She's not a girl who misses much.
She's well acquainted with the touch of the velvet hand
Like a lizard on a
window pane.
The man in the crowd
with the multicolored mirrors
On his hobnail boots
Lying with his eyes
while his hands are busy
Working overtime
A soap impression of
his wife which he ate
And donated to the
National Trust.
I need a fix 'cause
I'm going down.
Down to the bits
that I left uptown.
I need a fix 'cause
I'm going down.
Mother Superior jump
the gun
Mother Superior jump
the gun
Mother Superior jump
the gun
Mother Superior jump
the gun.
Happiness is a warm
gun
(bang, bang, shoot
shoot)
Happiness is a warm
gun
When I hold you in
my arms
And I feel my finger
on your trigger
I know nobody can do
me no harm
Because happiness is
a warm gun.
Yes it is!
III- Happiness is a warm gun
6 de agosto de 1955.
Os conhecidos mais maldosos comentaram que talvez a menina nem fosse filha de Wado Black. Não tinha os traços do pai, muito menos os da mãe, era uma cabecinha dourada no meio de tantos cabelos escuros. Mas certamente isso era uma grande calúnia. Afinal, como uma mulher que não sai de casa poderia arrumar um amante? A mãe de Narcissa viu a paisagem fora dos portões da Mansão dos Black menos de 60 vezes em quase 50 anos de casamento. Só se seu adultério fosse com algum elfo doméstico, como ela mesma dizia, mas hipótese estava descartada. A menina nascida quase ao meio dia em nada de parecia com elfos domésticos. Teria horror a eles quando crescesse. Eram tremendamente feios... Ela a criança mais bonita da casa, se tornaria a mulher mais bonita desde a lendária Elleonora Black, nascida e morta nos velhos tempos da Inquisição Espanhola. Tinha os olhos e os cabelos herdados de gerações longínquas: azuis e loiros. Dourados. O sol do meio dia, papai sempre dizia. Caindo sobre o rosto em cachos graciosos. Quando ela ria o rosto mais carrancudo se rendia a um sorrisinho de ternura. Ela era terna e adorável mas não era mais risonha do que a hiperativa Bellatrix e nem mais cativante do que a meiga Andrômeda.
Era simplesmente mais bonita.
A beleza fria das estátuas. Aquele tipo de beleza que não requer movimento nem nenhum tipo de confirmação. Estátuas são belas e isso basta. Narcissa era bela, e isso lhe bastava.
Estava a milhas e milhas além das medidas de beleza de suas irmãs e todos os anos parecia distanciar-se mais. Em todos os sentidos literais e figurados que a palavra 'distância' possa ter. Graciosidade, ela só tinha nos cabelos e no jeito de falar porque era estabanada e desajeitada de uma forma tão deprimente que só podia ser comparada a seu primo Sirius. No começo tinha boas relações com eles e, no geral, se dava melhor com meninos do que com meninas. Nunca foi íntima das irmãs ou da mãe. Sempre foi a preferida do papai. Seu quarto era o maior da casa porque ela insistira em um grande espelho onde ela pudesse ver-se praticando ballet. Patético. A mãe ria-se dos caprichos da sua caçula e lhe fazia as vontades. Ballet? Ela passava os dias na frente daquele espelho tentando encontrar uma maneira de não cair nas escadarias de Hogwarts quando chegasse a hora de entrar lá. Nem em um milhão de anos poderia ser bailarina... Estava satisfeita se pudesse andar como uma mocinha.
E que coisas não se pode fazer com determinação? Aos 12 anos andava tão altiva, tão ereta que ninguém duvidaria de seus dotes de bailarina clássica. Aos 13, falava tão bem que ninguém nem repararia se ela tropeçasse nas próprias pernas enquanto falava. Mas ela nunca falava enquanto andava. Aos 14 pintava os olhos tão bem que poderia falar que Hagrid era o homem mais bonito do mundo que ninguém ia discordar de suas palavras. Aos 15... Bem... A essa altura ela poderia passar por qualquer porta que quisesse se seu sentinela fosse um homem. Aos 16 as portas não a interessavam. Nem os sentinelas. Nem nada que não fosse seu belo cabelo e o melhor ângulo de seu rosto.
