Capítulo 2

Procure pelo Balaço

O despertador soou uma, duas, três vezes, mas nenhuma delas foi capaz de despertar Hermione Granger, que dormia em cima de sua mesa. Apenas depois de alguns minutos que o despertador desistira de despertá-la, alguém bateu na porta e ela levantou com um pulo.

- Quem está aí? – disse ela, segurando sua varinha que estava em cima da mesa.

- Sou eu, Mione. Me deixe entrar logo, nós precisamos conversar.

Mione arrastou-se até a porta ajeitando os cabelos e abriu-a lentamente.

- O que você quer?

O homem que estava do outro lado da porta era bonito, mas naquele momento parecia completamente desleixado. Seus cabelos castanho-claros apontavam para todos os lados e duas olheiras enormes ofuscavam o brilho dos olhos azuis.

- Conversar. E perguntar por que você me deixou aí fora a noite toda.

- Você sabe o porquê.

Mione deixou a porta aberta e foi para a cozinha, sendo seguida pelo rapaz.

- Ah, por Merlim, uma briguinha à toa daquelas não vai fazer a gente se separar, né?

- Briguinha à toa? Francamente... Você deve ter batido a cabeça pra não se lembrar da guerra que aconteceu aqui ontem à noite.

- Eu lembro muito bem e acho que podemos contornar isso, fazer as pazes... O que me diz?

Ele abraçou Mione pela cintura enquanto ela despejava pó de café no coador.

- Eu digo não. Saia daqui, Mark.

Mione seguiu para o fogão e pegou uma panela de água fervendo, deixando Mark paralisado.

- Você quer dizer que isso é o fim!?

- Que bom que você entende depressa as coisas.

- Mione, por favor, nós estávamos tão bem juntos...

- Você tem razão, estávamos! Não estamos mais! – agora Mione parara de fazer qualquer coisa para olhar Mark com raiva. – Desde que você começou a impor condições pra se casar comigo, tudo entre nós mudou!

- Você está exagerando! Eu só pedi uma coisa e você reagiu muito mal!

- Você pediu para eu deixar a coisa mais importante na minha vida, o meu trabalho! Eu jamais te pediria algo assim!

- Desculpe, mas achei que eu fosse a coisa mais importante na sua vida!

- E poderia ter sido... Se me aceitasse do jeito que eu sou, fazendo o que eu faço.

- Mas eu te aceito, Mione...

- Não aceita não! O que tem de errado com meu trabalho? É honesto, paga as contas e me faz feliz! Enquanto você não é capaz de fazer nem metade disso!

- Eu não acredito que você disse isso!

- E eu não acredito que um dia você cogitou que eu abrisse mão dele por você!

Mione despejou o café numa xícara e saiu rapidamente da casa, deixando Mark mais uma vez paralisado.

- Mione está aí, Beth? – perguntou um homem de trinta e poucos anos apoiado na mesa da secretária de Mione.

- Sim, acabou de chegar. – quando o homem faz menção de entrar na sala, Beth o repreendeu. – Eu não faria isso se fosse você.

- Por que?

- Hoje é um daqueles dias. Ela está pior do que quando nossa biblioteca virtual foi apagada da memória de todos os computadores.

- Você sabe o que houve?

- Aparentemente algo com o Mark.

- Hum, isso não vai ser bom para o trabalho... – ele fez uma careta. – Imagina como vai ser quando ele voltar das férias e os dois tiverem que conviver por aqui?

- Se ele voltar, né...

- O que quer dizer com isso?

- O senhor Norton está em reunião com os sub-diretores desde o início do expediente. Parece que algo está pra acontecer.

- Ou já aconteceu... – agora o homem estava pensativo, mas acordou de seu transe e colocou a mão na maçaneta decididamente. – Bom, de qualquer forma, preciso falar com ela. Até mais, Beth.

- Boa sorte, Clint.

Clint engoliu em seco, girou a maçaneta e empurrou a porta devagar, deparando-se com uma cansada Hermione olhando para sua janela distraidamente.

- Bom dia, Mione.

Ela girou a cadeira lentamente para encarar o colega.

- É o fim. Acabou tudo.

- Eu soube que você teve alguns problemas com Mark – Clint sentou-se na cadeira à frente da mesa de Mione.

- Problemas? PROBLEMAS? Nós terminamos! E dessa vez é para sempre.

- Você sabe que não é, vocês sempre brigam e depois fazem as pazes, isso é normal...

- Não! Dessa vez eu disse que era o fim, ele entendeu que era o fim e não protestou. Só pode ser o fim.

- Por que vocês brigaram dessa vez?

- Você sabe.

- Oh, aquela história do trabalho de novo não...

- Eu não entendo aquele homem... Eu não posso trabalhar e ele pode? Sendo que ele trabalha no mesmo lugar que eu!

- Mione, convenhamos que vocês fazem coisas um pouco diferentes...

- E daí? Eu jamais pediria para ele largar o emprego por mim!

- Ele só quer te proteger! Ser uma agente de campo é bem mais perigoso do que operar um computador!

- Mas essa é minha profissão e isso faz parte de mim, eu sou assim... Se ele não me aceita do jeito que eu sou, então é porque ele não deve ficar comigo.

- Mione, talvez você esteja sendo...

- Com licença, Granger, Johns.

Um senhor que usava roupas muito alinhadas estava parado segurando a porta entreaberta. Apesar da idade, ele ainda era forte e sua figura era imponente.

- Bom dia, senhor Norton – disse Clint.

- Bom dia, Johns. Senhorita Granger, será que poderia me acompanhar?

- Claro.

