DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).
Notas: não, eu não sou dona dos personagens… Mas isso não me impede de amá-los!
Observação: essa fic já foi previamente publicada, sob o pen name CMZANINI, e o título de "SACRIFÍCIO DOLOROSO". Porém, por algum problema no fanfiction, desapareceu e ficou "bloqueada" para leitura, por isso está sendo republicada sob um novo título e sob um novo pen name (Cris Krux). Como também perdi todas as reviews, não posso agradecer aos leitores, mas agradeço a todos os que me apoiaram, me incentivando a republicar todas as fics: Becka, Camila Geisa, Claudia, Fabi, Ju, Lady K, Lady F, Lord Ed, Nay, Ninna, Pri, Rosa, Si Bettin, Si Ianuck, Tata (espero não ter esquecido de ninguém, mas se esqueci de citar meu coração com certeza não esqueceu, viu?)
Referências: Trapped, True Spirit, The Chosen One, Phantoms
CUIDADO: esta fanfic é proibida para menores de 18 anos! É também uma fanfic que tem muitas cenas de violência e cenas tristes... Lida com estupro! (o motivo é longo, mas é justo, portanto, aviso antes para que você não leia caso não queira ler sobre esse assunto).
Se quiser pular a parte triste / violenta e ir para as coisas se resolvendo, vá diretamente para o capítulo 5 (CINCO)!
Quando as primeiras luzes da aurora invadiram a Casa da Árvore, Verônica se levantou, apenas para encontrar Roxton pronto para partir. Seus olhos se encontraram, num entendimento mudo, e ambos foram acordar Challenger e Ned. Eles voltaram ao lago, e de lá seguiram na direção que tinham começado sua caminhada no dia anterior. Por mais de uma hora eles só conseguiam ver trilhas de raptors, mas depois de algum tempo Roxton ajoelhou-se, suas esperanças começando a aparecer: 'Ela passou por aqui. Veja: é a marca da ponta de sua bota. Ela provavelmente estava sendo arrastada', ele adicionou, com uma nova onda de medo tomando conta dele.
Agora que eles haviam encontrado a trilha, eles seguiram mais rápido. Mesmo assim, ainda tiveram que caminhar por duas horas mais antes de se aproximarem de um acampamento. Tudo estava muito quieto, o que parecia muito estranho. Mas logo eles encontraram um grupo de homens deitados espalhados pelo chão, parecendo drogados ou pelo menos dormindo profundamente. Verônica reconheceu a maioria dos rostos do ataque do dia anterior. Mas Marguerite não estava aparentemente em lugar algum. Eles se dividiram, Malone e Roxton se aproximaram das tendas menores, onde a maiora dos homens estava deitada. Verônica ficou na entrada do acampamento, para ter uma vista geral e poder avisá-los sobre qualquer movimento suspeito.
Foi Challenger quem primeiro entrou na tenda maior. O coração dele apertou-se diante do que viu. Marguerite estava amarrada a quatro pilastras, seu corpo completamente nu pendendo delas. Seus pulsos e tornozelos estavam ensangüentados devido às amarras. Ele se surpreendeu que suas mãos ou pés não tivessem sido brutalmente separados do corpo, tão profundas eram os ferimentos – provavelmente devido ao balanço contínuo. Ela tinha o rosto e o torso muito machucados e cobertos de sangue seco e era evidente que havia apanhado muito. E a parte interna de suas pernas estava coberta por muito, muito sangue. O mesmo sangue estava no chão, misturado à areia e esperma. Ele se sentiu enjoado vendo o estado em que estava a mulher que ele tinha aprendido a amar como uma filha.
Tentando não alarmar os outros – ele estava certo que ela não gostaria que eles a encontrassem naquele estado – ele cortou as cordas que a prendiam às pilastras, e sustentou seu corpo até que tocasse o solo. Ele olhou em volta, apenas para encontrar suas roupas espalhadas. Quando ele trouxe as roupas para perto dela, ele se surpreendeu vendo suas pestanas moverem-se levemente. Ele pegou seu cantil e fez com que ela bebesse um pouco de água, lentamente, enquanto suportava a cabeça dela. Ela finalmente abriu os olhos, e quando ela viu Challenger um olhar aterrorizado e cheio de vergonha passou através dos olhos sempre tão vivos e agora tão vazios. Challenger colocou uma mão reconfortadora em seu ombro nu 'Agora, vista isso. Eu vou lá fora novamente – eu não vou deixar que os outros a vejam aqui. E eu vou esmagar esses selvagens malditos com minhas próprias mãos. Eu prometo, Marguerite, que mais tarde eu vou cuidar de você o melhor que eu conseguir.' Ele entregou a ela um pano limpo: 'Use isso para tentar parar a hemorragia por algum tempo.' Ela nunca tinha visto Challenger, o cientista genial, usando um tom paternal como este. Ela fez como ele tinha ordenado, enquanto ele saia da tenda, em tempo de juntar-se aos outros em uma batalha que tinha começado quando o primeiro homem acordou.