Clichê?
Ali estava uma moça que fazia jus ao nome...
E que aprendeu tão cedo o que se pode conseguir com um sorriso na hora certa e com o movimento certo dos cílios, que era como se tudo isso já fizesse parte dela. Tinha um grande espelho no seu quarto na Sonserina também e passava as horas livres penteando-se, treinando piscadelas e gestos enquanto Martin Klein fazia seu dever de casa e Linda Von Teese separava as roupas que ela ia usar na hora do almoço. Não se soube de uma roupa que ela tivesse repetido nos sete anos de Hogwarts. O bom gosto, é claro, não é o que esta em questão aqui...
Martin era um bom garoto, mas ela cansou-se logo dele.
Ele continuou fazendo os deveres de casa dela mesmo assim. Houveram outros, bons meninos. Meninos maus. Ela se cansava de todos, menos de si mesma e da aparência das luzes do salão principal quando refletiam no seu cabelo.
Linda juntou-se aos Comensais aos 17 anos, justamente quando Narcissa roubou-lhe quem ela acreditava ser seu grande amor: Lucius Malfoy. Ela jurou uma vingança que não teve tempo de concretizar já que faleceu de uma febre trouxa após treze horas submetida a uma maldição não identificada pelo Ministério.
Quantas ninfas morreram na beira dos lagos pelo amor de Narciso? O número assombroso pedia vingança e os deuses haveriam de providenciar, colocando o lago bem no caminho de Narciso. Era inverno e o lago estava congelado.
Lucius Malfoy era diferente dos meninos que ela tinha conhecido tão bem e que a tinham conhecido tão mal.
Os olhos dele tinham o mesmo tom dos dela, mas os cabelos eram infinitamente mais claros. Brancos quase. Ele era jovem e como todo jovem ele ria um bocado. Tinha o sorriso mais bonito entre todos os que Narcissa tinha visto. Ela olhou-se no espelho longamente e achou que ele sorria mais bonito que ela. Foi sua obsessão de toda vida: ou ele sorria pra ela e por ela, ou não sorria mais. Teria facilmente matado por isso. Mas foi só preciso tirar Von Teese do caminho. Não se pode dizer que foi difícil, mas o que é difícil quando de tem o par de olhos mais bonito de Hogwarts (entre outros atributos)?
Eles brigavam um bocado.
Não foi um caso de amor a primeira vista.
Não mesmo. Nem depois. O amor demorou a vir. Era diferente. Havia posse e ciúmes mas o amor tardou a chegar. Brigas de azarações, como os garotos de primeiro ano faziam. Ele não sorria muito mais agora. Na verdade, nem ela. Estavam juntos e só juntos podiam perceber a futilidade e o vazio em que tinham transformado suas vidas. Sentiam-se medíocres. Às vezes se odiavam por isso. Muitas vezes...
Ele fazia parte daquela coisa de que Bellatrix falara. Interessante como não tinha parecido importante quando ouviu pela primeira vez. Interessante como agora isso fazia aquele tolo sorridente parecer muito perigoso. Ela tinha um pouco de medo quando ele lhe apontava a varinha. Ele não estava brincando. Com o tempo passou a ter muito medo. Ela já tinha quase 20 anos quando ele lhe apontou a varinha num dia de chuva para pedir-lhe em casamento. Ela escolheu um homem que não aceitava não como resposta.
Teve medo. Medo dele. Medo que ele fosse embora se ela dissesse não.
Na verdade ela só queria fazer um jogo... Foi o que ela pensou em dizer. Mas ele parecia um maluco muito perigoso de perto. Não estavam mais em Hogwarts e ele sabia muitas coisas que fazer com aquela varinha além de espalhar livros pelo chão. Teve medo. Ele sorria. Era um convite. Era um desafio. Titia sempre dizia que faltava naquela menina o entusiasmo Black, aquilo que movia as gerações pra frente. Estava errada. Ele sorria debaixo da chuva e ela aceitou o desafio.
