Neve
O céu já estava começando a tornar-se escuro, mas ainda assim, pequenos flocos de neve caiam dele, pousando suavemente sobre os telhados das casas e as copas das arvores. Olhou para a janela, preocupado. Yoh Asakura estava sentado próximo à janela, observando os flocos esbranquiçados caírem vagarosamente, como se estivesse contando-os. Nada disso. Apesar de olhar a neve com insistência, como se quisesse admitir para si mesmo que estava muito concentrado nela, sua mente tornava a se voltar para uma única pessoa.
Sua noiva, Anna Kyoyama.
Ele suspirou desanimado, vendo a neve começar a cair com mais rapidez. Com certeza iria nevar bastante aquela noite. Amidamaru voltou os olhos cautelosamente para seu mestre, curioso, e em seguida fechou os olhos.
- Não se preocupe, Yoh. Ela já vai voltar. – aquela voz ecoou pelo aposento vazio e chegou aos ouvidos do xamã. Este abriu os olhos e fixou-os no samurai.
- É que a Anna saiu faz tempo e tenho certeza de que essa neve mais ficar mais forte.
- Hmmm... – Amidamaru olhou de esguelha para Yoh e estudou o aposento logo em seguida. – essa casa fica muito quieta quando a senhorita Anna está ausente, não é?
- É... tem razão. – Yoh respondeu, com o olhar meio perdido. – "Espero que ela chegue logo."
- Yoh.
- Hu?
- Você gosta mesmo da senhorita Anna... certo? – o xamã foi pego de surpresa por aquela pergunta. Ele virou-se para o amigo, perplexo. Nem ele mesmo sabia o que sentia em relação a itako... Ta certo que eles iriam se casar, mas na verdade, eles tinham sido escolhidos um para o outro. Quanto a si mesmo não sabia, mas tinha certeza absoluta que Anna não sentia nada por ele. Uma gota surgiu em sua cabeça ao lembrar-se do duro treinamento que ela lhe dava. Realmente, ela não sentia nada por ele.
- E... – Amidamaru foi impedido de continuar ao ouvir um barulho perto dali. Parecia ser da porta de entrada. Yoh levantou-se de um salto.
- Anna...? – bastou ele chegar a alguns metros de distancia da porta, para ver sua noiva em pé. A neve cobria-a da cabeça aos pés e, Yoh percebeu, seu rosto estava levemente vermelho. Será que acontecera alguma coisa? Ele aproximou-se, preocupado.
- Ei, Anna, o que aconteceu? – a itako sentia sua vista embaçar a todo o momento. Não precisava ser nenhum inteligente para saber que ela estava passando mal. Não queria perder a postura na frente de Yoh e Amidamaru, mas a dor foi mais forte, e lentamente ela perdeu as forças que ainda lhe restavam. Antes que ela caísse no chão, Yoh a segurou. O espírito do samurai olhou sem acreditar.
- O que aconteceu com a senhorita Anna, Yoh?
- Ela apenas desmaiou. – lentamente, o xamã levantou do chão, carregando a itako nos braços. Enquanto encaminhava-se para o quarto dela, Yoh percebeu que a garota estava queimando em febre. Provavelmente ela havia pegado um resfriado por causa da neve.
- Yoh-
- Não se preocupe, Maru. – ele virou o rosto sorrindo para o amigo. – eu posso cuidar dela.
Amidamaru limitou-se a um suspiro. Pessoas apaixonadas sempre agiam assim.
- Tudo bem. Mas se precisar de alguma coisa, me chame. – Yoh assentiu com a cabeça, e o espírito sumiu de vista. A porta do quarto de Anna estava aberta, e o garoto apenas deitou-a no futon, delicadamente. Ele olhou mais uma vez para a noiva, e constatou que o rosto dela continuava vermelho. Colocando uma mão na testa dela, ficou claro que a febre não ia abandona-la tão cedo.
- Por que você teve que inventar essa idéia de sair para tomar um ar fresco, hein?
Anna lentamente abriu os olhos, sentindo o cobertor aquece-la. Não restava duvida de que Yoh havia tomado conta dela. O quarto estava ligeiramente escuro, e para sua surpresa (??) seu noivo não estava ali por perto. Recuperando as forças, ela sentou-se no futon vagarosamente, e sentiu algo escorregar de sua testa para seu colo.
- Hu? – olhou para a toalhinha que, ela supunha, Yoh estava usando para secar o suor que escorria de seu rosto, graças à febre. Ela suspirou. Por causa do passeio que havia inventado, naquele momento se encontrava naquele estado deprimente. Com febre, dor de cabeça e um enjôo terrível. Yoh acharia que ela era fraca demais, que não agüentava um simples resfriado.