Ela levou vários minutos para conseguir vestir suas roupas precariamente novamente, porque tudo nela doía, e muito. A náusea a dominou, e ela se dobrou sobre si mesma, fazendo força para vomitar convulsivamente. Ela se controlou e a ânsia e o mal-estar diminuíram um pouco. Incapaz de caminhar por causa da dor e da fraqueza, ela rastejou até o fundo da tenda 'Ainda tenho uma chance de escapar, de prevenir que eles, principalmente John e Verônica, me vejam assim. E o que eu sou agora?' ela pensou, as lágrimas inundando seus olhos.
Fora das tendas, os outros exploradores estavam lutando contra os homens que os atacavam. E Verônica, John e Ned estavam surpresos pela violência de George: ele estava literalmente massacrando cada homem com quem ele lutava. Finalmente a luta acabou. Todos estavam cansados, e Challenger estava coberto de sangue. O espaço entre as tendas estava coberto de pernas, braços e corpos. Mas eles ainda não viam Marguerite. Eles procuraram pelas outras tendas, e Challenger estava tentando pensar rápido em como voltar à grande tenda e recuperar Marguerite sem levantar a suspeita dos outros, quando finalmente eles viram-na desmaiada no fundo da tenda maior, tentando afastar-se do acampamento. Ele compreendeu seu movimento, e seu coração novamente se apiedou dela, mas felizmente os outros apenas pensaram que ela estava muito desorientada para ir na direção correta. Eles correram para ela, gritando seu nome, mas o corpo dela estava imóvel no chão.
John cuidadosamente virou o rosto dela para ele, apenas para ver com horror como a rosto machucado dela estava mortalmente pálido. Seus pulsos e tornozelos tinham cortes muito profundos, e ele tinha a terrível impressão que um pouco mais fundo e ele poderia ver o osso. O sangue se espalhava por todo o corpo dela, e ele dirigiu um olhar em pânico para Challenger. Ela sequer se mexeu. Challenger a examinou rapidamente, sabendo o que os outros não sabiam: 'Ela apanhou muito, e possivelmente tem ferimentos internos'. John pretendia carregá-la, mas Challenger preveniu: 'Se ela tiver hemorragia interna, o melhor é não movê-la. Vamos fazer uma maca para carregá-la, rápido.' Eles fizeram como comandado, e em meia hora eles estavam voltando à Casa da Árvore, carregando uma Marguerite ainda completamente inconsciente.
Quando chegaram lá, quase quatro horas depois, Challenger expulsou-os do quarto, permitindo que apenas Verônica ficasse com ele, trazendo panos limpos e água morna para limparem as feridas dela. Não que ele realmente pretendesse revelar para Verônica tudo que ele sabia, ele tinha certeza que ele conseguiria manipulá-la para tirá-la do quarto antes de realmente tomar conta dos ferimentos mais graves de Marguerite.
Verônica despiu Marguerite, e usando a água morna e os bálsamos desinfetantes que Challenger tinha criado ao chegarem ao platô, limpou as feridas do rosto, braço, torso, pulsos e tornozelos da outra mulher. Ela olhou para Challenger esperando pelas próximas instruções, mas ele apenas fez sinal para que ele levasse os panos ensangüentados e potes de água já usados do quarto e trouxesse água e panos limpos enquanto ele continuava seus exames. Ela fez como ele pediu. Quando ela chegou à sala, ela encontrou um Roxton desolado com a imobilidade de Marguerite, e um Ned não menos preocupado tentando consolá-lo. Os dois foram ao seu encontro, tentando saber notícias da paciente: 'Ela está tão imóvel quanto antes. Pelo jeito, ela realmente apanhou muito, e ainda tem alguma concussão por causa de uma pancada forte na cabeça. Mas Challenger está definitivamente convencido que ela tem uma hemorragia interna devido ao espancamento.'
