais coisas desagradáveis implicadas em ser um Black além de não ter visões. Ela sempre descobriu as coisas mais cedo que as outras meninas da sua casa.
Andrômeda herdou dos Black, além dos muitos galeões dourados no banco de Gringotes, a beleza inerente a todos os seus consangüíneos e uma certa crença cega em qualquer coisa. Tecnicamente qualquer coisa mesmo. Ela percebeu que eram todos muito diferentes na sua grande e poderosa Casa dos Black, mas todos tinham em comum os olhos brilhantes e confiantes de quem acredita em alguma coisa. Aquele felicidade de quem tem certeza de pra onde está indo. Todos agarrados a alguma coisa qualquer e pregando a Deus e o mundo que esta era a salvação. Às vezes ela achava que os Black estavam no mundo há tempo demais, tinham medo de estar nele quando acabasse. Mas eram só divagações que ela tinha quando não havia nada melhor a fazer do que pensar.
Ela acreditava em paz e amor.
E nas coisas que as músicas diziam.
Acreditava com a paixão dos Black em todas essas coisas, desde que podia se lembrar. A intensidade com que amava cada uma delas dependia da sua idade, como é, aliás, para todas as pessoas desse mundo. Quando era mocinha, acreditava em amor e profecias. Especialmente em profecias, já que não conhecia o amor romântico senão de ouvir falar dele. Foi por essa época que ela ouviu sobre o Grande Cataclismo que estava previsto para sua geração. Tinha lá seus 15 anos. Longos cabelos castanhos da cor da terra e os olhos grandes e profundos. Bonita como tinha que ser, ótima praticante de Vôo Acrobático – tinha a FireRain 752 para suas manobras. Tinha, já com essa idade, a disciplina e saúde e as belas formas de quem pratica um esporte com dedicação. Ela gostava de Quadribol, mas mantinha-se na platéia porque quebrar o nariz não era uma perspectiva que lhe agradasse muito. Além disso, Bellatrix e Sirius representavam bem os Black no Quadribol. Ela quase morreu de rir naquele dia em que Sirius rebateu um balaço no nariz de Bella...
E, claro, que Bellatrix não lhe dirigiu a palavra por 27 dias. Andrômeda percebeu nessa época que falar com sua irmã mais velha, sua mãe e seu pai eram sacrifícios grandes. Bella tinha se tornando uma adolescente muito chata. Até Regulus e Narcissa concordavam. E eles quase nunca concordavam com alguma coisa.
Sua prática exemplar vôo não convencional lhe foi útil muitas e muitas vezes já que havia muitas missões de espionagem que envolviam seguir suspeitos o dia todo. E não há melhor maneira de fazer isso do que via ar... Ela ficava na Inteligência das missões. Apropriado para alguém que ouviu "Corvinal!" com toda ênfase que o Chapéu Seletor podia dar. Sempre fora e soubera-se muito inteligente. E bonita. E por muito tempo foi feliz achando que todas as coisas lhe garantiriam uma vida muito feliz.
Não foi bem assim.
Porque a vida é assim, especialmente em tempos de guerra... Ela entendeu antes dos demais... Ou achou que sim. Muitas vezes esse foi seu erro, achar que tinha compreendido tudo que havia pra saber e, então, partido pra outra coisa. As vezes pequenas coisas ficavam escondidas e a surpreendiam depois. Era esperta mas era muito pouco cuidadosa.
E a guerra veio, arrancado-a de seus Mapas Astrais, profecias do mês e sonhos românticos. A adolescência passou depressa e terminou quando seu priminho foi morto e esquartejado. Regulus era o menino mais adorável do mundo. Sim ela e Sirius se davam muito melhor, mas ela achava que Regulus ia melhorar um dia. Como achava que Narcissa ia mudar... Acreditava nessas mudanças. Ela sabia que Regulus não agradava todo mundo e era um pouco mimado, mas qual filho mais novo não é? Sabia contar as melhores piadas de trouxa do mundo! E estava morto. Ele tinha só 15 anos. Ela chorou mais do que a mãe dele. Chorou pela mãe dele também. Chorou como se fosse mão dele. Nunca mais viu Sirius chorar como naquele dia. Na verdade nunca tinha visto Sirius chorar (a não ser quando ele tinha 4 anos) e nunca o viu chorar novamente. Ficaram horrorizados porque a mãe dele achava bonito ver o filho morrer com honra, por uma boa causa. A Causa. Ela conheceu-a na noite do enterro. Terrível! Não fazia sentido! Uma coisa eram piadas de trouxa. Outra coisa era massacre a trouxas e mestiços... Coisas muito diferentes...
A adolescência dela terminou quando jogaram o último palmo de terra sobre seu priminho mimado. E a guerra começou. Andrômeda Black já tinha escolhido um lado. E acreditava sinceramente no que tinha escolhido. Mais do que isso, sabia que tinha feito uma boa escolha. Porque lá ninguém achava bonito um garoto de 15 anos ter que morrer por uma boa causa. Às vezes era preciso, mas não era bonito nem esperado. Sete dias antes de seu aniversário de 19 anos, Andrômeda Black saiu de casa e juntou-se a Ordem da Fênix.