Definitivamente, não queria ficar ali deitada, sentindo-se frágil por causa de tudo aquilo. E onde diabos será que estava o Yoh?! Como bom noivo, ele deveria estar lá ao seu lado, cuidando dela!
Que idiotice... Ela suspirou, com um sorriso forçado nos lábios. Quanta mentira estava pensando... Tudo que queria era ficar perto dele e aquelas palavras idiotas, eram apenas para esconder seu sentimento. Por que justo no momento em que ela precisava dele, ele não estava?! Aquilo era um complô! Só podia ser!
- "Anna, pare de mentir. Você precisa dele em todos os momentos." – cansada daqueles pensamentos – e daquela vontade de vomitar – Anna levantou-se do futon. No começo, sentiu-se tonta, e teve que se apoiar na parede, enquanto sua cabeça parava de girar.
Logo caminhou até a sacada. Podia ver que caía pouca neve, mas o vento ainda era muito gélido, fazendo-a se arrepiar. Pelo menos o enjôo passara.
Ela apoiou-se na sacada, admirando todo aquele lugar coberto de neve. Os topos das casas brancos e as arvores também. Tinha certeza que já estava tarde, e por isso não havia ninguém nas ruas. Sorte, porque a neve cobria todo o chão. O céu estava mais claro, podendo-se ver as estrelas com clareza e os flocos de neve estavam cada vez mais bonitos.
Bonitos... como o Yoh. Ela pegou-se surpresa pelo próprio pensamento. Como podia pensar naquele xamã que, provavelmente, estava dormindo, esquecendo que sua noiva estava doente?! Ela mesma não entendia por que o amava.
- "Droga... Anna, seu cérebro esta sendo afetado pelo resfriado. Essa é a única explicação para esses pensamentos..." – Ela suspirou desanimada. Em seguida, sentiu os pêlos do corpo se arrepiarem. Não, não era por causa do vento gélido. Yoh... Yoh estava carregando-a nos braços!
- Y-Yoh! O que você acha que ta fazendo?! – ela sentia sua face queimar cada vez mais, com o contato com a pele dele. O xamã suspirou.
- Anna, você não aprende mesmo. Vai acabar piorando se pegar esse vento gelado aqui fora. – sem esperar qualquer permissão, ele a levou para o quarto dela novamente. Claro que até lá, Anna continuava a brigar com ele, tentando se libertar dos braços do noivo. Claro também que no fim, tudo que queria era isso mesmo... Estar nos braços do xamã.
Quando chegaram no aposento, Yoh a deitou no futon. Anna sentiu o sangue ferver na suas veias. Ele nem ao menos escutara uma palavra do que estava dizendo antes de chegar ao seu quarto! Antes que o tapa pudesse acertar o rosto de Yoh, ele segurou os dois pulsos da jovem, prendendo-a contra o futon.
- Ei, por que você está tão violenta, hein? – o garoto perguntou, quase que curioso. Anna tinha certeza de que estava corada e não apenas por causa da febre.
- Cale a boca e me solte!
- Só se eu quiser levar um tapa, né? – por que ele continuava mantendo aquele tom brincalhão?!
- Você não tem o direito de dizer nada, entendeu? Enquanto eu estava aqui, com febre, você estava dormindo! Então não fale como se tivesse moral pra isso!
Yoh tinha uma expressão confusa na face.
- Mas eu não estava dormindo. Tinha ido apenas tomar água e...
- Não me interessa. Que tipo de noivo você é, hein?!
- Ei, mas quem você acha que colocou aquele pano na sua testa? – Anna olhou de esguelha para a toalhinha, ao seu lado. O arrependimento começou a invadi-la.
- Eu estava realmente preocupado com você, Anna... Desculpe, eu prometo que não vou sair do seu lado, está bem assim?
- "Yoh..." – ela não conseguia falar... Talvez fosse por causa das palavras duras que dissera a ele, sabendo que ele estava mesmo preocupado...
Ou talvez fosse pela proximidade de seus rostos. Não sabia se era efeito do resfriado, mas tinha a ligeira impressão que Yoh estava cada vez mais perto... E mais perto... Por favor, que seja apenas impressão...
Olá o/ Sou eu novamente n.n'
Como vcs podem ver, dessa vez a fic vai ter capítulos. Poucos, mas vai n.n'
Apenas espero que vcs gostem e mandem reviews, por favor n.n
