Dois dias atrás...

Eu cheguei ao aeroporto antes mesmo de ter dado meia noite. Eu nem deixo as coisas num hotel, ou na casa de minha mãe. Eu vou correndo em direção ao hospital, eu estou com a terrível sensação de que o pior, se ainda não aconteceu, vai acontecer. Eu chego a recepção e peço informações sobre minha mãe e meu irmão. A mulher me pede pra procurar na unidade de terapia intensiva. Eu pego o elevador, eu não consigo disfarçar o meu nervosismo. Ao chegar no andar procuro pela recepcionista que me pede pra falar com um tal de Dr. William. Eu chego a sala desse medico e bato na porta meio que desesperadamente. Ele me pede para entrar e sentar na cadeira que esta na sua frente. A cara dele não é das melhores.

"Então... como esta minha mãe e o meu irmão? O que aconteceu com eles?"

"Srta. Lockhart, por favor se sente..."

"Tudo bem....", eu puxo a cadeira mais próxima e me sento.

"Eles sofreram um acidente de carro o qual seu irmão estava dirigindo... ele chegou aqui muito ferido, nós tentamos de todas as formas possíveis salva-lo.. mas infelizmente ele não agüentou e morreu pouco tempo depois...."

Eu podia sentir as lagrimas queimarem a minha face. Eu não acredito que o meu irmão tenha morrido. Meu coração começa a acelerar desesperadamente, eu sinto as minhas pernas ficarem fracas, nesse momento eu estou paralisada na cadeira. Eu quero sair correndo daqui e não precisar ouvir o pior, mas é preciso.

"A srta esta bem?"

"Sim sim.. e minha mãe? Como está?", nesse instante quase que a minha voz não sai.

"Então... ela estava com ele no carro... ela também chegou muito machucada mas ela ainda esta viva. Eu não vou lhe enganar. Ela não irá sobrevive por muito tempo. Por enquanto ela ainda não esta respirando com a maquina. Nós conseguimos mantê-la assim pra que vocês pudessem se despedir... ela implorou pra que nós ligássemos pra você..."

"Oh Meu Deus! E quando eu vou poder vê-la?"

"Agora mesmo.. eu gostaria que a srta me seguisse até onde ela esta... antes gostaria de explicar que ela está com muito ferimentos, algumas queimaduras, pra que você quando entrar não se assuste muito ao vê-la da forma que ela está..."

"Certo.. eu sou uma medica, não sei se ela lhe falou... qualquer coisa em termos médicos você pode falar comigo que eu irei entende-lo..."

"Perfeito.... me siga"

Eu hesito um pouco ao me levantar, eu sinto que o mundo esta girando ao meu redor. Eu puxo uma respiração profunda e me levanto, eu preciso me despedir de minha mãe. Eu começo a seguir o medico. Aquele corredor da UTI parece mais um corredor da morte, eu nunca me acostumei com o clima pesado daqui. Todos os pacientes em estado grave, ligados por tubos, maquinas, barulhos ecoando por todos os lados, o sofrimento dos familiares que esperam pela melhora de seus entes queridos. Eu caminho ate onde a minha mãe esta, prestando sempre atenção a tudo que está ao meu redor. Minha mãe pela pior coisa que ela foi a nós no passado ainda era quem me criou, do modo dela, mas nunca nos faltou alimentação e pelo menos havia o carinho que ela dava, da forma dela. Eu me aproximo da sua cama, ela realmente não esta com um aspecto muito agradável. Os seus braços estão queimados, metade do rosto também, alem disso esta cheia de cortes pelo corpo, eu nem quero imaginar o modo que o meu irmão deve ter ficado.

"Abby... venha aqui querida", ela fala com uma voz baixa e cansada, eu posso ver a dificuldade que ela esta tendo pra pronunciar essas poucas palavras.

"Mamãe...."- eu digo com lagrimas nos olhos

"Eu sinto muito...."

"A culpa não foi sua..."

"Não por isso... sinto muito por não ter sido uma boa mãe pra você e pro Eric... eu devia ter lhes dado muito mais carinho, amor, atenção.. eu – nesse momento ela para pra puxar um pouco de ar – me arrependo tanto Ab... nós poderíamos ter sido uma família tão feliz..."

"Mãe.. esta tudo bem.... nós fomos felizes da nossa forma, mas fomos..."

"Ab.. eu queria que você me perdoasse...", ela fala tentando segurar a minha mão, as lagrimas também estão se formando nos olhos dela

"Perdoar?!"

"Sim... por tudo o que eu não fui, que eu não fiz... agora esta tarde demais, eu a fiz sofrer tanto... eu deveria ter cuidado mais de nós... eu preciso do seu perdão pra poder ir tranqüila..."

"Não há o que perdoar mamãe.... você fez o que pôde..."

"Por favor Ab... diga que me perdoa", nesse momento eu vejo o monitor cardíaco entrar num ritmo descontrolado, ela esta indo embora...

"Tudo bem mãe.. eu a perdôo...", eu digo beijando a sua mão.

"Ab... desculpe-me, eu te am...", de repente olho pro monitor e vejo que não há sinal de batimento cardíaco, imediatamente os médicos e as enfermeiras entram pra tentar reanima-la, eu vou me afastando lentamente dela, não há mais o que fazer... eu chego ate a porta e me encosto tentando puxar ar de não sei aonde... pouco tempo depois eu olho pros médicos que já estavam desanimados, não sabiam mas o que fazer, eu faço um sinal com a cabeça pra eles afirmando que a deixem em paz. Agora eu preciso ir embora, sair desse ambiente, eu não sei o que será de mim, eles tinham os problemas deles mais eram eles que me acolhiam, me escutavam e me encorajavam em determinados momentos da minha vida, se eles erraram eu também errei, a nossa vida foi tomada por erros. Eu abro a porta de uma vez, olho pra trás e finalmente digo "Mãe, Eu também te amo".

Continua....