- Quatre... – O moreno murmurou baixinho com uma voz sofrida, colocando uma mão na parede do quarto para se apoiar.
As tardes sem o loiro se arrastavam dolorosas, o silêncio dominava a casa deixando Trowa no vazio da sua alma. Afinal, por que Quatre tinha que ir à escola? Ele nem gostava daquele lugar! Não era melhor ficar no quentinho dos seus braços, se enchendo de chocolate e aproveitando enquanto eram jovens e despreocupados? Quer dizer, o próprio moreno não ia à escola e estava tudo muito bem...
Já estava se virando quando duas mãozinhas brincalhonas cobriram os seus olhos por trás, fazendo o seu coração saltar até marte e depois voltar. Aquele cheiro bom de jasmim que tinha na pele... Reconheceria isso em qualquer lugar desta Terra...
- Adivinha quem é! – o árabe perguntou rindo, apoiando sua cabeça no ombro do moreno.
Ele continuou quieto, sentindo a respiração do outro menino em seu pescoço, arrepiando seus pelos. Quatre estava ali. Ele podia viver de novo...
Delicadamente, pegou as mãos que cobriam seus olhos e as segurou em suas bochechas, a fim de sentir melhor a temperatura do loiro, que havia parado de rir por algum motivo. Ficando mais feliz ao perceber que não era uma alucinação, que Quatre não desapareceria a qualquer momento, puxou o árabe para um abraço frente-a-frente, que não foi recusado.
Enlaçou o garoto menor pela cintura, o apertando contra o seu corpo, enquanto o próprio loiro passava seus braços pelo pescoço de Trowa. É, realmente, estava melhor agora...
- O que foi? – indagou vendo a expressão emburrada que ele fazia.
- Quando alguém fala "adivinha quem é!" você tem que adivinhar quem é, oras!
- Mas eu sabia que era você...
- Não importa! É assim que se joga!... Pingüins! – Trowa sentiu uma pontada de riso ao ouvir aquilo. Quatre sempre falava "pingüins" quando se irritava, e isso geralmente acontecia quando a palavra "Chiquititas" ou "colegas de classe" entravam na conversa.
- Se serve de consolo, você me deu um susto.
- Sério? Mas você nem se mexeu! – roçou seu nariz de leve no pescoço do moreno, dessa vez sentido-o se arrepiar até os pés. – Por que seus pelos sempre ficam de pé quando eu toco no seu pescoço?
- Sei lá... deve ser o contato... – Sussurrou sem se importar, descansando seu nariz na cabeça do loiro, fechando os olhos. Havia um cheiro deferente ali hoje. Será que ele tinha trocado de shampoo? Ou os anjos mudavam constantemente de odor?
- Eu não tenho piolho, tá? – Quatre avisou percebendo dois dedos irem e voltarem pelos seus cabelos.
Os lábios de Trowa quase se curvaram em um sorriso.
- Eu sei... – Aconchegou melhor o árabe contra seu corpo, que ronronou feliz. – Hã... O que você está fazendo aqui, Quatre?
- Esse é o meu quarto, sabe... O que você está fazendo aqui?
- Vim pra tentar matar as saudades...
- Ah, que fofo! – o loiro teria pulado em seus braços se já não estivesse o abraçando.
- E a escola?
- Que escola? – perguntou meio embriagado de alegria.
- Aquele lugar em que você vai todos os dias...
- Ninguém tem aula sábado, Trowa... Bom, exceto lá no Japão, eu acho...
O moreno segurou seu rosto com uma mão e o olhou nos olhos, aqueles olhos azuis brilhantes de anjo.
- Como eu não percebi antes?
- Porque nós nos conhecemos desde segunda e esse é o nosso primeiro sábado juntos... – Quatre depositou um pequeno beijou no canto dos seus lábios, deixando Trowa sem reação.
Eles se fitaram em contemplação mutua, mudos, tentando adivinhar o que iria acontecer a seguir. O moreno suavizou o olhar com a respiração meio densa, esperando alguma mágica simplesmente acontecer.
Sentindo uma mão atrás de sua cintura o puxar para mais perto, o que era quase impossível pois já estavam colados um no outro, o árabe foi fechando os olhos devagar, aproximando seus lábios vermelhos dos do moreno. O hálito quente de Trowa chegou até suas narinas quando estavam a dois milímetros de distância. Uma mão gentil continuava em seu rosto, congelada, sem saber se o puxava de uma vez para o tal beijo ou se deixava Quatre fazer as coisas com ternura como só ele fazia. A franja cobrindo um dos olhos verdes encostou de leve no rosto loiro...
- Ahahahahahaha!! – do nada o árabe desatou na gargalhada e Trowa ficou completamente desconcertado. -... ah, me desculpe, é que... sua franja me deu cócegas...