Nesse meio tempo, Challenger rapidamente limpou os outros ferimentos do corpo de Marguerite, apenas para encontrar o pano que ele tinha lhe pedido para usar para parar a hemorragia ainda no acampamento completamente encharcado com o sangue dela – e ela ainda estava sangrando profusamente. Ele desinfetou as feridas internas, esperando que Marguerite continuasse inconsciente por mais um pouco, evitando assim que ela sentisse toda a dor que ele provável e involuntariamente pudesse estar infligindo, e também torcendo para que nenhum dos outros entrasse no quarto naquele momento. Alguns minutos depois dele ter terminado de cuidar de Marguerite, ele ouviu os passos leves de Verônica voltando com um pouco de chá de ervas para Marguerite. Eles juntos suportaram a cabeça dela e a forçaram a beber um pouco do chá. Quando Verônica estava saindo, ela parou, olhando horrorizada para a cama de Marguerite. Challenger seguiu o olhar dela, para ver uma enorme mancha de sangue cobrindo o lençol e as coxas de Marguerite.
Veronica gaguejou tímida 'Será que são as regras dela?...'.
Challenger negou decidido: 'Não creio, Verônica. Eu creio que isso esteja relacionado com a hemorragia interna.' Oh, Deus, se apenas os outros tivessem idéia do quanto Marguerite tinha sido ferida... Ele desejaria ser um médico de verdade para saber exatamente como tratá-la, mas no momento seus conhecimentos teriam que bastar …
Verônica suspirou preocupada e trouxe um pano limpo. Challenger explicou a ela o que fazer, para manter o recato aparente, pelo menos. Ele rezou para que Verônica não fosse capaz de identificar os sinais óbvios da violência sofrida que Marguerite exibia na parte interna de suas coxas. Ela terminou, e olhou-o preocupada: 'É realmente grave, não é, Challenger?'.
Ele tinha um olhar sombrio quando respondeu: 'É, Verônica. Ela pode morrer da hemorragia em seus ferimentos internos se não encontramos um jeito de contê-la.'.
Ele notou os olhos cheios de lágrimas de Verônica. 'Nós vamos dar um jeito, Verônica, eu me recuso a permitir que ela morra. Talvez os zangas possam nos ajudar'.
Verônica respondeu 'Estive pensando que a única vez que ela tentou ser a heroína, e salvar minha vida, isso termina desse jeito, Challenger. Deveria ter sido eu no lugar dela.' Challenger passou um braço confortador ao redor dos ombros de Verônica, guiando-a para fora da sala: 'Esse foi o jeito que Marguerite decidiu, Verônica. Não é sua culpa que ela tenha sido ferida. Agora, vamos para a sala para definir um plano, ok?' – em sua mente, porém, ele estava agradecendo a Deus por ter permitido que Marguerite fosse tão corajosa e desprendida dessa vez, prevenindo assim a inocente Verônica de passar por tudo aquilo.
De volta à sala, Challenger disse aos outros que ele pretendia ir na manhã seguinte à vila zanga para falar com a curandeira deles. Roxton queria que Ned e Verônica fossem com Challenger para protegê-lo, já que ele se sentia perfeitamente capaz de cuidar de Marguerite por algumas horas, mas Verônica sabia que por recato ela seria necessária, e Challenger sabia ainda melhor que um homem experiente como John não seria facilmente enganado sobre o que acontecera com Marguerite se ele tivesse a chance de ficar um pouco mais perto dela. Então, ele decidiu que Ned e Verônica ficariam na Casa da Árvore, e que ele iria com Roxton à vila zanga. Eles pretendiam partir ao amanhecer, para estarem de volta no máximo logo depois do almoço.
Era já noite quando todos se dirigiram aos seus quartos. Roxton queria ficar com Marguerite, mas Challenger e Verônica argumentaram que ele precisava dormir para estar descansado na manhã seguinte. No lugar dele, Verônica foi para o quarto de Marguerite e moveu a espreguiçadeira para perto da cama, rezando pela melhora de sua amiga.