Não se arrependeu, mas não estava feliz com isso. Estava meramente consciente de estar fazendo a coisa certa.
As pessoas morriam em enxurradas, então ela soube que a profecia do Grande Cataclismo estava certa. 15 pessoas por noite era o que se podia chamar de "grande cataclismo". Sentiu-se culpada por não ter se preparado melhor, por não ter dado atenção devida à profecia. A guerra matava a todos um pouco por dia mas só as moças que nascem nas noites de verão podem senti-lo. Ela não ouvia mais músicas. Não esperava mais pelas profecias. Todo seu fogo estava aceso pela causa que deveria derrotar a outra. Estava vivendo pela Grande Guerra e tinha planos de acabar junto com ela.
Era um plano, sob um certo ponto de vista...
O inimigo tinha armas sujas. Assassinato. Espionagem. Blefe. Sedução. Soube de sua irmã do outro lado da linha de batalha. Era tão bonita quanto ela. A irmã nesse caso era Bellatrix, é claro, porque ninguém podia ser mais bonita do que Narcissa. O inimigo tinha a beleza à inteligência ferina de Bellinha (ela ainda se lembrava dos apelidos de infância). A Ordem tinha a beleza suave e a sagacidade de Andie. Era um plano sujo. Podre. Digno dos Comensais, Lílian Potter comentou... Lílian era toda dignidade e bons modos, era contra. Mas era um bom plano. Terrível. Não queria ouvir. Era um bom plano, era preciso, era lógico. Era nojento. Jay Hooker era o terceiro na hierarquia dos Comensais da Morte. Só ficava mesmo atrás do casal Lestrange. Ela mesma tinha descoberto isso! Ela era a mais indicada, todo mundo sabe que Jay-Jay sempre visitou os treinos de Vôo Livre só pra vê-la de uniforme aerodinâmico. Dumbledore era um homem justo. Ela podia fazer sua escolha.
E ela escolheu a Ordem...
Não amava aquela causa, mas abandonara sua casa por ela. Morreria por ela se preciso fosse. Se podia morrer por alguma coisa, todos os outros sacrifícios seriam menores. Fazia sentido. Era uma corvinal, só podia estar certa dentro dos limites de seu raciocínio lógico. E era lógico mesmo. Doloridamente eficiente. A vida, ela não tinha percebido ainda, é totalmente irracional e ilógica. Aprendeu da pior forma possível, e tarde demais, considerando as circunstâncias. Era uma Black e seu orgulho doía como só o orgulho de um Black pode doer. Como se todos os seus antepassados assistissem a tomada daquela decisão e sofressem com ela. O orgulho ferido de gerações que se perdem no tempo.
Mas era só orgulho e ela podia passar por cima dele. Era isso que a diferenciava do resto da família. Só Sirius entendia...
Na verdade foi mais rápida sua 'missão' com Hooker do que ela imaginava. Missão: distraí-lo e envolvê-lo para que ele confessasse... Busca e destruição. Os Aurores esperavam a baixa das defesas do lado de fora. Cabelos perfumados e pernas compridas. Era degradante. Jay-Jay tinha olhos muito bonitos. Mas tão rasos!
Rápida e eficiente. Quase nada saiu errado... Quase nada...
Além da dor, do medo, do nojo de si mesma, do absurdo de tudo aquilo, daquele cheiro de álcool etílico no cabelo e do ódio por aquela maldita guerra sem sentido o que mais estava errado? Tudo certo. Tudo sob controle. Jay Hooker estava preso, bêbado e falando tudo quanto sabia. Era engraçado como os garotinhos do Inominável Lord das Trevas soltavam bem depressa tudo que sabiam logo ao serem presos. Era mais engraçado ainda observar como as paixões libertinas os enganavam facilmente. Mas a jovem Andrômeda não tinha sido uma mera espectadora que pudesse fazer análises comportamentais. Não estava acostumada com essa posição tão ativa. Era uma guerra há muito tempo, mas essa era sua primeira grande perda.
Perdeu-se de si mesma.
Todos estavam tão entretidos apavorando a mente do recém capturado, felizes e festejando como idiotas sua pequena vitória, sem tempo pra perceber a dignidade esmigalhada da jovem Black. Sirius estava distante, estava caçando Comensais na Irlanda com Potter. Seu primo preferido, o único que podia dizer uma daquelas frases de efeito que a faria se sentir melhor não estava lá. Estava se divertindo a moda dos garotos. Era uma guerra. E guerras são pra garotos. Ela entendeu isso naquela noite e era tarde demais. Queria falar com alguém que a única pessoa que restara estava à milhas dali. Até os mocinhos tem suas falhas e a desses era serem jovens demais, eufóricos demais...
Ela ia perdoar a ausência deles mais tarde.
Por agora nunca se sentira tão solitária...