O moreno nem tentou segurar uma expressão indignada que tomou conta do seu rosto, fazendo o árabe se contorcer de rir em seus braços.
- 'Peraí', Quatre! Você deixou de me beijar por causa disso?
- É... AHAHAHAHAHAHA!!! – ele se soltou dos braços, cambaleando alguns passos para trás.
- Bom, dá pra ver que você gosta bastante de rir, hein?
O loiro parou ao ver o outro garoto dobrar as mangas da camisa ameaçadoramente.
- Trowa, o que...
Não houve tempo para mais nada. O moreno o pegou e jogou ambos na cama de Quatre, passando os dedos pelo seu corpo e achando rápido seus pontos francos.
O loirinho se contorcia e chorava de tanto rir, tentando fazê-lo parar de atacar sua barriga em cócegas, mas Trowa era mais forte e não dava chance de resistência. Ah, aquela risada gostosa era uma massagem nos ouvidos do moreno. Poderia fazer aquilo para sempre.
Logo a coberta branca já estava amontoada em volta deles, amassada completamente com o escândalo que Quatre fazia.O árabe fez menção de pegar os bichinhos de pelúcia que caiam na ponta da cama, mas seu atacante o puxou de volta, segurando suas mãos em cada lado da cabeça.
- Bom, senhor Winner, espero que você tenha aprendido a lição... – ele continuou a segurá-lo pelos pulsos, esperando se acalmar, antes de depositar um pequeno beijo em seu nariz. – Na próxima vez que formos nos beijar, não ria!
- S... Sim... se-nhor...
Trowa não conseguia esconder um sorriso ao fitar, fascinado, o loiro todo corado em baixo de si. Encantador, tentando pegar seu fôlego de volta, seus lábios carmesins entre abertos num convite inconsciente que ele não poderia recusar.
Quatre ficou parado sem energia para reagir, observando seu "príncipe encantado" aproximar seus lábios com doçura. Trowa jogou seu cabelo um pouco para trás no intento de evitar o mesmo incidente anterior. Seus olhos se cruzaram mais uma vez e de repente eles não eram mais duas crianças de 10 anos, e sim duas almas apaixonadas que estavam prestes a dar seu primeiro beijo ao som de uma música muito linda no fundo.
Pararam, se olhando estranhos, percebendo a trilha sonora de novela mexicana que acontecia ali.
- Você está ouvindo isso? – Trowa parecia meio desorientado com a mudança drástica de clima que acabara de ocorrer.
- É "Hotel Califórnia" do Eagles... – o loiro sorriu ouvindo os gritos da platéia no fundo. – Uma versão ao vivo. Os empregados colocam alto toda semana...
- Hum...
Deixando o resto de lado, o moreno não deixaria nada estragar dessa vez. Com o som do violão e as leves batidas ao fundo, um Trowa apressado finalmente juntou seus lábios com os de Quatre, numa caricia suave e cheia de ternura. Sem pensar em mais nada, o moreno encontrou a língua quente do anjo com a sua, enroscando-se com ela, sentindo o gosto doce do chocolate que o loiro deveria ter roubado no almoço.
Completamente extasiados, eles permaneceram se olhando após se separarem, tentando acalmar o calor dos seus corpos. Sorrindo, o loiro teve suas mãos liberadas para enlaçá-lo pelo pescoço, suas testas se encostaram enquanto eles riam baixinho sobre nada em particular.
A próxima cena aconteceu como um pesadelo. Livros se espatifaram no chão, despertando-os para a dura realidade. Parada na porta, havia uma mulher na casa dos 50, expressão severa e incrédula, as mãos nervosas tentando segurar os livros que ela não deixara cair no chão de surpresa e os olhos negros os mirando sem reação.
Quatre tinha perdida as cores do rosto e, para o desespero do moreno, Trowa também a reconheceu como a Governanta da casa...
You
can checkout any time you like,
but you can never leave.
Você
pode pedir a conta na hora que quiser
Mas jamais poderá sair.
Continua (?)
Desculpe a demora de novo! Eu gostaria de agradecer as pessoas que deixaram comentários no site e as que me mandaram direto para o meu e-mail. Muito, muito obrigado!
Hã... sabe... eu fico meio sem graça em falar isso, mas... Eu preciso de um favor. Eu demoro pra postar as continuações porque não tenho certeza se está bom ou não, então eu queria (antes de postar no site) enviar o capitulo para alguém ler e dizer o que achou. Eu só preciso de uma pessoa, se alguém estiver interessado é só me mandar um e-mail:
Eu agradeceria muito!!!
Ah, e se alguém quiser essa música "Hotel Califórnia" do Eagles é só falar que eu mando!