Ela tinha dormido por algumas horas quando acordou no meio da noite. Marguerite ainda estava imóvel, mas ela notou com horror que os lençóis estavam novamente encharcados com o sangue de sua amiga. Ela trocou o pano ensangüentado por um limpo. Ela ouviu quando os outros se levantaram para ir à aldeia zanga. Tanto Roxton quanto Challenger apareceram no quarto de Marguerite para saber notícias, mas não havia nada – Verônica apenas apontou silenciosa e discretamente para Challenger os panos ensangüentados que ela tinha trocado durante a noite. Ele assentiu, compreendendo. Eles tinham que ser rápidos para ir e voltar da aldeia zanga em tempo de tentarem salvar a vida de Marguerite.
Verônica subiu para tomar uma xícara do chá que Challenger e Roxton tinham preparado. Malone a encontrou ali, com a preocupação estampada em seu rosto.
'Ela ainda está inconsciente?', ele perguntou, segurando a mão de Verônica. Ela apenas assentiu com a cabeça, a voz estrangulada pelas lágrimas. Malone a abraçou carinhosamente, porque mesmo ele sentia seu sangue gelar ao pensar que poderia ser Verônica agora naquela cama se não fosse pelas manobras de Marguerite dois dias antes. Ele permitiu que ela chorasse um pouco, na esperança que isso a aliviasse da carga que ela parecia estar carregando sobre seus ombros.
'Você não prefere que eu fique um pouco com ela enquanto você descansa?', ele ofereceu.
'Não, Ned, eu vou voltar para o quarto dela agora.' Então ela saiu, e Malone voltou à sua escrivaninha para escrever.
Verônica notou que Marguerite estava com febre, e que a sua pele normalmente pálida estava quase transparente – a perda de sangue estava cobrando seu preço da mulher. As marcas arroxeadas do espancamento apenas reforçavam sua palidez. Ela pediu em seu coração que Challenger e Roxton se apressassem, caso contrário Marguerite não teria qualquer chance.
Quando Roxton e Challenger chegaram à aldeia zanga, depois de explicarem a Assai a "versão oficial" do que havia acontecido, Challenger foi levado à curandeira. Felizmente a intérprete, dessa vez, não foi Assai, mas a neta da curandeira. Na tenda da curandeira, Challenger finalmente contou a história toda, sobre como ele encontrara Marguerite violentada, e pediu que elas não mencionassem isso para ninguém, nem mesmo para Assai, Jarl ou os outros. As curandeiras entenderam, e explicaram a ele como ele poderia tratar de Marguerite, até fornecendo-lhe um tipo de teia de aranha específico que, de acordo com as curandeiras, ajudaria a parar a hemorragia. Ele as agradeceu, e voltou com Roxton para a Casa da Árvore o mais rápido que conseguiram.
Chegando ao quarto de Marguerite, Challenger encontrou Verônica desgrenhada. Havia pelo menos duas novas rodadas de panos ensangüentados no cesto perto da cama, e a pele de Marguerite estava tomando um tom acinzentado, e a febre dela agora estava muito alta, apesar dos chás e compressas frias de Verônica. Ele explicou rapidamente à Verônica como aplicar a teia de aranha, e foi preparar as outras ervas. Em uma hora, toda a ajuda possível tinha sido feita, mas a febre de Marguerite ainda estava tão alta quanto antes. Se pelo menos a hemorragia parasse já seria bom, Challenger pensou, cansado. Ele sabia que bastariam mais uma ou duas hemorragias tão fortes quanto as últimas e eles perderiam Marguerite. Mas eles tinham feito tudo que era possível, e agora era uma questão de esperar. Enquanto isso, ele foi para seu laboratório para analisar a teia de aranha e entender que tipo de substância ela continha que poderia parar hemorragias internas.
Ele se envolveu tanto em suas investigações que levou alguns segundos para notar Verônica parada na escada: 'O que aconteceu, Verônica?'.
'Nas últimas quatro horas a febre diminuiu um pouco, Challenger. E parece que a hemorragia finalmente parou' Verônica respondeu, sentindo-se um pouco mais aliviada. Mas Challenger sabia mais. Apesar de estar feliz que Marguerite tivesse sobrevivido, ele sabia bem que seria um inferno quando ela acordasse. E tão fraca quanto ela estaria, ele temia que ela pudesse não suportar o choque de encarar o que havia acontecido.
'Verônica, vamos dar a ela um pouco de chá para dormir e aliviar a dor, e deixá-la descansar pelo resto da noite'.
'Mas Challenger, ela sequer se mexeu, você acha que é realmente necessário?'
