Capítulo 4
O Café dos Campeões

Tarde da noite, depois um sonho particularmente estranho no qual ela montava um unicórnio sem sela, com uma garrafa de cerveja amanteigada em cada mão e cantando I've Got To Be Me, Hermione acordou com um barulho assustador. Mais precisamente, com gritos e gemidos vindos do quarto adjacente ao seu.

Ela levantou da cama, vestiu uma camisola e abriu a porta devagar. As tochas daquele patamar de escada lançavam uma luz meio embaçada pelo corredor, que ela podia ver que naquele momento estava vazio. Então, ela abriu mais a porta e saiu.

— Harry? — ela murmurou.

Sem obter resposta, ela se dirigiu até o quarto de Harry e ficou ouvindo pela porta.

— Fique longe dela! Eu vou te matar!

Ela respirou fundo, nervosa, levantando a varinha e abriu a porta apenas o suficiente para que ela pudesse enxergar lá dentro. A visão que teve mexeu com seu coração. Harry se revirava na cama lutando contra alguém do seu sonho. Ela tinha uma boa idéia de quem era, na verdade, mas a coisa mais importante que ela precisava fazer era acordar Harry do pesadelo que estava tendo.

Ela guardou a varinha no bolso e fechou a porta atrás dela enquanto entrava no quarto e se aproximava da cama. Assim que seus olhos se acostumaram à escuridão, ela se sentou na cama e se inclinou para perto de seu amigo.

— Harry — ela sussurrou, sem querer assustá-lo.

— Hermione? É você? — ele respondeu.

Ela soltou a respiração, que não tinha percebido que estava prendendo.

— Eu tou aqui, Harry. Tá tudo bem.

Harry abaixou a voz.

— Ele tá aqui, Hermione. Voldemort. Se abaixa.

A mão dele agarrou a dela, deixando-a assustada e a puxando para a cama, junto a ele, num abraço protetor.

— Eu não vou deixar ele te machucar. Não vou.

A respiração dela foi acelerando à medida que ela se assustava. Hermione sabia que eles estavam a salvo, mas o sonho de Harry a tinha deixado com medo. Ela se aproximou e tentou fazê-lo esquecer o sonho.

— Harry, eu vi ele ir embora. Ele estava morrendo de medo de você e também ouviu o Professor Dumbledore chegando.

Ele se sobressaltou e virou a cabeça como que para olhar ao redor.

— Dumbledore está aqui?

Isso terminava tudo.

— Você me salvou, Harry. Você salvou todo o mundo. Todos vão ficar bem.

Ele visivelmente relaxou e estremeceu ao soltar um suspiro enquanto esquecia o pesadelo. Hermione esperou até que sua respiração se aprofundasse e tentou levantar da cama, mas Harry ainda segurava firmemente sua mão. Ela tentou levantar os dedos dele, sem sucesso.

— "timo, chega de quadribol para você — ela murmurou bem baixo.

Quando o ouviu choramingar baixinho, ela desistiu e se deitou, se enfiando embaixo das cobertas para tentar fugir do frio da noite e se aquecer.

— Hermione? — Harry murmurou.

— Vai dormir, Harry. Você tá bem.

Ele riu baixinho.

— Mione, eu sei que eu tou bem. O que você ta fazendo na minha cama?

Os olhos de Hermione se abriram de uma vez e ela se sentou abruptamente.

— Hã… eh… Harry! Hã… — ela não tinha acordado direito e por isso não conseguia pensar direito. — Eu… um… foi um… pesadelo.

Harry tentou não rir.

— Tudo bem, Mione — ele disse, tentando confortá-la. — Você teve um pesadelo?

Ela levou a mão ao peito.

— Eu?

Ela percebeu que a camisola tinha se aberto durante a noite e tentou pateticamente fechá-la.

— Não, não fui eu, você… você teve um pesadelo.

Ele fechou os olhos e encolheu os ombros, sorrindo o tempo inteiro.

— Isso faz mais sentido.

Ela não queria mais explicar nada e resolveu sair do quarto, precisava da segurança do seu quarto e da confiança das suas roupas. Muitas e muitas roupas.

— Hã, dá licença.

Harry vestiu uma calça jeans e um pulôver com um capuz, e desceu para a cozinha para tomar seu café. Ele estava cozinhando pequenas salsichas direto no fogo e ovos em uma panela quando Hermione entrou na cozinha.

— Bom dia — Harry cumprimentou satisfeito.

Ele podia dizer que Hermione ainda estava bastante envergonhada por ter acordado na sua cama.

— Dia — ela respondeu. E depois de um momento:

"Por quê você tá tão feliz?"

— Hermione, eu tive a melhor noite de sono em quatro anos. Eu simplesmente estou satisfeito — ele encolheu os ombros. — E eu também acho que eu preciso te agradecer por isso.

Ela virou o rosto para baixo, para que Harry não pudesse ver o sorriso envergonhado que se formara.

— Como você prefere os ovos?

Ela levantou a cabeça.

— Você sabe cozinhar?

Harry lhe deu um sorriso estranho.

— Os Dursley tiveram um escravo nos últimos quinze anos. O que você acha?

Ela riu e se levantou, olhando para as panelas que chiavam no fogo.

— De qualquer jeito tá bom.

Ele tirou um mexedor do armário de utensílios e começou a bater os ovos na panela. Hermione observou com grande interesse e o ouviu cantarolar sob a respiração uma música vagamente familiar.

Poucos minutos depois, ele tinha separado os conteúdos das panelas em dois pratos.

— Você podia pegar o suco de abóbora na caixa refrigeradora?

Hermione fez que sim avidamente com a cabeça e serviu um copo grande para cada um. Harry levantou seu copo:

— A uma ótima noite de sono.

Ela riu, bateu seu copo no dele e tomou um gole. Ela estava morrendo de fome e pegou logo um pedaço de ovo.

— Harry, estão ótimos!

Ele encolheu os ombros.

— São só ovos…

Ela balançou a cabeça e engoliu outro bocado.

— Um grande bruxo e um ótimo cozinheiro. Você ainda vai ser o marido de uma bruxa muito sortuda algum dia.

Harry tossiu e quase se engasgou com a salsicha.