Capítulo 3

Encontro

- Onde ele está? Ainda não chegou? ONDE ELE ESTÁ? – gritou Barker, cuspindo em pelo menos cinco agentes que estavam por perto.

- Calma, chefe, nós mandamos a coruja há alguns minutos, daqui a pouco ele está aí.

- Essa coisa de não divulgar o endereço é a coisa mais patética que eu já vi... Eu poderia buscá-lo em dois segundos e não precisaria confiar naquela maldita coruja caolha!

- Olha como você fala da Afrodite, Barker – disse Rony, acariciando uma coruja muito branca. – Ela é muito eficiente.

- Balaço! Finalmente você resolveu aparecer! Onde está aquela rapidez toda, rapaz?

- Eu reservo ela para momentos de emergência, o que não é o caso.

- Como você poderia saber?

- Eu sei.

Ele foi até a janela e soltou a coruja que desapareceu no céu em poucos segundos. Enquanto todos estavam espantados com a rapidez do animal, Rony sentou-se numa cadeira e colocou os pés em cima da mesa de Barker.

- Então, porque me chamou aqui?

- É um assunto delicado... – Barker olhou para os outros agentes, mas eles continuaram parados. – SAIAM DAQUI, SEUS INÚTEIS!

Quando o último agente saiu da sala apressado, Barker sentou-se na cadeira atrás da mesa.

- Você sabe que eu não te chamaria se não fosse um caso especial, não é, Balaço?

- O que você quer?

- Temos um novo suspeito para o caso McLinn.

- O que? Quem?

- Você sabe que nós temos um informante em cada continente e, bem, o informante dos Estados Unidos nos mandou um relatório esta noite sobre o comportamento estranho do chefe do departamento de aurores de lá e alguns de seus agentes.

- E o que tem isso?

- Aparentemente, algum agente passou a madrugada de ontem acessando nossos sistemas e passando relatórios para seu chefe. De manhã, aconteceram várias reuniões secretas entre o chefe e esse agente e o chefe com outro agente, o terceiro acusado de ações suspeitas.

- O que mais?

- No começo da tarde, uma agente foi enviada para cá. Essa moça era uma das que teve comportamento suspeito e agora o chefe dela a mandou pra cá provavelmente para se informar e mandar relatórios periódicos para ele.

- Você está dizendo que o chefe do departamento de aurores dos Estados Unidos é o mandante do crime?

- Eu não digo nada, Balaço, só suponho, mas é uma suposição com fundamento. Essa agente pode estar escondendo algo, por isso eu preciso de alguém para ficar de olho nela enquanto estiver circulando pelo nosso quartel e...

- Ei, ei, pode ir parando, Barker. Você sabe que essa não é minha área.

- Eu sei, mas esse é um caso especial. Todos nossos agentes estão ocupados com o caso McLinn e você é o nosso melhor e mais discreto agente... Fora que ela nunca vai poder saber nada sobre você, já que não tem nome nem endereço.

- Eu sou pago para chegar antes que vocês no local do crime e manter as evidências no lugar, não para ficar atrás de uma agente americana que se bandeou pro lado do crime.

- Se esse é o problema – Barker abriu uma gaveta em sua mesa e jogou um saco de galeões em cima dela -, aqui está a solução.

Rony ficou olhando para o saco por alguns instantes, até que o pegou e começou a contar as moedas dentro.

- Certo, me passe os dados da moça que eu vou cuidar para que ela não saia da linha.

- Não apenas isso, você terá que ficar sempre atrás dela, vigiar todos seus passos e, principalmente, não deixar que ela desconfie que você é um agente secreto. É bom usar uma identidade secreta e, a partir de agora, você é apenas um agente comum.

- Fique tranqüilo, Bark. Em menos de uma semana você vai saber tudo sobre essa organização secreta dos americanos e ela não vai saber nada da gente.

Rony andava pela estação de trem com vários papéis na mão, ainda se perguntando porque uma bruxa tinha que vir de trem para Londres.

"Pegar coisas em Paris", murmurou Rony. "Eu duvido que ela tenha ido pegar alguma coisa em Paris que não seja ilícita".

Ele foi andando rapidamente pelo corredor que levava ao desembarque tentando organizar os vários papéis que tinha na mão e memorizar o maior número de informações que podia. "Olá, meu nome é Max Paterson, como vai você?", sussurrou Rony, treinando sua saudação. 'Não, muito nerd. Olá, eu sou Max Paterson, beleza?' Não, muito adolescente. 'Olá, Max Paterson, departamento de aurores'. Não, agente demais. 'Eu sou o Max, seja bem-vinda à Londres!' Não, isso é feliz demais. Quem sabe... 'Paterson, Max Paterson'. Isso está tão ridículo que ela vai..."