Estavam casados na semana seguinte. De branco e véu e grinalda. Coisa que, certamente, não era mais apropriada, sob nenhum ponto de vista. E daí? Muitas coisas que o respeitável Sr. Malfoy fazia não eram apropriadas e ele fazia... Narcissa era mais que uma esposa, era a melhor cúmplice que ele poderia encontrar – ficava sempre calada. Ela nunca achou que pudesse existir um homem que gostasse tanto de velas e meias de renda tanto quanto ela. E justo ela que só queria monopolizar um sorriso alegre... Foi no terceiro ano de casamento que ela pensou que podia estar séria e irremediavelmente apaixonada por aquele homem doente. Ela se assustou, pensou em pular as janelas, trancar portas e nunca mais permitir que ele a tocasse. Mas já era tarde. Estava amando.
Ficou grávida meses depois.
As velas, meias de renda e salas secretas da mansão teriam que esperar nove meses. Gravidez de risco. Quadris estreitos demais para bebês. Nove longos meses... Foi quando ele começou a arrumar amantes: moças e rapazes, todos 'filhos' do Lord das Trevas. Detestava aquele Lord desde que ele lhe roubara a atenção que deveria ser só dela. Agora o detestara muito mais porque sabia que era ele quem patrocinava sua vergonha. Não se pode dizer que o pequeno Draco nasceu num ambiente muito familiar...
Mas pelo menos os sorrisos ainda eram só dela. E continuariam sendo, já que Lucius nunca foi um exemplo de paternidade. Lucius nascera para ser pai tanto quando Narcissa nascera pra ser mãe, tinham concebido Draco conscientemente, num arroubo ridículo de emotividade. Todo casal passa por isso, aquele chamado da natureza, constituir família, crescei-vos e multiplicai-vos. A natureza geralmente vence pessoas tolas como os Malfoy. De qualquer forma, foi muito deprimente para Narcissa ter que comprar (e conviver) 40 novos elfos para os cuidados com o menino. Tudo tem sua compensação e, com o Lord morto e o menino sob cuidados dos elfos, as salas secretas podiam ser reabertas.
Sem divagações românticas agora. Narcissa queria ter percebido antes que estar apaixonada significa ter espasmos de loucura. O resultado da sua primeira - e última - crise de romantismo piegas, estava berrando num berço em algum lugar da casa. Era mesmo um bebê adorável e ela desejou poucas vezes, mas profunda e sinceramente, ter os dotes de que se precisa pra cuidar de um bebê. Não tinha. Queria chamar sua mãe pra ensiná-la, mas ela tampouco sabia. Sentiu-se culpada algumas vezes, mas foram tão poucas que ela esqueceu depressa. Bebês crescem rápido. Ela ainda tinha os cabelos e olhos mais bonitos da Inglaterra, mas não conseguia segurar seu filho sem que ele berrasse de desconforto. Lucius comentou, num dia qualquer desses em que ela estava se esforçando pra ser mamãe, que precisariam ser firme com o pequeno Draco, porque ele fazia manhas demais. Foi uma observação sagaz.
Ainda bem que crianças crescem bem depressa...
Narcissa gostou mais de ser mãe quando Draco cresceu... Era tão bonito! Era tão parecido com o pai, mas tinha trejeitos e ângulos de sua mãe, o que lhe garantiu um aspecto interessante e andrógino com o passar do tempo. Nada animava mais a Sra. Malfoy do que exibir seu filho nas reuniões de Comensais que Lucius promovia em sua casa de veraneio. Nada a deixava mais orgulhosa do que se vestir de veludo negro e desfilar pela casa observando como sua família era perfeita e sublime perto daqueles rostos que mais pareciam caricaturas grosseiras. Só lhe surpreendia Bellatrix, que mantivera aquele seu... i charme /i ... mesmo após a longa estadia em Azkaban. Olhando pra sua irmã e ela não podia deixar de se perguntar de Sirius continuava tão atraente quanto sempre fora.