'É melhor que ela tenha um bom descanso antes de acordar, Verônica'. E assim eles fizeram.
Na manhã seguinte, Challenger e Verônica pelo menos tinham certeza que a hemorragia definitivamente tinha parado, mas Marguerite continuava imóvel e pálida. A única coisa que eles podiam fazer agora era mantê-la hidratada e esperar que ela recuperasse os sentidos. Challenger desejou ser ele a estar no quarto quando ela acordasse, mas era impossível saber de antemão. Mas ainda um outro dia inteiro se passou sem qualquer reação de Marguerite.
Foi apenas tarde da noite, quando Challenger estava se preparando para sair do quarto e chamar Verônica para substituí-lo para que ele pudesse dormir um pouco, que ela finalmente se moveu. Primeiro, foi apenas um leve movimento de cabeça de um lado para outro. Depois, ela lentamente abriu os olhos. Ela olhou o quarto a seu redor, parecendo confusa, e então seus olhos encontraram os de Challenger. Ele se aproximou da cama e falou baixinho com ela.
'Como você está se sentindo?'
Ela respirou fundo, se encolhendo de dor 'Eu pensei que eu estivesse morta. Mas eu espero que os mortos não sintam tanta dor quanto eu estou sentindo, Challenger'.
Seus olhos estavam vazios, e ela parecia realmente pálida e distante. Então, um olhar aterrorizado cruzou seus olhos 'Eles sabem? Você não contou a eles, não é, Challenger?'.
'É claro que não, Marguerite. Acalme-se. Eles não sabem de nada, não se preocupe com isso. Apenas se preocupe em melhorar' ele disse a ela, gentilmente pegando sua mão. Ela estava muito sensível e o gesto inesperado de carinho vindo do sempre tão científico Challenger apenas a fez chorar. Ela virou seu rosto para tentar impedir que ele visse suas lágrimas.
Ele forçou-a a olhar para ele novamente, puxando seu queixo, e adicionou, apertando de leve sua mão com cuidado redobrado para não tocar os ferimentos profundos de seu pulso: 'Criança, eu entendo que você esteja ferida, física e moralmente. Mas tudo vai ser curado, com o tempo. Você sobreviveu a muitas coisas em sua vida tão jovem. E essa vai ser mais uma terrível experiência que você vai ter que superar. E de todas as pessoas que eu conheço, você é a única pessoa que é forte o suficiente para tentar. Agora, você gostaria de dormir um pouco mais?'
Ela apenas assentiu, muito cansada e pesarosa para falar. Ele trouxe um pouco mais do chá para dormir, e ela caiu no sono novamente. Ele tinha certeza que ela não dormiria sem o chá calmante.
Ele finalmente saiu, procurando por Verônica para substitui-lo, e então indo para seu quarto para uma merecida noite de sono. Mas os olhos vazios de Marguerite continuavam assombrando-o. Como ela reagiria agora? Esse era o tipo de trauma que positivamente requereria um tratamento adequado com boa terapia, mas aqui, no meio da selva? E o querido Arthur, que saberia melhor que ele sobre essas teorias da natureza humana, estava desaparecido há muito tempo já. Ele suspirou e tentou dormir um pouco.
Nos próximos três dias foi assim, ela passando alguns minutos acordada, mas na maior parte do tempo ela estava apenas dormindo. Era bom para permitir que ela começasse a se recuperar da perda de sangue, além de dar a Challenger um pouco de tempo para pensar em com ajudá-la no aspecto moral de sua recuperação.
Tinha se passado mais de uma semana que tudo tinha acontecido quando ela conseguiu ficar acordada por várias horas seguidas. Ela ainda estava muito fraca, e em todo esse tempo eles não tinham conseguido obrigá-la a comer nada. Ela parecia nauseada com a simples menção à comida. Ela emagrecera ainda mais que sua já tradicional compleição mignon. 'Você precisa comer algo, Marguerite. Eu posso pedir a Verônica para preparar um sopa gostosa para você, ou qualquer outra coisa que você queira comer'
'Não, Challenger, obrigada mas eu não posso. Eu simplesmente... não consigo' era sua resposta invariavelmente, olhos cheios de lágrimas não derramadas. Ele nunca a tinha visto tão deprimida. Todos eles estavam muito preocupados com ela, particularmente Roxton, mas nenhum deles conseguia tirar nada dela – mesmo Challenger. Ela nunca contou a história toda para ele. E ela se refugiava ainda mais dos outros.
