Os chamados

Duas semanas se passaram e Lyra já estava em aula. Se esforçava para não parecer tão deprimida, como sempre acontecia no começo do semestre. Sua popularidade também não ajudava em nada, já que todos a achavam um pouco esquisita. Apenas uma garota parecia não se importar, e era com quem passava a maior parte do tempo.

Seu nome era Mila White, e ela não deixava de ter outras amigas. Não que isso incomodasse Lyra. Ela até gostava de ficar sozinha às vezes.

Foi isso que aconteceu nesse dia. No horário do almoço Mila foi avisar a Lyra que não iriam almoçar juntas, pois a avó de uma de suas amigas havia falecido, e ela estava muito triste.

- Ok. Sem problemas. Diz pra ela que eu sinto muito.

- A gente se vê depois, na aula de Biologia.

- Tchau.

- Até mais!

E assim ela pegou suas coisas e foi se sentar em baixo de uma sombra gostosa de uma árvore, onde soprava uma brisa, que a obrigava a retirar os cabelos do rosto. Se lembrou do dia em que Will se fora, e apertou o pingente no pescoço.

Ela havia desistido de tentar falar com ele. Sempre acontecia a mesma coisa. A foto dele aparecia e esquentava, mas era só. Ela então começou a achar que, como ela não era bruxa, o objeto não estava funcionando. Ou isso, ou ele não queria falar com ela. Qualquer uma das alternativas doía em seu peito, então afastou o pensamento e abriu o livro que estava lendo.

Tomou um susto quando uma coruja pousou em cima da sua mochila. Ela olhou para os lados para ver se alguém tinha visto, constatou que não, e rapidamente retirou o pergaminho. Aconchegou a corujinha junto dela para que ninguém pudesse vê-la enquanto lia o que havia escrito.

"Oi Ly!

Sei que demorei para escrever, mas não imaginei que o quarto ano era tão puxado já na primeira semana! A professora de DCAT, Granger, passou duas imensas redações na primeira semana, e fica dizendo que é pouco. Só porque ela foi amiga de Harry Potter acha que pode nos fazer estudar como se ainda estivéssemos em guerra!

Fora isso, está tudo bem por aqui, estou com saudades. Sei que tentou falar comigo algumas vezes através do colar, mas no momento não pude responder. Você já deve ter percebido que ele esquenta, certo? Acontece o mesmo com o meu. É assim que eu fico sabendo. Mas para conversarmos, eu preciso chamar por você assim que sentir que me chamou. Quando isso acontecer nós vamos nos falar como se fosse um telefone. O problema, como já disse, é a minha falta de tempo. Espero em breve poder ouvir sua voz.

Abraços, Will"

Ela guardou com cuidado e resolveu não responder. Deu o sinal à coruja que saiu voando. Ela tirou o colar do pescoço e ficou olhando para ele. Decidiu que ia esperar que Will a chamasse e voltou para a sua leitura.

Durante o resto do dia ela esperou que seu pingente esquentasse. Mas sempre que o tocava, estava frio como um metal tem que ser. Ficou muito triste e começou a pensar um monte de besteiras. Achava que ninguém era tão sem tempo que não pudesse dar um telefonema...

Na hora do jantar ela esquecera de colocar a jóia no bolso, para que seus pais não vissem. Sua mãe, muito observadora, comentou:

- Lyra, minha filha, não me lembro desse colar. É novo?

- É sim... - Com um susto ela levou a mão até o objeto.

- É bonito. - Comentou seu pai.

- Quem te deu?

- Foi o Will - ela falou tão baixo que obrigou sua mãe a ler seus lábios. Marisa já sabia dos sentimentos da filha por pura intuição e se limitou a comentar "É realmente muito bonito!" para não constranger a filha.

Minutos depois ela sentiu o colo quente. Não poderia sair da mesa para falar com ele, muito menos falar ali. Não queria que os pais descobrissem para que realmente servia.

Quando terminou, correu para o quarto e chamou pelo amigo. Sem resposta. Ela já estava cansando daquilo. Impaciente, foi fazer suas lições e logo após, dormir. Mas seus sonhos continham surpresas.