Mione levantou-se e se sentiu um pouco nervosa, mas Clint lançou-lhe um sorriso amigável. Quando ela saiu da sala, Clint continuou sentado e tomou um pouco de café da xícara de Mione.

- Senhor Johns – disse o sr. Norton, que ainda estava na sala.

- Sim?

- Será que o senhor poderia voltar ao trabalho?

Clint deixou a xícara na mesa meio sem jeito e saiu da sala, que foi fechada segundos depois pelo senhor Norton.

- Senhores, esta é Hermione Granger – disse o senhor Norton.

Os cinco homens do mesmo tipo físico e com roupas tão alinhadas quanto as do senhor Norton acenaram com a cabeça para Mione e sentaram-se logo depois.

- Senhorita Granger, estes são os chefes dos departamentos de aurores de todos os continentes.

Hermione passou os olhos por todos eles rapidamente e foi deduzindo a que parte do mundo pertenciam, mas se deparou com a falta de um deles naquela sala.

- Sinto que a senhorita já deve ter percebido que Jonathan McLinn não está presente.

Hermione sentiu corar e apenas concordou com a cabeça.

- A razão disso é que ele está morto.

Houve um momento de inquietação na sala. Hermione arregalou os olhos e encarou o senhor Norton pedindo uma explicação.

- Na madrugada de ontem pra hoje sei corpo foi encontrado na sede da organização secreta de aurores banidos pelo Ministério da Magia.

- Antony Hogan... – sussurrou Mione.

- Ele foi apontado como principal suspeito, mas ainda não foram encontradas provas concretas contra ele.

- O fato do corpo ter sido encontrado na sede da organização que ele lidera não é um fato concreto o bastante?

Alguns dos presentes riram, mas o senhor Norton continuou indiferente.

- Você sabe como essas coisas são. Hogan não pode ser preso enquanto não encontrarmos evidências de que foi ele mesmo ou um de seus homens.

- E o que o senhor quer de mim?

- A senhorita é nossa melhor agente. Precisamos que vá para a Inglaterra ajudar os agentes especiais deles, que não são muitos, a encontrar a evidência que incrimine Hogan ou, caso ela não seja encontrada, o verdadeiro culpado.

- Quando devo partir?

- O mais cedo possível. Eles estarão te esperando por lá e estão com pressa.

- Tudo bem. Vou me preparar para a viagem.

- Faça isso. Dispensada.

Mione levantou-se e saiu, sentindo-se observada por todos os presentes na pequena sala.

- Quer dizer então que você está indo para a Inglaterra? – disse Clint, sentado na mesma cadeira que estava alguns minutos atrás, na frente da mesa de Mione.

- Sim, mas não acho que vou demorar muito – ela organizava as coisas dentro de sua mala de um jeito quase geométrico. – O sujeito está praticamente na porta de Azkaban, só preciso achar uma evidência e os dementadores irão apanhá-lo em dois segundos.

- Bom, só posso te desejar boa viagem, então...

- Clint, é por pouco tempo. E você sabe que eu volto.

- Eu sei, e ainda posso gastar minhas pausas do café batendo altos papos com a Beth.

- Vai com calma, garanhão!

Enquanto os dois riam, a porta se abriu bruscamente e o senhor Norton entrou na sala.

- Granger, preciso... Você aqui de novo!? – ele olhava para Clint com uma expressão ameaçadora.

- Eu só vim, ahn... Pegar o... Porque estava...

- Fora daqui agora! – gritou o senhor Norton, perdendo um pouco a compostura.

Quando Clint saiu da sala, o senhor Norton fechou a porta devagar e sentou-se na cadeira onde Clint estava.

- Tem uma coisa que você precisa saber sobre o caso McLinn.

- Pode falar, senhor.

- Só gostaria que você soubesse antes que isso que vou te contar é extremamente confidencial e nem mesmo os chefes que estavam naquela sala sabem. Os únicos que estão à par dessa informação sou eu e Mark Taylor, que está trabalhando pra mim fora daqui.

"Mark", Mione pensou. "Podia ser qualquer outra pessoa..."

- O que acontece, senhorita Granger, é que temos mais um suspeito.

- O que?

- Na noite do assassinato, a polícia encontrou apenas duas pessoas no local do crime: Hogan e um agente do serviço secreto que é enviado pelo departamento de segurança do Ministério antes da polícia chegar lá para garantir que nada saia do lugar, principalmente as provas e os suspeitos.

- E o suspeito?

- É esse agente.

- Como? O agente é o suspeito?

- Sim. Eu e Mark estudamos a ficha desse agente e descobrimos algumas coisas que podem incriminá-lo. Ele só trabalha sozinho, tinha alguns desentendimentos com McLinn, tinha vínculos pessoais e de trabalho com Hogan e ninguém no Ministério sabe seu nome ou endereço.

- Por que eles contrataram alguém sem saber seu nome ou endereço?

- Porque ele é o bruxo mais rápido do mundo.

- Senhor... O que eu terei que fazer exatamente?

- Aja naturalmente. Procure as pistas, evidências e provas para incriminar Hogan, mas não se empenhe muito nisso. Quero que você fique de olho nesse agente e não deixe nenhum de seus movimentos passarem sem serem observados. E, principalmente, não deixem que descubram o que você está fazendo. Colocar uma agente do departamento de aurores dos Estados Unidos atrás de um agente do serviço secreto britânico pode causar algumas confusões diplomáticas. Use uma identidade secreta e você será enviada como agente normal.

- E como eu vou encontrar alguém que eu sequer sei o nome?

- Apenas procure pelo Balaço.