Assim que ela foi permitida novamente a caminhar pela Casa da Árvore – desde que ela não ficasse muito tempo de pé – a primeira coisa que ela fez foi tomar um banho. Ela teve que se sentar sob o chuveiro, já que mal podia suportar a dor excruciante em seus ferimentos e em seu âmago, mordendo sua mão para evitar gritar de dor. Mas pelo menos ela se sentiu melhor depois do banho, pelo menos um pouco mais limpa no único sentido em que ela tinha controle de ficar.
Ela passou as próximas semanas sentada pelos cantos, lendo, remendando e costurando, e principalmente escrevendo em seu diário. Os ferimentos que mais demoraram para sarar, além dos internos, foram os de seus pulsos e tornozelos – mas mesmo esses finalmente cicatrizaram. Mesmo assim, ela passava boa parte do tempo calada, sem discutir com nenhum deles, sem reclamar do clima ou da comida nem de nada. Ela não participava das conversas que eles tinham, apenas respondendo brevemente quando alguma pergunta era dirigida diretamente a ela. Exceto por isso, ela parecia distraída a maior parte do tempo, como se sua alma não estivesse por ali. Eventualmente ela comia alguma fruta ou pão, mas como ela nunca voltou a comer normalmente, ela tinha perdido mais de cinco quilos naqueles dias. E isso era muito para uma mulher tão miúda quanto ela. Todos notaram, mas esperavam que ela se recuperasse logo. Challenger estava prestando atenção especial em seu sono, e estava realmente preocupado ouvindo, noite após noite, os seus passos cada vez mais leves andando pelo quarto durante toda a noite. E como nesses dias ela não estava aproveitando a chance de dormir até mais tarde pela manhã – como ela sempre tinha gostado de fazer – ele estava praticamente certo que ela não estava dormindo nada. Sem comida, sem sono, isso definitivamente não era bom. Seis semanas já tinham se passado do acontecido, e ela não mostrava nenhum sinal de começar realmente a se recuperar moralmente.
Ele notou que ela tentava manter uma certa distância de todos eles – talvez tentando esconder o que se passava em sua mente, temendo que eles pudessem descobrir mais esse segredo. Mas ele notou que ela estava particularmente evitando Roxton. Ele imaginou porque... Será que ela estaria desconfortável com seus sentimentos por ele? Maldição, eles se amavam, e esse seria um bom momento para que ela pudesse contar com ele para ajudá-la a superar tudo isso, mesmo sem contar a ele o que tinha acontecido... Oh, meu Deus, ele entendeu, ela pode estar experimentando algum tipo de aversão depois de tudo que acontecera... Como ele poderia saber, como poderia falar sobre aquilo com ela?
Mas na semana seguinte a ocasião apareceu. Ele notou que ela descia com o elevador pouco depois de Roxton, Malone e Verônica saírem para caçar. Ele decidiu segui-la. Ela estava sentada pacificamente entre as raízes da árvore enorme que suportava a casa em que habitavam havia três anos, suas costas apoiadas no tronco da árvore, as tranças escuras se esparramando por seus ombros. A luz do sol brilhava e aquecia suas pernas. Ela tinha os olhos fechados, mas as lágrimas desenhavam um caminho em seu rosto, e logo ela envolveu os joelhos com seus braços para esconder o rosto e abafar seus soluços. Sua mente não podia manter à distância aqueles momentos horríveis na tenda, homem após homem, tantas vezes, espancando-a e abusando dela. A dor, a vergonha, o medo, os momentos pavorosos que ela tinha passado estavam gravados em fogo dentro dela. Eos tinha sido particularmente violento tão logo ele descobriu que ela não era uma virgem – eles realmente a trataram como uma prostituta dali por diante. Suas memórias felizmente eram cortadas, já que ela tinha desmaiado e voltado a si várias vezes naquela noite de pesadelo. E ela se arrependia de cada oportunidade perdida com Roxton. Ela nunca tinha cedido a ele, nem quando tinham ficado presos naquela caverna e ela lhe tinha dito que o amava. E agora estava tudo acabado, não aconteceria entre eles, entre ela e o homem que ela amava mais que sua própria vida.