"Ela estava no Beco Diagonal novamente, mas sem Will dessa vez. Parecia perdida. Olhava para todos os lados procurando algo, mas não sabia bem o que. Andava entre montes de bruxos, que esbarravam nela sem prestar muita atenção. O céu não era azul, nem vermelho. Era verde, muito intenso. A luz desse céu refletia em tudo, tornando a calçada verde, as lojas verdes e todas as pessoas possuíam olhos verdes. Então ela se lembrou da visão que teve naquele dia. Sua voz ecoava por todo o sonho "Você é mais do que imagina..." Era aquele rapaz que ela estava procurando. Foi andando até onde se sentara para esperar Will e viu novamente a menininha saindo da loja de varinhas feliz com a sua na mão. Lyra olhava para suas mãos, mas só eram verdes, refletidas pelo céu. Então ela vê o rapaz em sua frente, que olha fixamente para seus olhos e diz: "Venha!" e entra na loja de varinhas apressado. Lyra tenta segui-lo, mas não consegue se mexer. Assustada ela acorda."

A semana seguinte não foi muito diferente. Na escola, Mila contava sobre o computador que seu pai tinha comprado, excitadíssima com o que poderia fazer. Lyra não lhe deu muita atenção, só conseguia pensar em Will e no menino de olhos verdes do sonho. "Será que é tudo loucura da minha cabeça?"

O colar estava mais frio que pingüim de geladeira. E, por causa da expectativa criada, Lyra estava muito decepcionada. Como a síndrome de tristeza estava durando mais do que o normal, Marisa tentou conversar com a filha. Lyra havia chegado sem falar com a mãe, e subiu direto para o quarto. Marisa foi atrás da filha e bateu na porta.

- Pode entrar. - Lyra se sentou na cama e observou sua mãe sentar-se em uma cadeira na sua frente.

- Lyra, se eu te conheço bem, está acontecendo alguma coisa. O que há com você?

- Nada não... Aquelas coisas de sempre. Primeiros dias de aula, gente nova. Você sabe que me sinto deslocada.

- Sei sim... Mas já se passaram duas semanas! Aquela sua amiga, a Mila, não anda mais com você?

- Hum, a gente se fala... Mas ela realmente não me entende...

- E quem te entende Ly? - falou rindo. - Você tem esses ataques de humor, a gente nunca sabe como te tratar. Na maioria das vezes omite o que passa na sua cabecinha, e no seu coração... Mas eu sou sua mãe, e sei quando está sofrendo. Sofro junto com você. Me preocupo.

Lyra olhou para os olhos castanhos claros de sua mãe. Não queria que ela sofresse por causa das suas dores. Amava os pais, mas nunca conseguiu se abrir realmente com eles. Finalmente ela disse:

- Sei que se preocupa, mas às vezes não tem nada que você possa fazer, ou nem tem sobre o que se preocupar. Não é nada que não passe depois de uns dias... - Ela tentou sorrir e animar a mãe.

- Então quero ver esses seus "uns dias", viu? Não vou deixar de me preocupar. -Se levantou e foi saindo, mas parou na porta para terminar de falar - Vou sempre estar aqui para você! - Sorriu mais uma vez e desceu as escadas.

"Céu verde. Beco Diagonal. Lyra procurava algo e não sabia o que era. Olhava assustada para todos os lados. Novamente se lembrou do rapaz de olhos verdes e intensos. Correu para onde a menininha saia da loja de varinhas e lá estava ele. "Venha" ele disse encarando-a. Sentia como se ele pudesse entrar em sua cabeça, sentir um pouco da sua alma. Ele correu apressado para a loja. Lyra mais uma vez não consegue se mexer, seus pés ficam grudados no chão... "Venha!" E ela acorda."

A madrugada estava fria e úmida. Ela havia esquecido as janelas abertas. Levantou correndo para fechá-las. Olhou para a casa em frente e pensou em Will. Voltou para a cama, mas não conseguia dormir. Sempre que pegava no sono, via tudo verde e acordava assustada. "Isso tem que significar alguma coisa! Não é possível!". Enquanto repassava mentalmente os acontecimentos do sonho sentiu uma enorme vontade de sair dali. "Era isso!". Decididamente ela iria lá para ver se algo acontecia. Talvez encontrasse o rapaz, talvez fizesse papel de idiota. Tudo que ela queria era poder dormir. "Amanhã é sábado. Posso dizer para meu pai que vou sair com Mila. Assim eles não vão ficar preocupados..." E pensando no que iria fazer na manhã seguinte, finalmente conseguiu adormecer.


Oi pessoal! Espero que estejam gostando! Infelizmente estou em plena época de vestibular e tenho andado meio sem tempo... Por isso, estou escrevendo mais devagar, mas não vou parar! Atualizações em breve! Ah, a beta-reader também está no vestibular, então também demora um pouco para ela me passar os capítulos de volta... Bom, valeu para as pessoas que mandaram review! É sempre bom saber que tem alguém lendo e gostando! Dá mais incentivo para escrever! Valeu principalmente pra Engely Malfoy! Please, continuem mandando REVIEWS!!