Por alguma estranha razão a viagem de volta pelas cavernas do Gringott's não provocou efeito algum em Hermione. Na maior parte, sua atenção ficou volta para duas coisas: a parte de trás da cabeça de Harry e a monstruosa pedra verde na armação de platina que estava no terceiro dedo da sua mão esquerda.
Depois que saíram do banco mágico, Harry correu o olhar por todo o Beco Diagonal com um sorriso satisfeito no rosto.
— Pra onde primeiro?
Hermione saiu súbito do seu estupor.
— H
— Você tem a sua lista de material?
Rapidamente, ela levou a mão até dentro das roupas e pegou um pedaço de papel. Depois de examinar o conteúdo, ela olhou para cima.
— Eu acho que a gente devia pegar os itens mais leves primeiro. As costas vão ficar menos doloridas quando nós terminarmos.
Harry sorriu para ela, tranqüilizando-a.
— Não se preocupe — ele apontou para uma loja na esquina da Travessa do Tranco. — A Beasley's aluga carrinhos.
— Harry, meus pais vão me matar.
— Por quê?
Ela girou as mãos indicando todas as coisas espalhadas pela sala. Harry olhou ao redor. Caixas vazias e papéis de embrulho estavam empilhados em um canto e o resto estava ocupado por roupas de baixo, vestes, livros, cintos, sapatos, material escolar, doces e uma infinidade de outras coisas.
— Eu não posso levar isso tudo para casa comigo. Eles vão querer saber onde eu arranjei dinheiro pra comprar todas essas coisas — ela falou preocupada.
Harry encolheu os ombros.
— O que você não quiser levar com você, pode deixar aqui e pegar no próximo verão.
Ele cruzou os dedos atrás das costas.
— Escolhe o quarto que você quiser. Vai ser o seu quarto sempre que você vier ficar aqui.
Hermione estava cansada de se surpreender com qualquer coisa que Harry fizesse naquele dia. Ela simplesmente sorriu docemente:
— Obrigada, Harry.
Ele se espreguiçou e levantou os braços para endireitar seus músculos rijos.
— Eu acho que vou me deitar. Foi um dia longo.
Hermione balançou a cabeça afirmativamente.
— Eu vou mais tarde, depois de limpar isso um pouco.
— Deixa pra amanhã, Mione.
Mas ela não ouviu nada disso. Sua varinha estava para fora e fazendo o lixo circular até a lixeira no canto. O barulho da lixeira mastigando e engolindo veio logo em seguida.
Harry sorriu mais uma vez.
— Noite, Hermione.
Ela o cumprimentou de volta e observou Harry desaparecer no andar de cima, e depois sentou no sofá, estendendo a mão esquerda a sua frente. A luz tremulante das tochas nas paredes cintilava fortemente pela grande esmeralda.
— Ah, Harry… O que eu faço com você? Dava até pra pensar que era meu anivers… Ah meu Deus!
Ela puxou sua mochila e pegou sua agenda de um bolso.
— Não, não, não, não, não. Me diz que eu não fui tão estúpida…
Seu dedo encontrou a etiqueta de Julho e abriu a página. Seus olhos assustados percorreram a coluna da sexta-feira. Como ela temia, era 31 de Julho, aniversário de Harry, e ela tinha esquecido disso com a animação.
— Harry deve achar que eu sou horrível.
Ela deixou o calendário cair e correu para o andar de cima.
— Harry!
Foram poucos segundos até ela alcançar a porta e Harry a abrir com a varinha em punho. Ele ia saindo quando foi preso mais uma vez pelos braços de Hermione.
— O que aconteceu? — ele perguntou rapidamente, preocupado.
— Ah, Harry, eu sou uma amiga horrível. Eu esqueci o seu aniversário.
Ele riu e acariciou as costas dela.
— Bem, foi minha culpa, não foi? Fugindo e tudo mais.
As mãos frias dela percorreram as costas nuas dele, sentindo os músculos firmes até que ela percebesse que ele estava seminu mais uma vez. Sua menina má, Hermione, ela pensou.
Ela sentiu ele se arrepiar sob seu toque e se afastou antes que as coisas ficassem ainda mais obscuras sobre seu relacionamento com seu melhor amigo.
— O seu presente de aniversário está na minha casa, no meu armário.
Ela notou pela primeira vez que ele não estava usando os óculos, e olhou nos seus olhos muito verdes.
— Hermione, eu tenho tudo que eu nunca desconfiei que quisesse bem aqui.
Ela engoliu em seco de maneira quase audível.
— Harry — ela sussurrou incerta.
Antes que ela pudesse protestar, o rosto dele desceu até o seu e roubou um pequeno beijo. Seus olhos se fecharam ao contato dos lábios dele com os seus. Mas eles se foram com a mesa velocidade, e, junto com eles, a proximidade do seu corpo.
Ela abriu os olhos novamente e viu que ele tinha dado um passo de volta a seu quarto.
— Hermione, eu cresci nesse verão em mais de um sentido. Eu cansei de ser o garotinho tímido perdido no mundo imenso da magia perseguido pelo bandido. Foi por isso que eu fugi. Eu precisava controlar minha vida uma vez.
Ele segurou a porta semi-aberta.
— O fato de o Sirius ter se ido me faz querer fazer coisas pra que eu nunca tive coragem antes. Então, pense nisso hoje à noite e eu vou respeitar a sua decisão de manhã.
A cabeça de Hermione tremeu e sua boca ficou meio aberta, sem saber o que dizer.
— Eu quero que você seja minha, Hermione, e eu quero ser seu.
Ela tentou dizer alguma coisa, qualquer coisa.
— Har…
Ele levantou a mão.
— Não tome nenhuma decisão apressada hoje à noite. Pense nisso. Se você disser não, então nós podemos continuar sendo melhores amigos. Nada vai mudar, eu prometo. Se você disser sim, então nós vamos ter… mais. Boa noite, Mione.
E ele fechou a porta.
Harry se encostou a ela e fechou os olhos.
— Harry Potter, você enlouqueceu de vez.
Hermione sentou na sua cama com o lençol bem enrolado ao redor do seu corpo tremente. Ela encarou a parede pelo que devem ter sido mais ou menos trinta minutos só pensando naquele dia e no que Harry lhe tinha falado sobre seus sentimentos.
— Ele está completamente louco. É a única coisa em que consigo pensar. Por que eu? Por que escolher a mim?
Ela apertou o lençol no seu rosto com força, cobrindo a boca e o nariz.
— Quer dizer, eu sei por que ele. Ele é Harry Potter. Ele pode ter qualquer garota que quiser agora mesmo. Ele teve a Cho Chang ano passado e teria ficado com ela se ela não fosse um bebê tão chorão e não tivesse tanto ciúme de… mim.
Seus olhos se abriram mais com a percepção.
— Deus, ela tinha razão pra ter ciúmes!
Agora ela estava preocupada.
— Há quanto tempo ele se sente assim?
Há quanto tempo você se sente assim?, ela se perguntou.
— Quer dizer, ontem mesmo ele era seu melhor amigo… agora?
Ela balançou a cabeça e se jogou no travesseiro.
— Você está complicando as coisas, Hermione. Deixa simples. Ele é um menino e você é uma menina. Coisas acontecem. Vai dormir!
"Agora eu estou completamente louca, deitada aqui falando comigo mesma. Calaboca e vai dormir. As coisas vão ficar mais claras de manh".