Rony parou de treinar sua fala quando trombou em cheio com alguém que vinha na direção contrária. A outra pessoa também estava cheia de pertences, então o chão ficou cheio de coisas dos dois.

- Oh, me desculpe, eu estava distraído e... Mione!?

Mione parou de recolher suas coisas do chão quando ouviu seu nome e olhou pela primeira vez para o sujeito que tinha atropelado-a.

- Rony? Rony! Há quanto tempo!

Ela se levantou com tudo e abraçou forte seu amigo de infância.

- O que você está fazendo aqui, Rony?

- Ah, eu vim... Ahn... Buscar uma amiga minha! E você?

- Estou chegando de... Paris!

- Paris? Eu nem sabia que você tinha saído daqui!

- Nããããão, eu ainda estou aqui, só fui lá passar alguns dias, sabe como é, stress...

- Sei, sei, também estou precisando descansar um pouco... Ahn... Mione, seu trem estava muito cheio?

- Não muito, por que?

- Nada, é que parece que não tem mais ninguém saindo.

- Eu fui uma das últimas. Sua amiga vinha de Paris?

- Vinha sim.

- Então ela já deveria ter saído...

- Eu vou perguntar ali no balcão. Quer vir comigo?

- OK.

Os dois terminaram de recolher os pertences caídos e seguiram para o balcão de informações.

- Por favor, eu gostaria de saber se uma pessoa embarcou no trem que acabou de chegar de Paris.

- Nome da pessoa?

- Só um instante.

Rony procurou entre seus papéis um que era vermelho e bem pequeno, enquanto Mione olhava de lado.

- Sobrenome complicado, sabe – disse ele, ao perceber o olhar de Mione. – Sabrina Cobuild é o nome. Você pode checar, por favor?

Mione gelou na mesma hora. Como Rony sabia o seu suposto nome?

- Por que você veio buscá-la? – perguntou.

- Foi meu chefe que me mandou aqui.

Rony deveria trabalhar para o departamento de aurores, pensou Mione. Mas seria complicado demais explicá-lo o que estava realmente fazendo por lá.

- Senhor – disse a moça do balcão. – Essa pessoa que você procura estava no trem que chegou há dez minutos.

- Certo... Obrigado.

Ele pegou todos os papéis de cima do balcão e começou a andar em direção ao nada, um pouco preocupado.

- Você por acaso sabe como essa pessoa é fisicamente? – perguntou Mione, tentando disfarçar sua repentina tremedeira.

- Não... Na verdade eu nunca vi essa moça.

- Então vai ficar um pouco difícil encontrá-la, não é?

- É, acho que sim.

- Você parece preocupado. Vamos tomar alguma coisa perto da estação. Sabrina vai acabar encontrando seu destino sem sua ajuda, não se preocupe.

Rony parou de andar na porta da estação e nem se importou com as pessoas que gritaram com ele.

- Você está dizendo que eu não sirvo pra nada?

Mione gelou. Como ele poderia continuar o mesmo adolescente que sempre entendia errado o que ela falava?

- É claro que não, Rony. Eu só estava tentando te fazer relaxar.

- Oh, claro. E eu realmente vou ficar tranqüilo agora que sei que sou um inútil.

- Você continua sem entender nada, não é?

- Você também continua a mesma de sempre, se é isso que está dizendo. E eu não preciso mais da sua ajuda como nos tempos de escola, sei executar meu trabalho sozinho e tenho utilidade por aqui.

- Se é assim, ótimo, senhor adulto, eu já vou indo – Mione saiu andando e Rony continuou parado na porta.

- Não! – gritou ele.

Mione virou-se e encarou Rony com raiva.

- Eu é que vou indo – disse ele, abrindo caminho entre as pessoas que entravam na estação.

Mione ficou parada acompanhando Rony com os olhos. Ela não podia acreditar que todos aqueles anos se passaram, mas ele continuava o mesmo rapaz infantil.

De repente, um carro veio derrapando aparentemente surgido de lugar nenhum.

BAM.

- RONY!

Rony estava caído no chão, inconsciente. O carro parou por alguns segundos e depois partiu à toda, sumindo poucos instantes depois.

- Rony! Rony!

Mione corria entre as pessoas que olhavam perplexas para a rua, até chegar ao ferido. Rony parecia estar apenas desmaiado, mas o sangue que escorria pelo asfalto dizia que o estado era muito mais grave.

Não demorou para que uma ambulância chegasse e o levasse para o hospital sob os olhares de todos os pedestres e viajantes.