O Lord das Trevas dizia que todos os Comensais deviam escolher entre ter uma esposa como Narcissa ou Bellatrix, sempre alertando que poucos homens tem condições de manter uma mulher como Bellatrix... Conhecendo seus seguidores ele dizia para mirarem-se no exemplo de Lucius Malfoy, que sabia como manter uma família. Narcissa gostava de ser um exemplo do que era perfeito. Gostava de saber que nunca aqueles homens horríveis e servis iam encontrar uma mulher como ela em lugar algum. Draco não apreciava esse tipo de demonstração envolvendo sua mãe e costumava sair batendo os pés como um menino mimado nessas ocasiões. Como um menino mimado, porque era isso que ele era.
Mimado ou não, ele seguia o caminho do pai, com bem menos talento do que ele era preciso admitir. Narcissa não se importava. O tempo passava e o dinheiro que vinha de assassinato e extorsão já quase inteiro pras vaidades de Narcissa colares, vestidos, braceletes e cascos de pele. Lucius sempre lhe prometia um de pele humana, e isso sempre a fazia rir. Rir como a garotinha que ela não era mais. Tempo. Nada que montes de poções caras não pudessem remediar, mas...
O tempo passa depressa.
E Draco há muito tempo não era o bebê gritando por atenção. Agora ele fazia outras coisas para chamar atenção. Coisas do gênero, orgias e bebedeira. E um vergonhoso apreço público por poções ilegais. Até que um Auror foi mais ágil - talvez Draco ainda estivesse de ressaca - e deu ao filho de Narcissa toda atenção que ele queria. Toda atenção que uma pessoa pode ter. Toda atenção do mundo. Draco deixou o mundo e, naquele setembro de 1997 sua mãe não derramou nenhuma lágrima: suas glândulas lacrimais há muito não funcionavam. O preço de ter uma pele jovem.
Narcissa deu-se a divagações filosóficas. Sentiu falta de Regulus, Sirius e Andrômeda, e passou a não suportar a presença de Bellatrix e sua maldita risada sem sentido. As coisas perderam um pouco do seu significado e ela soube que gostava mais de ser mãe do que imaginava. Draco, afinal ela percebeu, era um pouco mais do que a marca do tempo passando, mais do que nove meses de incômodo e montes de elfos domésticos horríveis. Agora que estava morto, parecia mais do que um menino bonito e um Comensal medíocre. Sentia falta de seus casacos espalhados, das suas exigências e infantilidades. Sentia falta do berreiro que nunca terminou realmente.
Quando se perguntou se tinha sido feliz soube que, finalmente, tinha ficado velha e ridícula. Deprimiu-se. Riu. Abriu um garrafa de vinho e pediu um novo casaco de pele. Lucius deu o que ela queria. Todas as coisas, todos os seus desejos e caprichos mais tolos atendidos. A guerra estava perdida e Lucius não sabia o que fazer. Tinham uma bela casa, mas estavam divididos. Ela olhou para os olhos azuis de seu marido e perguntou-se se eles já tinham estado juntos algum dia. Pensou no seu filho e em toda aquela estranha guerra que ela nunca tinha entendido. Talvez fosse burra. Pensar nisso lhe lembrou Sirius. Sirius, Andrômeda, Regulus, papai e mamãe, Linda, Marcus. Estavam mortos. Ela olhou para Lucius, tremendo de medo e de frio, e soube que seu tempo havia terminado. Os Aurores forçavam a porta. Ele sorriu aquele sorriso bobo.
Veneno de elfos. Eles usavam nos escravos que estavam velhos e inúteis.
Ainda era a mulher mais bonita do mundo mágico.
20 de dezembro de 1996.
I know nobody can do me no harm
Because happiness is a warm gun.