Ninguém pra ver suas lágrimas amargas de vergonha, as marcas e o cheiro cítrico que não era seu. Mas ela tinha tido chance de fazer sua escolha. Ele era perigoso, o assassino confirmado de 15 trouxas e 17 membros da Ordem. Ela tinha boas informações a respeito. E boas pernas. E um cabelo bonito. Tinha escolhido a causa. Estava satisfeita. E terrivelmente infeliz. Não acreditava mais. Não adiantava. Hooker era só um. Eram tantos! Tanta dor e morte... E as estrelas ficaram mudas e ela sentia falta do seu quarto, de casa e da sua mãe. Odiava as estrelas que tinham lhe indicado aquele caminho difícil. Queria as coisas fáceis, mas sabia ser tarde demais. Teve um súbito acesso de ódio contra todas as coisas em que ela tinha deixado de acreditar. Todas as crenças que tinham sido tiradas dela com seu primo mimado e sua dignidade Black.
Ela perdeu suas paixões e o brilho característico dos seus olhos abrandou até quase apagar. Mas nunca se soube de um Black que ficasse sem uma grande paixão por muito tempo. Nos dias que se seguiram a grande crença vital foi devolvida a Andrômeda Black bem a tempo de salvar seu entusiasmo e seu belo sorriso.
Ele era tímido, mas sabia o nome dela. Ele tinha ficado esperando notícias. Ele foi o primeiro a dizer que aquela missão era um absurdo, mas ela não lhe ouviu na ocasião. Ela nunca ouvia ninguém. A ex-monitora da Corvinal falava alto demais, batia os pés e tomava as decisões. Só ouvia as estrelas mudas e as vozes no seu coração. Senão teria ouvido a voz bonita e controlada daquele rapaz quando ele disse: "Não acho que isso seja justo com a senhorita Black" . Ela teria gostado de ouvir. Quase tanto quanto gostou de ouvir: i "Eu sinto muito por tudo isso, Black, eu realmente fui contra tudo isso" . Ela riu amargamente. "Eu fui a favor" . "Mas você é impulsiva demais pra ser responsabilizada pelas suas decisões. Se me permite o comentário...".
Não permitia mas, e daí? Ele tinha os olhos mais bonitos que ela já vira. E foi adorável quando ele corou ao terminar de falar aquela ousadia.
A guerra estava terminada pra Andrômeda Black.
Até porque mulheres grávidas não devem se envolver em guerras. Grávidas e casadas. Necessariamente nessa ordem. Ela e Sirius riram demais imaginando o tamanho do escândalo que poderia ter sido, se não tivesse sido totalmente clandestino. Dumbledore afastou a senhora Tonks dos trabalhos diretos da Ordem da Fênix, mas ela foi uma eficiente agente da inteligência durante os noves meses da sua gravidez.
Foram abençoados com uma menina dos cabelos de 100 cores. Nimphadora. Tonks. Seria uma sensação nos Black, que não viam um superdotado a muitas gerações. Andrômeda não pode deixar de pensar que era a primeira Black da nova geração. A primeira Black da Nova Era. Só então ela percebeu como nada seria como era antes. Lamentou que sua filha não conheceria aqueles ótimos Natais em família, mas logo se lembrou que eles nunca foram ótimos. Uma pena que não ganharia um colar de pérolas quando fizesse 15 anos. Uma pena que nunca teria uma harpa celestial. Olhou para seu colar e sua harpa no fundo do baú. Sorriu e compreendeu tristemente que Nymphadora não estava perdendo quase nada.
Quando os primeiros julgamentos vieram a guerra ainda não tinha terminado e a família Tonks ainda morava no QG da ordem da Fênix. A neném dormia quando chegou a notícia de que Jay Hooker havia se suicidado na sua cela provisória, uma noite antes de sair o veredicto que o mandaria a Azkaban. Andrômeda abriu um largo sorriso e fez um bolo. Não se preocupou com a crueldade de ficar feliz pela morte de um ser humano.
Um Black é sempre um Black.
É algo que mora no sangue, no fundo dos olhos, nos movimentos das mãos... Ela sempre soube disso. Foi um bolo de passas e pistaches muito, muito doce.
Quando os últimos Comensais invadiram o quartel da Ordem ela não se importou em matar 4 pessoas. Ex-colegas de Hogwarts, pessoas que ela conhecera em outro tempo. Um Black é sempre um Black e foi isso, foi esse o grande mistério da vida que ela demorou a entender. Queria ter tido tempo de falar com Sirius sobre isso. Estavam negando o inevitável! Se tivesse tido um último pedido antes daquela espada de Vallhalla atingir-lhe das costas, ela teria pedido pra avisar a Sirius que eles eram Blacks. E sempre seriam.
Nymphadora dormia com o dedo na boca enquanto ficava órfã de mãe. Se ela tivesse tido um segundo pedido, pediria pra que a menina fosse muito feliz.
Os olhos dela se fecharam antes que ela pudesse conhecer a Nova Era que tinha ajudado a construir. Era uma noite de inverno, sem estrelas.
1º de julho de 1974.
Over the bridge we go
Looking for love