Challenger não podia ficar ali apenas observando sua tristeza por muito mais tempo, então ele se aproximou, ajoelhando-se ao lado dela. Ela mostrou o rosto devastado a ele, e ele podia praticamente tocar o seu pesar. 'O que é isso, minha querida? Eu notei que você tem se mantido quieta e distante, mas isso não está ajudando você a superar tudo isso. Você não precisa falar sobre o que aconteceu, mas você poderia nos deixar ficar mais próximos de você. Especialmente Roxton. Ele ama você, e faria qualquer coisa por você. Tenho certeza que ele poderia ajudá-la a se recuperar mais rápido de toda essa terrível situação'.
'Como, Challenger? Ele é um homem nobre. E eu... Eu sou uma cadela imunda, uma prostituta torpe dos homens selvagens. Ele vai saber de todo jeito e certamente sentirá aversão a mim, e eu não poderia suportar isso, George'.
'Mas por que, Marguerite? Eu não consigo entender porque você acha que logo ele vai saber de todo jeito, minha querida. Eu prometi a você e pretendo cumprir minha promessa: eu não vou contar a ele ou aos outros sobre nada do que aconteceu. E mesmo que ele soubesse, Marguerite, não foi sua culpa. Tenho certeza que ele também superaria isso'.
Ela respirou fundo antes de falar novamente: 'É isso, Challeger. Eu não tive minhas regras mensais. Deveria ter sido duas semanas depois... depois daquela noite maldita. Depois, novamente esse mês, deveria ter sido três dias atrás. Maldição, maldição, maldição.' E ela começou a chorar novamente, soluçando mais que antes.
Ele ficou entorpecido por um momento. Não podia ser. Seria possível que ela tivesse engravidado depois de tanta violência? E depois de tamanha hemorragia? Era isso! 'Marguerite, a hemorragia pode ter causado isso. Me dê uma hora. Eu vou preparar algo no meu laboratório que vai nos ajudar a testar isso.' Ela estudou o rosto dele, uma pequena esperança começando a nascer dentro dela. Poderia ser? Sim, era uma possibilidade.
Challenger deixou-a, encaminhando-se ao seu laboratório. Duas horas depois ele apareceu no balcão, pedindo que ela subisse – ela tinha ficado sentada lá fora ao sol da manhã todo esse tempo. Ele colheu uma amostra de sangue dela, e voltou ao laboratório. Ela tentou se sentar um pouco no balcão para ler, mas estava muito ansiosa para se concentrar. Ao mesmo tempo, o medo a estava dominando, porque uma confirmação científica poderia ser ainda pior que suas suspeitas …
Embaixo, no laboratório, Challenger estava mortalmente pálido. O teste tinha dado positivo. Ele repetiu o teste e teve o mesmo resultado. E ainda assim poderia ser. Se ela estava esperando suas segundas regras para três dias atrás, isso significava a primeira em torno de duas semanas após o estupro, que seria o período fértil dela. Ele se sentiu esgotado. Não poderia imaginar-se dando a notícia a ela. Em uma situação diferente ele ficaria realmente feliz em ter um neto postiço. Mas não nessas condições. Ele tinha certeza que estaria dando a ela uma espécie de sentença de morte, porque sabia que ela não suportaria a situação e a vergonha. Ele estava ainda imerso em seus pensamentos quando ela apareceu nas escadas. Ela não teve necessidade de perguntar pelo resultado, era apenas uma questão de olhar para a aparência devastada dele. Ela sequer se preocupou em perguntar a ele, e ele estava tão concentrado que não notou a presença dela. Ela subiu rapidamente, sentindo o mundo oscilar sob seus pés.
Ela se jogou em sua cama, mas não pôde encontrar sequer uma lágrima para chorar. Então era isso. O que fazer agora? Ela era muito covarde para se matar ou para tentar um aborto. Maldição. Ela rapidamente pegou sua mochila, jogou dentro seu diário, o medalhão de seus pais, algumas roupas, o cantil, seu revólver e munição. Pegou seu chapéu e saiu, aérea.
Challenger ouviu o elevador, mas como ele não tinha notado que ela tinha estado ali e sabia do resultado, ele se conformou pensando que ela tinha descido para o sol novamente, enquanto ele procurava ganhar tempo para pensar em algo, em como contar a ela a terrível verdade. Ela estava tão fraca, ainda, e uma gravidez seria perigosa no mundo perdido de qualquer forma, ainda mais com ela tão fraca e nem um pouco orgulhosa da gravidez em si. Ele se perdeu em seus pensamentos.
CONTINUA...
