Capítulo 5
Presentes Não Devem Ser Recusados

Harry observou como Hermione estava à vontade na sala de estar no andar de baixo, desempacotando todos os seus livros.

— Então, você vai me falar ou eu vou ter que arrancar à força? — Harry perguntou com expectativa.

— O quê?

— Quantos N.O.M.s você conseguiu?

Ela ficou pulando jubilosa no sofá.

— Doze.

— Doze? — Harry ficou atônito. — Como você conseguiu receber doze N.O.M.s? Você ao menos fez tantos cursos?

Ela sorriu e fez que sim com a cabeça avidamente.

— Lembra do terceiro ano. Eu tinha o vira-tempo.

— Ah, é.

— E você? — ela perguntou a ele.

— Seis — ele respondeu desajeitado.

Hermione andou até ele e o abraçou.

— Harry, isso é ótimo! Estou muito orgulhosa de você!

Ele se afastou depois que ela o soltou, com um olhar curioso no rosto.

— Você não achava que eu fosse conseguir tantos, achava?

Ela pareceu um pouco envergonhada.

— Harry, depois de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos… é, eu estou surpresa — ela deixou que isso fosse assimilado antes de continuar. — E mais, eu acho que você devia tentar recuperar as provas em que você não foi tão bem assim por essa razão.

Agora Harry parecia surpreso.

— Faz sentido, você sabe. Eu podia te ajudar a recuperar se você quiser.

Quando Harry recebeu seus N.O.M.s no meio de Julho ficou desapontado, mas não chocado por ter recebido um P em Poções e História da Magia. História não era tão importante quanto Poções. Ele precisava de um "timo em Poções para assistir às aulas próprias para seus N.I.E.M.s no sétimo ano. Sem essa nota, seu sonho de se tornar um Auror estava arruinado.

— Isso seria ótimo, Hermione. Obrigado.

Eles passaram quase duas horas estudando, e Harry parava a todo instante para observar sua amiga. Sua concentração era enorme. Ela olhava com atenção as páginas do livro que lia. Ele seguiu seus olhos quando pararam em uma seção específica da página.

Ela parou mais uma vez e se encostou ao sofá, colocando os pés sobre a mesinha de café. Ele se acomodou no sofá de modo que tivesse o melhor ângulo para olhar para ela e para seu livro sem ser notado. Exceto essa vez.

— Você sabe, é claro — Hermione disse um pouco de orgulho — que eu tenho uma visão periférica perfeita.

Harry sabia quando estava vencido, e levantou o livro alguns centímetros para esconder o rosto que corava subitamente. Hermione sorriu para si mesma quando percebeu que ele não estava olhando.

Depois da hora do almoço, Harry ficou um tanto cansado por ter ficado a manhã inteira dentro de casa.

— O que você acha de a gente passar no Beco Diagonal e comprar o material escolar?

Hermione enxugou o último prato e balançou a cabeça em concordância.

— Seria ótimo.

Depois, como um pensamento tardio:

— Ah, Harry, eu não posso. Minha mãe e meu pai normalmente pagam tudo e hoje eles devem estar em um seminário de dentistas.

Harry encolheu os ombros.

— Mione, eu simplesmente herdei o patrimônio da família Black esta semana. Juntando com o que os meus pais me deixaram, eu não vou precisar trabalhar um só dia na minha vida.

Ela piscou os olhos. Hermione via em Harry algo ele talvez ainda nem tivesse percebido. Ela se aproximou e o abraçou com força.

— Eu sinto muito, Harry.

Ele a abraçou de volta e sentiu o alívio tomar conta do seu peito.

— Todos eles te amavam muito, você sabe.

Harry sentiu algo preso em sua garganta e simplesmente balançou a cabeça.

— Vamos, melhor a gente ir antes do congestionamento da tarde.

Ela se separou dele, os olhos brilhantes, e ele achou que ela estava mais bonita… para uma garota, é isso aí.

Gnot Gnast cumprimentou Harry e Hermione assim que entraram no Banco Mágico de Gringott's.

— Bom dia para o senhor, Sr. Potter. Já de volta?

— Fui descoberto por um porta-retrato, Sr. Gnast. Essa é minha amiga, Hermione Granger. Nós viemos trocar de volta o dinheiro trouxa que eu retirei ontem e viajar até meu cofre.

O Executor Sênior acenou com a cabeça.

— Por aqui, senhor.

Hermione segurou o braço de Harry enquanto caminham e se aproximou para que não fosse ouvida:

— Desde quando duendes são gentis com os clientes? E há quanto tempo você é conhecido no Gringott's? Você só vem aqui uma vez por ano.

Harry sorriu com um ar de superioridade.

— Eu acho que é melhor guardar todas as perguntas até a gente chegar ao meu cofre.

Ela lançou-lhe um olhar de total confusão.

— Você não pode ser tão rico assim!

Harry simplesmente sorriu.

— Harry? Você não pode?

Hermione estava bem esverdeada quando finalmente chegaram ao cofre de Harry. O duende abriu a porta do vagão para que eles pudessem sair e ela cambaleou até Harry a segurar.

— Nunca mais eu quero fazer isso — ela comentou com a mão na boca, por precaução.

Harry sorriu:

— A gente ainda tem que voltar lá pra cima.

Ela agarrou seu braço com mais força.

— Então, eu vou andando.

