Capítulo 1

Assassinato

- Chamada urgente, repetindo, chamada urgente – a voz grossa soava intensamente nos ouvidos das pessoas que ocupavam a pequena sala.

- O que houve? – perguntou um rapaz alto com a barba por fazer.

- Ataque em Chelsea – respondeu um homem corpulento que entrava na sala. – Precisamos seguir rapidamente para lá.

- Não temos tempo – chiou o rapaz, muito preocupado. – Vai demorar em torno de meia hora para levar nossa equipe pra lá.

- Vá organizando a equipe e não se preocupe, Smooth. Nós já temos um homem indo na frente para cuidar de tudo.

- Vocês o chamaram? – o agente Smooth parecia muito assustado.

- Sim – respondeu o chefe, com uma careta de desgosto. – O caso é um pouco mais grave do que o normal.

Smooth murmurou alguma coisa olhando para o céu e correu para fora da sala, enquanto seu chefe prendia um bilhete na perna de uma coruja.

xXx

O nome dele é Ronald Weasley. Seu trabalho é muito simples: chegar antes dos outros. Não entendeu? Tudo bem, poucas pessoas que não integram o serviço de segurança do Ministério da Magia compreendem a importância desse trabalho.

Quando alguma coisa que abale a segurança dos bruxos ou trouxas acontece, a equipe de segurança do Ministério é avisada e eles preparam sua equipe para cuidar do estrago e dar um jeito nos culpados. Porém, do momento em que essa equipe fica sabendo do incidente até a hora que eles chegam no lugar onde ele aconteceu, há um tempo em que pistas importantes podem ser modificadas ou apagadas e culpados podem fugir ou prolongar seu crime. É por isso que o Ministério contratou uma pessoa para chegar lá antes e impedir que desastres aconteçam. E essa pessoa é Ronald Weasley.

Seus dedos estavam calejados e suas mãos suavam, mas nada disso o impedia de segurar com firmeza sua vassoura, pois não havia nada que ele fizesse melhor que voar. Quer dizer, talvez desarmar bombas ou aquele soco de esquerda... Mas o manejo de vassouras era uma de suas melhores qualidades. Rony chegou tão rápido ao seu destino que até se desanimou um pouco. Ele adorava voar, por isso não aparatava para os lugares que era chamado. Por maior que fosse a emergência, sua vassoura sempre chegava antes que qualquer bruxo perito em aparatar.

- Bem, bem, bem... Vamos ver qual é a boa por aqui...

Ele seguiu calmamente pela pequena rua escura, onde os habitantes dormiam profundamente. "Pobres trabalhadores cansados que não percebem nada", pensou Rony. Quando chegou ao fim da rua sem saída, olhou de cima a baixo o prédio de quatro andares a sua frente.

Parecia um prédio caindo aos pedaços, mas ele abrigava uma organização secreta de aurores banidos pelo Ministério. Rony aproximou-se da janela sem vidros e passou o dedo pela parede interior do prédio. Alguns segundos depois, a janela prolongou-se até o chão e ele entrou com tranqüilidade.

- Quem está aí? – perguntou uma voz de algum lugar no meio da escuridão da grande sala. – Identifique-se logo, nós estamos armados.

- Sou eu, Hogan – disse Rony, olhando para as colunas procurando pelas pessoas que estariam escondidas atrás delas. – O Balaço.

- Seu doido! – um homem muito alto e cheio de cicatrizes no rosto saiu de trás de uma coluna. – Quase nos matou de susto! Está tudo bem, pessoal, podem sair.

Aos poucos, vários homens do mesmo tipo físico de Hogan foram aparecendo. As luzes acenderam-se e Rony pode ver com clareza as mesas bambas e murais nas paredes do local.

- Onde ele está? – perguntou Rony, depois de abraçar Hogan.

- Ah, eu sabia que não era uma visita de cortesia...

- Esse é meu trabalho, Hog, você sabe disso.

- Está bem, vou te levar até o cara.

Os dois foram até as escadas acompanhados pelos olhares dos colegas de Hogan, mas ninguém ousou segui-los até o segundo andar. Entre uma mesa e a parede estava o corpo de um homem caído e aparentemente morto.

- Oh, eu não acredito – pela primeira vez Rony pareceu estar preocupado. – Hog, o que vocês fizeram com ele?

- Vá com calma nas suas acusações, Balaço.

- Ora, o que mais eu poderia pensar ao encontrar o chefe do departamento dos aurores morto no escritório dos aurores expulsos do Ministério por ele?

- Eu estou te dizendo, nós não fizemos nada com o sujeito, apesar dele merecer. Meus rapazes o encontraram aí há quinze minutos atrás.

- Morto?

- Do mesmo jeito que está agora.

- Por que alguém colocaria um homem morto no escritório de vocês?

- Para nos incriminar, talvez. E no mínimo foi alguém do Ministério, eles estão loucos pra pegar a gente.

- Ninguém do Ministério sabe entrar aqui, Hog.

- Olha, eu confio muito nos meus rapazes, mas eu sei que a carne é fraca. Eu não coloco a mão no fogo por nenhum deles.

- Vocês está dizendo que um dos seus colegas o traiu?

- É provável. O que você vai fazer agora? Vai acreditar em nós ou entregar seus amigos para a polícia?

- O que você quer que eu faça? Minta?

- Não, mas se ao menos nós tirássemos o corpo daqui e o colocássemos um pouco mais longe... Cara, o Ministério só sabe que alguém morreu, mas não sabem quem é ou onde foi exatamente.

- Você está louco! Quer que eu faça justamente o contrário do meu trabalho!

- Vamos, Balaço, só dessa vez... Nós confiamos em você, se eles te despedirem você pode se unir a nós, sempre foi um dos nossos.

- Não, eu não posso fazer isso... Nem mesmo por vocês.

- Vai deixar seus amigos irem pra Azkaban?

- Eu vou deixar que a justiça seja feita.

Enquanto Hogan encarava Rony com os olhos arregalados e raivosos, vários membros da equipe de segurança do Ministério surgiram pela escada.

- Parado aí, Hogan – disse o agente Smooth, apontando a varinha para Hog.

Hogan olhou para Rony mostrando decepção e levantou os braços devagar. Dois outros agentes aproximaram-se dele e o algemaram.

- Relatório, Balaço – disse Valentin Barker, o chefe corpulento da equipe de segurança.

Rony agachou ao lado do defunto e o examinou por alguns instantes.

- Morto há menos de uma hora por algum feitiço forte de estuporação. Os homens de Hogan estavam escondidos e esperando algum ataque quando eu cheguei.

- Ele te disse alguma coisa?

- Sim, disse que encontraram o morto há cerca de quinze minutos. Ele já estava morto e foi colocado aqui para incriminá-los.

A maioria dos agentes começou a rir junto com Barker.

- Ótima história! Vamos ver se os juízes do Ministério vão gostar dela tanto quanto nós gostamos.

Barker tirou um papel do bolso, escreveu alguma coisa nele e prendeu-o a uma coruja que esperava no parapeito da janela. Depois virou-se para seus homens e seguiu para a escada.

- Vamos, temos que cuidar da corja lá em baixo.Balaço, bom trabalho, está dispensado. Vá tomar alguma coisa, sua cara está péssima.

Enquanto os agentes desciam as escadas animadamente, Rony olhava com tristeza para o céu estrelado. Na verdade não era apenas tristeza, mas um mau-pressentimento de que algo ruim estava por vir.