— Eu esqueci que você nunca esteve aqui. Eu acho que seus pais devem trocar o dinheiro trouxa lá em cima.

Ela fez que sim com a cabeça.

— Ainda bem. Eu não sei se conseguiria descer pra cá sempre. E a minha mãe também não. Ela odeia escadas rolantes.

— Seu cofre, senhor.

A porta larga se abriu e imediatamente uma tocha interna se acendeu automaticamente. Se Harry ficou surpreso na primeira vez que foi ali seis anos antes, não era nada comparável à expressão do rosto de Hermione naquele momento.

— O que você acha?

— Merlin! — ela disse em assombro. — Harry…

— Um pouco demais, não é? — ele abriu uma sacola e a encheu com galeões de ouro e uma mão cheia de sicles de prata foi a seu bolso. — Sirius descreveu a fortuna da família como "intacta". Eu achei que fosse encontrar uns duzentos galeões ou coisa do tipo… — ele tentou conter o riso. — Ele gosta de fazer brincadeiras.

Depois que Hermione desviou os olhos das enormes pilhas de outro e prata, ela viu as jóias da família sobre uma grande mesa ao lado.

— Harry, olha pra isso! — ela reprimiu um grito. — São lindas.

Anéis e cordões de todo tipo incrustados com qualquer pedra preciosa imaginável estavam dentro de um vidro em cima de uma toalha de mesa de veludo. Harry amarrou o pacote de ouro ao cinto e retirou a varinha do bolso.

Wingardium Leviosa!

O vidro levitou alto acima da mesa, na direção de Harry, para que pudessem dar uma olhada mais de perto.

— De qual você gosta mais? — ele perguntou.

— São todas tão…

Harry seguiu seus olhos até um anel de platina com uma esmeralda em forma de pêra incrustada no alto. Ele estendeu o braço e o pegou.

— Experimenta.

Ela se afastou.

— Eu não devia.

Harry franziu a sobrancelha.

— Vai.

Ela olhou para o anel e de volta para Harry.

— Eu acho que só experimentar não vai machucar.

Ele balançou a cabeça sem entender sua relutância.

— Deixa de ser besta. É meu anel. Não vai machucar.

Ela sorriu rapidamente e o retirou da mão dele com delicadeza. Ela tentou primeiro na mão direita e ele não ficou bem em nenhum dedo até que ela passou para a mão esquerda. Como esperado, ele deslizou perfeitamente pelo dedo anelar esquerdo. Hermione colocou a mão contra a chama da tocha interna.

— É o anel mais bonito que eu já vi, Harry.

Harry acenou afirmativamente com a cabeça.

— "timo, então.

Ele balançou a varinha e a cobertura de vidro voltou a ficar sobre a mesa, protegendo seu conteúdo do ar insalubre da caverna.

— Harry!

Ele pareceu interessado.

— O que foi?

— Levite isso de volta, eu tenho que guardar o anel.

Ele percebeu que ela já o tinha tirado e o mostrava com necessidade urgente de guardá-lo antes que ela o quebrasse ou algo do tipo.

— Você não pode devolver — ele disse categoricamente.

As sobrancelhas de Hermione se franziram em sinal de confusão.

— Mas…

Harry se virou e rumou para sair do cofre.

— É seu anel, Hermione. Coloque de volta no dedo.

Ele estava quase alcançando a porta do cofre quando a voz de Hermione se levantou até um volume bastante alto:

— Harry James Potter! Você volte aqui e guarde esse anel imediatamente.

Mais uma vez ele tentou conter o riso. De fato, ele se virou e voltou para o lado dela, pegando o anel em sua mão. Ela pareceu visivelmente aliviada até que Harry segurou sua mão e colocou o anel de volta no terceiro dedo.

Ela estava a ponto de protestar quando Harry a interrompeu:

— Hermione, iria significar muito pra mim se você aceitasse isso. Não é caridade, você sabe. Eu sei que a sua família está bem, seus pais sendo dentistas e tudo, mas eu nunca te vi com alguma coisa pra… eu não sei… alguma coisa pra você se divertir. Eu vi como o seu rosto se iluminou quando você encontrou esse anel e eu quero ver isso mais vezes esse ano. Você sabe que essas coisas — ele girou a mão em círculo, para indicar todo o conteúdo do cofre — não significam nada pra mim. Eu desistiria de tudo isso amanhã pra ter meus pais e Sirius de volta.

Ela acenou positivamente com a cabeça e baixou o olhar.

— Sirius me deu essas coisas porque me amava e eu estou te dando isso porque eu… hã… porque você é uma das pessoas mais importantes na minha vida. Eu estou cansado de guardar meu dinheiro por medo de que as pessoas pensem que eu estou tentando comprar a sua amizade e a do Rony, ou por alguma noção idiota de orgulho.

Ela levantou a cabeça em negação, concordando que Harry nunca faria nada assim. Ele se afastou dela mais uma vez.

— Eu acho que agora todas as pessoas envolvidas, ou, mais exatamente, todo o mundo com quem eu me importo sabe que tipo de pessoa eu sou. Então, eu estou partilhando a minha riqueza e você é a primeira pessoa com quem eu queria dividir. O anel fica lindo em você, Hermione. Por favor, fica com ele.

Ele observou sua mão abrir e fechar, e depois quase foi derrubado quando ela jogou os braços ao redor do seu pescoço e passou a sufocá-lo com um abraço.